Por Joedson Telles
A morte de Genivaldo de Jesus Santos ainda choca. Aterroriza. Revolta. Órgãos responsáveis por manter a ordem pública, a exemplo do Ministério Público Federal, adotam as providências cabíveis. A Ordem dos Advogados do Brasil cobra apuração rigorosa. A Polícia Federal entra em cena. A sociedade se manifesta nas ruas e nas redes sociais unida pelo cimento da indignação. Políticos se manifestam. Organismos internacionais, a exemplo da ONU, cobram uma resposta. A imprensa – inclusive fora do Brasil – mostra tudo em tom de “queremos justiça”.
Lamentavelmente, a exceção ao clima de empatia e comoção parece ser mesmo a maior autoridade política do país, que não emergiu publicamente, ao menos até a postagem deste texto, para também demonstrar a sensibilidade que o fato exige. Distante, limitou-se a dizer o óbvio: “execução ninguém admite”. Passa um oceano de distância do que pode fazer enquanto presidente da República, neste momento.
A julgar pelo histórico, entretanto, surpresa zero. As falas do presidente Jair Bolsonaro sobre as mortes de vítimas de covid-19 deixaram o Brasil calejado. Lembram, por exemplo, do “e daí?”?
Ninguém em plena lucidez vê um presidente da República, no episódio Genivaldo, distinto da história do próprio presidente.
A dúvida, porém, reside em saber se, ao não ter a reação que se espera de um chefe da Nação, Bolsonaro admite e reprova a crueldade, mas age temendo se desgastar junto à classe dos policiais ou se, no seu entendimento, é normal o Estado algemar um ser humano, colocá-lo na mala de uma viatura policial, usar gás e fechar a mala, impedindo a saída do gás e do cidadão detido e ele, Bolsonaro, simplesmente, falar em não admitir execução.
É evidente que, mesmo com as revoltantes imagens, à luz do direito, ninguém pode condenar os agentes da Polícia Rodoviária Federal sem que a investigação seja concluída e a Justiça decida pela condenação. Todos têm direito a ampla defesa.
Todavia, além de oferecer uma palavra de solidariedade à família de Genivaldo, aos próprios brasileiros que estão tocados com a morte, o presidente deveria estar na linha de frente dos que clamam por justiça, neste momento, usando a força do cargo.