Deputada acredita que Dilma Rousseff escapará do impeachment
Por Joedson Telles
A deputada estadual Ana Lúcia (PT) exemplifica o sentimento dos verdadeiros aliados da presidenta Dilma Rousseff (PT), que não jogam a toalha por conta da debandada de deputados até então na base aliada do Governo Federal, mas que, hoje, prometem votar a favor do impeachment, no próximo domingo, dia 17. Ecoando o discurso do PT Nacional, a deputada salienta que a chamada grande mídia está fazendo uma pressão psicológica muito grande no sentido de passar à sociedade a informação que o impeachment é irreversível. “Que nós estamos derrotados e que estamos botando o povo na rua. Quem está botando o povo todos os dias na rua, seja com a arte, com aulas públicas, com manifestações populares são aqueles que estão contra o impeachment a favor da democracia”, diz. Ana assegura não haver motivos para o impedimento da presidente e põe o clima contra a aliada na conta da classe empresarial. “Raimundo Faoro está muito vivo, mostrando como é que a classe empresarial manda nesse país, na Justiça e em todos os espaços, e, portanto, são os donos do poder”, diz, tomando emprestado o título de um dos livros do jurista e escritos falecido, em 2003.
A votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff não será na Assembleia Legislativa de Sergipe, mas acaba inquietando todos os parlamentares desta Casa, não é isso deputada?
Eu não estou quieta não. Desde o início que eu estou bem na frente acompanhando todas as deliberações e todas as ações da “Frente Sergipe Popular” em todas as caminhadas, em todos os atos. Esta semana vamos ter uma aula pública, na Praça Fausto Cardoso, que é uma praça histórica desse grande intelectual sergipano, desse grande parlamentar que foi Fausto Cardoso, que lutou pela liberdade do seu povo e foi barbaramente assassinado à porta do nosso Palácio Olímpio Campos. Amanhã (sexta-feira 15), professores da Universidade vão estar dando aula sobre a democracia. Professora Gabriela, o professor Romero, professora Tâmara… São professores de várias áreas, da filosofia, da sociologia e duas da área de direito. Amanhã à tarde, a partir das 16 horas, vamos ter um ato com certeza importante para a sociedade sergipana e aracajuana que é dialogar com esses pesquisadores sobre a importância da democracia e o que é um regime democrático.
O movimento tenta mostrar que está em xeque um governo eleito pelo voto? É isso?
No parlamentarismo, você não tira o presidente, tira o primeiro ministro. Você tem a presidência eleita diretamente pelo voto, mas o parlamento, na sua composição, indica e elege o primeiro ministro, e quando tem uma crise política pode tirar ou não o primeiro ministro. Nós estamos no presidencialismo, onde a presidenta Dilma conquistou 54 milhões de votos e desde o primeiro dia que ela não consegue governar porque a oposição desestabiliza e o empresariado brasileiro resolveu boicotar. Nós vivemos uma crise econômica muito mais consequente da crise política. Eu vejo que aqueles empresários que têm o bom senso de nacionalidade, que não querem entregar seu país, que defendem a soberania do seu país, como é o caso do nosso deputado federal Fábio Mitidieri, vão manter sua posição contra o impeachment, porque ele tem clareza que essa instabilidade prejudica toda a população, da classe empresarial aos desempregados e que não adianta mudar da forma como estão mudando. Dilma não cometeu nenhum crime. Isso é dito por grandes juristas de todas as universidades públicas, privadas. A PUC é uma universidade privada, mas de caráter público e de um crédito religioso da Igreja Católica. E os grandes professores de direito da PUC estão dizendo que não tem crime de responsabilidade. Mas tem aqueles da comissão favorável ao impeachment. Dos 38 que votaram, 35 respondem processos já julgados em primeira instância ou em última, como é o caso de André Moura, que tem seis processos no Supremo Tribunal Federal. Ele está exercendo um mandato a partir de uma liminar e está comandando esse impeachment não só em Sergipe, mas no Brasil inteiro. É uma situação extremamente grave politicamente, e temos que reconhecer que, nesse momento, o grande protagonista de defesa da democracia são os professores universitários, intelectuais, os produtores de cultura e nossos artistas. Eles têm contribuído bastante porque eles têm uma linguagem que favorece convencer a nossa população de que eles conquistaram direitos importantes que ao longo de mais de 500 anos nunca foram concedidos a população. São poucas essas conquistas ainda. Precisamos conquistas muito mais. Se for efetuado esse golpe, essas conquistas vão sofrer um retrocesso profundo. Temos mais de 54 projetos que prejudicam frontalmente a classe trabalhadora, camadas populares, os povos de terreiros, quilombolas, os assentados, os sem-teto, desempregados, porque são projetos que têm um cunho neoliberal, que é do estado mínimo – onde o mercado é que regula toda a sociedade. Portanto, a oferta e a procura não podem regular as políticas públicas. Quem tem que regular é o Estado brasileiro. Vamos perder, principalmente, a democracia porque são princípios e conquistas que obtivemos pela nova Constituição, que está sendo fragilizado, na medida em que se vaza conversa da presidenta da República. Isso abriu um precedente para qualquer cidadão ter sua vida privada exposta na medida em que você tem pelos meios de comunicação o estimulo ao ódio, a não aceitar as diferenças. Isso tudo está afetando as regras que estão proclamadas na nossa constituição. As pessoas que defendem o impeachment são as que estão estimulando, em sua grande maioria, esse tipo de comportamento e esse desrespeito. Estamos vendo aqui em Aracaju outdoor onde três deputados federais estão dizendo que vão votar a favor do impeachment porque Dilma ofereceu R$ 1 milhão (os deputados não confirmaram a informação). Eles são representantes do povo e vão ter que provar isso porque isso é prevaricação. Dilma não ofereceu nada. Ao mesmo tempo estão usando a imagem de cinco deputados, que no primeiro momento disseram que são contra o impeachment, agora em cima da pressão alguns estão mudando. Isso é sério. Já disseram que são contra, tanto Adelson, quanto o pastor Jony, quanto Fábio Reis. A direita conservadora aqui no estado liderada por André Moura já bancou um outdoor que quem é contra o impeachment é contra o povo. Espero que os cinco não mudem sua posição, porque inclusive aqueles que são a favor do impeachment estão agredindo e disputando de forma covarde o espaço deles, porque isso não é uma disputa política. Nesse quadro político, quem está bancando este outdoor? A fonte do conservadorismo, daqueles que querendo impeachment, a fonte de financiamento a gente nunca sabe. A gente está sabendo que é a Federação da Indústria porque a sede é quartel general dos que estão a favor do impeachment lá em São Paulo estamos sabendo também dessa federação dos donos de transporte estão oferecendo 500 ônibus para quem quiser ir para Brasília. É o poder econômico sem nenhum limite mostrando que nós é que mandamos nesta nação, e o pouco que os trabalhadores conquistaram vamos ter que derrubar, porque nós somos os donos do poder. Raimundo Faoro está muito vivo mostrando como é que a classe empresarial manda nesse país, na Justiça e em todos os espaços, e, portanto, são os donos do poder.
É como se tentassem confundir uma gestão passível de críticas com a legitimidade de um mandato? É isso que se tenta mostrar?
As críticas, não é só a oposição quem está fazendo. Todos nós estamos fazendo, inclusive o PT. Se você for ver o depoimento dos artistas, a Letícia Sabatella disse que é oposição à presidenta da República, mas estava defendendo a democracia. O Vagner Moura disse a mesma coisa, que nas duas últimas eleições votou em Marina, mas estava defendendo a democracia e reconhecendo os avanços do governo Lula e o dela e os princípios da democracia. É isso que está em jogo nesse momento, não é corrupção. Se fosse pra combater a corrupção, esses parlamentares não podiam estar na Comissão do Impeachment. E ainda mais Eduardo Cunha como presidente que o procurador da República já pediu 184 anos de prisão para ele. Ele morre ainda com ordem de prisão e continua comandando um poder que quer derrubar outro poder. É um momento muito difícil da história do nosso país.
Analisando friamente, a senhora acredita que tem como reverter ou o impeachment é questão de tempo?
Eu acho que tem como reverter. A grande mídia está fazendo uma pressão psicológica muito grande de que nós estamos derrotados e que estamos botando o povo na rua. Quem está botando o povo todos os dias na rua, seja com a arte, com aulas públicas, com manifestações populares são aqueles que estão contra o impeachment a favor da democracia.