Por Joedson Telles
Diante da pergunta “como o governo está vendo” os professores algemados no Palácio dos Despachos, o governador Jackson Barreto, com aquele seu semblante conhecido que ironiza sem precisar de vocábulos, devolveu a indagação e, diante da confirmação do interlocutor, respondeu calmamente: “com estes óculos”. JB ainda pegou na armação e fitou o interlocutor para não deixar dúvida do que estava querendo dizer.
Aí é minha vez de indagar: e havia outra resposta mais óbvia para tal questionamento? Resposta mais evidente? Trivial? Inequívoca? Dirija-se a mesma interrogação a qualquer pessoa que necessita do auxílio de uns óculos para enxergar e a resposta sempre será a mesma. O governador ou qualquer outro mortal poderia “está vendo” de forma diferente? Os olhos – com ou sem a ajuda de óculos ou lentes – têm essa como principal função. Ou não?
Com a atitude, Jackson, mais uma vez, demonstra que quando o assunto é a greve do Sintese, digo dos professores, seu senso de humor é notável. Rouba a cena. O governador, que deu a missão de tratar o tema aos seus auxiliares – sobretudo ao vice-govenador Belivaldo Chagas – evita ir à ferida. Opta por caçoar. Assim como fez quando pediu que, ao final da “brincadeira”, os professores doassem as algemas à polícia.
O fato é que com óculos e algemas ou sem ambos, o Governo do Estado seguirá aberto ao diálogo – ao menos o vice governador Belivaldo Chagas deixou isso evidente aqui no Universo e em outros veículos. Apesar de o Sintese desobedecer a Justiça e manter a greve, colocar seu pleito acima da educação de quem não pode pagar uma escola privada, o governo prometeu e está cumprindo não fechar as portas. Entretanto, podem anotar: o Sintese esqueça essa história de 13,1% para todos os professores – independente do vencimento. O governo não deixará ninguém sem o piso, mas, excedeu, nada de 13,1%.
E mais: a inviabilidade não reside apenas nas explicações dadas pelo próprio governo no tocante ao peso da folha da Educação – incluindo aposentados e pensionistas – no orçamento do Estado. Ainda que tivesse caixa para atender ao pleito do Sintese, o governo só o faria se tivesse condições de conceder o mesmo percentual de 13,1% aos demais servidores das demais áreas do governo. Está óbvio. O governador e seus auxiliares evitam dizer isso de forma direta, mas, no fundo, é isso que rola. Greve, manifestações, algemas, óculos… nada mudará a postura do governo.
O governador Jackson Barreto assistiu – e até sentiu também na pele – ao que o saudoso Marcelo Déda teve que enfrentar quando concedeu um aumento histórico à Polícia Civil, e não repassou aos demais servidores – sobretudo à Polícia Militar. Atender ao pleito do Sintese neste momento é dizer aos demais sindicatos que o governo, uma vez pressionado, cede ao bel prazer. Suicídio é pouco.
Ceder às pressões, legítimas ou não, além do estrago político que isso traria ao governador, que jura aposentar-se, em 2018, mas pode mudar de ideia tranquilamente, num momento em que crise é palavra chave de qualquer gestão, ao conceder 13,1% a todos os servidores, Jackson estaria visivelmente direcionando sua gestão apenas para pagar folha de pessoal. Os servidores públicos estariam contemplados, mas e os demais cidadãos que pagam impostos e sustentam o Estado? E os eleitores que votaram em Jackson pelas suas promessas de campanha nas mais variadas áreas? Seriam, miseravelmente, traídos? E as ações e serviços?
Nada contra os professores. Merecem até mais que 13,1% de aumento. Aliás, bote ingratidão não reconhecer a importância desta categoria para o êxito de qualquer profissional em qualquer outra área. Entretanto, caso atenda o pleito do Sintese por pressão, mesmo sem ter condições financeiras – inclusive de estender o mesmo percentual aos demais servidores e, sobretudo, realizar ações, obras, serviços necessários ao desenvolvimento de Sergipe -, o governador Jackson Barreto estará sendo irresponsável. Insano. E nem quero tocar em limite prudencial ou Lei de Responsabilidade Fiscal. Um político eleito para governar um Estado só é governador de verdade quando governa para todos. Não pode priorizar uns em detrimento de outros. Com tantos anos de vida pública, Jackson não mancharia sua biografia justamente no final da carreira. Até sem óculos é possível enxergar isso. É só algemar-se aos fatos.
P.S. A questão, agora, é saber se a deputada Ana Lúcia deixa ou não a bancada governista, por conta da sua ligação com o Sintese. Olha aí a bolsa de apostas…