Empresário, contudo, admite que seu grupo terá candidato, caso haja nova eleição
Por Joedson Telles
O empresário Milton Andrade (Novo) afirma, nesta entrevista que concedeu ao Universo, que não tem o menor desejo que seja mantida a cassação da chapa Belivaldo Chagas e Eliane Aquino, por entender que seria algo ruim para o estado de Sergipe. Entretanto, admite que se este for o desfecho, obrigando a realização de uma nova eleição, o agrupamento ao qual faz parte terá, sim, um candidato a governador. “Essa indefinição política faz mal ao estado, e não a Belivaldo. É o estado que fica com os investimentos represados”, avalia Milton Andrade. “Esse tipo de política não é o que nós fazemos. Belivaldo foi eleito por 660 mil sergipanos. Ele é o governador de todos os sergipanos, inclusive meu governador. Enquanto ele for governador, eu tenho que criar todo ambiente necessário para que ele possa desenvolver o melhor trabalho possível. Nas eleições, como adversário político, o tratamento é outro.” A entrevista:
Na semana passada, houve o Encontro do Patriota. O que representa para Sergipe essa reunião do Novo, Cidadania, PMN, Patriota?
Na verdade, é um grande fortalecimento do Patriota que faz parte de um agrupamento que envolve a mim, o Cidadania e o PMN. Esse agrupamento tem mostrado força, crescimento e musculatura eleitoral, para que, em 2020, seja um ano em que a oposição tenha um nome competitivo para a disputa da Prefeitura de Aracaju. Esse grande ato de filiação demonstra que as pessoas estão cansadas, e estão vendo, neste agrupamento, uma oportunidade de fazer uma mudança política – e isso tende a crescer até lá.
Nos discursos de todos no grupo, a palavra honestidade aparece muito…
É o que está faltando no Brasil, em Sergipe, em todos os locais da política. Honestidade, competência, gestão eficiente, probidade. É o fim das velhas práticas que ninguém aguenta mais.
O grupo procura descartar a vaidade? Os projetos pessoais?
Aqui é 100% projeto. Nossa vaidade é que o grupo tenha um nome competitivo. Qual o nome? Pouco importa. Se o grupo tiver um nome competitivo nos damos por satisfeitos.
Se houver uma nova eleição para o Governo do Estado, antes de 2022, o grupo cogita uma candidatura?
Claro que sim. Ano passado, eu disputei o Governo do Estado e Dr. Emerson também. Eu não tenho o menor desejo que a cassação (da chapa Belivaldo Chagas e Eliane Aquino) aconteça. Acho que é ruim se for necessário isso acontecer. Se for julgado e condenado, que aconteça. Mas, se acontecer, sem dúvida nosso agrupamento apresentará um nome. Essa indefinição política faz mal ao estado, e não a Belivaldo. É o estado que fica com os investimentos represados. O governador acaba perdendo 100% de energia da administração para, primeiro, resolver um problema da manutenção do cargo. Se ele tinha 24 horas do dia para resolver os problemas da administração, agora tem gastado algumas horas para um processo jurídico. Isso é ruim para o estado. Isso não é benéfico ao estado de jeito nenhum. Esse tipo de política não é o que nós fazemos. Belivaldo foi eleito por 660 mil sergipanos. Ele é o governador de todos os sergipanos, inclusive meu governador. Enquanto ele for governador, eu tenho que criar todo ambiente necessário para que ele possa desenvolver o melhor trabalho possível. Nas eleições, como adversário político, o tratamento é outro.
O foco é Sergipe, não é mesmo?
O foco é geração de emprego, zerar as filas da saúde, melhorar a educação e a segurança pública.
Sergipe tinha mesmo que perder a Petrobras ou foi um vacilo?
A gente vem maltratando quem empreende aqui há muito tempo. Os maiores pagadores de tributos aqui em Sergipe é a Energisa, que mudou a base para João Pessoa. A Cencosud mudou a base para a Bahia. A Petrobras desativou a Fafen. Impostos altos, sem estrutura, mão de obra sem qualificação, a água da Deso é uma das mais caras do Brasil e as plantas industriais que utilizam água estão pagando caro. Alguém fica em uma casa qual é mal tratado? Vai embora e não volta. É o que está acontecendo em Sergipe. Agora, o governo tem dado sinais de melhoria. Reduziu a alíquota do milho de 18% para 12%, reduziu o querosene da aviação de 18% para 12%. Precisa reduzir para 6% ou 4%, mas já é uma grande sinalização. Está trazendo agora a Cencosud, mediante um termo de ajuste de regime especial de tributação. Tem dado sinais de melhoria. O governador Belivaldo conhece os problemas e as soluções. É diferente de Jackson Barreto que não tratava de administração e só tratava de política. Agora está faltando para Belivaldo velocidade nas decisões e coragem para deixar a base dele insatisfeita. É natural que as coisas não aconteçam na velocidade que a gente precisa. O paciente está se agravando e se o governador não tomar medias rápidas, o paciente vai falecer.
O senhor enxerga no governador a boa vontade para trabalhar, a competência, mas acredita que ele tem que deixar de lado os aliados?
A competência está faltando na velocidade. Se ele fosse veloz estaria sendo competente. Ele está demonstrando vontade de acertar, mas só vontade de acertar não resolve problema. Ele conhece o problema e a solução. Esses dois passos são essenciais para corrigir o problema. Está faltando velocidade e coragem para tomar algumas medidas impopulares que desagrada, em especial, a base dele, em especial, o PT. Em especial a reforma do serviço público, a reforma previdência estadual e corte de gastos.
O senhor reconhece avanços na relação empresários x Governo do Estado?
Sim. Tivemos alguns avanços. O governo tem se mostrado aberto ao diálogo. Tem adotado algumas medidas sugeridas pela classe produtora, inclusive a do milho e a do querosene da aviação. Nesse ponto, o relacionamento está bom.
Não há nome definido ainda para disputar a Prefeitura de Aracaju?
Os problemas de Aracaju são grandes. Temos o prefeito mais longevo da história, com 10 anos, mas as ordens de serviço aparecem em ao pré-eleitoral, para que, lá na frente, tenha a impressão que foi feito alguma coisa. Aracaju tem um orçamento de R$ 2 bilhões. Há 10 anos, eu estava na universidade e ouvi o próprio Edvaldo dizer que não terminaria o mandato sem fazer a licitação dos ônibus. 10 anos depois e nada acontece. A Torre está reinando em Aracaju há quantos anos? O tempo passa e Aracaju continua o mesmo atraso de sempre. Aracaju merece um tratamento de saúde, que não seja feito de forma emergencial. Criar problemas com os médicos para justificar contrato emergencial no Nestor Piva? Isso não faz sentido. Precisamos de uma transparência e probidade maior da administração pública em Aracaju.
Foi resolvido o desentendimento que o senhor teve com o ex-senador Almeida Lima?
Um intermediário me procurou e pediu para deixar pra lá, porque Almeida se arrependeu do que falou. Ele vinha falando de mim sem motivos. Eu nunca tive nenhum problema com ele, nunca trabalhei com ele, nunca fui aliado e nem adversário dele. Talvez ele esteja visualizando que eu estou ocupando o espaço que ele gostara de ocupar. Mas é preciso ocupar o espaço demonstrando competência e qualidades próprias. Não é falando mal dos outros. Ele foi ao rádio dizer que de novo eu não tenho nada, que sou um produto de marketing. Agressões gratuitas. Ele disse que eu não tenho experiência. Eu disse que a única experiência que ele tem é de receber a Polícia Federal em casa. Ele ouviu uma resposta merecida.
O que se discute nas reuniões do grupo?
A pauta é a discussão de critérios para escolher o candidato. É importante que tenhamos critérios objetivos, e que o candidato não seja o mais gente boa ou o mais amigo de todo mundo, mas o que seja competitivo eleitoralmente. Temos que estabelecer critérios. Não importa quem seja o primeiro na pesquisa, mas que tenha potencial de crescimento. Se fosse por primeiro na pesquisa nem Belivaldo seria governador e nem Alessandro seria senador. Temos que encontrar uma forma e uma fórmula que identifique o nome mais competitivo para o ano e 2020. Teremos um nome unificado, sem vaidades.
E a delegada Daniele Garcia?
Ela é uma grande amiga e faz parte do grupo como amiga e não como política, mas é vontade do grupo que ela faça parte. As pesquisas têm mostrado uma grande densidade eleitoral. Daniele está em Brasília, não se mete em política e pontua como gente grande nas pesquisas. Isso tem demostrado um grande potencial eleitoral dela.
O projeto do grupo é só Aracaju, Grande Aracaju ou o estado todo?
Naturalmente, Aracaju é uma prioridade pela maturação política que aqui já tem. Alessandro teve 190 mil votos, Dr. Emerson teve 40 mil, Emília teve 35 mil, eu, na primeira eleição, tive 25 mil votos. Todos esses em Aracaju. Temos demonstrado que nossa capilaridade em Aracaju é maior, e que nossa maior chance de êxito, hoje, no estado, é em Aracaju. Mas, naturalmente, temos bons nomes em municípios como Estância. A gente tem olhado com carinho para que possamos colaborar com a renovação política no estado. A gente precisa de bons nomes se apresentando.
Obrigatoriamente, o candidato a prefeito e a vice-prefeito de Aracaju serão deste grupo ou pode haver uma aliança com o grupo apoiando um nome de fora?
A ideia é que a gente possa expandir alianças. Para que a gente possa fazer as mudanças que a gente necessita, e preciso vencer a eleição. A ideia é que a gente utilize uma estratégia que fortaleça politicamente o grupo. Naturalmente respeitando nossos princípios de renovação política, de ficha limpa de gestão eficiente. Não é se abraçar com qualquer um. É se abraçar com pessoas que tenham sinergia com nossas pautas e que possam agregar politicamente.
O grupo está conversariam com Valadares Filho?
Eu vi nas redes sociais que ele esteve com o senador Alessandro. Eu estive com o ex-deputado federal Valadares Filho umas três vezes neste ano. Eu não vejo problema em ser apoiado por qualquer nome que seja. Valadares Filho se mostrou uma pessoa ficha limpa. De repente ele, nos dar apoio, eu acho que é algo bem vindo.
Como avalia o governo Bolsonaro?
É um governo que acerta nas medidas econômicas, mas cria problemas desnecessários na política. É o que vem sendo demonstrado desde o início. Eu era do PSL, em 2018, e, em janeiro, quando Bolsonaro assumiu a Presidência da República, eu saí. É um grande trapalhão na política, mas teve méritos de escolher bons nomes para compor a equipe técnica. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é sensacional, o da Economia, Paulo Guedes, é um excelente ministro, e o da Justiça, Sérgio Moro. Esses três têm uma vontade muito grande de acertar, e estão acertando e trabalhando. Quando Bolsonaro e os filhos ficam calados, as coisas andam. Quando começam a criar um protagonismo, acabam criando um desgaste desnecessário.