Por Joedson Telles
Após denunciar com cara de poucos amigos que o deputado federal Rogério Carvalho destruiu a Saúde Pública de Sergipe e ainda trabalha para que o Ministério da Saúde não destine verbas para Aracaju, o prefeito João Alves Filho fechou a entrevista com as seguintes pedras de diamantes: “não quero bater boca com ele. Este rapaz é muito pequeno para eu estar batendo boca com ele”, afirmou olhando nos olhos do jornalista que ajuíza neste espaço. Tudo isso num tom de quem estava botando para fora algo engasgado. Um desabafo.
Pergunto aos confidentes botões: com a conhecida animosidade entre o prefeito de Aracaju e o presidente estadual do PT de Sergipe é possível mesmo acreditar que eles estejam no mesmo palanque, em 2014, como sonha o PMDB? Compute-se também os elogios feitos a Rogério por Mendonça Prado no Twitter: “piada do ano, coveiro da saúde, incompetente, causador do maior rombo, destruidor…” Como unificar discursos inimigos e persuadir à sociedade a confiar num projeto cujos integrantes do grupo se agridem o tempo todo, mas depois se juntam para pedir voto? Sobretudo com a eleição batendo à porta? Eis o desafio.
É certo que em política o vocábulo impossível soa o antônimo de si mesmo. Já assistimos a brigas parecidas terminarem em afagos. Tudo em nome do poder. De negócios maiores. É da vida. É da política. Louvemos a cultura dos interesses pessoais sempre se sobreporem ao coletivo. E não há nada que uma conversa intermediada por outros políticos não resolva.
Mas mesmo neste clima ímpar da nossa política, não creio que seja possível estabelecer a paz. Acredito que não há espaço no mesmo palanque para o prefeito João Alves e o deputado Rogério Carvalho. Eles próprios demonstram isto. Avivam com nenhuma outra dupla a histórica inimizade PT x PFL – hoje DEM. Sem falar que políticos também têm sentimentos. Caráter. Coerência. Palavra. Ou não?
O fato é que esta eterna troca de farpas, que já foi parar na Justiça mais de uma vez, acaba sobrando, óbvio, para o pré-candidato ao governo do Estado pelo PMDB, Jackson Barreto. Percebam que JB entra numa encruzilhada: vice do PT e aliado natural de Rogério Carvalho e sem poder se dar ao luxo de não tentar um acordo político com João Alves – único caminho para evitar, das duas, uma tragédia para suas pretensões políticas: o DEM no palanque de Eduardo Amorim, que dificilmente deixará de anunciar sua pré-candidatura em breve, ou o próprio João deixar a PMA rumo à campanha pelo seu quarto mandato de governador. É da vida. É da política.
Percebem a bomba acesa a chiar no colo de JB, internautas? JB precisa optar por um ou outro no palanque. Como a política é a ciência dos interesses, esta animosidade, atrelada a outros problemas internos do PT e ainda a interesses maiores dentro do próprio partido, pode estar a minguar a vida de Rogério Carvalho como presidente da legenda. Soa o prazo de validade. E vou mais além: não tomem como surpresa se um dos ex-presidentes do PT, Silvio Santos ou Márcio Macedo, voltar à presidência já no próximo PED. O caldo entornou. E o deputado Rogério Carvalho corre o risco de ser isolado. Não apitar nada. Do mesmo jeitinho como aconteceu, em 2012, quando o grupo o descartou, miseravelmente, para apostar na candidatura de Valadares Filho. É da vida. É da política.