Por Joedson Telles
Nesta segunda-feira, dia 23, depois de assombrar trabalhadores e aguçar as línguas dos mais lúcidos contra ele mesmo, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a revogação do tal trecho da Medida Provisória 927, que, na prática, previa a suspensão dos contratos de trabalho, na iniciativa privada, por quatro meses sem salários.
O presidente, mais uma vez, adota uma medida de impacto negativo na vida de milhares de pessoas, e é preciso ser pressionado para rever o erro. Das duas uma: ou tomou a decisão sem avaliar as péssimas consequências sociais ou avaliou, mas deu de ombros aos trabalhadores.
Difícil é saber o que seria pior: um presidente da República que tem dificuldade de pensar ou um que pensa em interesses que não encontram coerência nas necessidades básicas das pessoas que mais precisam do Estado.
É lógico que o chefe de uma Nação tem a obrigação de governar para todos. Precisa, evidente, auxiliar a iniciativa privada a superar obstáculos, sobretudo durante uma grave crise como esta que o coronavírus impõem, ao obrigar empresários e comerciantes a fecharem suas empresas e comércios, respectivamente. União, Estados e municípios não podem negligenciar, deixando que empresários e comerciantes façam dinheiro do nada para arcar com salários.
É desnecessária a discussão sobre a importância do setor privado na vida das pessoas – tanto pelos serviços prestados quanto pela geração de empregos. É impossível imaginar uma sociedade equilibrada sem o setor privado. O setor público sozinho jamais daria conta das demandas. Jamais absorveria toda a mão de obra. Em muitos casos, também não asseguraria os mesmos salários. Sem falar de vícios que o setor privado não carrega…
Portanto, não se discute que, assim como governadores e prefeitos, o presidente Jair Bolsonado precisa ter ações práticas para ajudar a iniciativa privada, e, por tabela, assegurar empregos. Reduzir a covarde carga tributária, facilitar empréstimos e destinar recursos para custear salários, enquanto o mercado estiver parado, são alternativas que podem ser mostrar viáveis.
O que seria uma insanidade, mas, felizmente, o presidente abriu os olhos, era jogar a conta no colo dos mais fracos.
Temendo entrar para as estatísticas frias das vítimas do coronavírus, o trabalhador recolher-se-ia à “prisão domiciliar” sem grana e sem esperanças, mas com contas para pagar – e com a óbvia necessidade de ter comida na mesa. Em muitos casos, os medicamentos também estariam na lista.
Pense no tamanho do problema social que, certamente, seria criado, caso o presidente não recuasse … Felizmente, existem pessoas sensatas neste Brasil injusto e a pressão funcionou.
Queria acreditar que o episódio servirá pedagogicamente para Bolsonaro refletir antes e não tomar mais uma decisão que prejudique o país. Que servirá para que a sociedade passe a ter noção do poder que tem. Entender que o presidente merece respeito, mas não é o proprietário do país, e precisa governar em sintonia com o sentimento coletivo. Queria muito acreditar nisso, mas meu matreiro otimismo não chega a tanto.