Por Joedson Telles
No aniversário de um ano da pandemia em solo brasileiro – simbolizado em 300 mil cadáveres, desemprego e fome -, o presidente Jair Bolsonaro, finalmente, anunciou o que o bom senso enxerga como o básico e vem cobrando, desde a confirmação que o coronavírus está de rolé no Brasil: um Comitê de Gerenciamento de Crise.
Na presença de governadores, ministros e chefes de poderes, Bolsonaro anunciou uma “parceria” coletiva para combater a pandemia. A ideia é colocar em prática a supervisão e o monitoramento dos impactos da doença.
Pelo menos duas óbvias indagações precisam ser feitas neste momento ao presidente: por que ele demorou tanto para criar o comitê e se ele vai mudar sua postura e espelhar respeito à ciência.
Evidente que, como diz o lugar comum, o leite derramado não retorna à leiteira. Não iremos evitar mais contaminações, mais mortes, simplesmente, aderindo à moda de chamar o presidente de genocida. Até porque se a afirmação lhe cabe ou não somente no fórum adequado saberíamos.
Espera-se do presidente, entretanto, um comportamento que até o momento ele sequer demonstrou vontade de ter. O Brasil lúcido está a cobrar a consciência que, enquanto chefe da Nação, ele precisa ser um bom exemplo, sobretudo nesta pandemia – o que inclui, no mínimo, usar máscara e recomendar o uso, não aglomerar e pregar o distanciamento social e quando abrir a boca levar em consideração a chamada liturgia do cargo.
Não há ingenuidade suficiente para acreditar que tal mudança dar-se-á 100% com a mesma certeza que Deus existe. Como já fez em outras oportunidades, o presidente pode muito bem externar um sentimento bem diferente pouco tempo depois.
Acredito, porém, que, assim como passou a defender a vacina, o presidente pode passar a respeitar as normas sanitárias. E isso não aconteceria necessariamente por convencimento científico.
Bolsonaro é um politico turbinado pelo sonho possível de uma reeleição. Não seria inteligente de sua parte continuar com um comportamento reprovado por considerável fatia do eleitor. À luz das pesquisas, sua popularidade despenca nesta pandemia. As redes sociais e os panelaços também espelham o momento ruim.
Com Lula na área robustecido pela parcialidade do ex-juiz Moro – e o percentual mínimo de 30% que o PT vem tendo nas eleições presidenciais -, Bolsonaro sabe que se não mudar pela ciência, pela vida, pela empatia com familiares e amigos dos 300 mil mortos precisa mudar pela questão eleitoral.