O sábado começa com o sentimento de revolta. Olha só o que reproduz a mídia, garimpado junto ao delegado da Polícia Civil, João Martins, que apura o covarde latrocínio que vitimou, dentro de um ônibus, em Aracaju, a adolescente Tais da Silva dos Santos, que só teve direito a apenas 21 anos de vida. O delegado, após ficar cara a cara com o autor do disparo que matou a garota, um jovem que tem menos de 18 anos, reproduziu suas desculpas para o indesculpável. “A vítima teria jogado a bolsa e que quando a alça da bolsa pegou na mão dele, a arma ia cair. Num ato involuntário, diz ele, para segurar a arma, apertou o gatilho. Ele não sabia que tinha atingido a mulher, fugiu e só duas horas depois soube no que resultou o disparo”, narra o delegado.
Deus meu, segura estes dedos nos teclados para não reproduzirem o que penso agora… A demagogia de quem confunde direitos humanos com proteção a marginal mandar-me-ia à guilhotina – e ainda tomava uma Heineken canela de pedreiro para comemorar a carta fora do baralho…
Voltando ao depoimento do cidadão de bem que matou a jovem dentro do ônibus, suas palavras só não são piores, evidente, que o ato de matar. Aliás, com ou sem desculpas, ele terá que conviver com isso: matou uma pessoa. E uma pessoa inocente. O que pode ser um troféu no mundo do crime, hoje, uma vez a ficha caindo, como já aconteceu com outros autores de disparos fatais, pode virar um tormento para o resto da vida.
Mas, como disse, as “justificativas” só perdem para o crime. Vamos por parte. Diga-me e convença-me do contrário: como é que o cara, que de menor só tem a idade, mas vota e faz tudinho que uma pessoa maior de 18 anos faz, adquire uma arma sem ser polícia? Achando pouco, usa a mesma para realizar assaltos? Agora, pensem na desculpa para as consequências de ter zombado das leis, das autoridades e, óbvio, da Segurança Pública do Estado: “Ato involuntário”.
Como assim involuntário? Ele mesmo não disse que “para segurar a arma, apertou o gatilho”? Está de sacanagem. “Ato involuntário” com uma arma engatilhada e apontada para uma pessoa durante um assalto? Então quer dizer que quando um ladrão aponta uma arma para um cidadão de bem, durante um assalto, este último pode reagir e ficar tranquilo, que o ladrão não pensa em atirar? Só o fará num “ato involuntário?” É tudo de brincadeirinha? Seria “ato involuntário” ou um ato para convencer otário?
Achando pouco, ele prossegue argumentando que não sabia que tinha atingido a jovem. Lembrou o óbvio à polícia: como todo covarde, fugiu sem saber que tinha atingido a adolescente, e só depois soube que matou uma pessoa duas horas depois. Será que este bem para a sociedade acredita que o delegado e as demais pessoas sensatas viajarão nesta maionese estragada?
Pela sua lógica, então, ele não percebeu que alvejou a vítima? O sangue que automaticamente emerge nestes momentos estava invisível? Apertou o gatilho de olhos de fechados e assim deixou o ônibus? Gritos de vítima e testemunhas, algo de praxe em momentos de terror como este, também não foram ouvidos? Nenhum dos comparsas que assistiram a tudo comentou a merda? Ele só soube duas horas depois? Nem o Lula se sairia com uma dessa…
Em casos como este, são inevitáveis aquelas perguntinhas que já viraram lugar comum, e irritam demagogos de plantão: se todos que cometessem um crime pagassem na forma da lei, independente de ter 16 ou 106 anos, turminhas como essa que fez o arrastão que resultou na morte da jovem seriam intimidadas? Pensariam duas vezes antes de agir criminosamente, temendo a punição?
Aliás, é provável que, aos olhos dos que ficam contra a redução da maioridade penal, este rapaz, que admitiu, pelo menos, que a arma usada para matar Tais estava em suas mãos engatilhada, e, involuntariamente ou não, confessa que apertou o gatilho, também não tenha conhecimento do que significa uma pessoa inocente ter a vida ceifada aos 21 anos. Desconheça o sofrimento que isso está a provocar em familiares e amigos da vítima. Faça pouco caso da realidade: nada trará a jovem de volta. E, assim, insistam que pessoas de 16 e 17 anos possam continuar livres das penas previstas em leis para quem tira a vida de outra pessoa.