Por Joedson Telles
Preste atenção às palavras do senador Eduardo Amorim, ao ser provocado pelo Universo sobre continuar ou não aliado do prefeito João Alves Filho (DEM). Retorno ao gramado num piscar de olhos.
“Vamos buscar o espaço. Não participamos de nada da administração atual. Deixamos livre. Não indicamos vice-prefeito. Mas é normal o grupo exigir uma participação. O grupo poderá ter um nome próprio. Se permanecer a aliança que se indique nome para participar diretamente, para ajudar ainda mais. Tenho me prontificado a ajudar qualquer secretário de doutor João e de qualquer prefeito. O que eu puder fazer em Brasília, eu faço. Não é novidade”.
No gramado outra vez. Olha, sei não. A menos que, contrariando o óbvio, não vá à reeleição ou tenha a convicção inexorável que sucede a si mesmo apenas colocando o coração na ponta da chuteira – leia-se sem precisar da sola do sapato do senador Eduardo Amorim e dos demais do seu agrupamento -, o prefeito João Alves Filho tem um problemão para escalar seu time.
Como abrir espaço para o grupo do senador Eduardo Amorim “participar diretamente” do jogo, se para isso é preciso descartar o seu mais leal jogador, o vice-prefeito irmão José Carlos Machado? A indagação tem como pano de fundo uma amizade de décadas.
A dupla João/Machado emerge do tempo de Palhinha/Nelinho na Seleção Brasileira de 1975. Lá se vão 40 anos. E duplas históricas, como Sócrates/Zico, Romário/Bebeto, Ronaldo/Ronaldinho, ficaram pelo caminho – até chegarmos ao solitário Neymar, que não encontra parceiro a altura, e a seleção virou o fiasco do qual se tem notícia hoje. Até seleção do Paraguai leva a melhor.
João temeria ter o mesmo destino que Neymar? Isolado, perderia a cabeça, faria besteira e seria suspenso da vida pública, a partir de janeiro de 2017? Sem Machado suas melhores jogadas não fluem? Ou o certo é plagiar a seleção campeã mundial de 2014, a Alemanha, que apostou na força do conjunto? Nada de dupla. A segurança de Neuer no gol e de Hummels na zaga, se somou aos talentos de Schweinsteiger, de Ozil e do maestro Toni Kroos no meio campo e acresceu-se ao faro de gol de Mario Goetze, Thomas Muller e do veterano Klose, para levantar o caneco sem individualizar a conquista. Ah, com direito a humilhantes 7 x 1 nos donos da casa.
Eis o grande desafio de João Alves: discernir se ao lado de Machado forma mesmo uma dupla campeã ou se optando pelo time de Eduardo Amorim estará com um time forte a lembrar a Alemanha.
A esta altura, seus botões já devem ter advertido-o que nem só de duplas vitoriosas e Alemanhas vive o esporte. Há os Freds e as seleções brasileiras sem Neymar em campo.
O senador Eduardo Amorim está sendo pressionado pelo seu elenco a ensaiar a jogada salvadora. O grupo apoiou João, em 2012, e não recebeu nada em troca. Amarga a reserva. Em política, isso é o mesmo que no futebol o cara dar 10 assistências para o parceiro de ataque no mesmo jogo, e não receber nenhumazinha. Insatisfação é questão de tempo.
Se hoje integrantes do grupo do senador Eduardo Amorim estivessem escalados no time de João Alves, dificilmente alguém sequer cogitaria a substituição de Machado para o segundo tempo, quer dizer, mandato. Mas temem o replay da eleição passada, sobretudo porque, em 2018, é tudo ou nada para o time de Eduardo Amorim, e uma vitória passa necessariamente pela disputa de 2016.
Um bi-campeonato de João Alves, evidente, lhe tiraria o direito de tentar permanecer prefeito em 2020. E, em se tratando de João, ninguém duvida que, nestas circunstâncias, ele é homem para tentar o tetra: ser governador de Sergipe pela quarta vez, em 2018. Não preciso escrever o que isso significaria para o time de Eduardo Amorim.
Ter o vice seria um trunfo ou um consolo. Obrigatoriamente, Eduardo Amorim, caso tentasse o governo, em 2018, teria João como aliado ou no seu palanque o novo prefeito de Aracaju. Não disputaria a bola contra o jogador do governador Jackson Barreto (Belivaldo Chagas?) isolado.
João Alves, obviamente, opta pela frase “time que ganha não se mexe”. Em disputando e vencendo o governo do Estado, sonha deixar Machado na Prefeitura. Com Maria no Senado, o Negão garantiria o que os boleiros chamam “tríplice coroa”. Inquieto, deve estar neste momento fazendo estas e outras conjecturas – como um treinador que olha para o banco de reservas e pensa como vai mexer no time para garantir a vitória. Mas calma. O jogo não acabou. João não decidirá nada agora. Somente aos 44 do segundo tempo. Segundos antes de o árbitro apitar. Já é uma jogada manjada.