Por Joedson Telles
O pedido de prisão preventiva em desfavor do ex-presidente Lula não chega a deixar o Brasil atônito, mas soa o divisor de águas do atual momento político. Os desdobramentos poderão, ao menos é o que se espera, jogar luz alta sobre dúvidas que insistem em conviver na cabeça de 10 entre 10 brasileiros que não morrem de amor pelo PT, PSDB ou outra legenda adversária dos petistas. Pessoas que querem apenas a verdade, a justiça e, evidente, um Brasil melhor sem aumentos constantes que massacram seu povo e voltando crescer, gerando emprego. Pessoas não favoráveis e nem contra Lula e Dilma: pessoas que são Brasil não políticos. Lula é culpado ou inocente?
Descartando a emoção dos fanáticos, sobra a lucidez: todos são inocentes até que se prove o contrário. Para pedir a prisão de Lula, sob pena de dar um tiro no pé, e ainda alimentar o discurso petista de golpe, de perseguição para desgastar Lula, temendo uma volta sua em 2018, ao Ministério Público de São Paulo não basta estar coberto de razão: precisa convencer o Poder Judiciário disso. Uma vez recuse mandar a polícia prender Lula, o Judiciário estará dizendo que o MP está equivocado.
E, evidentemente, será um erro imperdoável não apenas contra Lula, mas contra uma nação. Um ex-presidente tendo injustamente um pedido oficial para tirar sua liberdade é uma forma de dizer que qualquer um pode ser preso ainda que não sejam apresentadas provas irrefutáveis de crime algum.
Recorrendo ao Código do Processo Penal, atesta-se que a prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública. Logo, falta ao MP de São Paulo situar o ex-presidente neste contexto de forma a persuadir. Apesar de respeitar o contraditório, não consigo enxergar como Lula estaria a colocar em xeque a ordem pública de forma a prejudicar o andamento da investigação. Note-se que não estamos inocentando Lula. As investigações devem continuar, evidente. Mas será mesmo necessário prender Lula neste momento?
Neste clima de impeachment x golpe, quando o discurso do PT repousa num esquema para desgastar o partido e impedir o Lula lá outra vez, e os tucanos atiram todos os sapatos numa tentativa desesperada de arrancar Dilma da Presidência sob o argumento de salvar o Brasil, pedir a prisão do maior líder político do Brasil exige uma excelência descomunal na argumentação. Inclusive para não transformar bandido em mocinho ou mocinho em bandido.
Não torço contra Lula. Tampouco a favor. Não tive uma convivência com ele de 24 horas por dia durante os oito anos de governo para colocar a mão no fogo pela sua inocência ou chamá-lo de ladrão como parece ser moda entre os tucanos e afins. Entretanto, para o bem da instituição Ministério Público “é bom” que os promotores estejam corretos e provem isso. No Brasil, quando o MP dá um passo, antes mesmo de a Justiça focar, é praxe a maioria da imprensa de forma açodada e irresponsável emitir o veredicto. Quase sempre pela condenação, ainda que esteja em xeque a liberdade de um inocente.
P.S. Em tempo, nada inflamaria mais os que defendem Lula que sua prisão.