Por Joedson Telles
A greve dos caminhoneiros pode ter terminado, as sequelas afligirão por muito tempo inocentes. Em alguns casos, para sempre. A violência testemunhada pelo Brasil e boa parte do mundo, como o homicídio doloso que vitimou o caminhoneiro José Batistela, aos 70 anos, atingido por uma pedrada, em Vilhena (RO), precisa servir de reflexão. Os prejuízos de inúmeras pessoas idem. A impunidade não pode ser aliada daqueles que não respeitam sequer a vida.
Sei que é pedir muito em se tratando de um país onde, como já disse aqui, pensar soa artigo de luxo. Mas algo precisa ser feito para frear a insanidade a atentar contra direitos demagogicamente assegurados nas leis, inclusive o direito de viver.
Ao invés de apenas infestar as redes sociais com aquela imagem modista de um caminhão a ilustrar a frase “Somos todos caminhoneiros”, é cogente uma análise profunda, que possibilite despertar a astúcia de apoiarmos, sim, a realização de manifestações, mas não abrirmos mão de uma lei que proíba terminantemente não apenas atos selvagens como quaisquer violações aos direitos garantidos na Constituição. Pensar contrário é ser cúmplice dos crimes covardemente praticados contra pessoas inocentes. É ser criminoso do mesmo jeito. Quer manifestar insatisfação? Ótimo. Democrático. Mas nada de prejudicar terceiros que sequer têm culpa.
Estamos num ano eleitoral. Não merecem votos os candidatos, sobretudo aos cargos de senador e deputado federal, que derem de ombros ao tema. Aqueles que estiverem satisfeitos com o caos estabelecido neste terreno minado conhecido como manifestações não podem representar Sergipe no Congresso Nacional. Sejam políticos que sempre se beneficiam com a bagunça ou os que também são prejudicados, mas são omissos.
O Brasil está obrigado a usar da empatia com as vítimas e lutar para acabar com a violência – física e psicológica – vista nas manifestações a cuspir no rosto da democracia. Ninguém tem o direito de, em nome de tentar resolver seus problemas, criar problemas para terceiros. Mortes, agressões físicas e verbais, prejuízos com mercadorias perecíveis, prejuízos gerados pela impossibilidade de ir e vir… Basta…
A barbárie não nasceu ao acaso. Um justiceiro que aplica a própria lei e usa uma pedra para tirar a vida de outra pessoa – e nunca haverá motivo que justifique tamanha selvageria –, outros que impedem pessoas de transitar com socos, que obrigam à adesão à força estão a atuar num palco armado para o nocivo ao coletivo na cara das autoridades.
Quantos caminhoneiros, pra citar a mais recente manifestação, foram obrigados a comprar a ideia alheia e, numa espécie de cárcere privado ao ar livre, foram impedidos de seguir viagem? Até aqueles que concordam com a pauta (lúcida e justa, diga-se), muitas vezes, por conta de levar uma carga perecível não gostariam de estar ali presos. Mas recusar a sansão dos justiceiros significaria provocar o ódio que resultaria em agressão. Em alguns casos, em morte – como o homicídio já citado neste texto.
Os nossos congressistas têm a obrigação de resolver o grave problema. Se não podem trazer de volta à luz as vítimas podem evitar novas mortes. Novos prejuízos irreparáveis que estas manifestações já provocam na vida de inúmeras pessoas que são impedidas de ir e vir. Precisamos de leis que só permitam manifestações que respeitem os direitos de todos. Leis que identifiquem responsáveis antes mesmo de a greve começar e os puna duramente se a ordem pública for posta em xeque.
Já se perguntou, internauta, por que a sociedade é avisada do fechamento de ruas para a comemoração do dia 7 de Setembro, por exemplo, mas é pega de surpresa ao ser impedida de ir e vir por qualquer um que deseje armar uma manifestação por qualquer coisa?
Quer protestar? Ótimo. Democrático. Justo. Mas seja criativo. Atinja os responsáveis, de fato, pelo seu problema sem atingir pessoas inocentes. Hoje, covardemente, há a inversão de valores. E a maioria das manifestações têm caráter político. Sempre o mesmo grupinho.
Imprescindíveis ao equilíbrio do jogo patrão x trabalhador, instrumento importante para a manutenção do respeito à democracia, as manifestações não podem acabar. Insisto. Entretanto, não podemos mais abrir mão de ajustes que as tornem, de fato, algo a favor do coletivo, do trabalhador, e não um injusto e pesado fardo em desfavor de inocentes e a alimentar o sonho político de figuras carimbadas.