Por Joedson Telles
O deputado Bibo Nunes (PL/RS) protocolou, na semana passada, um novo pedido de impeachment contra o presidente Lula, que sequer tem 100 dias de governo. Já são seis pedidos na Câmara dos Deputados, e a maioria tenta se amparar em falas do petista. No documento assinado por Bibo, por exemplo, a cabeça de Lula é pedida pelo fato de ele ter dito, que, quando preso, queria “foder” o ex-juiz Sérgio Moro.
Óbvio que Lula e nenhum político pode estar imune a um processo de impeachment. O instrumento existe e precisa ser aplicado. Todavia, até o mais ingênuo cidadão que acompanha a política sabe que é preciso haver, de fato, a necessidade da aplicação do forte remédio, que, inevitavelmente, deixa sequelas.
O impeachment é uma forma cirúrgica de uma minoria contrariar a vontade da maioria expressa nas urnas. Se não obedecer à razoabilidade, aos critérios técnicos será nocivo à democracia, e, evidentemente, à população.
Não pode – ou pelo menos não deveria poder – ser apenas um mero instrumento político. É político por ser intrínseco ao meio. Não se discute isso. Mas precisa sempre estar alicerçado em argumentos irrefutáveis. E não é o que está acontecendo.
O último pedido, para ficarmos em apenas um, se mostra frágil. Há um oceano de distância entre os verbos querer e executar. Pelo que consta, Lula disse que quis foder com Moro. Não disse que fodeu. Pensar em um crime não é o mesmo que cometer um crime.
Sem falar que é preciso fazer a leitura correta e fria do momento em que Lula soltou as palavras. Ter em mente que ele não era presidente, estava preso, mesmo jurando inocência, e Moro teve peso decisivo na prisão.
Exceto um cristão verdadeiro, tomado do amor ensinado por Cristo Jesus na cruz, poucos na pele de Lula não odiariam o Moro, e não desejariam o mal a ele.
Aliás, uma pesquisa feita nos presídios atestaria facilmente o sentimento negativo que os internos nutrem em se tratando do Judiciário. Impeachment não tem lógica em presídios. Mandaremos, então, todos à guilhotina por causa disso? Jamais.
Por fim, sublinho que os pedidos de destituição – se não todos a maioria – partem de bolsonaristas. É muito difícil não nascerem tendenciosos. Diria até que uma espécie de revanche, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que falou muita coisa sem necessidade, também foi alvo de várias tentativas de retirá-lo do poder.
Lula errou, óbvio. Falou bobagem. Mas impeachment? Não basta dividir o país? Temos mesmo que, agora, fragilizar instrumentos que, quando bem utilizados, são benéficos ao coletivo? Creio que não.