Por Joedson Telles
Presidente da Central Única dos Trabalhadores em Sergipe (CUT/SE), Rubens Marques, o professor Dudu, um dos principais petistas da corrente Articulação de Esquerda – a mesma da deputada estadual Ana Lúcia e do vereador Iran Barbosa – revelou ao Universo que não está nos seus planos abraçar a pré-candidatura do governador Jackson Barreto (PMDB) a reeleição. “A Articulação de Esquerda não tem nenhuma obrigação de votar em Jackson só porque ele é do bloco aliado. Ele precisa dar resposta aos trabalhadores, às demandas dos servidores. No meu caso, não tem esse de obrigatoriedade de voto, não. Com a gente não há demagogia: Jackson não é meu candidato nem agora nem nunca. Para ser meu candidato precisa de convencimento. Com militante de esquerda, a coisa não é tão simples não, até porque a gente com cargo ou sem cargo sobrevive”, disse Dudu. O sindicalista acredita que o PT, sim, deveria apresentar candidato ao governo, e culpa o saudoso Marcelo Déda por não ter preparado um sucessor. “Não entra em minha cabeça que o PT dirigia Aracaju por dois mandatos e depois perdeu. Dirigia o Governo do Estado por dois mandatos e, agora, perdeu e não tem nem candidato. Desde Déda, o PT já vinha discutindo que não ia ter candidato agora (2014). De repente, Déda virou herói. Foi uma grande tragédia, como companheiro, ser humano… mas a gente não pode apagar o que foi feito politicamente. Não teve só acerto: teve muito erro. Ajudou a construir o PT, mas também complicou na saída”. A entrevista:
Como o senhor avalia o pleito dos servidores públicos por melhores salários?
Eu acho que um grande ponto do conflito entre o Governo do Estado e os sindicatos é porque não tem uma mesa permanente e não dá para negociar com todo mundo. É preciso ter uma mesa permanente. A gente vem cobrando o tempo inteiro, desde Déda, e depois acabou. Se retoma a mesa permanente tem que ter transparência, porque sem transparência não tem negociação que avance. O governo diz que não pode pagar porque está no limite. Como é que o servidor vai acreditar? Se houvesse transparência… Mas não tem transparência porque pedimos a folha de pagamento e não liberam. A CUT pediu desde o governo Déda a lista de cargos comissionados e o Ministério Público Estadual respondeu, depois de um ano, arquivando o pedido. O grande problema do conflito é que não tem negociação permanente. Aí apaga o fogo aqui e ali de uma forma aleatória, reajusta uma categoria, não reajusta a outra, tem greve. Aí o governo, ao invés de administrar o Estado, precisa resolver problema de greve por incompetência. Não é possível que ele não consiga entender que tem que ter uma mesa permanente, um secretário que tenha autonomia para dialogar e fazer a coisa acontecer.
O governador tem sentado à mesa com representantes das categorias. Isso não substitui a mesa permanente?
Tem que ser viável, porque atende uma categoria, mas a outra também quer. Tem que ter agenda para todas. Se tem solução para uma, tem que ter pra todos. Não tem como ter solução em cima da hora com tanto sindicato. Só na saúde são oito sindicatos. É preciso que essa mesa funcione permanentemente, para que quando a data do reajuste chegar, as questões já estejam resolvidas. Déda não ouviu e Jackson não houve também. A mesa funcionou até Nilson Lima (ex-secretário de Finanças do governo Déda). Quando ele saiu, ele (Déda) colocou Jorge Alberto, Chico Buchinho, mas não no caráter de mesa que a gente defende. Era mais para receber e não encaminhar nada.
Por isso a insatisfação do servidor?
E a tendência é piorar. Sem mesa permanente de negociação vai piorar. Onde tem mesa as questões funcionam melhor, e também com transparência. Não basta dizer que não pode pagar, é preciso mostrar que não pode pagar. Tem empresário milionário em Aracaju que não paga ao Estado a dívida que tem. Prefere pagar multa. É melhor pagar R$ 20 mil de multa por ano do que pagar R$ 500 mil, R$ 1 milhão. A dívida ativa do Estado que os empresários devem aos cofres públicos, a última vez que eu tive acesso, a partir do Sindifisco, já beirava os R$ 3 bilhões. A prefeitura não executa IPTU de gente pobre? Por que não pode executar dívida do Bompreço? Das empresas milionárias? Na hora de cobrar do pobre a prefeitura vai lá e penhora até os bens, mas os ricos rolam a dívida. Ligue para o Sindifisco ou Sindat e pergunte qual a dívida da ativa de Sergipe, dívida que os empresários não pagam e preferem pagar a multa.
Pelo que o senhor coloca, há conivência do governo com o erro ou, no mínimo, frouxidão?
É frouxidão. Não querer enfrentar os poderosos. Se eles devem têm que pagar, e se não pagar tem que executar como um cidadão comum. A dívida chegou a R$ 3 bilhões porque o empresário entendeu que é melhor pagar a multa do que o que deve.
O senhor sempre foi um crítico da contratação de pessoas sem concurso público. É possível dizer que neste terreno o governo Jackson Barreto é melhor que o Marcelo Déda?
Não dá pra saber por que o Ministério Público arquivou (o pedido). A CUT foi lá, protocolou, a imprensa acompanhou, e depois o MPE, depois de um ano, devolve dizendo que foi arquivado. Como a gente vai fazer uma proposta de reajuste, se a gente não sabe nem quanto é o montante da folha, e dessa folha os cargos de comissão e quais são necessários? Não é novidade para Sergipe que a Casa Civil, aqui e em outros estados, geralmente ampara políticos derrotados, apadrinhados. Eu preciso ter a lista pra ver quantas pessoas precisam porque a Casa Civil é encarregada de fazer os contratos dos cargos comissionados. São todos feitos pela Casa Civil e depois distribuídos para outras secretarias. Faria muito bem uma negociação para mostrar quantos contratos têm e os cargos comissionados. Vamos ver o que é necessário, se não tira.
Pelo menos essas pessoas “amparadas” pelo governo trabalham?
Da última vez que eu ouvi alguém falando da Casa Civil foi quando disseram que no prédio tem quatro birôs, mas são mais de 2 mil cargos em comissão. Depois me explicaram que de lá distribui para outros lugares. A negociação não avança enquanto a gente não tiver transparência. O governo pode estar falando a verdade, que não pode pagar, mas não sou obrigado a acreditar. Eu não tenho obrigação de acreditar porque dizer não prova. É preciso abrir o mapa.
Alguns deputados reclamaram que não houve uma ampla discussão para o reajuste do servidor. A CUT foi chamada para discutir o assunto?
A CUT pediu audiência, quando a categoria estava em greve, e a gente foi lá para tentar mediar a solução nesse sentido. A CUT não é contra o Proinveste, mas não aceitou colocar a marca no outdoor pressionando a Assembleia a votar. A CUT não aceitou deixar a logomarca porque não foi ouvida em nenhum momento para dizer o que achava do investimento. Que tipo de trabalho ia ser criado, que ia formar mão-de-obra. Como não quis ouvir, a CUT também não entrou nesse debate.
A CUT foi chamada para discutir o Pro Redes?
Em momento nenhum. Se houver uma convocação para apoiar a gente vai dizer que nem conhece a fundo. Não adianta dar o aval conhecendo superficialmente. Tem que ter acesso ao documento para ver como funciona, e em nenhum momento aconteceu nada. A CUT se respeita, mantém sua autonomia, e termina criando problema na hora que eles precisam da nossa ajuda. A CUT não avalia o discurso que o Estado está no limite prudencial. Para mim, não está dizendo nada.
Como o senhor está vendo as arrumações políticas para as eleições deste ano? A Articulação de Esquerda, sua corrente no PT, quer manter a coerência de não subir no palanque com o prefeito João Alves, caso ele aceite fazer uma aliança com Jackson Barreto?
Nacionalmente, o PT definiu que não pode com o DEM, PSDB e PPS. É resolução nacional que não deve fazer aliança. O mesmo pensamento da nacional é o mesmo pensamento da nossa corrente em Sergipe.
O senhor acha que o governador está perdendo tempo esperando a decisão de João Alves, e até perdendo aliados como o senador Antônio Carlos Valadares, e isso custará caro?
Eu prefiro avaliar o PT. Vai ficar parecendo que eu tenho alguma relação política com Jackson e eu não tenho. O grande problema que eu avalio é que o PT não tem candidato a governador. Não entra em minha cabeça que o PT dirigia Aracaju por dois mandatos e depois perdeu. Dirigia o Governo do Estado por dois mandatos e, agora, perdeu. Não tem nem candidato. Pela construção histórica que o PT tem em Sergipe é um pecado capital não estar na disputa para governo. Para mim isso é muito ruim. Eu acho que o PT deve, de antemão, dizer que na próxima eleição tem candidato, que agora não teve coragem de fazer essa disputa. Depois que Déda morreu, ele virou herói. Tem o prazo da comoção, do respeito, mas não dá para negar que Déda não construiu uma alternativa para o pós-Déda. Ficou muito claro. Fez todo tipo de aliança, todo tipo de acordo, e o acordo que Déda fez já apontava que o PT não ia ter candidato. Muito ruim para o PT está na situação que se encontra hoje.
O senhor acredita que o PT perdeu Déda e retrocedeu?
Retrocedeu. Déda não construiu política para além dele. Nessa nova formatação de direção do PT, perdeu Déda, seu maior líder carismático, uma grande referência, mas ganhou em horizontalidade. Hoje está bem dividido, bem equilibrado e não tem aquele líder com o tom de voz acima dos outros. Tem disputa, e a disputa beneficia ao PT. Com Déda o pessoal engolia de goela abaixo. Os grupos minoritários, como o nosso, era só para tomar pancada. Se perdemos um grande líder, ganhamos o acesso a horizontalidade. Hoje não tem só um grupo mandando. Tem o grupo de Márcio Macedo que é um grupo muito forte. O grupo de Rogério que é ligeiramente maior. Tem a Articulação de Esquerda que é um grupo minoritário, mas na hora do debate ele cresce porque tem posição firme e não tem medo de colocar as posições de forma clara. Tem outros grupos que transitam ali como o de Francisco Gualberto, João Daniel, que tem mais uma carreira solo, mas tem influência no PT.Isso é muito bom. Déda era o cara que falava e pronto. A não ser nós da Articulação de Esquerda não tinha quem se contrapusesse. Eu acho que é um novo momento. O PT está renascendo. Deveria continuar na proa, mas Déda no grupo dele não construiu a alternativa do pós-Déda.
O senhor quer dizer que Jackson Barreto não seria o seu candidato? Vai ser por conta das circunstâncias?
Vai ser dependendo do que vai apresentar. A Articulação de Esquerda não tem nenhuma obrigação de votar em Jackson só porque ele é do bloco aliado. Ele precisa dar resposta aos trabalhadores, as demandas dos servidores. No meu caso, não tem esse de obrigatoriedade de voto, não. Com a gente não há demagogia: Jackson não é meu candidato nem agora nem nunca. Para ser meu candidato precisa de convencimento. Ele tem legitimidade, mas só isso basta não. É preciso que diga o que o governo pretende. Com militante de esquerda a coisa não é tão simples não, até porque a gente com cargo ou sem cargo sobrevive. Eu não sabia que tenho direito a sessão sindical, como todo trabalhador tem direito por lei. Déda não liberou a minha sessão e nem Jackson. Eu saio de Aracaju todos os dias, vou dar aula em Estância e volto. Cumpro com minha obrigação. Eu preferi não buscar a Justiça pra não passar dez anos pra sair. Eu considero isso um ato de desrespeito à legislação e descaso com o movimento sindical. Eu tenho tarefas como qualquer liderança política, e aí tenho que ficar dando aula porque nem Déda e nem Jackson liberou e nem eu vou lá me humilhar. Não me libera perante a lei, então também não me interessa. Por amizade, eu não quero. Nós pedimos normalmente através de ofício, a CUT Nacional mandou citando o direito garantido pela constituição e a resposta foi negativa. Eu não sou demagogo. A gente tem autonomia para votar, até porque a gente não está atrás de cargo não. As outras correntes não podem falar isso não porque ficam penduradas nos cargos, não têm autonomia e ficam caladinhos. Eu posso falar.
Se precisasse definir seu voto hoje, pelo governo que Jackson está fazendo, o convenceria?
É preciso avançar nas negociações. É preciso convencer, e eu acho que não tem essa de obrigatoriedade não. Vai depender do que for apresentado. Eu penso isso para Sergipe. É preciso resolver a questão dos trabalhadores, esse impasse, essas greves. A pauta do trabalhador tem que avançar, a verdade é essa.
O senhor diria, então, que se o trabalhador não foi contemplado esse governo não conta com o senhor?
Se o trabalhador falar que o que foi atendido já basta, tudo bem. Eu não vou querer ser maior do que a classe trabalhadora. Mas o termômetro vai ser o trabalhador. Eu não me sinto obrigado a estar declarando nada não. Eu me sinto obrigado a defender os trabalhadores. Achei um pecado Déda não ter construído uma candidatura do PT. Mas é bom lembrar que desde Déda, o PT já vinha discutindo que não ia ter candidato agora. De repente, Déda virou herói. Foi uma grande tragédia, como companheiro, ser humano, mas a gente não pode apagar o que foi feito politicamente. Não teve só acerto não, teve muito erro. Ajudou a construir o PT, mas também complicou na saída.