Por Joedson Telles
Escuto no rádio o relato de uma senhora que reside no conjunto Jardim, em Nossa Senhora do Socorro, e pagou R$ 30,00 ao taxista que a deixou, por volta das 4h da madrugada, à porta do Instituto de Identificação, no DIA, em Aracaju, nesta segunda-feira 10. Indignada, a senhora noticia o drama de, somente por volta das 7h, ter tomado conhecimento que o órgão público, logo custeado por ela, não prestaria o serviço.
O motivo? A raiva de policiais civis é do governador Jackson Barreto, mas a conta é jogada no colo da sociedade – sobretudo de pessoas com menor poder aquisitivo – como a senhora em foco, que, sem um transporte próprio, precisou gastar R$ 30,00 para pagar um táxi. Dinheiro que para muitos pode ser pouco, mas para quem reside no Jardim e não tem carro próprio é um indício forte de um orçamento estreitíssimo.
Evidente que a democracia existe para ser usada. Seria de uma estupidez ululante ir de encontro à luta de qualquer trabalhador por melhoria salarial, melhores condições de trabalhado ou qualquer ponto de uma pauta que repouse sobre a dignidade. Os policiais acertam em não aceitar a versão do governo. Querer o próprio bem ainda é o mais legítimo dos pleitos.
Todavia é preciso bom senso para não passar uma visão egocêntrica. Empatia com quem está envolvido indiretamente na luta. Diria até astúcia para não adquirir uma antipatia desnecessária e, sobretudo, contrária ao plano.
Se em qualquer greve, qualquer sindicalista minimamente consciente do seu papel tem discernimento que precisa trazer a população para o seu lado, sensibilizá-la a comprar a causa, como colocar uma manifestação em prática prejudicando justamente essa mesma população?
Note-se que, via de regra, a sociedade já nem se incomoda mais em ser sacrificada em causas que não lhe rendem um só centavo. Solidária, contenta-se em ficar sem o serviço – ou no mínimo adiá-lo. Mas em certos momentos, no caso em tela, por exemplo, mesmo aliada ser golpeada? Qual o sentido de fechar o Instituto de Identificação – e outros órgãos – sem aviso prévio? A ideia é cortar os serviços ou tirar um sarro do contribuinte?
Será que alguma cabeça de inteligência acima da média esperava que o governador Jackson Barreto se faria presente, hoje, ao Instituto de Identificação para tirar a segunda via da RG e, assim, como um gênio, teve a ideia de impedir o serviço sem avisar com antecedência? Será que, de fato a ação atingiu o gestor que costuma ver este tipo de inteligência com o auxílio de uns óculos moderno? Ou só feriu a sociedade?
Será que não levaram em conta as necessidades sociais? São agentes públicos, mas não se preocupam com a sociedade – apenas com os próprios problemas? Ou será que tudo foi devidamente planejado, mas, como diz o popular, no alheio é refresco? E, neste caso, foi pensado justamente permitir que as pessoas arriscassem suas vidas num estado sem segurança (quanta ironia) saindo de suas casas, 3h, 2h… Para chegar às 4h, gelar e somente às 7h a notícia ruim?
Qualquer atitude grevista ou não que atinja a população transitando do campo do sacrifício para beirar a sacanagem, por melhor intenção que traga em si, não tem amparo na razão. A sociedade precisa e deve ser sempre parceira de qualquer trabalhador numa via de mão dupla. Jamais vítima. A polícia é um braço do Estado imprescindível. Qualquer governo que se respeite e pense, de fato, em servir ao povo remunera bem a polícia. Garante estrutura de trabalho. Mas a legitimidade de uma polícia respeitada reside justamente na forma como ela emerge a serviço do bem da sociedade.