Por Joedson Telles
Cato com uma lupa argumentos convincentes a justificar a febre que paira em Sergipe a colocar o jornalista Roberto Cabrini na posição de herói, Deus por ter feito uma matéria denunciando corrupção na merenda escolar em municípios sergipanos, mas não encontro. O óbvio grita a refrescar mentes embrutecidas: o jornalista, um bom jornalista, aliás, que dispensa apresentação, choveu no molhado. Evidente que cumpriu o importante papel de jornalista sério ao semear ventos, mas só trouxe novidades e espanto a desinformados. Já houve denúncia neste sentido. A polícia e o Ministério Público Federal, inclusive, fizeram o seu papel, mas a impunidade reina em berço esplêndido. Ótimo que mais uma matéria seja feita. Quem sabe culpados vão parar na cadeia. Mas endeusar um jornalista mais que a notícia é o fim da picada. Aliás, postei, no dia 1º de junho, tão logo a matéria foi ao ar, a seguinte mensagem no facebook:
“É incrível a falta de informação e de senso crítico de algumas pessoas. Ficar surpreso porque uma reportagem denunciou corrupção em órgãos públicos envolvendo empresários no Brasil? Onde está a novidade? Todos os dias há notícias idênticas no Brasil. E depois ninguém fala mais no assunto. Isso, sim, deveria ser de um espanto ululante. Os mensaleiros, por exemplo, estão todos presos? Mas aqui nesta terra que algumas pessoas insistem em fazer pequena só porque o SBT tocou no assunto o mundo se acaba. Além disso, o Sintese já havia feito a mesma denúncia. Está certo o prefeito Fabio Henrique, que suspendeu a licitação é quer apuração. Quanto à ex-prefeita de São Cristóvão, prefiro nem comentar. Surpresa mesmo será quando ladrão do dinheiro público for preso e permanecer na cadeia, mas notícia de corrupção com gatuno solto? Continua sendo banal. Bom aperitivo para gente viciada em novela ter o que fazer, além de se pendurar nas redes sociais”…
… Antes que açodados falem que a matéria “derrubou” a prefeita de São Cristóvão, Rivanda Batalha, é bom aguardar desfechos. Há informações que a prefeita renunciaria de qualquer jeito, nos próximos meses, em nome de um projeto maior. É aguardar.
Aliás, por falar em esperar, é lógico que as pessoas de bem estão esperando o desfecho da Justiça. Torcendo para a impunidade não continuar dando o tom. Mas o Judiciário não pode ser atropelado. Foi improfícua a discussão entre Roberto Cabrini e Rivanda Farias, na Liberdade FM. A função de qualquer jornalista é informar. Comentar, só com coerência e dentro do seu limite. Jamais adentrar no terreno do Judiciário. Jornalista não deve bater boca com político. Muito menos julgar. Se Rivanda alega que não sabia dos fatos, cabe somente à Justiça julgá-la, após o chamado direito a defesa. Tudo isso no fórum adequado. Não jornalista colocar e receber dedo na cara e sentenciar: “ou é desonesta ou incompetente”. Qual é? O próprio Cabrini foi preso, dia desses, e jurou inocência frente à acusação de tráfico de drogas. E aí? Julgar sem a legitimidade que a lei só dar aos magistrados é sempre um terreno minado. Aliás, não consta que o mesmo Cabrini tenha partido para cima de Lula com o mesmo “tesão”, quando este disse, justamente, que não sabia do Mensalão. Do mesmo modo, não acossou Dilma no caso Petrolão por motivo idêntico. O que houve?
Já sei: a denúncia da corrupção na merenda escolar em municípios sergipanos é absurdamente maior, mais grave e fato mais escandaloso que o Mensalão. Aliás, parou o Brasil. Parte do mundo. Ninguém fala mais em Petrolão, final da Champions, o escândalo Fifa, crise no governo Dilma, o Papa, os cambáu… O mundo respira Sergipe e Roberto Cabrini.
Sai daí. Os fatos precisam ser apurados e os culpados presos. Isso não se discute. A matéria foi muito importante, como já dito. Mas sonegar que passam longe da roubalheira a que se assiste no Brasil e ainda ver o jornalista como Deus, como o criador da roda? Aí não, amigo. Aí é passar para os demais estados que aqui pensar soa artigo de luxo.