Juízo é do deputado Fábio Mitidieri, alertando prefeitos do desgaste junto ao eleitor
Por Joedson Telles
Sabe os anúncios de recursos para Sergipe oriundos das mãos do deputado federal, líder do governo Michel Temer, André Moura (PSC)? A maioria, até o momento, não passa de engodo. Pelo menos é a conclusão a qual se chega, quando se leva em conta a matemática do deputado federal Fábio Mitidieri (PSD), exposta nesta entrevista que concedeu ao Universo, na semana passada. Classificando o líder André como padeiro – por vender sonhos -, Fábio Mitidieri, não precisa, mas estima que 80% desses recursos não se concretizaram ainda. “Os prefeitos estão na expectativa, e dizem que, até abril, têm que entrar porque essa é a promessa – e prometeram aos eleitores. Quando se faz um anúncio deste, mas os recursos demoram a chegar, quem começa a se desgastar é o próprio prefeito”, alerta Fábio, entendendo que, sem os recursos, o líder André terá muita dificuldade de manter o apoio dos prefeitos. “Empenho é um cheque sem data e sem garantia de validade porque pode cair a qualquer momento. Os valores que estão sendo divulgados, na grande maioria, ainda não se concretizaram. Espero que se concretizem, mas a gente tem que separar o que é marketing do que é realidade”, avalia, observando que o eleitor sabe separar. “O eleitor enxerga porque o benefício não chegou à rua dele e nem à sua cidade. Só vê o anúncio nas redes sociais, mas a obra concreta para melhoria de vida do cidadão não chegou.” A entrevista:
Como o deputado avalia o momento político de Sergipe, alguns meses antes da eleição?
Até abril, a gente deve ter um período mais agitado com as mudanças de partido, com a janela aberta. A possibilidade de o vice-governador Belivaldo Chagas se filiar ao PSD, sendo concretizada, também agita um pouco – e o vice-governador assumindo o Governo do Estado com o afastamento de Jackson para se candidatar, vai ser também um fato novo, que está gerando muita expectativa na sociedade de como será esse novo governo. Embora Belivaldo seja vice, a gente sabe que é diferente quando se assume a cadeira. Se busca ter uma gestão com sua cara, seu perfil. Por isso que eu tenho defendido publicamente que os secretários entreguem seus cargos para que o vice-governador fique ainda mais à vontade, para escolher os nomes, manter quem ele acha que deve manter e substituir quem ele entender. Ter pessoas com a sua personalidade, com a sua cara, dar essa roupagem nova ao governo e mostrar que tem condições de ser o governador de Sergipe na próxima legislatura.
Como avalia o desgaste do governo?
O desgaste é natural da crise que estamos vivendo no país, quase todos os estados com a situação muito difícil financeiramente. Em Sergipe não é diferente, mas vem sendo feito o dever de casa, fazendo cortes. O custeio nosso é o mesmo valor de 10 anos atrás. Eu acho que precisa de um choque de gestão, de uma mudança de secretariado, sangue novo, para que a gente consiga encontrar novas ideias para os problemas que aí estão. Tenho certeza que Belivaldo é o homem para isso. Ele tem o perfil gestor e é daqueles que realmente entendem da coisa pública. Acho que ele vai conseguir dar o fôlego novo que a gente está esperando. Espero que o governador Jackson Barreto tenha um caminho vitorioso na sua pré-candidatura ao Senado. Torço por ele, voto nele, entendo as dificuldades que ele passa, mas agora é o momento de Belivaldo brilhar, assumindo poder e fazer aquilo que ele entende que é melhor para o estado.
O grupo governista tem muitos nomes para formar a chapa, mas não há vaga para todo mundo. Como será feita essa arrumação?
Eu vejo muito o pessoal da oposição criticando, falando que o governo está desgastado, mas no momento de formar a chapa quem tem nome somos nós. Se a eleição fosse hoje, a oposição não teria como formar a chapa. Temos grandes nomes como Fábio Henrique, Rogério Carvalho, pastor Heleno, Luiz Mitidieri, Jeferson Andrade, Eliane Aquino, os próprios Jackson Barreto e Belivaldo Chagas… O que nós temos são nomes de qualidade para assumir um projeto majoritário – e tenho certeza que, com muito diálogo, vamos chegar numa formação. A situação tem bons nomes com respeito e respaldo da sociedade. A oposição tem um grupo menor e nomes que são conhecidos de todos, que é o caso do deputado André Moura, do deputado Valadares Filho, do senador Valadares e do senador Amorim. São bons nomes que têm força, mas, nesse momento, não estão falando a mesma língua ainda. O senador Valadares meio afastado, mas eu não vou contar com essa briga na oposição. Acho que a oposição vai vim unida e a gente também tem que vim unido para fazer o embate na eleição de 2018.
Na eleição passada para o Governo do Estado, em 2014, o líder do projeto da oposição era o senador Eduardo Amorim. Os governistas sentem que o deputado André Moura conquistou essa liderança?
A condição que André ocupa de líder do governo Temer lhe deu as ferramentas para conseguir essa liderança do agrupamento. O senador Amorim é muito preparado. Eu votei nele para senador e acho que ele ainda é o nome mais forte da oposição, principalmente junto à sociedade. Se você disser junto à classe política, por tudo que André ostenta, ele pode até ser o nome considerado maia forte na oposição. Mas junto ao povo, que é quem elege os políticos, o nome de Eduardo Amorim ainda é o mais forte da oposição, juntamente com o do senador Valadares.
O senhor quer dizer que Eduardo Amorim e Valadares têm mais credibilidade que André Moura junto ao eleitor? É isso?
Eu não sei se a questão é só credibilidade, mas tem o apoio popular. Quando você conversa com as pessoas e analisa as pesquisas, os nomes do senador Valadares e do senador Amorim ainda despontam como os que têm mais respaldo perante o povo. Junto à classe política, André, com certeza, é o nome hoje que tem mais respaldo, porque está trazendo ministros toda semana a Sergipe – e isso lhe dá essa credibilidade.
André tem anunciado muitos recursos para Sergipe, mas a sociedade não respalda seu projeto político? O que acontece, então?
Efetivamente esses recursos, na grande maioria, não chegaram ao estado. São empenhos, promessas de recursos, que não se concretizaram até hoje. Eu como sergipano torço para que cheguem e façam maravilhas, mas, na prática, ainda não chegaram. Nas duas prefeituras mais ligadas a ele, Pirambu e Japaratuba, veja a situação difícil que estão passando… Se esse dinheiro tivesse chegado, a primeira coisa que teriam feito seria salvar suas gestões. A gente vê que as dificuldades que eles passam não são diferentes de outros municípios. Existe a promessa de recursos, empenhos, mas eu costumo dizer que empenho é um cheque sem data e sem garantia de validade porque pode cair a qualquer momento. Eu espero que com a força que ele tem junto ao governo Temer realize o pagamento desses empenhos e os recursos cheguem para Sergipe. Até agora na prática, isso não ocorreu. Aracaju tem uma emenda de bancada, e fomos todos nós deputados e senadores quem conseguimos o recurso de R$ 60 milhões e depois foi ampliado para R$ 79 milhões. Outro recurso de R$ 50 milhões foi um empréstimo junto à Caixa, onde André ajudou na negociação. Os valores que estão sendo divulgados que estão sendo trazidos para Sergipe, na grande maioria ainda não se concretizaram. Espero que se concretizem, mas a gente tem que separar o que é marketing do que é realidade.
E o eleitor sabe separar o marketing da realidade?
O eleitor enxerga, sim, porque o benefício não chegou à rua dele e nem à sua cidade. Só vê o anúncio nas redes sociais, mas a obra concreta para melhoria de vida do cidadão não chegou. Se isso não se concretizar, nos próximos meses, realmente o efeito é bumerangue. Vai e volta. Começa a perder o crédito que está adquirindo com essa promessas, e quando as promessas não vingam, começam a bater contra. Eu, mesmo sendo adversário do deputado André, torço para que os recursos cheguem porque Sergipe precisa e merece. André está no seu papel, buscando recursos, usando a força do cargo que ocupa, mas não posso deixar de explicar o que está acontecendo nesse momento.
Em termos de percentuais, o senhor diria que 50% do que André Moura anuncia não tem fundamento? Mais, menos é só marketing?
Hoje, eu não tenho como dar um percentual preciso, mas acho que uns 80% desses recursos não se concretizaram ainda. Os prefeitos estão nessa mesma expectativa, e dizem que, até abril, os recursos têm que entrar porque essa é a promessa e prometeram aos eleitores. Quando se faz um anúncio deste, mas os recursos demoram a chegar, quem começa a se desgastar é o próprio prefeito. Conversando com os prefeitos, eu sinto a ansiedade que eles estão vivendo para concretizar esses recursos. Até o governador Jackson Barreto. Está aí o Finisa que não sai, aliás, um movimento baixo do governo Temer. Tentar chantagear o governador pedindo votos (dos deputados) para a reforma da previdência para liberar o empréstimo. É uma política rasteira, muito baixa e não deveria existir mais neste país. Mas não dá para esperar muito de um governo que articulou para derrubar um presidente.
“André pode não dar certo como político, mas como padeiro, sim: vende sonho”. O que o senhor quis dizer com uma frase, mais ou menos, assim?
Eu fiz uma brincadeira dizendo que ele vende sonho, e quero até aproveitar a oportunidade para dizer que não fiz nada pessoal contra ele. Foi uma alusão ao que acabei de relatar. Quando se promete mais do que realiza. Um sonho que está sendo vendido dos recursos que irão chegar, e eu espero que se concretize. Eu sou acima de tudo um sergipano e torço para meu estado. Se for concretizado, vão dizer que o marketing acertou. Se errar, vão dizer que foi erro. O tempo vai dizer se foi certo ou errado. Ele está na estratégia dele, desejo boa sorte a ele, mas é ele de um lado e eu do outro.
André Moura terá problemas com estes prefeitos, caso os recursos não cheguem?
Claro que ele vai ter muita dificuldade de manter o apoio desse pessoal porque gerou o desgaste dos prefeitos junto ao cidadão. Isso tudo que eu estou falando, eu tenho certeza que ele (André) também tem consciência, reflete e está buscando. Deputado André é inteligente e sabe os trâmites de Brasília. Conhece bem como funciona esse governo Temer. Ele confia no trabalho dele. Eu tenho feito meu trabalho forte de fiscalização, de cobrança. Uma escolha que eu fiz na minha vida quando eu não quis participar desse momento vergonhoso que o país atravessa. O governo tem que ser eleito pelas mãos do povo, mas não foi o que ocorreu. Tudo que a gente está vivendo na política brasileira, no Poder Judiciário brasileiro, são momentos de reflexão e que a gente como pessoa pública tem que tomar um lado. Eu tomei o lado que entendi ser o mais correto. Depois a gente vai ser julgado nas urnas. Eu já me sinto vitorioso em conseguir deitar a cabeça no travesseiro à noite e dormir porque fiz o que achava correto.
Fábio Miridieri é um político radical ou realista?
Eu me considero muito realista porque acho que o radicalismo nos levou onde estamos. Eu não acho que tudo da esquerda é positivo e nem tudo da direita. Eu me considero um político mais de centro-esquerda. Tem muita coisa da esquerda que eu concordo, mas também tem muita coisa da direita que tem lógica e está correto. Eu busco o equilíbrio.
A reforma ainda sai?
Essa reforma nunca existiu. É uma jogada de marketing para fazer média com o mercado financeiro. Nunca teve a menor chance de ser aprovada. Nunca teve os votos e nem perto de ter os votos. Tanto é que essa intervenção militar no Rio de Janeiro é, no fundo, uma saída pela esquerda para o governo não passe a vergonha de ser derrotado em plenário na reforma da previdência, porque há um dispositivo em nossa Constituição que diz que num período de intervenção militar não se pode alterar a Constituição. A reforma da previdência iria alterar, e o governo diz que a reforma, neste momento, está suspensa. Ele escolheu uma alternativa com um apoio popular maior, os moradores do Rio de Janeiro são a favor da intervenção porque estão vivendo um caos na segurança pública. O governo foi inteligente porque trocou uma agenda altamente negativa por uma positiva.
O que Sergipe pode esperar do deputado Fábio Mitidieri esse ano?
Muito trabalho, muita luta. A gente vai continuar não só apresentando nossos projetos de lei, nossas relatorias, denunciando o que a gente entende que está errado, combatendo esse governo que aí está porque entendemos que é prejudicial ao trabalhador e vem dizimando os direitos trabalhistas conquistados ao longo de décadas de lutas, a terceirização da forma como foi feita prejudicando ainda mais o trabalhador e o servidor, combatendo a reforma da previdência, combatendo aquilo que venha prejudicar o cidadão comum. Às vezes, posso tomar alguma posição que não seja do agrado da maioria, mas sempre serei verdadeiro porque eu tenho uma característica: o que eu penso eu digo. Eu sou muito transparente na minha forma de agir e, se Deus quiser, vou conseguir transmitir essa resposta ao longo do ano para que a gente possa honrar o mandato que nos foi conferido.
O senso comum diz que todo político é ladrão. Mas, na verdade, tem muita gente séria também no meio político não é mesmo?
Tem muita gente de bem na política. Eu costumo dizer que tem professor ruim, médico ruim, engenheiro ruim. A diferença é que eles se formaram. O político ruim fomos nós que elegemos. A sorte é que a cada quatro anos a gente tem a oportunidade de trocar. Eu espero que, em 2018, aqueles que não fazem jus ao cargo que ocupam possam ser ocupados por pessoas de bem, que tenham competência para ocupar o cargo. Muitas vezes, a gente coloca pessoas que são gente boa, mas não tem qualificação para ocupar o cargo. Não dá para falar em legislar se a pessoa não tem uma formação mínima para compreender o que está acontecendo ali dentro. Espero que 2018 seja uma virada de página radical na história desse país.