De alguns meses para cá, o PT se permitiu ser fotografado no sonho de retornar à Prefeitura de Aracaju, a partir de janeiro de 2017. Desde que o saudoso Marcelo Déda deixou o comando da PMA para disputar a eleição de governador do Estado, em 2010, o partido não tira da cabeça o desejo de voltar a dar as cartas na capital – sobretudo depois das eleições 2012, quando o adversário histórico, João Alves Filho, se elegeu prefeito. E tem ventilado isso. Para a missão, o nome que soa consenso, hoje, é o da deputada estadual Ana Lúcia. Inclusive porque, além do perfil, em disputando o pleito, mesmo perdendo, Ana continuaria deputada.
Evidente a distância para a eleição de outubro de 2016 deixa qualquer entendimento definitivo inviável neste momento. Tudo é especulação. Em política, pouca coisa – ou nada – tem o martelo batido de forma açodada, sem muito diálogo. E como o partido em foco é o PT, bote diálogo nisso. Aliás, o principal discurso do atual presidente da legenda, o ex-deputado Rogério Carvalho, para ganhar a eleição foi o partido garantir voz à militância – uma crítica ao então boss da legenda, Marcelo Déda, que, segundo opositores dentro do próprio PT, “empurrava tudo de goela abaixo”, sem consultar a militância.
Levando isso a sério, se o nome escolhido for mesmo o da deputada Ana Lúcia, o PT tem um desafio antes de ouvir um sim da parlamentar professora: voltar a ser o PT. Romper com vícios que deixaram o partido igualzinho a tantos outros criticados pelo próprio PT outrora. Evidente que não há petista sergipano vendo o sol nascer quadrado na Papuda. Entretanto, pelo menos dois pontos, creio, a deputada Ana Lúcia não negocia.
Primeiro, a campanha tem que ter a cara daquele PT da estrelinha vermelha no peito – com militância na rua bancando o sonho coletivo. Nada de empresário custeando a empreitada, para colocar o dedo – sobretudo na possível gestão. Ana não disputa a eleição para prefeita no bolso dos empresários. E, segundo, o projeto ‘Ana 2016’ precisa ser pautado na social democracia – em coerência com a bandeira que o Partido dos Trabalhadores abraçou quando foi fundado no dia 10 de fevereiro de 1980.
Reunir partidos aliados com a única missão de chegar ao poder pelo poder, e, posteriormente, fatiar o governo, distribuindo cargos com cabos eleitorais (alguns, inclusive, para receber dinheiro público sem sequer trabalhar) não espelha o perfil da deputada Ana Lúcia. Militante política há vários anos, a professora deputada, que cuida muito da própria imagem de política séria, não se permitiria ser usada.
Caso tenha o apoio do PT para entrar na disputa sem violentar sua história, mas não consiga persuadir partidos aliados a abraçarem sua linha, Ana não deve jogar a toalha, entendo. Pode encabeçar a chamada terceira via, restituindo o PT ao bloco ‘Frente de Esquerda’, compondo com o PSTU, PSOL e PCB. Em este esboço ganhando contornos coloridos, se a deputada petista ganha a eleição, só o eleitor pode dizer nas urnas. Mas que ela terá cumprindo o importante papel de ajudar a resgatar a credibilidade do PT, ninguém terá dúvida alguma.