O acumulado de chuvas este ano em Aracaju atingiu a marca de 1.300 milímetros durante a quadra chuvosa – que ocorre entre os meses de abril a julho – registrando um volume muito superior às marcas históricas para o período.
A previsão era de que a capital registrasse esse volume dentro de um período de doze meses, no entanto, em apenas quatro meses houve uma alta incidência acarretando em impactos expressivos nos bairros da antiga Zona de Expansão. Diante do cenário, a Prefeitura de Aracaju prontamente agiu para reduzir os danos a partir de uma série de intervenções realizadas de maneira ininterrupta por cerca de oitenta dias.
Durante o período mais crítico, foram registrados diversos alagamentos de ruas e imóveis da região. Segundo dados da Defesa Civil de Aracaju, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Defesa Social e da Cidadania (Semdec), entre os meses de maio a julho foram registrados 214 chamados relacionados às questões de alagamentos de vias e residências.
A população da região foi afetada pela impossibilidade de trânsito parcial ou total em diversas vias; quatro casas precisaram ser totalmente interditadas em decorrência de a água ter invadido o interior do imóvel. Ao total, estima-se que mais de 30 mil pessoas foram afetadas de maneira direta ou indireta pelos alagamentos que atingiram a região.
De acordo com o secretário da Semdec, tenente-coronel Silvio Prado, os motivos que geram esses impactos na antiga Zona de Expansão, a partir da alta incidência de chuvas, são diversos e estão diretamente atrelados ao crescimento populacional da região ao longo dos anos, que causou alteração das características geográficas da área.
“Um dos principais motivos que faz com que os bairros dessa região sofram com os alongamentos é o aterramento das lagoas naturais, ocorrido pela ocupação desordenada e ocasionando diversos problemas esse ano, porque tivemos uma chuva recorde desde maio. Somado a outros fatores, os alagamentos em vários trechos da Zona de Expansão acabaram deixando algumas vias interditadas, a exemplo da avenida Real, que afetou bastante alguns moradores da área, e para resolver isso a Defesa Civil fez essa força-tarefa, com vários trabalhos para mitigar esses efeitos. Tivemos bombeamento através do carro-pipa da Emsurb, e a bomba de sucção da Emurb, para tirar a água de dentro de algumas casas alagadas. Fizemos mais de 10 km de vala de escoamento para transportar essas águas das lagoas naturais que estavam totalmente saturadas, para o rio, para desafogamento”, explica o secretário.
A Prefeitura de Aracaju, por meio da Semdec, da Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb) e a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), interveio por meio de uma força-tarefa que contou com o emprego de sete caminhões-pipa, cinco bombas de sucção para drenar o excesso das águas em pontos de alagamentos críticos, além de realizar a limpeza e abertura de valas para escoamento das águas pluviais para mar e para os rios Santa Maria e Vaza-Barris, com uma extensão de 10km.
Foram bombeados mais de 50 milhões de litros de água por meio do carro-pipa, retirados de residências e de algumas lagoas da região. Ainda conforme o secretário, foram realizadas interligações de várias lagoas naturais, para dar vazão às lagoas encharcadas. “Todas essas ações foram paliativas, resultado de um trabalho que durou cerca de 80 dias ininterruptamente, para que pudéssemos dar um conforto maior para os moradores de lá. Hoje, não temos mais nenhuma via totalmente interditada, e estamos com uma certa normalidade social. Na entrada do bairro São José dos Náufragos, nosso trabalho, apesar de paliativo, trouxe um benefício permanente, pois não alaga mais quando chove”, destaca o secretário.
Evento adverso
De acordo com as explicações do coordenador da Defesa Civil de Aracaju, Robson Rabelo, o evento adverso registrado esse ano ocorreu porque o alto índice pluviométrico foi registrado no início da quadra chuvosa, diferente dos últimos anos, que apesar de também terem registrado chuvas intensas no período, elas ocorreram de forma distribuída.
“Esse ano, em específico, o maior volume foi registrado em abril e maio. Inclusive, em maio tivemos uma média em torno de 530 mm, quando a média histórica para o período é de 272 mm. Com isso, logo no início da quadra chuvosa, as lagoas da antiga Zona de Expansão encheram, e o escoamento foi insuficiente para qualquer chuva que veio a ser registrada após essa data de 22 de maio, que foi quando começaram as ações. Esse foi o evento adverso que registramos, com essas chuvas intensas no início da quadra chuvosa. Toda chuva que ocorreu após isso, intensificou o alagamento que já estava presente nas lagoas”, explica Rabelo.
O coordenador acrescenta ainda que os alagamentos acabaram obstruindo as ruas, além do incidente do colapso da avenida Inácio Barbosa, registrado em decorrência dos altos índices pluviométricos. Rabelo acrescenta que o trabalho contou com uma participação efetiva e importante da população.
“Nós percorremos os bairros por mais de dois meses e percebemos um relato unânime dos moradores, de que fato semelhante a esse só ocorreu em 2010. Foi a partir disso que fomos desenvolvendo as ações, por isso foi importante a participação dos moradores. Eles pontuaram as ações e a Defesa Civil também contou com imagens de satélite e drone, de forma que nossas aberturas de valas de escoamento e intervenções fossem otimizadas, abrindo no local certo. Agora, a Prefeitura está realizando a parte do revestimento das vias, por meio da Emurb, já que muitas foram danificadas. As valas abertas em locais públicos ou que serviram para o escoamento momentâneo, foram fechadas, e hoje não há mais registro de alagamento que esteja afetando a população de forma expressiva”, reitera Rabelo.
Investimento
A Prefeitura de Aracaju conseguiu a aprovação do Senado Federal para contratar um empréstimo de R$ 500 milhões, junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), instituição financeira do Brics – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O montante viabiliza a execução de um amplo pacote de investimentos do programa municipal “Aracaju Cidade do Futuro”, que possibilitará uma grande mudança na cidade, com a realização de diversas obras estruturantes.
A área para a qual será destinada a maior parte do investimento será a Zona de Expansão, que abrange seis bairros e corresponde a 40% do território municipal de aracajuano. Conforme o secretário Silvio explica, a partir do investimento do Brics, essa região receberá, pela primeira vez, uma obra permanente de macrodrenagem, esgotamento sanitário, pavimentação, que trará uma urbanização completa para a região.
“Serão direcionados R$ 300 milhões para melhorar, principalmente, as condições de saneamento básico dos bairros Mosqueiro, Matapuã, São José dos Náufragos, Robalo e Areia Branca. Aracaju já vem se tornando resiliente por eliminar áreas historicamente de risco em nossa cidade. Tivemos a eliminação de áreas com ponto de alagamento na Av. Euclides Figueiredo. A prefeitura vem investindo em obras de encostas preliminares de risco de deslizamento de terra, e esse empréstimo vem para atacar uma área em que a gente tem, historicamente, problemas com relação a riscos de inundação e alagamentos. Essa será a primeira obra de impacto permanente na região, onde a Prefeitura vai colocar a primeira pedra de urbanização, saneamento básico e drenagem urbana, nessa região que é tão afetada pelas chuvas, principalmente esse ano”, explica o secretário.