O Nordeste brasileiro apresentou, nos últimos seis anos, um volume de chuvas abaixo da média histórica, sendo considerado o maior período de seca deste século. A região, que inclui Sergipe, Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e o norte de Minas Gerais, conta com cerca de 23 milhões de habitantes. Um levantamento de dados do Ministério da Integração Nacional mostra que 80% das cidades da região estiveram em estado de emergência entre novembro de 2016 e março de 2017. Em Sergipe, mais de 30 municípios chagaram a decretar calamidade hídrica.
Mas parece que a natureza dará uma “colher de chá” aos nordestinos nos próximos cinco anos, já que a previsão é de chuvas acima da média. Isso porque o El Niño, fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no Oceano Pacífico Tropical e que altera o clima regional e global, não está ativo, como explica o coordenador da Sala de Situação Hidrometeorológica, Clima e Tempo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Overland Amaral.
“Para os próximos cinco anos, as condições climáticas são muito favoráveis para a incidência de chuvas para a região Nordeste, acabando com o ciclo da seca. A partir deste ano, nós entramos em outra condição. Isso porque o fenômeno El Niño, que cria uma barreira e direciona ondas de calor para o Nordeste, não está atuando. A partir de agora, para entendermos isso, nós passamos a estudar oscilação interdecadal do Oceano Pacífico, ou seja, estudar as principais fases do El Niño, La Niña e do estado Neutro. Tivemos que fazer um levantamento estatístico, utilizar vários métodos de modelos climatológicos e verificar se essa oscilação está presente”, detalha o meteorologista.
A oscilação, diz Overland, tem influência da seguinte forma: decadal positiva, que representa a fase quente e tem a presença do El Niño no Oceano Pacífico, diminuindo as chuvas do Nordeste. “Ou seja, fase quente favorece o El Niño, mas quando essa fase termina, entra a fase de chuvas para o Nordeste e não existe o bloqueio de calor. Esse ciclo começou a partir desse ano e deve se prolongar até 2022 ou 2025. Nessa fase, as chuvas serão acima da média”, prevê, com base nos modelos climatológicos.
Média
A média climática de Sergipe, no acumulado do ano, é de 1600 milímetros (mm) no Litoral, muito acima dos registros históricos; 1200 mm no Agreste e de 750 mm no Semiárido. “Nos próximos anos, vai predominar a presença do fenômeno La Niña e do estado Neutro. Vamos ter normalidade nas chuvas”, reafirma, ao explicar que o La Niña também é um fenômeno oceânico-atmosférico, mas com características opostas ao El Niño, com um esfriamento anormal nas águas superficiais do oceano Pacífico Tropical.
De acordo com Overland, o Nordeste do Brasil tem três regimes principais de chuvas: Norte e Nordeste, que abrange os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, municípios da Paraíba, Pernambuco, e parte Norte do Sertão, que vai de fevereiro a maio. Tem o Leste do Nordeste, que abrange Sergipe, Alagoas, Leste de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte e boa parte da Bahia, que vai de abril a agosto; e o do Sul e Oeste do Nordeste, que vai de novembro a março.
Regularização
Com a regularização hídrica, os açudes, barragens e nascentes de rios terão maior oferta para o abastecimento, agricultura e pecuária, isto é, beneficiando todo um sistema socioambiental, mas para isso, é preciso cautela e uma boa gestão dos recursos hídricos não somente no que tange ao poder público.
“Tendo chuvas, haverá fluidez no setor econômico, não faltará alimento, haverá um estado socioambiental em equilíbrio. Teremos reabastecimento dos açudes, condições de água no solo para produção agrícola, condições climáticas favorecendo a pecuária, a agricultura. Daí é que é importante utilizar desses recursos com parcimônia, além de utilizar novas tecnologias para descompactar o solo e a água ser absorvida e fixada. Neste contexto, é importante que se tenha boa gestão dos recursos hídricos e a preservação desses recursos, em primeiro lugar, não apenas dos governos, mas dos produtores, dos usuários comuns”, destacou Overland.
Enviado pela assessoria