Ex-deputado diz ainda que Ana Lúcia tem o discurso mais ultrapassado da política
Por Joedson Telles
O ex-deputado federal pelo PT, João Fontes, um dos políticos mais polêmicos que Sergipe já elegeu, conversou com o Blog do Joedson Telles e ajuizou não apenas sobre a polêmica envolvendo a ex-primeira dama do Estado, Eliane Aquino, dentro do PT, mas também sobre o cenário político de Sergipe, tendo como pano de fundo as eleições para governador do Estado. João Fontes, que ratifica a cada nova entrevista que jamais voltará a disputar uma eleição, volta a afirmar que, apesar disso, gosta da política e acompanha os fatos. Segundo ele, a eleição para o governo está polarizada entre os dois pré-candidatos colocados: o governador Jackson Barreto (PMDB) e o senador Eduardo Amorim (PSC). João Fontes não acredita que o prefeito João Alves (DEM) ou mesmo o senador Antônio Carlos Valadares (PSB) entrem na disputa de forma direta. O ex-petista ainda alfineta a deputada estadual Ana Lúcia (PT), que, segundo ele tem o discurso mais ultrapassado da política. “Não vale nem em Cuba e nem na Venezuela. É um discurso pra quem não entende política. Ana Lúcia acha que é a dona da verdade, que tem o discurso mais ideológico do mundo. Mas é o discurso mais fora de moda, ultrapassado, que ninguém aguenta. O que eu ouço na rua é que quando Ana Lúcia começa a falar desligam o rádio”, afirma. A entrevista:
O senhor saiu em defesa da ex-primeira dama Eliane Aquino nessa polêmica da filiação. Por quê?
As pessoas colocaram de uma forma raivosa, amarga uma situação para a sociedade como se Eliane, uma pessoa que está sofrendo, que perdeu o marido agora, que está precisando de carinho e não faz questão de ser candidata à força porque não é da alma dela disputar migalha do poder pelo poder. Apenas porque houve um apelo do partido, da sociedade pelo nome dela, ela colocou o nome para discussão. As pessoas esquecem de forma muito rápida as coisas. Eu citei o poema de Cecília Meireles que fala sobre a questão do punhal de prata. Ela diz naquele poema muito bonito, e acho que Déda no final da vida morreu assim, já que ele era muito poeta muito dos dramas de Shakespeare, ele dizia uma coisa interessante, que estava bem ainda, mas dói saber que estava morrendo de câncer. Em um determinado momento eu e outro amigo colocamos para ele se desligar de tudo e cuidar da doença dele e ele sempre colocou pra gente que se fizesse isso morreria do coração e não de câncer, porque a política estava na alma dele. Mesmo ele doente ele nunca se deixou desligar da política. Aquele poema de Cecília Meireles quando ela diz que “dói para mim punhal de prata não é saber que estou morrendo, o que dói para mim punhal de prata é saber quem está me matando”, e no campo da política no final Déda morreu assim.
E Déda morreu assim, magoado?
Morreu vendo que as criaturas que ele criou o derrotaram na forma como está sendo feita agora, porque isso poderia ser travado internamente de uma forma muito amistosa, muito carinhosa. A minha preocupação com isso é porque eu quero muito bem a Eliane, nós somos amigos, eu conheço bem a alma dela, porque mesmo com embates que eu tive no PT, com Déda, com os agrupamentos a gente sempre se respeitou muito. Eu criei uma relação com a família dela de ordem pessoal e dona Raimunda, a mãe dela disse que eu sou um filho. Déda chamava-a de dona Sinhá e brincava dizendo que ela gostava mais de mim do que dele. Ela está sofrendo. Tem menos de 90 dias que perdeu o amor da vida dela, o pai dos filhos dela, o cara que era governador do estado. Você sabe quando o cara sai do poder as coisas mudam. Uma pessoa estar passando tudo isso e ainda vem colocar pra opinião pública que a mulher fraudou é de uma coisa descomunal.
O senhor sente que não houve respeito a dor de Eliane Aquino, não é isso?
Eu disse ao bispo Rodrigues lá no Congresso Nacional, quando a gente votou na reforma da Previdência, para tirar o direito dos aposentados, dos órfãos e das viúvas, que cuidado: está na Bíblia que o céu amaldiçoa aqueles que enganam as viúvas, os órfãos. As pessoas esquecem tudo. Parece que Déda já passou há nove anos. A forma como ela foi emparedada dentro do PT foi uma coisa impressionante. As pessoas não têm o carinho, o respeito ao momento que ela está passando. Aí diz que não tem história de companheiro porque já perdeu o companheiro. Não é história não, é respeitar o outro. Ninguém vai usar na política as cinzas de Déda. É muito recente ainda para estar desqualificando uma pessoa de muito valor, muito ética, decente. Eu não vejo a política por esse caminho. Eu vejo a política como instrumento do bem comum. Não dá pra gente assistir a isso aí. Eu já passei por isso. Eliane é filiada, todo mundo sabe disso. Quem não sabe que Eliane em 2002 transferiu a filiação dela para Aracaju? Ela não poderia ser eleitora de Brasília e ter ficha em Brasília porque ela votava aqui em Sergipe. São as coisas que são colocadas de uma forma de uma disputa autofágica. Essa questão de Eliane, quando eu falei de Ayres Britto eu tenho entrevista dele de uma página no Cinform, colocando o apoio dele a Eliane, a admiração dele pra ela. Eu fui pra inauguração do mergulhão sexta-feira passada, quando citaram o nome de Eliane foi um delírio: o povo todo que estava sentado ficou de pé. Uma pessoa admirada na sociedade que não pode ser desqualificada da forma como vem sendo feita. É hora de um respeito muito grande pra uma pessoa que precisa de carinho, a amor, de colo, não de uma forma violenta como foi colocada.
O senhor, então, enxerga como uma covardia?
Eu não vou dizer que é covardia. Eu não quero usar esses termos assim. Eu acho que é um ato de deslealdade à história e à memória de quem não está aqui que possa se defender. Déda no final da vida, isso foi colocado na missa de corpo presente, se sentou com o bispo auxiliar de Aracaju, Dom Henrique, e confessou todos os pecados, pediu perdão a todas as pessoas que tivesse ofendido. Daqui pra frente é a gente pensar nas coisas boas do Déda. Eu vejo que é um ato de deslealdade a quem partiu. Deslealdade à família. Não era pra ela ser nem candidata. Ela não está fazendo disso campo de batalha. Ela colocou que só seria candidata se fosse de consenso. Ela vai contar no momento certo. Mas você não pode imaginar essa conversa lá dentro, Joedson. Zé Eduardo disse a ela que, como amigo, não entre na disputa política. Dia 2 de março completa 90 dias da morte de Déda, é muito recente para uma situação dessa. Cabe bem o poema de Cecília Meireles. É preciso ter cuidado com os filhos de Déda, com a viúva. Está lá, é bíblico isso. Na política quase sempre a tartaruga vence o coelho. Tem que ter paciência, calma. Não se pode quebrar os ovos todos do omelete de uma vez só. Tem que ser feito de uma forma muito civilizada, respeitosa, principalmente a quem não pode se defender. Eliane não tem esse espírito. Eu disse a ela que ela não tem espírito para conviver com esse povo porque ‘sai de baixo’. Eu citei o nome de Carlos Brito porque ele disse isso no Cinform, é uma pessoa espetacular.
O senhor conhece uma pesquisa interna na qual Eliane estaria melhor posicionada que Rogério Carvalho para o Senado?
Eu não conheço essa pesquisa aí porque a pesquisa que eu vi não estava com o nome dela. Mas eles têm. O Governo fez a pesquisa. Tem coisas que eu não posso falar agora, mas no momento eu vou falar. Eu disse a ela pra não entrar, mas ela é muito ingênua. Ela vai falar no momento certo. É um negócio complicado isso aí. Eu quero muito bem a ela. Ela precisa de proteção, muito embora ela não precise disso porque ela é uma pessoa muito independente, autêntica, que sabe se defender, mas ela precisa de carinho dos amigos, de muito amor, de muita compreensão, ao invés de estar sendo feita essa coisa violenta como está sendo colocada na opinião pública. Colocar Eliane como fraudadora de ficha, está maluco? É falta de juízo fazer isso. Eu não estou citando nome de ninguém, estou colocando numa forma sem nominar. Agora Ana Lúcia vestiu a carapuça.
Como assim, João Fontes?
O discurso de Ana Lúcia é o mais ultrapassado da política. Não vale nem em Cuba e nem na Venezuela. É um discurso pra quem não entende política. Ana Lúcia era contra o acordo com Jackson, e depois estava lá no palanque chamando Jackson de companheirinho. A mesma coisa aconteceu com os irmãos Amorim, que foram os filhos gestados na barriga de João. Depois estava lá no palanquinho chamando de Eduardinho, meu senadorzinho. A mesma coisa agora. Já prepararam: chamavam de Dedinha, e agora vai ser Joãozinho. Eu conheço o PT. Eu vive lá dentro. Eu conheço toda a história política de Sergipe do PT. Ana Lúcia acha que é a dona da verdade, que tem o discurso mais ideológico do mundo. Mas é o discurso mais fora de moda, ultrapassado, que ninguém aguenta. O que eu ouço na rua é que quando Ana Lúcia começa a falar desligam o rádio.
O senhor acredita no acordo João Alves e Jackson Barreto ou o PT pode atrapalhar?
Eu estou colocando aquilo que está nas especulações da imprensa. Se tiver o acordo de João, eles já estão colocando claro que quem vai fazer a aliança, é Jackson. E Jackson tem toda liberdade para fazer a aliança que ele achar melhor. Entre tapas e beijos tudo pode acontecer em Sergipe. O eleitor dos últimos tempos da Grande Aracaju tem votado em João. É muito subjetivo vendo as coisas de fora. Mas acredito que a eleição está polarizada entre Eduardo Amorim e Jackson Barreto, e aí é um negócio que tem muita coisa para acontecer nas arrumações, e no andar da carruagem as abóboras vão se ajeitando. O que está posto é que vamos ter duas candidaturas. Valadares já disse que não é fenômeno para concorrer à eleição no terceiro bloco, o que está posto é que João deve ficar na prefeitura, o que eu acho que isso é bom para Aracaju porque ele se comprometeu a ser prefeito e prefeito são quatro anos, ele tem muitos projetos a realizar na prefeitura e acho mais coerente ele ficar na prefeitura. Defendo a tese que ele deve cumprir o mandato. Ele foi eleito pela população por descaso de um prefeito que deixou a dívida de mais de R$ 150 milhões.