Por Joedson Telles
Estava à toa na rede quando os botões, inquietos, chamaram a minha atenção. Divido um exemplo do clima de nervosismo verbal instalado no Brasil que atesto ao navegar: “Caetano Veloso é um cretino e irresponsável. Acha que pode usar a sua condição de artista para difamar pessoas e movimentos. Se fosse um historiador, seria também um mentiroso”.
Quem documenta a agressão é o jornalista Reinaldo Azevedo, ajuizando sobre o comportamento de Caetano na defesa de Dilma e Lula. Se ainda não o fez, podem anotar: a resposta será tão mordaz quanto o insulto. Caetano não costuma perdoar.
O mais deprimente, entretanto, é discernir a que ponto chegou o país. Já não estamos restritos às bobagens postadas, muitas vezes por mentecaptos, em redes sociais. Ao calor das ruas. À animosidades construídas por pessoas que, na maioria das vezes, não se conhecem e sequer sabem os reais motivos da guerra. Quando um jornalista preparado agride um dos maiores talentos da música brasileira imagina-se o tamanho do stress. Duas mentes acima da média se rendendo à política.
Fico na dúvida: conhecem tanto o jogo ao ponto de pagarem o alto preço do desgaste de forma consciente ou são dois ímpares em suas artes, mas leigos frente à forma como se faz política neste país? Desconhecem os escárnios com o coletivo? Não creio.
O senso comum costuma humilhar a intelectualidade. Jogar por terra anos e anos nos quais se amealham a bagagem cultural, às vezes com muito sacrifício. Neste momento, lembro uma frase que há anos virou lugar comum: “em política só há dois lados: o que está comendo e o que está doido para comer. O faminto”… Acrescentaria ao juízo a seguinte frase: “a diferença é a voracidade com que se vai ao prato”.
E se é assim, como se expor tanto na linha defensiva, tomando partido? Caetano e Reinaldo, que não precisam avocar problemas, deveriam estar precatados sobre estes detalhes que fazem toda a diferença. Soa paradoxo, mas pela astúcia de ambos, parecem desconhecer o combustível que coloca o motor para funcionar.