Por Joedson Telles
Quando menino, conheci uma senhora que, todas as vezes que precisava lembrar ao filho quem mandava no pedaço, dava-lhe tapas e repetia: “Tá (sic) vendo você?” A indagação vinha a propósito de o garoto ter cometido algo que ela julgava errado, e já tinha feito o aviso, em bom diálogo, das consequências. Era como se dissesse, ao castigá-lo: “eu não lhe avisei?” Teimosia é o vocábulo único.
O curioso – e, sobretudo, cômico – é que, ao final da sílaba “cê”, a mão descia. Tudo no ritmo. Naquele tempo, filho era educado com amor e carinho, mas a chinela cantava “quando necessário”. Certo ou errado, o fato é que tínhamos uma juventude mais lúcida…
Lembrei das cenas do garoto desobediente chorando e a mãe repetindo a interrogação, ao escutar, na manhã desta quarta-feira, dia 1º, numa emissora de rádio, o choro de professores e solidários por conta do corte no ponto em homenagem à greve.
A nossa imaginação é fértil. Não pude evitar que um filmezinho invadisse a mente com o governador Jackson Barreto tirando os óculos, limpando-os na camisa e, fitando dirigentes do Sintese e até a deputada Ana Lúcia, a plagiar a frase: “Está vendo você?”. Isso, claro, com aquela voz rouca inconfundível.
Evidente que nem na imaginação rola tapa. Mas e precisa? Numa crise desta, perceber o salário minguado que os professores percebem e ainda descontos? Existe baque maior? Castigo maior? “Está vendo você?”
O Governo do Estado peca, ao cortar o ponto dos professores. Não há sentido, se a ideia é repor as aulas. A não ser que o sentido seja pedagógico: inibir novas greves. Ou mera vingança, como diz a deputada Ana Lúcia.
Por outro lado, os professores também pecaram quando assumiram o risco. Não escutarem os inúmeros apelos, sobretudo do vice-governador Balivaldo Chagas, para voltar ao trabalho e continuar dialogando. Assim como o garoto que teimava, mesmo sabendo das possíveis consequências, o Sintese sabia que isso poderia acontecer. Se fosse um homicídio era doloso.
Óbvio que a decisão de cortar ou não o ponto é pessoal do governador. Se ele quiser pode consultar os mais próximos. Mas ele é o portador da caneta. Inclusive, Sintese, Ana Lúcia e muitos professores, democraticamente, votaram nele para governar o Estado. Portanto, Jackson tem legitimidade para decidir.
Todavia, deixo aqui o modesto apelo para que um diálogo em forma de bandeira branca evite mais prejuízo para os professores – e, sobretudo, para os alunos, já que com o corte no ponto o professor não teria a obrigação de repor as aulas.
O bom senso, contudo, tem que existir de ambos os lados. É paradoxo o Sintese querer a sensibilidade do governador Jackson Barreto quando, além de peitá-lo, inclusive desobedecendo a Justiça, já anunciou que continuará colocando em prática novos protestos – inclusive preparam o seu enterro simbólico.
É fácil perceber que a guerra continua bem acirrada. Cada lado usa a arma que tem em mãos – e os alunos sofrem com balas que nunca podem ser chamadas de perdidas, mas achadas cravadas na qualidade do ensino público de Sergipe.