“Está incentivando aos mais radicais a praticarem atos que chegam ao extremismo”, diz
Por Joedson Telles
O ex-deputado federal e pré-candidato ao Senado, Valadares Filho (PSB), avalia, nesta entrevista que concede ao Universo, neste domingo, dia 17, que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), incentiva a violência política junto aos seus apoiadores não apenas com verbos, mas também com práticas. “Não só o discurso, mas algumas ações como aquela de ir para a frente de um quartel do Exército participar de uma manifestação que pregava claramente o fechamento de instituições da República, além de dizer quase diariamente que não respeitará o resultado das urnas eletrônicas, ele está incentivando, sim, aos mais radicais, a praticarem atos que chegam ao extremismo. Aquela fala dele – ‘tem que metralhar a petezada’ – foi de uma agressividade sem tamanho”, entende Valadares Filho.
Como o senhor avalia o momento da sua pré-candidatura ao Senado?
Primeiro, avaliamos a disputa deste espaço com muito diálogo com nossos correligionários do PSB. Depois, já com o aval do partido, o diálogo passou a ser com o PT, PV, PCdoB e Solidariedade, partidos que estão focados na reorganização do estado de Sergipe, num projeto liderado pelo senador Rogério Carvalho, e pelo ex-presidente Lula, que tem como o principal foco a geração de emprego e renda. Quem me conhece, sabe que quando disputei as eleições majoritárias eu fiz esse debate. Portanto, temos uma convergência de propósitos muito bem definida e alinhada.
Acredita que a eleição para o Senado será mais acirrada que a própria eleição para o Governo do Estado?
Na verdade, eu tenho como princípio que toda eleição, para qualquer cargo eletivo, é sempre muito disputada. Um exemplo claro dessa afirmativa são as eleições para vereador. Qualquer que seja o tamanho do colégio eleitoral, elas são sempre muito disputadas. Trata-se da nossa capacidade de convencer e conquistar o cidadão, que estará nos dando um voto de confiança. É justamente com base nesse aspecto que eu sempre encaro as eleições que disputo, quando venci as três eleições de deputado federal entre os mais votados e cheguei ao 2º turno nas disputas majoritárias.
Como persuadir o eleitor que a sua pré-candidatura não é um projeto mais do mesmo? Qual o diferencial?
Os sergipanos já me conhecem, e eu tenho certeza absoluta que eles nunca me viram como alguém que se apresenta como o “mais do mesmo”. Nós já disputamos eleições para prefeito de Aracaju e Governo do Estado, e nessas oportunidades sempre apresentamos propostas viáveis. Se elas tivessem sido executadas, com certeza, o quadro que estamos vivendo hoje seria diferente; não haveria tantas pessoas com uma situação de regressão significativa em suas vidas. Nós estamos falando de mais da metade da população sergipana vivendo de programas sociais, e eu tenho certeza que não é isso que os sergipanos desejam. Todos querem um emprego, um trabalho que permita ganhar seus salários e rendimentos a partir da sua própria produtividade. Por natureza, nós somos um povo trabalhador e essa situação de precisar de auxílios é necessária mas não é a que queremos.
Nas últimas eleições, o senhor foi um crítico do agrupamento que permanece no poder. Mudará o discurso durante neste pleito?
Eu nunca critiquei ninguém do ponto de vista pessoal. Veja, eu fiz parte desse agrupamento, mas deixo registrado que isso aconteceu lá na sua formação inicial, quando tínhamos Marcelo Déda como grande líder. Isso, infelizmente, mudou bastante, nos últimos anos. O que vemos, hoje, é um grupo que está no comando do Estado de forma totalmente descaracterizada. Ele é composto por pessoas que dão sustentação, por exemplo, ao atual presidente da República. E fazem isso abertamente. Alguém consegue imaginar que se Marcelo Déda e Zé Eduardo estivessem vivos aceitariam essa situação? E eu respondo: claro que não. Rogério e o PT com razão não aceitaram. Portanto, não sou eu quem precisa se preocupar com a mudança do discurso.
Como o senhor avalia a passagem do ex-presidente Lula por Sergipe?
Nós tivemos o maior evento em espaço fechado da história de Sergipe, que foi organizado pelos companheiros do PT, sob a liderança do senador Rogério Carvalho, em conjunto com todos os integrantes dessa aliança. Houve um esforço de todos para mobilizar nossa gente. E, por isso, fizemos uma grande festa e o resultado foi extremamente positivo. O ex-presidente Lula e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ficaram muito felizes com a receptividade e com a nossa união aqui no Estado. Eu avalio como um evento muito exitoso.
Qual o peso do líder petista no pleito local?
Lula é, sem sombra de dúvidas, o maior líder popular desse país. Algumas pessoas esquecem que ele saiu da Presidência com mais de 85% de aprovação – isso foi graças aos benefícios que ele criou para milhões de brasileiros. Do mais pobre aos mais ricos, todos ganharam com as ações dos governos dele, especialmente os das cambadas mais carentes da população. Com certeza, Lula, e os números da história comprovam isso, é o maior influenciador da política brasileira.
O que o senhor diria aos petistas que não entendem a aliança PSB/PT?
Sobre essa questão, nós tivemos o cuidado de dialogar com todos os segmentos do Partido dos Trabalhadores. Com o reconhecimento dos erros de algumas decisões que tomamos no passado, entendo que já superamos essa questão. Da mesma forma, isso aconteceu com a aliança do próprio presidente Lula com o PSB, tendo Geraldo Alckmin como pré-candidato a vice em sua chapa. Nesse caso, foram divergências históricas que foram superadas. Como eu disse em meu discurso no CIC: aqui me reencontro com a história, daqui não saio mais.
O senhor teme que o episódio de Foz do Iguaçu, quando um petista foi assassinado, seja uma dica da intolerância política que marcará as eleições?
Essa é uma questão que tem nos deixado sempre em alerta. Os ânimos de determinados simpatizantes do atual presidente estão muito acirrados. Tudo isso é provocado pela eminência do projeto que não deu certo no país – pois não apresentou nenhuma melhoria na vida dos brasileiros – ser derrotado, democraticamente. Nós entendemos que já passou da hora de o presidente chamar seus seguidores e pedir calma, baixar a temperatura, moderar nas suas palavras e entender que na democracia a soberania está na escolha livre da maioria dos eleitores. O PT quando perdeu a eleição, em 2018, não respeitou o resultado das urnas? Aqui em nosso estado, na última eleição para governador, eu também perdi a eleição e em nenhum momento abri a boca para reclamar das urnas eletrônicas. Então, é preciso que esse tema seja retirado da pauta do presidente, para que possamos ter uma eleição tranquila. Quero aproveitar essa sua pergunta para expressar minha solidariedade à família do Marcelo Arruda, petista que foi brutalmente assassinado, como também a todas as vítimas da violência em nosso país.
O senhor entende que o presidente Jair Bolsonaro incentiva a violência de alguma forma?
Quando o próprio presidente manteve um discurso extremista, e não só o discurso, mas algumas ações como aquela de ir para a frente de um quartel do Exército participar de uma manifestação que pregava claramente o fechamento de instituições da República, além de dizer quase diariamente que não respeitará o resultado das urnas eletrônicas, ele está incentivando sim, aos mais radicais, a praticarem atos que chegam ao extremismo. Aquela fala dele – “tem que metralhar a petezada” – foi de uma agressividade sem tamanho. Portanto, é preciso que ele coloque a mão na consciência, mude esse comportamento e comece a dizer aos seus seguidores que todos têm que respeitar a vontade da maioria dos eleitores brasileiros.