Lucimara afirma que não discutiu calcinha, mas violência
Por Joedson Telles
O internauta que fita o polêmico título deste texto nutre a falsa sensação que a metralhadora do vereador Agamenon Sobral (PP), nesta entrevista, está apontada apenas na direção da vereadora do PC do B, Lucimara Passos, por, entre outros motivos, ter exibido uma calcinha na tribuna da Câmara Municipal de Aracaju. O governador Jackson Barreto (PMDB) e o prefeito João Alves Filho (DEM), por exemplo, segundo Agamenon, precisam tomar vergonha na cara. Já o ex-prefeito Edvaldo Nogueira (PC do B) seria o mentor intelectual do comportamento de Lucimara Passos. Há médicos roubando o Estado. Professor que não trabalha. Uma farra na Polícia Civil com o dinheiro público. Sindicalistas ‘mamando’ sem trabalhar. Ou seja, alvo é o que não falta. “Eu fui criado no Bairro América. A vereadora Lucimara não gosta do termo que eu uso: trocando porrada para não fumar maconha. Eu fui criado no tempo que o Bairro América era bairro de cão. Não tenho medo de homem nenhum. Eu enfrento qualquer um. Ando na linha. Procuro fazer a coisa correta. Quero o bem de todos de uma forma geral, mas digo de todo coração: ando destemido”, assegura Agamenon. A entrevista:
Na última sexta-feira, mulheres prestaram uma queixa-crime na polícia contra um pronunciamento seu, acusando-o de incentivar a violência. O que o vereador Agamenon quis dizer com aquela ideia de surra e sal?
O meu intuito, na verdade, é em defesa da moralidade na igreja. Eu defendo meus princípios. Eu aprendi a viver vendo a igreja como uma instituição sagrada, e eu tenho a igreja como uma instituição sagrada. Não poderia ver aquela matéria no jornal (alternativo) e não fazer um comentário sobre ela. O que, na verdade, está acontecendo é que algumas pessoas resolveram distorcer a ideia que era defender a igreja. Levaram para outro fato porque é um conjunto de fatos, mas se prenderam ao fato que eu tinha dito que aquela jovem, ao tentar desmoralizar a igreja merecia um corretivo. Em outra forma dizendo que ela merecia uma surra. Foi o que eu pronunciei, e não posso dizer que não pronunciei dessa forma. A meu ver, a coisa está distorcida. A verdade é que o pronunciamento foi em defesa da igreja, que é para mim uma instituição sagrada.
O senhor chegou a ventilar que a ideia dos que estão dando muita ênfase ao episódio é tirar o foco de uma pauta da Câmara Municipal. Qual?
Com certeza. Na verdade, há mais de 20 dias, a gente vem pleiteando a instauração de uma CPI sobre a saúde de Aracaju, e essa CPI será montada com o intuito de pegar os três últimos governos e o governo atual. Então, como há interesse pessoal da cúpula do PC do B para que essa CPI não venha funcionar, porque o último gestor foi justamente do PC do B (Edvaldo Nogueira), eles têm interesse que não haja essa CPI. Para você ter ideia de como a coisa é manipulada, quem é que comanda o Sindicato dos Bancários e essa comissão de mulheres? É justamente a primeira suplente do PC do B, que também é presidente do sindicato, foi candidata pelo PC do B, e, agora, estão se articulando para tentar dissolver e ludibriar a questão da CPI da saúde.
O senhor fala numa manobra para tirar o foco da CPI, então?
Com certeza. Uma manobra que foi articulada para tirar o foco que é a CPI. Na verdade, o foco principal foi o desrespeito daquela jovem para com a igreja e aí eles trouxeram outro apanhado, porque dia 25 foi o dia da violência contra a mulher. Eles tentaram distorcer, pensando que com isso vão fazer com que eu tire meu foco que é a CPI, mas eu não vou tirar.
Qual sua opinião sobre a vereadora Lucimara Passos ir à tribuna do Poder Legislativo e exibir uma calcinha?
Eu não imaginava que a baixaria fosse tamanha dentro daquela Câmara. Ali, sim, foi uma falta de decoro. Vereadora tirar a calcinha e apresentar para o povo dizendo “eu estou sem calcinha”? Aquilo, sim, merece comissão de ética. Merece uma punição. Na verdade, o vereador Agamenon leu uma matéria do jornal e a vereadora tirou a calcinha na tribuna da Câmara. Ela desmoralizou todas as mulheres com o ato dela. Ali foi uma desmoralização para toda mulher que se respeita. Imagine uma mãe de família tirar sua calcinha numa tribuna e ainda ser uma vereadora? Aquilo foi o cúmulo do absurdo. Desrespeitou a Casa e as mulheres de forma geral. Ela está ali representando um grupo determinado de mulheres, e na hora que ela tira sua calcinha, apesar de algumas dizerem que ela foi uma mulher macho, aquilo foi um desrespeito. Para mulher que tem moral e se respeita, o ato dessa vereadora é abominável.
Essa atitude a deixa vulnerável a piadas nas ruas sobre o uso ou não da calcinha?
Com certeza. Ela tirou a calcinha para o povo ver. Ela como vereadora, como representante do povo, tirou uma das peças íntimas mais importantes que a mulher tem que é a calcinha. Se ela passar na rua vestida de saia e um cidadão pedir para ela levantar a saia para ver se ela está sem calcinha ela não vai poder dizer nada. Ela está desmoralizada. Ela é uma desclassificada. Ela podia puxar outra vertente, mas tirar a calcinha em plena tribuna?
E por que a ideia de levar um ‘Bom Ar’ à tribuna no dia seguinte?
Eu não estava na tribuna e fiquei na dúvida se ela tinha levado uma calcinha nova ou usada. Se trouxe uma calcinha usada, aí podia estar infectado o ambiente e eu levei um ‘Bom Ar’ pra poder desinfetar. Sei lá como anda a situação dela.
E calcinha se limpa com ‘Bom Ar’, vereador?
Calcinha se limpa com um bom desinfetante, com um amaciante. Eu não tinha como utilizar esses produtos, tive que levar um ‘Bom Ar’. Às vezes, você chega e o mau cheiro está no ar, aí você leva o ‘Bom Ar’ para ficar cheirosinho.
Deu para saber se, de fato, ela estava sem calcinha?
Eu não sei dizer porque a minha conversa com a vereadora é pouca ou nenhuma. Eu não fui atrás dela, até porque como disse um ouvinte numa rádio, ela não é essa Coca-Cola toda, e aí eu já percebi que ela nunca foi Coca-Cola, e eu não posso dizer a você que ela era uma tubaína, até porque quando eu era criança eu gostava muito de tubaína com bolachão. Ela deve ser um outro suco daqueles que não tem muito valor.
Essa animosidade vai ter uma vida longa, pelo jeito…
Não pode encerrar por aqui, até porque a vereadora, infelizmente, está sendo indiciada por corrupção, e enquanto esse processo de corrupção estiver ativo no Ministério Público vai ser difícil. A vereadora gosta de aparecer, e devido ao processo que ela tem, não pode estar tentando extrapolar as coisas. Ela tem que ter consciência e baixar a bola. Eu acho muito difícil a coisa terminar aqui. Os vereadores de oposição imaginaram que iam chegar à Câmara e iam tomar conta. O vereador do PT dá umas entrevistazinhas, ela também, porque imaginavam que iam tomar conta, acharam que eram vereadores novatos e iam mandar, mas quebraram a cara. Encontraram vereadores de primeiro mandato, mas com vontade de trabalhar.
Quando o senhor fala em desviar o foco isso seria uma ideia da própria Lucimara Passou ou acredita que pode ter mais gente envolvida?
Eu acho que ela deve estar sendo orientada porque a ideia dela é fazer o trabalho que venha só beneficiar o grupo político do ao qual ela pertence. Eu tenho certeza absoluta que Edvaldo Nogueira está orientando ela, e agora, então, com essa história da CPI é mais um motivo para que o ex-prefeito Edvaldo não tenha interesse e tente tumultuar, tanto é que vai patrocinar esse movimento todo que vai haver das mulheres que está sendo patrocinado pelo PC do B. Mas um motivo para ter noção que está sendo patrocinado por alguém.
Com tanta polêmica, e não falo apenas pelo último caso, o senhor não teme uma reação violenta nas ruas?
Eu fui criado no Bairro América. Eu fui criado, inclusive, a vereadora Lucimara não gosta do termo que eu uso, trocando porrada para não fumar maconha. Eu fui criado no tempo que o Bairro América era bairro de cão. Sou filho de um pai com 16 filhos dentro do Bairro América e hoje são todos homens de bem, bem estruturados. Eu aprendi a me defender, e hoje eu posso dizer que eu não tenho medo de homem nenhum. Eu enfrento qualquer um. Não adianta dizer que eu sou um brutamonte. Eu sou homem e aprendi a viver dessa forma e não me arrependo. Eu aprendi a viver vendo os problemas de frente e não empurrando os problemas para o lado, e essa questão da saúde e da educação é um problema que eu senti na pele. Eu sei o que é a saúde pública e eu sei o que é educação pública e transporte público. Eu digo sempre que sou filho da educação pública, estudei no Colégio Santa Rita de Cássia, Colégio Presidente Vargas. A minha saúde foi INPS, INSS. Eu fui tendo uma saúde de melhor qualidade quando vim ser funcionário público, quando passei no concurso do serviço federal do processamento de dados tinha um convênio com a Pró-Saúde, uma empresa particular que tinha um dos melhores convênios de Aracaju. Eu sou filho da periferia. Eu sinto na pele o que o povo sente hoje. Então é por isso que eu não tenho medo, até porque eu tenho um grande guardião: Deus está lá em cima me protegendo. Foi Deus que me deu esse mandato. Eu tive 1.616 votos e não me elegeria se não fosse pela vontade do astro maior que é nosso Deus. Eu posso até apanhar no meio da rua, mas vou enfrentá-lo de cara. Mas, como sou cristão e vivi dentro da igreja, vi que nem Cristo conseguiu se salvar da traição. Não vai ser Agamenon que vai se salvar. Por isso que eu ando despreocupado. Ando na linha, procuro fazer a coisa correta, quero o bem de todos que estão ao meu redor e de todos de uma forma geral, mas digo de todo coração: ando destemido. Eu digo sempre quando alguém me liga e diz que vai me pegar que venha me pegar. Eu já recebi uma ligação restrita aí eu sempre digo que por telefone não vai me pegar, venha me pegar pessoalmente. Estava dando entrevista numa rádio e um professor do município disse que ia me pegar, eu disse para ele ir pegar que ia sair tal hora, que por telefone não dá para pegar. Ainda não existe esse processo que ele vai me atingir por telefone.
Quem é hoje seu maior adversário político?
Hoje, eu não diria que eu tenho adversário político. Eu não estou preocupado com eles, até porque eu não entro na Câmara nem preocupado com uma reeleição. Eu entro preocupado com o meu mandato para trazer os benefícios ao povo de Aracaju. O meu grande adversário político hoje são alguns médicos que não querem trabalhar, alguns professores que não querem trabalhar, alguns funcionários públicos que ganham do povo e não querem trabalhar. Politicamente dentro da Câmara eu não olho para nenhum. Eu trato todos muito bem. Se você observar, eu me dou muito bem com todos eles lá dentro – com exceção da vereadora porque, infelizmente, esse inquérito policial chegou à minha mão quando ela estava sujando a imagem do prefeito João Alves sem necessidade e aí começou o conflito entre a gente. E parto do princípio que se você teve o poder na mão e não fez não pode cobrar, e Lucimara teve o poder na mão. Como é que ela foi presidente da Emsurb e pede para o prefeito João Alves dar gratificação para o gari que ela não deu? Como é que ela foi presidente da Emsurb e não acabou com a lixeira e vai falar do cara que acabou com a lixeira? Veja a incoerência. O nosso atrito começou por aí. Se eu fizer isso vou estar tentando jogar o povo contra você, e aí eu não aceito.
O senhor cumprimenta a vereadora Lucimara Passos na rua?
Eu nunca tive o privilégio de encontrá-la na rua, mas tenha certeza: se passar por ela, farei o que manda a lei da vida: darei bom dia, boa tarde, boa noite. Ela responda se quiser. No plenário, ela senta na frente e eu na última fileira. Eu entro pela porta dos fundos que já vai para minha cadeira, e ela entra pela frente. A gente não se bate.
Muita gente tem dito que vereador brigando é falta de serviço. Qual sua opinião sobre este tipo de juízo?
As pessoas que fazem esses comentários estão desinformadas. Você é um repórter atuante e vem acompanhando diariamente o trabalho do vereador Agamenon e está me vendo envolvido com a educação, com a saúde, com o transporte público, com o estacionamento. Eu estou envolvido em vários projetos. Nesse problema você a de convir que eu não me envolvi com a calcinha. Eu me envolvi quando eu li uma matéria que é interessante para o povo que era o desrespeito a igreja. Foi a matéria que o vereador Agamenon leu. As pessoas que estão indo ao rádio estão desinformadas e não estão acompanhando o trabalho do vereador Agamenon, e eu acho que você a de convir comigo porque eu venho fiscalizando, inclusive, agora, lancei um projeto que é benefício para todos os pais de alunos que tem filhos em escola particulares, que já é lei e foi sancionada pelo prefeito João Alves, que proíbe as escolas particulares de pedir 15 itens que pedem sempre quando pedem material escolar. Já é lei, a lei 50-2014. Hoje, a escola particular não pode exigir do pai do aluno que ele mande papel higiênico, bastões de cola, fitas adesivas, álcool, algodão, clipes, fósforo, grampo, pincel, clips, material de limpeza em geral, barbante, creme dental, uma resma de papel por aluno, sabonete para uso pessoal, TNT. Isso é um projeto de lei do vereador Agamenon. Além de fiscalizações estamos fazendo projetos em benefício do povo. Eu discordo do pensamento de algumas pessoas que não estão acompanhando o trabalho do vereador Agamenon.
É verdade que há médico roubando os cofres públicos?
Se você quiser pode tirar uma foto do documento oficial do Tribunal de Contas que eu tenho e cito as iniciais. Eu posso deixar para citar os nomes quando estiver com a relação completa, porque hoje são 32 médicos, mas eu tenho algumas iniciais de médicos com 23 vínculos. Você acha que o cidadão tem condição de trabalhar em 20 lugares diferentes ao mesmo tempo? Se ele não tem então está roubando o erário público. Os vencimentos são até de R$ 60 mil. Não adianta eu dizer que o cara está lesando. O tabaréu não sabe o que é lesando, mas sabe quando eu digo que está roubando. Eu não quero ser hipócrita, tem que ser realista, porque o cara que tem 26 vínculos, 5 só da Fundação de Saúde, ele está roubando o erário público. Até porque a lei diz que só pode ter dois vínculos empregatícios. Se alguém acha que o pronunciamento foi forte, foi a pura verdade.
“Tem sindicalista que não gosta de trabalhar, gosta de mamar” Essa frase é do senhor…
Eu posso dar um exemplo meu. Eu fui vice-presidente do sindicato de informática de Sergipe. Eu nunca me afastei da empresa para assumir o cargo, e o nosso sindicato tinha direito a quatro membros se deslocarem de sua empresa para ficar no sindicato. Eu nunca exerci essa prerrogativa. Eu dava meu horário de trabalho a empresa e no meu horário de folga dava ao sindicato. Têm sindicalistas aí com mais de 20 anos como presidente do sindicato. Ele sabe de que órgão é porque recebe o contra cheque todo mês. Vários sindicalistas com mais de 10, 15 anos no sindicato. Ele não trabalha e está só mamando.
O senhor faz uma crítica nesse sentido a Fernando Cabral, presidente do Sindicato dos Radialistas?
O caso com Fernando Cabral foi um caso que eu estava em debate com a presidente do Sindicato dos Bancários, que também é a primeira suplente da vereadora Lucimara, que também é filiada ao PC do B, e aí eu acho que Fernando Cabral foi infeliz, ao tentar defender a presidente, inclusive ele entrou com arrogância dizendo que o vereador Agamenon não deixa ninguém falar. Eu deixei ele falar. Foi quando eu também não aguentei e mandei ele ir trabalhar. Segundo informações, tem muito tempo que ele não sabe o que é trabalhar numa empresa e fica só mamando no sindicato dos radialistas. Ele foi infeliz até porque é uma pessoa que eu nunca tive amizade, mas sempre nos cumprimentávamos cordialmente em todo lugar que chegávamos.
E qual será a polêmica desta semana?
Na quarta-feira, eu devo estar entrando com o pedido da CPI da Saúde de Aracaju e vou dar uma sequência nessa questão dos médicos para ver se o prefeito João Alves e o governador Jackson Barreto tomam vergonha na cara e começam a exonerar todos esses profissionais da saúde que têm mais de dois vínculos. Eu vou usar da prerrogativa de estar vereador e de estar diariamente pedindo ao prefeito e ao governo que tomem vergonha na cara e comecem a exonerar médicos, professores, enfermeiros que tenham mais de dois vínculos. Nosso intuito é uma saúde e educação de qualidade, que passam pela moralidade dentro do serviço porque ninguém consegue colocar na minha cabeça que um cidadão que tenha 20 vínculos trabalhe em algum lugar. Tem aí a farra na Polícia Civil. Um delegado só de diária tem R$ 28 mil. A gente vê os absurdos acontecendo. Por isso que falta dinheiro para tudo. A gente vê a situação da BR 235, onde tem ali aquela pista quase um ano e o povo sofrendo e o governo não toma providência. Infelizmente, o vereador Agamenon não tem como estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Só se eu tiver 26 vínculos e me transformo em 26. Se eu conseguir esses vínculos todos vou poder fiscalizar todas as áreas em todos os setores.
Por Joedson Telles
O vereador e deputado estadual eleito Robson Viana (PMDB) acredita que o senador Antônio Carlos Valadares (PSB) não conseguirá mais ter harmonia com o governador Jackson Barreto (PMDB). Nesta entrevista, Robson, homem de confiança de JB, externa a mágoa que povoa a mente do chefe do Executivo, e lhe faz querer distância do senador. “Está difícil. Tiveram muitas divergências e ficaram sequelas. Valadares queria ser o vice de Jackson de goela a baixo. Foi rolando, Valadares foi até o final tentando ser candidato a governador, não obteve êxito, e depois formou aquela coligação, colocando Belivaldo como vice. A confiança não existe mais”, assegura Robson Viana. O deputado eleito, como quem abre a ‘caixa preta’ da relação Jackson x Valadares, explica que o pavio da bomba cujo estouro se escutou com a decisão de Valadares em apoiar o então presidenciável Aécio Neves, mesmo sabendo da aliança PMDB/PT, foi aceso há muito tempo. “Jackson tem motivos de sobra em relação a Valadares, que sabe disso. Valadares tem consciência da dificuldade que ele criou para fazer a coligação. Ninguém é criança, ninguém é menino. Antes disso tudo, todo mundo estava conversando com todo mundo, com João Alves… Valadares queria ser candidato, infelizmente não teve condições, Jackson teve uma conversa com Valadares que não foi muito boa. Jackson teve muita dificuldade em relação a Valadares… Quando o senador entender que a liderança maior se chama Jackson Barreto ele vai estar bem com ele mesmo. Enquanto ele não colocar na cabeça que depois de Marcelo Déda, hoje, a liderança é Jackson Barreto, ele não vai estar dentro dessa situação. Muita gente diz que ele torceu para que Jackson não ganhasse a eleição. Torceu para Eduardo Amorim ganhar”, diz. A entrevista:
Há entendimentos no sentido de Robson Viana, ao invés de ficar na Assembleia, ajudar Jackson Barreto diretamente, participando do seu governo?
Eu fui eleito pelo povo de Sergipe para exercer meu mandato de deputado estadual. Eu também faço parte de um grupo político, sou amigo do governador, sou do PMDB, faço parte da base aliada e a gente tem que estar sempre à disposição do líder maior. Estou aqui pronto para o que der, o governador precisar. Sei da minha importância, de minhas responsabilidades, mas quero ajudar o governador. Fui eleito, quero estar na Assembleia ajudando como todos os outros também que fazem parte da base aliada para que a gente possa mostrar para o povo de Sergipe, e o povo vai cobrar também porque esse projeto foi vitorioso. A nossa participação, a nossa contribuição é sempre estar à disposição do governador para o que ele precisar.
Sobre a eleição da Mesa Diretora, Robson Viana está mesmo fechado com o deputado eleito Luciano Bispo?
Eu me antecipei. Já tenho a experiência da Câmara (de Aracaju). As conversas estão acontecendo. No nosso agrupamento político são quatro candidatos, Luciano colocou o nome, tem Jeferson Andrade, Gustinho Ribeiro, Garibaldi Mendonça, e do nosso partido são dois candidatos. Eu já me antecipei: estou trabalhando para Luciano Bispo, que é nosso candidato do PMDB, mas também tem Gariba, Jeferson e Gustinho que estão construindo também. É normal que cada um construa, já conversei com Gustinho, com Gariba e com Jeferson, já disse aos três o meu voto e vou trabalhar para que Luciano Bispo chegue à presidência da Assembleia. Eu acho que é um momento de diálogo, de conversa, todo mundo faz parte de um grupo só. Pedi e conversei com alguns dizendo que cada um tem que ter juízo de que se não for construir que venha somar com quem tem mais chance de ganhar a eleição, que seja do nosso grupo. Claro que alguns têm um caminho diferente, vão pegar voto na oposição, que é normal também no jogo político. Mas que a gente tenha responsabilidade e o compromisso que o presidente da Assembleia seja do grupo do governador, amigo do governador e aliado do governador. Todos estão cientes disso e estão caminhando na eleição da Mesa Diretora, mas com a consciência que, se não construir, que venha somar com o candidato que tem mais chance para que a gente venha ganhar essa eleição.
Com essa conjuntura, o PMDB cederia outros espaços da mesa para aliados como o PDS, não?
Verdade.Tem os espaços que cada partido pode preencher, como o PSD, que tem a segunda maior bancada, o PT, PSB, PRB, PDT, vários partidos, mas normalmente, pela sequência de bancada é o PMDB e o PSD. O PSD não tendo este no seu pleito, nada mais justo que a gente coloque o espaço dentro dessa conjuntura, mas tudo com tranquilidade. As coisas estão caminhando bem, cada um conversando com seus amidos deputados que tem mais afinidade, e é assim que tem que ser. Chegando lá no dia 15 de fevereiro que possamos ter a consciência de que o projeto é maior, é de um agrupamento político que foi vitorioso e ter a consciência que tem que ter o presidente da Assembleia.
E essa especulação que Robson Viana pode ser o nome de Jackson para a disputa da Prefeitura de Aracaju ?
Quem é que não quer ser prefeito de Aracaju? Todo mundo que está na atividade política tem interesse. É uma grande responsabilidade. Isso é normal dessas divulgações, desses boatos… A eleição estadual acabou. Eu acho que o momento de a gente acalmar os ânimos, terminar 2014, trabalhar 2015 porque se a gente fizer um bom governo, em 2015, com todos nós ajudando, claro que em 2016 todos os partidos que fazem base dessa conjuntura da aliança com governador tem quadros importantes para ser candidato. Todos têm legitimidade para colocar um candidato à disposição. Poder ser o meu nome, o de Garibaldi, o de qualquer um. É normal a gente em Aracaju terminar uma eleição já pensando em outra. É um exercício de vidência muito grande. A gente não sabe o que vai acontecer em 2016. O importante é que a gente se prepare, se organize. Todos que fazem parte da aliança do governo tenham responsabilidade, cuidado e vá trabalhando. Ninguém aqui vai pegar o espólio político de Jackson Barreto. Cada um que construa a sua história. É preciso nos somar com o governador e, em 2015, a gente vai trabalhando, e quando for em 2016, pode ter certeza, que essa discussão vai entrar mais na pauta e a gente vai discutir com todos os partidos porque ninguém é candidato de si mesmo. A gente tem que discutir com todos os partidos. Todo mundo tem interesse. Eu já votei em Edvaldo Nogueira (PC do B) três vezes: vice, vice e prefeito. Todo mundo quer oportunidade. É preciso ter maturidade, juízo para discutir isso, e, em 2016, o candidato que tiver melhor dentro do agrupamento político vai colocar o seu nome. É um momento de a gente pensar em fazer um bom governo com Jackson agora, terminar esse governo que está numa situação difícil como a folha, e 2015 trabalhar porque o povo vai cobrar tudo o que a gente prometeu na eleição. É um momento de ter paciência e trabalhar.
Jackson Barreto trabalha para ter maioria na Câmara de Aracaju?
A gente tem se colocado num momento de independência, mas ajudando bastante a administração municipal. Conversei com o prefeito de Aracaju, João Alves, uma pessoa que eu tenho um grande respeito, e acho que essa parceria administrativa tem que continuar. É bom para o estado e bom para a prefeitura. Têm vários projetos em andamento, em conjunto. Quando tem um problema isso acaba prejudicando a população. Eu conversei com o prefeito e vou conversar com o governador. Eleição só daqui a dois anos. Quando chegar lá vai discutir eleição. Eu acho que a gente tem que discutir os problemas de Aracaju, de Sergipe. Vou continuar fazendo o mesmo papel que fiz ano passado nessa parte administrativa. Disse ao prefeito que vou conversar com o governador para os dois continuarem essa conversa. O que passou, passou, a gente deixa pra lá. Cada um tem um lado. Eu sou amigo do prefeito de Aracaju, mas nessa eleição estava com o meu agrupamento político e não tive nenhum problema. Eu acho que a política vai mudando, e a gente vai melhorando a cada dia que passa. Certo que quando chegar 2016, se não der certo um vai um lado e o outro pra o outro. Eu não tentei essa coligação com o DEM pra trazer Maria do Carmo? Não deu certo. Agora é tentar trabalhar tanto para Aracaju quanto para o estado de Sergipe. Esse vai ser o meu papel na Assembleia. Mesmo não estando mais nesta Casa eu vou conversar com o governador para que a gente continue com essa mesma parceria com o prefeito de Aracaju. Têm várias ações da prefeitura em conjunto com o Governo do Estado que precisam do governador. Eu vou conversar com o governador para que essas andem porque eu tenho certeza que vai melhorar mais ainda a qualidade de vida do povo de Aracaju.
O governador Jackson Barreto continua magoado com o senador Valadares?
Isso é uma coisa que já vem acontecendo há muito tempo. Saiu uma matéria num jornal dizendo que eu sou semeador de discórdia dos dois. Se eu fosse semeador de discórdia, Jackson me ofereceu a Secretaria de Esporte e Lazer, quando Valadares entregou todos os cargos. Conversei com meu agrupamento político, escolhemos um nome, um mês depois, quando eu fui conversar com Jackson de novo, Valadares havia conversado com Jackson para que não mudasse logo. Se eu fosse um semeador de discórdia batia o pé. Eu disse ao governador que ficasse à vontade, que jamais o iria prejudicar e criar dificuldade para a coligação. Não criei nenhum problema. Jackson tem motivos de sobra em relação a Valadares, e Valadares sabe disso, até no início da coligação o que Jackson passou em conversa com Valadares. Eu acho que Valadares tem consciência da dificuldade que ele criou para fazer a coligação. Ninguém é criança, ninguém é menino. Antes disso tudo, todo mundo estava conversando com todo mundo, com João Alves… Valadares queria ser candidato, infelizmente, não teve condições. Jackson teve uma conversa com Valadares que não foi muito boa. Jackson teve muita dificuldade em relação a Valadares. Todo esse sentimento de Jackson exposto no rádio é um sentimento correto pelo que ele sofreu antes da coligação. A gente viu aí no segundo turno Belivaldo ficando com a gente e Valadares do outro lado mais uma vez. Quando o senador entender que a liderança maior se chama Jackson Barreto ele vai estar bem com ele mesmo. Enquanto ele não colocar na cabeça que depois de Marcelo Déda, hoje, a liderança é Jackson Barreto, ele não vai estar dentro dessa situação. Muita gente diz que ele torceu para que Jackson não ganhasse a eleição. Torceu para Eduardo Amorim ganhar. Jackson, hoje, é a liderança maior que está conduzindo esse grupo. Marcelo Déda, infelizmente, se foi e, hoje, Jackson Barreto é a nossa liderança maior. Enquanto Valadares não incorporar isso vai ficar passando por essa situação complicada.
Há como reverter esse quadro de animosidade entre Jackson x Valadares, até 2016?
Está difícil. Tiveram muitas divergências e ficaram sequelas em relação a isso. Foi logo no início da coligação. Participei de algumas com Jackson, e o que Jackson passou não foi brincadeira em relação ao senador. Não digo nem do partido (PSB). Tinham pessoas que queriam e pessoas que não queriam. Valadares queria ser o vice de Jackson de goela a baixo. Foi rolando. Valadares foi até o final tentando ser candidato a governador (fora da aliança), não obteve êxito, e depois formou aquela coligação, colocando Belivaldo como vice. Eu acho que ficou muita sequela para voltar ao normal, a confiança não existe mais. A gente tem um vice, Belivaldo, que foi uma pessoa extremamente correta nessa eleição e vai continuar com a gente, mas acho muito difícil voltar o que era antes. Cada um vai procurar seu caminho, seu espaço. Eu tenho certeza que dentro desse novo projeto o PSB não vai estar incluído. Cada um tem consciência do que procurou para acontecer isso aí. Jackson tem a consciência dele e Valadares a dele. Eu lhe digo porque acompanhei algumas reuniões, na hora que Jackson chegava comentando o que aconteceu. Juntou o segundo turno da eleição, que ele poderia estar conosco também, e acabou indo apoiar Aécio Neves. Cada um já contribuiu e, agora, vai procurar um caminho. O namoro acabou, durou o quanto pode, mas, agora, cada um procure o seu caminho.
Quando lá atrás, Jackson pensou em desistir foi por conta de estar com a “faca no pescoço”?
É muita pressão. Muita demanda. Política é terrível. Jackson realmente não queria ser candidato. Foram nossos amigos que pediram até porque é o nosso líder maior, até porque não tinha outro. Foi muito difícil convencer Jackson, ele sabia das dificuldades do governo, da aliança, mas mesmo assim, líder maior que é, ganhou a eleição, fez o trabalho dele. E ganhou pelo trabalho e história que tem. Claro que todos nós demos uma contribuição, mas Jackson tem uma história no estado de Sergipe. O povo elegeu uma pessoa que vai fazer um futuro melhor para o povo de Sergipe. Jackson tem uma grande responsabilidade. Méritos de Jackson e méritos de todos que pertencem ao agrupamento político. Jackson tem uma história pra cumprir, já disse que não é mais candidato a nada porque já sabe da pressão daqui a quatro nãos, mas não é mesmo candidato a nada. Vai concluir o mandato dele, tem que fazer um mandato honroso que deixe seu legado. Agora, a gente que vai conduzir depois o que ele vai deixar. A responsabilidade vai ser nossa e cada um tem que construir a sua também. Ajudar e daqui a quatro anos quando Jackson entregar o bastão a gente continua com esse projeto político e ajudar o povo de Sergipe. A gente tem que ter paciência, responsabilidade. É muito difícil em política: cada um tem sues interesses, mas é hora de sentar e dialogar porque têm muitos partidos nessa aliança e querem espaço, o que é normal. A política é feita de espaços. Cada um vai procurar o seu espaço conduzir o seu trabalho
Como maior nome político ligado ao Rasgadinho, Robson também lamentou a não realização de uma outra festa carnavalesca, o Pré-Caju…
O Estado está passando por um momento difícil. Tanto o Estado quanto a Prefeitura de Aracaju, que sempre ajudaram na parte logística do evento. Infelizmente, o empresariado também, o país com essa questão da inflação, e agente tem que usar da criatividade. Eu disse que a gente tem que procurar os caminhos. Eu mesmo estou viajando esta semana procurando parceiros que tenham interesse em colocar sua marca no Rasgadinho, porque o nosso carnaval, assim como Pré-Caju ajuda bastante a economia, e é importante que tenha um evento que atraia o turista. O nosso tem diferença porque não tem a parte particular, é gratuita. É uma manifestação popular, é carnaval mesmo. Mas o Pré-Caju ajuda bastante a divulgar o nosso estado, é importante que o evento aconteça, mas eu sei da dificuldade de quem faz o evento. O governador tem vontade de ajudar, mas o órgão público não pode entrar com investimento porque tem uma parte que é particular. Claro que tem uma participação popular muito grande, mas tem uma parte que é particular. O governo e nem a prefeitura não podem entrar ajudando com dinheiro, pode ajudar na logística. Eu não sei como Fabiano Oliveira e seu irmão (Lourival Oliveira) vão tentar sair, mas eles são muito inteligentes, têm que procurar parcerias, é isso que eu vou fazer também, o nosso projeto já está pronto, a gente já começou a correr, já tem alguns amigos empresários que querem investir também. Eu sei que é um ano difícil. A gente tem que concluir o ano de 2014 que está muito difícil e torcer que dê tudo certo em 2015 para as coisas melhorarem não só no estado de Sergipe, mas em todo país. A crise está em todo país, e é preciso que a gente tenha criatividade e maturidade para enfrentar.
Qual sua palavra de agradecimento para os eleitores que confiaram em seu trabalho como vereador e lhe conduziram à Assembleia Legislativa?
Quero agradecer ao povo de Aracaju, mais uma vez, pela generosidade, por me ter feito o deputado mais votado de Aracaju, e ao povo de Sergipe, porque cada município também foi muito importante na minha eleição, mesmo sendo aquele município com poucos votos, mas ajudou na nossa eleição para que a gente pudesse chegar à Assembleia. Agradeço ao povo de Aracaju e Sergipe por ter me colocado na Assembleia com quase 27 mil votos e agradeço porque a gente tem feito o trabalho. O povo de Aracaju e de Sergipe tem reconhecido e, mais uma vez, a gente é vitorioso na eleição de 2014.
Texto relacionado: Jackson, Valadares e o desafio de descartar a frase: “café requentado não presta”
O senador Eduardo Amorim (PSC), que disputou o governo do estado de Sergipe nas últimas Eleições e obteve 44,72% (314.392) dos votos válidos é o convidado desta semana do programa Joedson Telles. O Socialista cristão faz um balanço das Eleições Gerais 2014 e diz que não saiu derrotado das urnas.
Por Joedson Telles
O vereador Emerson Ferreira, o Dr Emerson (PT), que disputou a eleição 2014 para deputado federal bateu de frente com uma realidade preocupante, mas que virou lugar comum na política brasileira: a compra de votos. Abominando a prática, o parlamentar explica nesta entrevista como as pessoas sérias que entram na política pensando na coletividade são obrigadas a enfrentar o problema, e acaba amargando uma derrota nas urnas por conta de uma sociedade, em sua maioria embrutecida. Entusiasta do trabalho de formiguinha para conscientizar o eleitor do mal que representa a compra de votos, Dr Emerson explica que ninguém sai de casa para comprar votos com R$ 8 milhões no bolso. “Geralmente é o dinheiro que se gasta numa campanha de deputado federal. R$ 3 milhões para deputado estadual. R$ 1 milhão para vereador. Ninguém sai com esse dinheiro numa bela manhã para comprar lideranças. Esse dinheiro vai saindo aos poucos porque se for pega a pessoa regulamenta, diz que o dinheiro está legal. Se a lei determina essa impossibilidade, se pegou na relação de compra com R$ 1, isso é ilegal. Não tem como justificar”, explica. A entrevista:
Qual o balanço que o senhor faz das eleições 2014?
O principal balanço que eu faço é que a nossa, ainda muito débil democracia, tem muito que avançar, para que a gente possa imaginar uma representação não mercantilizada, porque se vivenciamos a democracia representativa ela está cada vez mais mercantilizada. Muitos dos mandatos exercidos no Brasil são efetivamente comprados, diante do processo eleitoral do modo e da forma que eles se realizam. A gente precisa fazer uma reforma política democrática, e essa reforma tem que ser através de uma constituinte específica para isso. Eleita, propõe a reforma, aprova e se afasta, inclusive com um período entre 8 a 10 anos sem que esses constituintes possam participar do processo eleitoral. O grande desafio dessa reforma, volto a insistir, é que ela não se fará com essas representações parlamentares que temos.
Como assim?
Mais de 20 anos que o Brasil clama e tenta fazer e não consegue, porque já chegou ao ponto que não se pode mexer numa vírgula do ponto de vista da reforma eleitoral por esse parlamento que está aí, e por aqueles que sucederam, porque quando mexe na vírgula ‘eu não me elejo’. Quando mexe em outra vírgula, ‘outro não se elege’ porque não tratam do ponto de vista que seria melhor para nação brasileira, mas cada um preserva o seu espaço de poder nessa realidade de democracia representativa mercantilizada.
E o eleitor?
O povo brasileiro precisa entender que através desse parlamento, e de todos que elejam com essa lógica, não poderemos fazer com que essa reforma seja para avançarmos e fortalecimento da democracia. Essa reforma tem que discutir sobremaneira a retirada de qualquer possibilidade da influência do poder econômico do processo eleitoral. Vejam que o parlamento brasileiro está tão na contra-mão que recentemente o que eles querem, através de uma mini-reforma escondida, escamoteada, que esconde essa péssima intenção? Querem permitir que as empresas concessionárias do serviço público possam financiar as campanhas. Imoralidade maior do que essa não existe, porque a gente já sabe dos financiamentos ilegais. A partir do momento que a lei consagra a possibilidade do financiamento privado de campanha, isso tem servido no Brasil para regulamentar o financiamento ilegal. Nós já tivemos casos nesse país de alguém ser pego com muito dinheiro para compra de votos. As pessoas justificam que ainda vão fazer a prestação de contas, e nessa prestação de contas estará esse dinheiro. O cara nunca sai para comprar votos com R$ 8 milhões, que geralmente é o dinheiro que se gasta numa campanha de deputado federal. R$ 3 milhões para deputado estadual. R$ 1 milhão para vereador. Ninguém sai com esse dinheiro numa bela manhã para comprar lideranças. Esse dinheiro vai saindo aos poucos porque se for pega a pessoa regulamenta, diz que tem um doador, que o dinheiro está legal. Se a lei determina essa impossibilidade, se pegou na relação de compra com R$ 1, isso é ilegal, não tem como justificar. Nós temos que acabar com isso, se pensarmos no fortalecimento da democracia e de termos política como uma democracia representativa com participação e controle da população. Por outro lado, essa prática perversa tem criado uma cultura que de modo bem raso as pessoas têm acumulado o seguinte senso comum: ‘todos são ladrões, então vou votar no que me dá alguma coisa’. Tenta receber de vários e escolhe um deles para depositar o voto, banalizando a possibilidade de que a gente tenha uma transformação da sociedade. Quando eu era criança, a política era quase o ano inteiro. Eram comícios. As pessoas estavam se expondo, colocando as suas propostas, dialogando com a comunidade. Esse período foi encurtando porque cada vez mais o poder econômico foi sendo o definidor, e quanto mais prolongado o tempo do pleito mais se gasta. A primeira tentativa foi a redução desse período. Depois, para esvaziar a possibilidade da exposição de propostas e do diálogo com a sociedade, inventaram a história dos showmícios, porque já não atraíam. Os políticos já estavam caindo num processo que o povo não se sentia representado pelos políticos que têm, e colocavam artistas para atrair as pessoas. Depois esses próprios políticos fizeram uma reforma para acabar com isso. Acabaram porque começaram a verificar que muito dinheiro era investido nesses shows e que isso não trazia nenhuma garantia de votos, porque o pessoal ia à festa e depois votava do jeito que quisesse. Então, eles foram fazendo reformas progressivas no sentido de encurtar o processo eleitoral. Tiraram essa história de showmício porque foi verificado que o dinheiro tinha que ser preservado para a compra direta do voto que, se dá através da compra das lideranças. É preciso que a gente desnude esse processo para que a população possa entender e fazer uma reflexão nesse sentido. Vai reservando o dinheiro para compra. Eleição de deputado federal começa a ser resolvida dois anos antes com a eleição de prefeito, que é outra maldade que foi feita com eleição a cada dois anos, para que o camarada não fique sem mandato. Ele é deputado federal, se candidata a prefeito. Se perder, continua deputado federal e não pode haver coincidência, e a cada dois anos temos um novo processo eleitoral. Na eleição de prefeito e vereador, o camarada que tem a intenção de ser candidato a deputado nessa lógica começa com as verbas de subvenções, de emendas, ou de financiamento dessa empresas que estão relacionadas com o serviço público, a comprar votos de prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, lideranças, e começa a mapear a cidade, de modo que o cara já sabe quantos votos terá em cada município. Nessas relações dizem que estão fornecendo estrutura e essa estrutura é dinheiro para as pessoas. Quando chega o processo de eleição, o camarada aluga várias Amaroks para campanha, sobe numa delas e passa dando adeus ao povo. Não expõe suas propostas, não se compromete em nada com a população, quando vai a um município é nas carreatas, passam por lá, os políticos que já foram comprados garantem os votos, o camarada se elege e não tem compromisso nenhum com a população, a não ser com os financiadores de campanha. Com os seus interesses de manutenção de poder. Com seus compromissos intra-partidários… Outra coisa que a reforma tem que resolver é que partido político no Brasil não tem democracia, tem dono. A mudança da cultura popular na forma como reflete esse processo eleitoral, aquelas pessoas comprometidas no exercício da política, enquanto garantia de direito, enquanto possibilidade de termos uma sociedade transformada e mais justa mais socialmente igual, essas pessoas têm que se comprometer com esse processo.
É possível fazer uma campanha sem gastar rios de dinheiro?
Eu gastei em torno de R$ 65 mil nessa campanha. Parte do dinheiro, meu. Porque eu tenho que ser o maior doador da minha campanha, e parte de colegas – que a cada eleição doam R$ 100, R$ 200, R$ 500, R$ 1000. A gente não aceita o financiamento de empresas. Antes da campanha, eu pedi que alguém da imprensa me acompanhasse para ver que é possível fazer a campanha com este dinheiro, porque a gente só precisa de material para divulgar a campanha. Quando adota a prática da compra de voto precisa de mais dinheiro do que isso. Então, eu me sinto um vitorioso porque eu entendo que tem que ter princípios, e de princípios a gente não abre mão. Tem que ganhar, mas ganhar com que valores? Eu, Emerson Ferreira da Costa, teria vergonha de ganhar de outro jeito que não fosse desse. A política se dá desse jeito e nós temos que trabalhar e enquanto estiver na vida política estarei de modo pedagógico, fazendo isso sem abrir mão em momento nenhum dos meus princípios. Eu fui vereador da situação no outro mandato e, de modo coerente, meu comportamento foi esse. Estou agora na oposição e meu comportamento é o mesmo, coerente, porque eu me baseio em ideias e princípios para fazer essa trajetória.
O que falta para que o combate à corrupção eleitoral seja feito de forma efetiva?
Eu escutava outro dia uma pessoa que disse que teve muita gente que gastou muito na eleição e não ganhou. É óbvio. Nós temos, por exemplo, oito vagas para deputado federal. Se a maioria gasta muito, vai ter muita gente que vai gastar muito e não vai entrar porque só tem oito vagas. Não tem vaga para todos que gastam muito. Eu insisto que a população seria a grande responsável por efetivar essa mudança. O Poder Legislativo no Brasil é escolhido segundo essa lógica. Eu não me sinto representado por esse Poder Legislativo. Em 1988, nós tivemos uma constituinte que foi dita cidadã que avançou bastante, porque naquela época nós tínhamos um parlamento mais progressista. De 1988 para cá, cada congresso que é eleito é mais conservador, de modo que diversas matérias que careciam de legislação suplementar para regularizar essas matérias jamais foram aprovadas porque apontavam para avanço naquele momento, tivemos algumas que foram regulamentadas retrocedendo o próprio código florestal porque esses parlamentos foram cada vez mais conservadores. A gente não pode ter a inocência de imaginar que um parlamento que é eleito dessa forma, que eu descrevi, vai fazer as leis que possam sanar esses problemas e fortalecer a democracia. Essas leis não são instrumentos para o próprio Poder Judiciário, no caso do TSE e TRE, para eles terem mecanismos. São muito débeis. A existência da possibilidade do financiamento privado permite essa outra coisa e fica muito difícil. Depois tem uma cultura popular onde tem uma cadeia de corruptor e corrompido. Nós precisamos punir. Nós não tínhamos denúncia de corrupção no exercício dos mandatos e estamos progressivamente avançando. O problema é o tempo que é muito lento para tudo isso. A gente vê o político sendo denunciado, e o empresário que muitas vezes estava do outro lado, na cadeia? E o cidadão que estava do outro lado também? Eu sou um político reconhecido por essa prática de não comprar votos. Eu consigo entrar e sair aqui tranquilamente da Câmara Municipal de Aracaju e as pessoas não me abordam, porque chega à época da eleição e não fico prometendo que vou dar uma série de coisas. Na minha cabeça política não se estabelece numa relação de favores, se estabelece numa garantia de direitos. Eu trabalho política como garantia de direitos. Eu pretendo um dia escrever sobre isso, porque eu guardei aqui inúmeras mensagens pedindo dinheiro para reforma de casa, dinheiro para limpar o nome no SPC, para pagar a conta de luz, para comprar remédio…, e no dia da eleição chegava e dizia que, se eu desse R$ 20, votava em mim e eu dizia continue procurando que eu não preciso desse voto. É essa cultura que a gente precisa se voltar contra. Se a gente tivesse instrumentos legais que se voltassem contra essa cultura…, mas a inexistências desses instrumentos legais, o parlamento que não tem compromisso com mudar isso, só consolida e segmenta essa cultura. A gente precisa trabalhar a população para que no dia que a gente mude a mentalidade da população ela mude a representação política. E mudada a representação política, vamos ter a perspectiva de avançarmos com a legislação que fortaleça um estado democrático de direito e uma sociedade mais justa. As pessoas costumam dizer que isso não é para os filhos nem para os netos. Eu costumo dizer que eu tiro a variável tempo dessa minha ação. Eu sei que já existiram pessoas que já pensaram como eu, que hoje existem pessoas que pensam como eu e que existirão pessoas que pensam como eu. O que é permanente no tempo é a ideia, e não as pessoas. É bom que a gente tenha a clareza e o discernimento de fazer a defesa dessas ideias. Essa transformação vai acontecer na cabeça de cada um, quando tiver essa compreensão dos problemas. Uma pequena parte da sociedade hoje tem essa compreensão. O macro hoje da sociedade é o pensamento dessa lógica perversa que eu acabei de falar. A imprensa teria um papel fundamental nisso enquanto concessão. É o papel que a imprensa tem a cumprir. Não é a toa que nas últimas décadas no Brasil os políticos procuraram se apropriar de veículos de comunicação, porque através desse processo pode-se fazer a dominação ideológica. Para a maioria da população brasileira a expectativa de vida deles é que precisa garantir emprego, comida, ter um lugar se alguém adoecer para que atenda com qualidade e de modo impessoal que não precise ir atrás de político nenhum. Essa é a expectativa de 90% da população brasileira e isso é pouco contemplado na ação política. Os problemas sociais que nós temos são todos negando essa perspectiva. Nós temos uma pequena parcela da população brasileira que não tem essas preocupações. A preocupação é como vai ampliar a empresa, como vai ampliar o lucro. Essas preocupações que são da maioria da população não são preocupações de uma minoria, que são outras, e tudo isso é legítimo. A gente não pode tratar de modo igual os desiguais. Tem alguma coisa errada e é essa dominação ideológica e essa legislação que faz com que essa maioria que tem essa expectativa constitua um parlamento que evidentemente defende com prioridade o interesse as expectativas da minoria da população. Tem alguma coisa errada em função dessa forma que se dá essa relação de poder. É preciso que a gente possa ver tudo isso e concorde com tudo isso de forma consciente ou concorde e queira fazer de modo contrário, e eu tenho certeza que a maioria da população brasileira é manipulada nesse processo e age mantendo esse processo. Tem duas coisas que essa lógica perversa produz com muita competência: a ignorância e a miséria.
O PT governou chegou ao poder em 2006, com Marcelo Déda, que foi reeleito em 2010. Com sua morte, Jackson assumiu o governo. O senhor faz um balanço positivo deste tempo, correspondeu à expectativa daquilo que foi proposto nas ruas, ao longo de anos e anos?
Nessa realidade social, os problemas crescem e têm um incremento muito maior que a capacidade resolutiva de qualquer governo. Todos prometem, mas prometem sabendo que não vão fazer, porque hoje a lógica é trabalhar com bons marqueteiros e sair prometendo. Os problemas se avolumam numa intensidade muito maior que a capacidade resolutiva dos governantes. Se a gente tirar o viés da corrupção e da incompetência administrativa, talvez sobre mais dinheiro para fazer muita coisa. Eu estou fazendo essa análise dissociada da questão do partido que você colocou. Estou fazendo de modo genérico. Eu votei e pedi voto para Jackson Barreto. Existe uma série de erros cometidos sem uma compreensão histórica do significado de onde conseguiu chegar. Isso de certa forma confundiu a cabeça das pessoas. Eu faço a minha meia-culpa que nós cometemos erros que não poderíamos ter cometido, mas de certa forma eu ainda creio, acredito. Acredito que representava uma opção onde a gente não retrocedesse no tempo, já que retrocedemos por algumas práticas. Tudo o que conversamos aqui eu acredito que a gente tem a possibilidade. A gente avança de muito longe se insistirmos na manutenção desse processo. Precisamos avançar muito, temos muito a fazer. Cometemos erros na minha concepção inadmissíveis. É disso que muitas vezes não sou compreendido porque eu não faço política que tudo que eu faço está certo e tudo que o outro lado faz está errado, porque se não a gente perde a oportunidade de consertar erros que foram cometidos. Eu não trabalho na lógica que meu adversário é meu inimigo, e muito menos que meu correligionário do partido é meu inimigo. Às vezes o que eu vejo na política sergipana é que o camarada do outro partido é meu adversário e do meu partido é meu inimigo. Existem coisas em política que precisam ser saneadas e a gente precisa avançar nesse processo. Aí vem a história da democratização dos partidos, esses partidos precisam ser programáticos. Por que 30 e tantos partidos e mais 13 pedindo registro? A gente sabe que isso é para contemplar interesses de grupos. Se num Estado tem quatro grupos e não acomoda mais vamos criar mais um para acomodar, ou um grupo que é emergente e vira um partido de aluguel e recebe fundo partidário. Creio que o PT teve avanço do ponto de vista social, isso é inegável, mas talvez não tivemos a compreensão da importância de termos chegado ao governo do Brasil, dos Estados. A gente podia ter contribuído mais para consolidação da consciência cidadã do povo brasileiro.
O fato de Marcelo Déda ter chegado ao poder num governo de coalizão pode ter prejudicado seu projeto?
Essa é outra prática adotada na política brasileira. É a tal da governabilidade. Eu nunca fui um administrador de executivo porque a gente sabe a relação que se dá por trás disso. Não é uma relação decente porque não se dá em funções programáticas porque ela faz uma distribuição de cargos políticos e às vezes o camarada é governador, mas tem um secretário que não trabalha nem para o governador, trabalha para outro grupo político. É como se fossem ilhas dentro do próprio governo. Isso não tem unidade, não tem uma proposta de governo, um planejamento de governo para que se façam as coisas. Está aí a contemporaneidade mostrando isso. Eu acho que essa prática é ruim. As pessoas combatem algumas práticas de governo e quando entram não transformam. Eu costumo dizer que a forma de administração política do Brasil é sapato de uma forma só. Qualquer um que entra tem que fazer do mesmo jeito, e quando muito tem direito de mudar a cor da meia, mas a prática é sempre a mesma. Eu nunca vi alguém que tivesse coragem de enfrentar tudo isso. O problema é que as pessoas querem fazer carreirismo. Nunca ouvi ninguém dizer que está querendo fazer de um jeito e que não vai negociar, que não vai colocar um político administrando a saúde e educação, fazendo dali um comitê eleitoral. Não tem modelo de saúde e de educação que funcione desse jeito. A gente tem que ter técnicos, profissionais da área, pessoas competentes, reduzir ao máximo a corrupção, colocar como prioridade absoluta as pessoas. Eu vou perder, mas não vou abrir mão disso aí. Você já viu isso na política? A gente só conhece o lado da governabilidade que sai distribuindo, retaliando, e quando abre mais a perspectiva de aliança, mais retaliado vai ficar a administração, e às vezes o camarada está administrando com inimigos, como aconteceu. Quem não sabia da história? As pessoas jogaram muito às claras. Fez uma parceria, mas saberia que a qualquer momento seria candidato a governador. Fica muito difícil. Eu prefiro perder sem abrir mão dos meus princípios a ganhar indo além dos meus limites e dos meus princípios.
Seria até melhor, de repente, não chegar ao poder, do que chegar com outros projetos?
Isso é uma reflexão que se faz, mas a gente não tem a capacidade de avaliar se isso seria melhor porque isso não aconteceu. Eu até entendo que de certa forma no PT isso aconteceu, a gente restringia muito a política de segurança, mas depois houve uma compreensão que para ganharmos tínhamos que abrir e assim foi feito. A outra alternativa não dá para avaliar porque ela não foi feita. Eu me reservo o direito de acreditar que essa possibilidade é não efetivamente testada no exercício amplo do poder para que a gente pudesse avaliar, mas o que o tempo tem mostrado é quanto vazamento e quanto problema existiu sempre tendo como base essa relação. Então, vêm várias histórias na política recente do Brasil e mostram pontos de vazamento e a base é essa relação com a governabilidade. Além de confundir muito as pessoas despolitizando essa coerência. Como é que vivia combatendo fulano de tal e agora está com fulano, e no meu governo fulano tem espaço, e perceba que os problemas começam a acontecer justo nesses espaços. Dessa experiência concreta nós temos a percepção do que aconteceu. A outra, que não aconteceu e é apenas uma reflexão, se algum dia chegasse a uma gestão eu não me preocupo. Tanto é que eu defendo que ninguém deve exercer mandato político por mais de duas vezes. Se quiser continuar no mundo político vá continuar em outro, porque se não vira profissão e isso é ruim, principalmente quando no Brasil é uma profissão numa quantidade considerável tem se tornado o meio de vida de pessoas desonestas. Isso é muito ruim para o nosso país.
O governador Jackson Barreto anunciou que não disputa mais eleição. O senhor acha que isso dá a ele condição de fazer um governo diferente?
Eu tenho expectativa e acredito muito porque essas amarras estariam desfeitas. Ele não pode dizer que está com dificuldade de fazer porque as amarras políticas estão prendendo. Ele agora é governador e pode fazer a administração, os erros e acertos serão atribuídos, a gente precisa ter a compreensão que não vai resolver tudo e nenhum resolve. Quatro anos de qualquer mandato é pouco. A gente não consegue estar resolvendo plenamente os problemas da casa da gente, imagine de uma nação ou de um estado todo. O que a gente precisa é apontar caminhos que mostrem que a gente está procurando diminuir as desigualdades, procurando tornar a administração pública mais transparente, tornar a administração pública enquanto controle social que os políticos são empregados. Nós temos uma cultura de quando trabalhamos em lugar dizemos que o cara é patrão, mas na relação política quando chega um político diz que o homem está chegando. Por que não se estabelece a mesma relação e diz que o empregado está chegando? Eu tenho que avaliar se o cara está fazendo pelo interesse da sociedade e não do meu específico. Se ele não tiver fazendo não será merecedor do meu voto. É isso, parece simples, mas é desafio e falta essa consciência.
O seu tempo era menor no horário da TV comparado ao de outros candidatos. Isso pode ter sido devido a sua forma de pesar?
Eu não posso avaliar porque seria avaliar o que eu penso, se as pessoas tomam essa atitude pela forma como eu me comporto. Eu sei que essas coisas acontecem, mas por que… Aí cada pessoa contribui para que aconteça e que tenha explicação na cabeça dela. Eu não vou fazer uma dedução. O fato é que eu realmente tive 20 segundos de programas, os outros candidatos a deputado federal tiveram 50 segundos, e eu procurei minha advogada e ela disse que isso o partido faz como quer. Eu falei com o partido e me deram explicação das prioridades da campanha, eu não era prioridade, discuti com minha assessoria se faria ou não. Eu imaginava que o tempo seria mais ou menos isso, mas para todo mundo. Eu já tinha feito programas de 20 segundos, fomos adiante. Mas é aquilo que eu disse da questão do princípio da democracia dos partidos, que precisamos modificar. Eu tenho uma proposta que fala em lista fechada, mas lista fechada para partidos desse jeito vai ser um absurdo. A política velha quer que seja lista fechada de ponta a ponta com decisão exclusiva dos partidos. Os caras, agora com essa coisa aberta, é filho, sobrinho, amigo, cabo eleitoral, imagine se for lista fechada com a falta de democracia dos partidos? A gente precisa modificar essas coisas porque a política se dar como meio de vida. Política não é pra isso.
A gente percebe, a cada eleição, principalmente nas campanhas majoritárias, o papel fundamental do marqueteiro. Até que ponto isso é bom para a sociedade? O político não pensar mais, não expressar seus sentimentos?
Ele nem pensa e nem assumi compromisso com a população. A síntese de todos os livros de marqueteiros é campanha montada, poder econômico. Leia um livro de marketing que você vê isso. É muito dinheiro e dourar a pílula. Fazem pesquisas do que o povo está querendo ouvir. A pesquisa é que vai definir, o pacote vai ser feito, vai dourar a pílula. As propostas são feitas no sentido do que agrada e do que não agrada. Essas pessoas não dialogam, muitas vezes não sabem nem da sociedade real da população. O marketing é isso. Eles estão dourando a pílula e as pessoas estão comprando gato por lebre.
Esperava uma votação tão expressiva, quase 35 mil votos?
Foi uma grata surpresa. A gente trabalhou bastante tanto no mandato quanto na campanha eleitoral. Percorremos o Estado inteiro, teve presença em praticamente 100% do Estado, e graças a Deus o povo entendeu a nossa mensagem, percebeu a necessidade de continuar renovando a Assembleia Legislativa, a política de forma geral, mas também renovando com qualidade. A gente percebeu que o eleitor não aceita qualquer tipo de proposta. Eles analisem e estudam o candidato. Foi uma proposta de renovação com conteúdo, com compromisso, seriedade, capacidade de trabalho. Eu fiquei muito feliz em receber quase 35 mil votos do povo sergipano. Na última eleição, nós tivemos pouco mais de 15 mil votos. Foi o maior crescimento da história política de Sergipe com 111% de crescimento de uma eleição pra outra.
O eleitor entendeu sua mensagem, então?
A gente fica muito feliz. O povo compreendeu nossa mensagem durante a campanha, que nossa mensagem foi bem aceita. Durante as nossas propagandas, a gente percebia quando estava nas ruas que o povo prestava atenção nas nossas propagandas eleitorais e tudo isso conquistou, principalmente, o voto da juventude, da classe média sergipana. Não tivemos aqui na capital nenhuma liderança política, liderança de bairro, mas tivemos uma grande votação da classe média de Aracaju com quase 3 mil votos e tivemos um trabalho justamente nas universidades, junto a juventude, e alguns amigos que confiam nesse nosso projeto e fizeram essa militância aqui na capital. Tivemos uma grande votação em Aracaju. Para o formato da nossa campanha acho que foi uma votação expressiva na capital e diversas cidades do interior mostrou que acreditam no nosso projeto, a exemplo de Itaporanga, onde tivemos 3 mil votos. Eu percebo que o povo compreendeu a nossa mensagem e isso aumenta o nosso compromisso e fortalece ainda mais a nossa caminhada e a nossa construção política. Eu espero que o próximo mandato que vai iniciar em janeiro de 2015 possa ser ainda melhor do que esse, porque a minha passagem pela liderança do governo, o meu primeiro mandato eu aprendi bastante, fiquei mais experiente, conheci o funcionamento da Casa, me aproximei dos parlamentares, criei uma relação de confiança, de respeito mútuo com os meus colegas. Eu acho que isso facilita o nosso trabalho para o próximo mandato.
O trabalho dessa Casa será fundamental para ajudar Jackson a corresponder às expectativas do povo…
A vitória de Jackson foi esmagadora. Foi a resposta do povo sergipano. A manutenção do projeto, que começou com Marcelo Déda, que construiu uma nova metodologia de governar o Estado de Sergipe e isso foi reconhecido agora. O povo retribuiu não só o trabalho de Marcelo Déda, mas o trabalho do próprio Jackson que tem uma história muita bonita que todos já conhecem, e será fundamental para o sucesso do próximo governo de Jackson Barreto essa parceria com a Assembleia Legislativa, lógico que respeitando a função de cada poder, mas é preciso que o Poder Legislativo esteja sintonizado com o Poder Executivo, para que a gente possa trabalhar em conjunto e beneficiar o povo sergipano, para que não aconteça polêmicas como foi o caso do Proinveste, Proredes, que acaba atrapalhando, a oposição entende que não é interessante, a situação entende que é. Essa discussão acaba atrapalhando os projetos relevantes para Sergipe. Eu tenho certeza absoluta que Jackson Barreto terá uma sintonia muito grande com o Poder Legislativo e eu espero que meus colegas deputados possam entender essa necessidade para o bem de Sergipe da gente estar sintonizado com o Poder Executivo pra que a gente possa trabalhar e melhorar a vida do povo sergipano cada vez mais.
Até porque Jackson já deu provas que sabe dialogar com respeito com esta Casa…
Com certeza absoluta. Desde quando Jackson assumiu o Governo do Estado dialogou bastante com os parlamentares. Ele dialoga sempre com o Poder Legislativo e isso foi demonstrado durante esses meses que ele está no governo. Com certeza absoluta será da mesma forma no próximo governo de Jackson Barreto. Ele terá esse diálogo importante com Jackson Barreto para que a gente continue em sintonia, trabalhando em prol do povo de Sergipe
Em 1994, Jackson, por pouco, não chegou ao Governo de Sergipe numa eleição com Albano, que acabou sendo eleito no 2º turno, mas muitos colocam em xeque essa eleição. O povo tinha essa dívida com Jackson?
Com certeza. O povo sergipano tinha esse compromisso de eleger Jackson Barreto governador. Da geração de Jackson, ele é um dos políticos que tem a história mais bonita, que lutou contra a ditadura, contra a redemocratização do nosso país, e o povo sergipano presenteou Jackson Barreto por toda a sua história com essa vitória com mais de 120 mil votos a frente do seu opositor, que foi o senador Eduardo Amorim. Essa foi a maior vantagem que um candidato teve em toda a história política de Sergipe. Jackson ganhou para Amorim com mais de 120 mil votos. Isso foi uma resposta do povo sergipano que não concorda com grandes grupos empresariais envolvidos em políticas, esses acordos feitos em gabinetes que não condizem com a história do povo. Jackson foi pra rua sem estrutura financeira. Foi para rua com a militância, com seus aliados, com os que estavam e estão com ele e o povo percebeu que o grupo liderado pelo candidato Amorim representava acordos econômicos, representava a força do poder econômico. O eleitor sergipano conseguiu separar muito bem isso, deixar isso de forma muito clara, e depositou voto naquele que tem a cara do povo de Sergipe, que representa a força do povo, e acima de tudo isso, tem um projeto de governo que vem melhorando cada vez mais a vida do povo sergipano. Os índices do nosso estado estão crescendo. Sergipe bate o recorde no índice de emprego, de desenvolvimento humano, e tudo isso é sentido no dia a dia dos cidadãos, principalmente daqueles que estão mais distantes, da população do interior. A população sente isso. Quando a vida do povo melhora, quando a vida dos mais carentes melhora, o povo percebe e acaba escolhendo aquele projeto político que foi responsável por isso. Acho que foi por isso que Sergipe deu a maior vitória da história política do nosso Estado ao governador Jackson Barreto.
O PSD, que contribuiu para a vitória de Jackson Barreto, participará, evidente, do seu governo, não?
Com certeza. Jackson reconhece sempre seus aliados e o PSD saiu muito fortalecido nessa eleição. Nós fizemos três deputados estaduais entre os mais votados, os deputados Jeferson Andrade, Luiz Mitidieri e Gustinho Ribeiro, tivemos também a eleição do deputado federal Fábio Mitidieri com uma expressiva votação, que também foi uma surpresa, um fenômeno nas urnas, e eu tenho certeza que o PSD continuará entrosado o governador Jackson Barreto, e Jackson tem essa característica de reconhecer seus aliados, reconhecer seus companheiros e saber respeitar a vontade do povo. O PSD hoje representa uma parcela muito grande do eleitorado sergipano. Só para deputado estadual foram mais de 120 mil votos entres os três deputados estaduais. Eu tive 34.863 mil votos, Jeferson 33.898 mil votos e Mitidieri 33.847 mil votos. É uma votação expressiva. Nós fomos os deputados mais votados da coligação de Jackson Barreto. Isso representa a vontade do povo. Representa que as ruas mandou nas urnas dizendo que os representantes do PSD tem responsabilidade, legitimidade e vamos votar neles. Isso mostra a força do nosso partido. Eu espero que a gente continue participando cada vez mais participando do governo e contribuindo para o projeto de Jackson Barreto.
Por Joedson Telles
Fora da disputa eleitoral deste ano, o vice-prefeito de Aracaju, José Carlos Machado (PSDB), faz uma análise do processo, que termina no próximo domingo com o eleitor indo às urnas eleger presidente da República, governador, senador, deputado federal e estadual. Segundo Machado, o eleitor precisa saber em quem está votando, já que o voto tem consequências. “Quando se escolhe um governador é uma responsabilidade muito grande. Tem que olhar o passado, a vida dos candidatos. Talvez seja por isso que, ao invés de falar dos grandes temas, eles prefiram se mostrar, como se isso fosse importante. O importante é o que tem na cabeça, o que pretende fazer em prol do mais pobre. Se governa para todos, mas os problemas dos ricos são bem menores. Os pobres são mais necessitados, enfrentam uma fila para marcar um exame e não tem, enfrentam uma fila para matricular um filho numa escola pública e não consegue. O que interessa é isso. Eu acho que não deve prevalecer paixão partidária”, diz. A entrevista:
Estamos terminando de vivenciar uma eleição atípica?
Um pouco diferente das outras, principalmente pela ausência de material de publicidade. Não é só aqui em Sergipe. Eu vim de São Paulo, há duas semanas, e lá tem muito menos do que aqui. Você não percebe quando passa aquele clima que antecede o dia da eleição. Estamos às vésperas da eleição, praticamente. Fora os programas, fala-se pouco em eleição. É essa percepção que eu tenho. Mas recentemente começaram a colocar uns cartazes em canteiros, infligindo a legislação, porque a legislação obriga que cada cartaz daquele esteja do lado de um figurante, de uma pessoa contratada para isso, mas fora isso pouca coisa acontece. Imagine quando os programas de rádio e televisão saírem do ar, quando um falar do outro nem ouvir eles vão. A coisa vai ficar mais fria ainda. Para mim, não tem nada definido. A Maria (senadora Maria do Carmo que disputa a reeleição) é possuidora de um recal extraordinário. Tem grandes chances de se eleger, e a eleição para governador, na minha avaliação, está indefinida.
O que o senhor acha dessa diferença entre as pesquisas para o Governo do Estado?
Eu tive uma lição e quem me ensinou foi José Thomaz Nonô, vice-governador de Alagoas, que veio aqui (Sergipe) me fazer uma visita. Ele coordena a campanha de Aécio Neves no Nordeste. Pesquisas, às vezes, se publica com cinco dias de antecedência, mas há sempre uma diferença: de um dia para o outro, muita coisa pode mudar. Você viu o que a morte de Eduardo Campos provocou no cenário político brasileiro. Elevou Marina no primeiro momento. A Dilma pensava que ganhava a eleição no primeiro turno, hoje ela já tem certeza que tem segundo turno. Só não sabe com quem vai disputar, com Marina ou com Aécio Neves. Já se fala na possibilidade até de Dilma ficar de fora por conta desses mal feitos do PT que aparece a cada segundo na imprensa brasileira. Essa da Petrobras é de arrepiar até defunto. Se as observações feitas por esses envolvidos no escândalo, que optaram pela delação premiada, chegarem ao público, chegar ao conhecimento da Justiça a tempo… Um escândalo sem precedência. Vai colocar o mensalão no cantinho num minuto. Aliás, quando Paulo Roberto veio aqui em Sergipe anunciar a construção dessa refinaria eu falei para três ou quatro pessoas que eu não acreditava em absolutamente nada daquilo. Poderia até construir a refinaria, porque hoje quem tem o monopólio do refino é a Petrobras, mas não vai abrir mão desse monopólio simplesmente porque é para seu Paulo Roberto. Ele pode até construir com financiamento do BDNES, seis meses depois vai alegar dificuldades e vender quatro vezes pelo que vale. Se ele gastasse US$ 100 milhões, ia colocar a refinaria, quatro meses depois ia dizer que não tinha condições de competir, que o preço estava engessado. Vendia à própria Petrobras por quatro vezes o valor que gastou. Eu comentei isso pelo menos com três ou quatro pessoas. Eu já desconfiava quando foi anunciado naquele comercial do Governo do Estado do Paulo Roberto com o governador Jackson Barreto. O cara vem e promete que quer construir uma refinaria em Sergipe. Esse cidadão foi 12 anos diretor da Petrobras, oito anos do lado de Lula e quatro do lado de Dilma, quem é governo aliado de Lula tem que receber bem. Eu acho que o governo não tem culpa nisso, mas isso configura-se, se não em fraude, numa coisa próxima da fraude. Eu acho que Paulo Roberto nunca teve intenção nenhuma de beneficiar Sergipe gerando empregos. Ele pode até ter a intenção de construir a refinaria para gastar 100 e vender por 400. O serviço público exige o cuidado até na leitura. Tem que ser dobrado. Em torno da administração pública existem milhares de pessoas. O Governo de Sergipe tem que prestar contas para quase 2 milhões de sergipanos. A Prefeitura de Aracaju tem que prestar contas pra quase 700 mil aracajuanos. Tem que ter muita responsabilidade. Por isso que eu digo que uma das principais qualidades de um gestor é saber distinguir o importante do fundamental. Ao por a sua assinatura tem que ter o cuidado dobrado. Hoje, os tempos vêm mudando com a internet, que coloca tudo ao conhecimento de todos. Antigamente o governador nomeava juiz, transferia promotor, mas, hoje, a coisa foi mudando, veio a Constituição. As coisas hoje têm que ser feitas e bem feitas com muito cuidado.
Quais devem ser as prioridades do próximo governador?
Sergipe tem dois problemas gravíssimos: um é esse déficit da previdência. Eu ouvi dos setores do governo que o déficit da previdência, no próximo ano, pode chegar a um R$ 1 bilhão. Isso não é uma coisa de fácil solução. Isso não é só em Sergipe. O Governo Federal vai ter que sentar e encontrar uma alternativa. O problema de saúde não é só de Sergipe. É um problema nacional, e o Governo Federal ainda não tomou nenhuma alternativa para resolver essa falta de recurso que acontece na área da saúde. Esse déficit da previdência é gravíssimo. O próximo governador tem que realmente encontrar uma pessoa que entenda do assunto e buscar alternativas para resolver. Outra coisa é a elevação da dívida. Tomou-se muito dinheiro emprestado. A relação entre o montante da dívida e a receita corrente se elevou muito. Claro que está no limite e, por isso, conseguiu tomar dinheiro emprestado. O Estado que comprometia cerca de 6% da receita corrente líquida com pagamento, no início da dívida, esse valor sobe para 10% ou 11%. Isso impede o Estado de fazer investimentos como é necessário na saúde, educação, segurança e em outros tipos de serviço que a sociedade espera e carece. Tem uma questão mal explicada que é essa BR 101 que não se acaba. Enquanto na maioria dos estados brasileiros está prestes a construir, aqui em Sergipe tem um trecho de Estância até a fronteira que nem se licitou ainda e ficou por responsabilidade do Governo do Estado, mas ninguém sabe quando vai começar. Começou quando Fernando Henrique era presidente da República. São três problemas graves que vêm à mente. A questão da segurança se impõe necessariamente um aumento significativo do contingente. Entram 600 soldados, mas saem 500. Eu vi domingo passado no calçadão da 13 de julho e fiquei impressionado, que a cada 100 metros tinham três policiais. Por que só hoje? Falaram que era porque estavam sendo recém-contratados e era uma espécie de vitrine para a população ver. Até às 18 horas quando eu me dirigia estavam três policiais na esquina do prédio que eu moro. Esse contingente tem que ser vem aumentado. Essa questão de segurança tem que ser vista como prioridade. Os índices que medem a qualidade da educação em Sergipe estão em nível de subsolo e nunca foi assim. Isso precisa melhorar. Nós somos um estado pequeno e necessariamente em alguns setores nós temos que ser o melhor. Eu fui colega de Delfin Neto na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal, e disse a ele que Sergipe é detentor de índice que mede qualidade de vida que supera, às vezes, estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná. Nós estamos caminhando para atender toda a população de Sergipe com água potável. Isso eu disse a Delfin há seis anos. Ele ficou encantado com isso e foi motivo até de um pequeno artigo que ele escrevia na Folha de S.Paulo. Os desafios do próximo governador são grandes, fundamentais. Ele tem que se preocupar com educação, saúde. A situação da saúde em Sergipe é gravíssima. O grande culpado por tudo isso é Rogério. Ele deve ter se espelhado num modelo que não deu certo aqui em Sergipe. Aliás, o modelo implantado aqui em Sergipe foi único. Sergipe foi o único estado que teve coragem de implantar esse modelo que está aí vigorando. Tem dados estarrecedores. Eu tomei conhecimento há pouco. Quando Rogério era secretário da saúde da Prefeitura de Aracaju (gestão Marcelo Déda), os recursos federais que vinham a Sergipe na área da saúde quase que 50% ficavam em Aracaju. Quando Rogério saiu da Secretaria de Saúde de Aracaju e foi para a Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe (gestão Marcelo Déda) esses recursos caíram para menos de 25%. Permanece assim até hoje. Eu converso com alguns que foram secretários de saúde do município que têm que rever tudo isso. É um sistema rico só em siglas. O Sistema Único de Saúde deve ter umas 400 siglas. Cada vez que me reúno e participo de reuniões com especialistas só ouço siglas. Essa repactuação de recursos tem que ser resolvida imediatamente. Aí me confessa alguém que já foi secretário de saúde dos outros governos: quando eu alertava para isso, diziam que era aliado, que deixasse como está. Aí os recursos começaram a vim para Prefeitura de Aracaju via Estado, só que o Estado segura os recursos e não repassa. Quando o secretário reclamava dizia que eram aliados e que na hora certa resolvia isso. Mas quem vem sofrendo é Aracaju . O problema não é só a falta de recursos. Está provado que a falta de recursos afeta profundamente. Quase que um caos. A prestação de serviço não é ideal na área de saúde para a população de Aracaju, mas não é só isso. Existe também a falta de empenho, de criatividade, a vocação. Uma coordenadora de um posto tem que ter vocação para aquilo. Se colocar um professor numa sala ele vai lidar com 40 crianças que pensam diferente. Se ele não tiver vocação para ouvir, nunca acerta. Eu lembro na minha época que Maria Branquinha, minha professora em Itabaiana, tinha 80 alunos, 20 de cada turma. Ela tomava conta de todos, ensinava bem e teve frutos. Vlademir de Souza Carvalho (juiz federal) foi aluno de Maria Branquinha, entre tantos outros. Aí você coloca oito professores à disposição de 30 alunos do ensino fundamental e, depois de quase sete anos, eles não sabem nada. Se ler, mas não se consegue interpretar. As coisas estão totalmente diferentes do que era no passado. Obras são outras coisas que preocupam e devem estar na mente do gestor. Ele consegue até o recurso, consegue contratar, dar a ordem de serviço, mas só não sabe quando termina. O governador, recentemente, anunciou as obras da continuação da orlinha no mercado. Passei lá um dia de sábado e tinha uma pessoa trabalhando. O ideal era que ele terminasse antes de dezembro. Não há data prevista para conclusão. Recentemente, entregamos um conjunto chamado Vitória da Resistência, com 405 casas, que levou quatro anos para construir. Eu era diretor técnico da antiga Cohab, e construímos o conjunto Augusto Franco com 4.510 unidades em 36 meses e ainda fizemos terraplanagem, 70 km de rua pavimentada, escola, delegacia, posto de saúde. A transposição do Rio São Francisco anunciada pelo Governo Federal (na época Lula) ninguém sabe quando será concluída. Começa, abandona, o que foi feito o tempo destrói. Em visita ao Hospital São José, os recursos que foram enviados para lá, desde o tempo de Marcelo Déda, para construção e ampliação de uma UTI, devolveram agora.
Mas questões como a previdência não pautaram os debates dos candidatos a governador…
Estão mais preocupados no que fulano possui, de quem fulano é parente. Isso eu vejo pouco nos programas eleitorais e os que eu vi eu não me agradei. Eu não vi ninguém falando em previdência. Eduardo Amorim tem dito algumas vezes que o Estado está quebrado, mas as discussões estão apenas no que um possui, onde mora, que se diz pobre e mora numa casa de rico, se diz rico e mora numa casa de pobre. Não é essa discussão que interessa. Temos problemas sérios e precisam ser resolvidos. Amorim defende muito bem, e no tempo que nós fomos colegas eu já percebia nele o esforço, a obtenção de recursos para construção do Hospital do Câncer. É diagnosticar e ter para onde encaminhar. E os recursos para manter o hospital em funcionamento de que forma nós vamos obter? Estamos em um Estado quebrado, é o Governo Federal que vai garantir? O paciente se submete ao tratamento de câncer que não é barato. Aquilo que é fundamental não estão discutindo. Estão discutindo o dia-a-dia de cada um dele que não interessa a ninguém. Eu quero saber a solução para resolver o déficit da presidência, porque a cada mês se integram 100 ou 200 aposentados e pensionistas do Ipes, e a tendência da previdência é crescer sempre. O orçamento é limitado, já compromete com educação, com a saúde, já tem esse déficit da previdência, o que sobra pra investir? Nada ou quase nada, o que obriga ao governador sair com o pires na mão atrás de recurso do Governo Federal. Se o Governo Federal é aliado, me recebe com boa vontade, mas se é meu adversário nem me recebe e eu fico vivendo nesse eterno conflito administrando dificuldades.
O próximo governador tem a obrigação moral de dar um tratamento decente ao servidor público?
Todo governador tem metas a cumprir, mas não consegue realizar essas metas se não contar com o servidor. Eu não consigo sozinho. Hoje para se governar se faz uma aliança. Aqueles partidos que compõem a aliança indicam pelo menos um secretário. É normal. O governador nomeia quem nem conhece. Num primeiro momento, ele está nomeando uma multidão e tem como principal desafio transformar essa multidão numa equipe. Se não conseguir isso a coisa não funciona. No governo e na prefeitura, o “eu” deveria ser proibido. Deveria se usar mais o “nós”. A união tem que ser permanente. Eu lembro que eu fui secretário de obras na primeira administração de João Alves e eu sabia de tudo que acontecia na educação porque sentávamos, conversávamos. Nós éramos verdadeiramente uma equipe. Quando João nomeou-me, muitos deles não me conhecia. Mas a função do gestor foi transformar aquela multidão numa equipe. As coisas mudaram muito para pior.
O que o senhor diria ao eleitor nesse momento quando ele vai à urna, no próximo domingo eleger seus representantes para os próximos quatro anos – oito no caso do senador?
Eu só me permito dar o conselho de pesquisar. Ao dar o voto procure saber em quem está votando porque o voto tem consequências. Senador são oito anos, governador são quatro anos, deputado são quatro anos e ninguém ganha sem voto. O que está na Assembleia é fruto da sociedade, o que está no Senado é fruto da sociedade. Quando se escolhe um governador é uma responsabilidade muito grande. Tem que olhar o passado, a vida. Talvez seja por isso que ao invés de falar dos grandes temas, eles prefiram se mostrar, como se isso fosse importante. O importante é o que tem na cabeça, o que pretende fazer em prol do mais pobre. Se governa para todos, mas os problemas dos ricos são bem menores. Os pobres são mais necessitados, enfrentam uma fila para marcar um exame e não tem, enfrentam uma fila para matricular um filho numa escola pública e não consegue. O que interessa é isso. Eu acho que não deve prevalecer paixão partidária. No Brasil ninguém sabe mais que partido e que ideologia você é. Eu participei de um seminário com um marqueteiro espanhol. Ele disse que na Europa tem esquerda, direita, centro-esquerda, centro-direita, mais uma ou duas. Temos 35 partidos no Brasil. Não existe no Brasil nem partido e nem político que se rotule de direita. Menos um. Sobram quatro ou cinco linhas ideológicas e 30 e poucos partidos. Eu costumo dizer que, no Brasil, a lei ideológica que prevalece e onde estão a maioria dos partidos é o centro-móvel. É aquela linha que cabe os partidos que estão sempre onde o governo está, e quem encabeça essa frente de partidos é o PMDB, que sempre está no governo. Se a conveniência for ir para esquerda, vai. Se for para direta vai, se for se manter no centro se mantém, mas sempre está no governo.
Por Joedson Telles
Às vésperas de o eleitor ir às urnas, o diretor da Empresa de Pesquisas Única, Alexandre Wendel, comente o processo eleitoral tendo como base as pesquisas. Segundo ele, é grande número de indecisos, sobretudo no tocante aos proposicionais, onde cerca de 40% ainda sabe em quem votar. Wendel comenta também as críticas que as pesquisas sempre recebem, principalmente por parte de quem não aparece bem. “Está uma verdadeira bagunça com jornalistas se comprometendo falando nome de candidatos, jornais tendo candidatos explicitamente, o horário eleitoral quem é bom e quem é ruim. Agora, culpar unicamente a pesquisa e dizer que ela induz o eleitor é uma covardia ao instituto de pesquisa porque os jornalistas fazem muito mais”, diz. O diretor da Empresa Única ainda faz um alerta ao eleitor. “Existe uma empresa de pesquisa que foi criada essa semana para poder publicar uma pesquisa mentirosa. Vamos ficar atentos sobre quem é esse instituto que apareceu só nessa eleição ou quem é aquele jornalista que faz coisas que são inverdades. Isso tudo tem que ser pesado. Eu acho que já dá para o eleitor ter uma consciência de qual é o instituto de pesquisa sério e o que não é, qual o jornalista sério e o que não é, qual o jornal do governo e qual o jornal da oposição”. A entrevista:
Já é possível fazer uma avaliação das eleições 2014 no tocante às pesquisas eleitorais?
O número de indecisos em todos os segmentos é alto. Ele começa com 40%, vai diminuindo, mas nessa eleição, por exemplo, até o presente momento nós temos mais de 40% indecisos para cargos proporcionais de federal e estadual. É um número alto que demonstra o desinteresse da população com relação aos cargos proporcionais e olhando só para os majoritários. Parece que só majoritário é importante, enquanto que o proporcional é o que vai andar direto com o povo na sua rua, no seu bairro, no seu município. Isso parece que não tem muito interesse para o eleitor. O governo, tanto no cenário estadual quanto federal, tem uma força muito grande com a própria máquina, com a exposição na mídia acaba sendo muito mais do que qualquer adversário. Você viu Dilma num avião, que com certeza estava num mandato presidencial, mas alguém vai perguntar se é mandato presidencial ou se é campanha, se usou a máquina ou não. O executivo no uso do poder tem muito mais visibilidade, é mais fácil. A não ser que o candidato tenha uma rejeição muito grande, tenha feito um mandato muito ruim e o índice de rejeição esteja muito alto, aí fica difícil. Mas se for favorável é muito difícil tirar a pessoa do trono.
O percentual é 40% de indecisos para os proporcionais. E os majoritários?
Diminui um pouco, porque quando se pensa no majoritário a população fica mais atenta. Parece que a eleição é só dos majoritários. Isso vai repetir na campanha municipal, que vai ficando mais próxima: o povo comentando quem é o candidato a prefeito, e o vereador acaba sendo um pouco mais desprezado. Muita gente acaba decidindo o voto na última semana, quando cai bastante esse número de indecisos, e muita gente decide na boca da urna mesmo. Na hora que chega lá vota porque não faz diferença nenhuma. Tem que mudar. Acho que o voto distrital pode ser um caminho. Existem diversas maneiras para que a população possa perceber quem é o seu vereador, quem é seu deputado estadual e o federal para cobrar suas responsabilidades. Isso ainda está um pouco confuso na cabeça do eleitor.
Fala-se que a pesquisa é o retrato do momento. Esta frase é 100% verdadeira?
Estou sentado com você agora. Você está de calça preta e camisa branca. Você pode ir para casa à tarde e ir à praia de sunga. À tarde você não está vestido da mesma maneira que estava de manhã. A pesquisa é a mesma coisa. Quando você vê a pesquisa na televisão ela já vem atrasada, representa quatro dias (de atraso), e às vezes uma semana, e já mudou muito. A gente escuta às vezes que a pesquisa não condiz com o que escutamos nas ruas, mas é porque uma realidade de cinco dias atrás. Há muita coisa que interfere. Uma certa vez eu fiz uma pesquisa no interior, na sexta-feira tinha um resultado que todo mundo conhecia, mas no sábado um carro do candidato foi metralhado e no domingo o resultado foi totalmente diferente. Um assassinato, uma condição climática diferente, tremor de terra, compra de voto, tudo acaba interferindo. Não se pode pegar uma pesquisa de agosto em setembro e falar que o instituto de pesquisa errou. Ele falou o resultado naquele período, naquela semana. Hoje você pode estar vestido de um jeito, amanhã de outro e depois de outro. Cada momento você estava de um jeito. O eleitorado vai perceber o político na mesma maneira.
O que os políticos fazem nessa época da campanha, às vésperas do pleito?
Os políticos precisam de alguma maneira, com esse número de indecisos, se fazer presente. Começa agora uma loucura na visita pelos bairros, pelos municípios para mostrar que ele está ali, o que para muita gente já ficou percebido, que político só aparece de quatro em quatro anos. Essa euforia de período eleitoral começa a ter conflito de candidatos na sua rua. Recebe quatro candidatos na mesma época e depois da eleição fica sem ter candidato nenhum. Agora também porque o povo não sabe cobrar e acompanhar, só sabe acompanhar quando está na rua, mas existem outros mecanismos como mandar um e-mail, acompanhar pela TV legislativa. O problema é que existe uma preguiça e uma falta cultura para acompanhar quem são os candidatos, o que estão fazendo ou quem não está, ou até quem está contra. Às vezes, o candidato está contra o seu bairro, na eleição passa lá e você pensa que o cara é bom.
O eleitor responde as pesquisas conscientemente ou parece ser desinformado?
O eleitor brasileiro não tem o discernimento de acompanhar a política diariamente. Eu já cheguei a fazer pesquisa em algumas cidades do interior bem pobre, que não tem água, não tem esgoto, calçamento e nada, e pergunto ao eleitor se ele vai votar no mesmo candidato e ele diz que vai porque não vota para ele calçar a rua, mas pra ele ir em sua casa e dar cigarro. A percepção do eleitor, do que o deputado e o prefeito devem fazer (papéis na vida pública), ainda é muito confusa, é tanto que você vê vereador dizendo que vai mudar o valor do salário mínimo e as pessoas acreditando, candidato a prefeito dizendo absurdo que não vai ser possível fazer, e por aí vai. Na cabeça do eleitor ainda não existe essa consciência, ainda tem muita coisa para aprender e é um percurso muito grande ainda.
Como avalia a ideia do deputado federal Mendonça Prado de apresentar um Projeto de Lei proibindo a divulgação de pesquisas?
É como você entrar num cabaré e dizer que existem regras e só pode entrar de gravata. Está uma verdadeira bagunça com jornalistas se comprometendo falando nome de candidatos, jornais tendo candidatos explicitamente, o horário eleitoral quem é bom e quem é ruim. Agora, culpar unicamente a pesquisa e dizer que ela induz o eleitor é uma covardia ao instituto de pesquisa porque os jornalistas fazem muito mais. Quando você pega um jornalista e ele fala que o candidato bom é fulano e o ruim é outro também existe um valor distorcido. Então, ele está trabalhando para alguém e esse alguém também é errado. Imagine o Cid Moreira falando que o candidato bom é o candidato tal. Ele vai ter uma influência muito grande, muito maior de que um instituto de pesquisa. O instituto de pesquisa é o mais fraco e não está dizendo quem vai ganhar. Já vem com um retrato do que ele viu há cinco dias enquanto uma Veja, um jornal, um site pode influenciar muito mais do que um instituto de pesquisa. Na verdade, o eleitor precisa ter informação. Precisa da pesquisa, de bons jornalistas, de bons veículos de comunicação que estejam dispostos a falar o que está acontecendo no momento e falar de propostas dos candidatos, e não dizer quem é o candidato que presta e o que não presta. Isso não cabe a um veículo de comunicação.
No Brasil uma faixa de um eleitorado vê a política como futebol. Quer votar em quem vai vencer. Neste terreno, a pesquisa não acaba prejudicando o pleito?
Mas ela vai retratar o que está acontecendo. Se um candidato está na frente o eleitor vai pensar que o candidato está na frente por alguma razão e vai votar. Como o jornalista também vai dizer. O que não pode é uma pesquisa falsa, um depoimento de um jornalista distorcido porque foi comprado, um veículo de comunicação comprado falando que um candidato é bom quando não é.
Tem como filtrar para se chegar à boa pesquisa?
Eu tenho empresa de pesquisa que já existe há 15 anos e não errou uma eleição. Existe uma empresa de pesquisa que foi criada essa semana para poder publicar uma pesquisa mentirosa. Vamos ficar atentos sobre quem é esse instituto que apareceu só nessa eleição ou quem é aquele jornalista que faz coisas que são inverdades. Isso tudo tem que ser pesado. Eu acho que já dá para o eleitor ter uma consciência de qual é o instituto de pesquisa sério e o que não é, qual o jornalista sério e o que não é, qual o jornal do governo e qual o jornal da oposição. Isso já dá pra perceber, assim como em instituto de pesquisa não pode ser diferente.
Suponhamos que alguém trabalha num instituto sério fundado há anos, mas deixa este instituto e cria o seu próprio. Tem como saber se a pesquisa deste novo instituto tem credibilidade ou não, já que vai aparecer pela primeira vez na eleição?
Acho que pode comprara as pesquisas. No momento, Sergipe está sendo muito agraciado porque tem aí dois institutos de renome nacional, Vox Populi e Ibope, dois institutos de credibilidade, e têm vários participando. Se tiver alguma coisa muito distorcida do que essa turma está mostrando é bom ficar de olho, dar uma olhada quem está no instituto, se aconteceu alguma coisa errada. Outra coisa que se pode fazer é comparar as pesquisas. Num período eleitoral, os institutos fazem umas quatro pesquisas. Aí chega a semana da eleição e tem distorção muito grande, algo aconteceu. Se não teve nenhuma anomalia, alguém foi sequestrado, nenhum roubo, nenhum escândalo, porque aquele candidato subiu ou caiu?
Pode-se levar a sério uma pesquisa feita em apenas 30 municípios de um estado que tem 75?
Na verdade, a pesquisa pode ser feita até em menos municípios. Na pesquisa de Dilma, Marina, Lula, eles fazem uma amostra de 1.200 questionários para o Brasil inteiro. Ele não passa em Sergipe, mas isso não quer dizer que eles estejam errados. Eles têm acertado. A amostra é como tirada de um sangue de um filho seu. Não precisa tirar o sangue todo para saber se seu filho está bom ou ruim. Só pega algumas gotinhas e mensura se o sangue dele está bom, se tem algum problema. A dona de casa está fazendo uma feijoada e para saber se está salgada ela não pega um feijão todo, pega só uma colher. Então, no cenário sergipano pode fazer com um número bem menor de municípios com uma amostra que pode ser de 800 eleitores. Não precisa estar em todos os municípios para saber quem vai ganhar.
Se pegarmos, por exemplo, Itabaiana e Aracaju, municípios que têm tendência em votar na oposição, isso não prejudica o candidato governista?
Claro. Mas temos 75 municípios e se fizessem apenas com esses dois estaríamos errados. Vai ter que pegar uma amostra do sul, sudeste, agreste. Tem que ver o número de homens e mulheres que o estado tem, tem que ser proporcional, se tem mais mulheres tem que entrevistar mais mulheres do que homens, vê a escolaridade. Tem uma série de coisas que vai seguir o IBGE e informações do TER para fazer uma amostra precisa. É como o sangue que tirou e a feijoada. Mesmo que tire num cantinho ou no outro da panela vai saber que a feijoada está salgada. Tem que ser uma coisa bem precisa e para isso tem o pessoal de estatística para saber quantos questionários tê que fazer por cidade para representar o todo.
Nas eleições passadas, o então candidato, hoje prefeito de Aracaju, João Alves, enfatizou a questão de dar mais credibilidade a pesquisa qualitativa. É por aí?
Os sergipanos ainda estão aprendendo o que é pesquisa qualitativa, que já é usada desde a década de 70 nos Estados Unidos, no Brasil afora. As grandes marcas já trabalham com pesquisa qualitativa que são os grupos que colocam numa sala e vê as tendências. Ali percebe cores, tendência de moda, se o pessoal que vai morar num condomínio quer varanda gourmet, garagem coberta ou não. A qualitativa é uma informação muito mais rica do que a quantitativa. A quantitativa a gente dá a quantidade de eleitores, mas a qualitativa a gente dá uma precisão maior de como o candidato é percebido, se ele é bem visto ou mal visto, se o que ele falou mostra segurança ou não demonstra. A qualitativa é muito mais rica. As duas trabalham em conjunto.
Em se tratando de pesquisa, qual o diferencial dessa eleição?
Essa eleição tem um fenômeno importante que eu percebo nas ruas que é pouco carro coma adesivos, pouco material, pouca gente comprometida com seus candidatos. Ou porque as pessoas estão com medo de se expor ou pelo que se viu no ano passado, com uma falta de credibilidade total no que se trata de eleição e de política. Muita gente desacreditada não querendo se comprometer. Antigamente, se chegava ao sinal e pedia para abaixar o vidro para entregar o folheto e a pessoa abaixava com paciência, deixava colocar o adesivo, e nessa eleição está agressivo. Não está abaixando o vidro, não quer receber o material, não quer deixar colocar adesivo no carro. Tem uma insatisfação muito grande com o político que está chegando às ruas. O político está tendo que arrumar outras maneiras de conquistar o eleitor.
Por Joedson Telles
O ex-vereador por Aracaju pelo Partido dos Trabalhadores e, de longe, o mais polêmico gestor que já passou pela SMTT da capital, isso na gestão do comunista Edvaldo Nogueira, o médico sanitarista Antonio Samarone, hoje, disputa uma vaga na Câmara Federal pelo PPS, na coligação que tem como candidato a governador o senador Eduardo Amorim (PSC). Do alto da experiência de quem viveu anos e anos no agrupamento do governador Jackson Barreto, Samarone diz nesta entrevista, entre outras coisas, que numa eventual reeleição, Jackson Barreto não teria como governar sem a forte influência do deputado federal Rogério Carvalho na saúde. Na sua ótica, Rogério Carvalho destruiu a saúde pública e, hoje, Jackson é refém do petista. Samarone diz ainda que o PT do saudoso Marcelo Déda acabou e que o PT de hoje é o das páginas policiais. Está na penitenciária. E enxerga em Marina Silva a bóia de salvação do brasileiro. “Passaram 12 anos governando o país. É hora de ter humildade e passar o bastão à frente. A democracia vive de alternância de poder”, diz. A entrevista:
O que o levou a pleitear uma vaga na Câmara Federal em 2014?
Há 40 anos estou na vida pública em Sergipe, desde o movimento estudantil. Ninguém nunca ouviu falar de eu ter me envolvido em nenhuma malandragem. Tenho uma ficha 100% limpa. Amadureci, adquiri experiência ao longo desse tempo. Eu me perguntei: por que eu vou me negar a oferecer meu nome como opção? Mesmo sabendo que eu concorro numa faixa desigual. A eleição é uma faixa muito influenciável pelo poder econômico. Todos nós sabemos disso. Eu pelo menos tenho a tranquilidade de que as pessoas depois não vão poder dizer que não votou em alguém decente porque não tinha. Tem, e não é sou eu, não. Tem mais gente decente. Essa história que em política todo mundo é malandro é bom para quem é malandro, mas eu confesso que qualquer pessoa minimamente isenta sabe que tem gente decente em todos os partidos e em todas as posições.
O fato de estar, hoje, no grupo do candidato Eduardo Amorim, sendo oriundo até pouco tempo atrás do agrupamento do candidato Jackson Barreto dificulta ou ajuda na sua missão nestas eleições?
Na verdade, o grupo e a linha política que eu defendo são os mesmos. Quem mudou foi o PT. O PT que eu pertenci, que é o de Marcelo Déda, acabou. O PT hoje está nas páginas policiais. O PT claro que fez algo de bom, mas fez muita porcaria. A minha geração é a mesma de Marina, de Erondina, de várias pessoas de bem que não se conformam com os caminhos que o PT assumiu. Acho que Jackson Barreto carrega um caixão de chumbo. Você pode observar isso no Brasil inteiro. Essa subida de Marina não se dá ao acaso. É uma reação da sociedade ao que está posto. O PT diz hoje que eleger Marina faz medo. Acho que Jackson quando misturou a história dele com essa história saiu perdendo. No caso de PT de Sergipe ainda é mais grave que o nacional, porque a direção do PT em Sergipe é fruto de punhalada que foi dada em Marcelo Déda. Ninguém é criança. Eliane Aquino tentou ser senadora e foi esmagada. Foi com Marcelo Déda ainda vivo, não foi depois de morto. Os herdeiros desse projeto do PT não me representam. Jackson Barreto assumiu a continuidade desse projeto, esquecendo rapidamente que, quando o governador Marcelo Déda adoeceu, o natural era que Jackson assumisse, mas ele não assumiu. Foi nomeado um triunvirato e Jackson Barreto, mesmo constitucionalmente sendo o sucessor, não assumiu. Mesma coisa que aconteceu quando Costa e Silva adoeceu e o vice era Pedro Aleixo. Para Pedro Aleixo não assumir convocou um triunvirato de generais. Como dizia o velho Marx, a história se repete, a primeira como tragédia e a segunda como farsa. Eu não me sinto com nenhuma incoerência. Estou no meu caminho, fazendo o que sempre acreditei, lutando por Marina por acreditar que ela é uma volta ao PT que eu ajudei a criar, e não ao PT que está na penitenciária, que está envolvido com a Petrobras. Esse eu não reconheço e acho que, para o bem do Brasil, nesse momento é fundamental essa mudança. O PT não tem condições políticas de continuar governando o país. Se por acaso Dilma se eleger, para Dilma continuar fazendo uma política de distribuição sem crescimento econômico, ela vai marchar para a dicotomia, para transformar a sociedade de um lado e do outro. Ela vai dividir o Brasil. Ela vai ter as pessoas que são beneficiadas por distribuição e os outros que serão taxados de inimigos. É a lógica do Chavismo. Só se mantêm no poder com o crescimento do jeito que está se for por vias ou da manifestação populista ou do autoritarismo. Como eu não quero isso para o país e nem quero uma política recessiva e que tire o pobre que está na universidade estudando, eu acho que Marina não trará o retrocesso e fará uma faxina, uma limpeza no poder. Acho até que nós deveríamos fazer como a China, onde ninguém passa mais que oito anos no poder para não viciar. O poder apresenta privilégios, vantagens, mimos, e que leva as pessoas com tendências a personalidades fracas a serem arrogantes, se acharem donos. Eu acho que Marina acertou quando disse que não que o segundo mandato, que história de reeleição é um absurdo para o país, e acho que deputado e vereador não deveria ter mais de dois mandatos porque se não a gente não controla, fica a sociedade pagando imposto para uma casta viver como hoje vive. Por isso que eu me sinto bem participando da política e não vejo nenhuma contradição em participar. Eu não mudei. Quem mudou foi o PT.
As críticas as quais assistimos na campanha de Jackson Barreto contra a oposição têm legitimidade, já que ele, Jackson, é o governo?
Fica parecendo que a oposição é Jackson e o governo é Eduardo Amorim. O programa está sendo feito dessa maneira. Na última pesquisa Jackson está na frente. O que eu avalio é que no Brasil inteiro quem se aliou ao PT está perdendo. O publicitário de Dilma está partindo com uma agressividade para cima de Marina que se fosse em outro momento o PT ia virar. Não vai virar porque a sociedade não quer. O candidato do PT tem 5% em São Paulo, 9% no Rio de Janeiro, 12% na Bahia. Em Pernambuco ele apóia o Armando Monteiro e já reverteu. Se você observar, o candidato ao Senado do PT em Sergipe, (ele não fala o nome Rogério Carvalho) não tem um cabo eleitoral, um vereador, um suplente de vereador em Sergipe inteiro que não foi “convencido” em apoiar o candidato a senador e ele não sobe porque há uma resistência, a tensão ao pessoal do PT. Acabou a farra. Passaram 12 anos governando o país. É hora de ter humildade e passar o bastão à frente. A democracia vive de alternância de poder. Eu que vou votar em Marina faço uma seguinte alerta: nós temos que reagir a essa campanha sórdida de satanizar Marina. Até ontem ela era a menina dos olhos de Lula e hoje é o demônio? Já compararam até a Jânio Quadros. Vamos procurar deputados que apóiam as políticas de mudanças de Marina se não ela vai ficar refém do Congresso. Observem em Sergipe que têm partidos com duas cabeças. Que Pelo dia finge que apóia Marina e pela noite está no palanque de Dilma. Sergipe é pequeno. Não dá para fazer esse jogo. Tenha paciência. Até contradição tem limite. No segundo turno, que vai apoiar Marina e quem vai apoiar Dilma? Com certeza quem vai apoiar Marina é Eduardo Amorim. Nós que votamos em Marina politicamente temos que reforçar a campanha de Eduardo Amorim porque o outro palanque vai estar com Dilma. O papel que o PSB vem desempenhando aqui em Sergipe é ruim para Marina porque confunde o eleitor. Está de dia nas ruas defendo Marina e de noite está no palanque defendendo Dilma. Não muda nem de camisa entre uma atitude em outra. Não dá para apoiar Marina só porque ela tem simpatia. É bom para eu eleger e ter voto meu deputado eu colar a candidatura. Pensar que as pessoas não entendem isso é brincadeira. Até ontem odiava Eduardo Campos. Hoje Marina virou, para fazer propaganda na televisão e para colar com as candidaturas que interessam na proporcional. De noite está no palanque defendendo um senador do PT? Eu queria explicação. Como eu defendo um senador do PT que vai ser contra Marina e defendo Marina? Aí é uma contradição insolúvel. As pessoas se sentem no direito de fazer isso porque acham que a população é despolitizada e acham que não vão chamar atenção. Marina dará outro rumo ao país. O PT fez uma inclusão social pelo consumo, que não é sustentável. Inclusão social pelo consumo só foi possível porque estava um período de vaca gorda onde o país exportou nos últimos 10 anos US$ 1 trilhão somente a China comprando em commodities agrícolas ou em minérios, quando o mundo parou de comprar na velocidade que o Brasil vendia começou a ver que nossa economia era um gigante de pés de barro. Nós só perdemos em crescimento para El Salvador. Todos os países da América Latina crescem mais que o Brasil. O PT falhou nisso. Ficou no poder pelo poder. Neste PT eu não tenho o menor remorso de dizer chega, acabou.
Mas Jackson no governo tem ou não legitimidade para atacar o seu grupo?
A história de Jackson é de altos e baixos. Quando ele foi prefeito de Aracaju pela primeira vez inverteu as prioridades e governou com a periferia. É o mesmo Jackson que poucos anos depois se aliou com Albano do Prado Franco. É o mesmo Jackson que como parlamentar resistiu à ditadura, e o mesmo Jackson que pediu o terceiro mandato para Lula, que o próprio Lula e o PT ficaram envergonhados. Se dependesse da vontade de Jackson como parlamentar o Brasil tinha entrado no Chavismo há oito. Ele apresentou um Projeto de Lei pedindo. Eu tenho respeito por Jackson Barreto, é uma figura pública que prestou serviço a Sergipe, mas é uma figura cheia de contradições, e no momento a aliança dele com o PT impede que ele seja independente. Ele não tem grupo para governar. Jackson governador tem condições de tirar a saúde do comando de Rogério Carvalho? Ele assumiu a saúde em 2000 com Marcelo Déda e manda e desmanda há 14 anos. Ele montou uma estrutura que pode até mudar o nome, mas a rédea está no comando dele. Para o bem ou para o mal, ele transformou a saúde no que está aí. Ele não pode negar a paternidade. Isso é um projeto dele, da safra dele, pensado e executado por ele e por pessoas que ele colocou. Jackson Barreto terá força para enfrentar a questão das Fundações da Saúde, uma questão complexa? Como resolver 90 clínicas da saúde da família com 10% ocupada e as prefeituras sem saber o que fazer com as clínicas, porque se desmanchou a rede básica e se fez cínica em beira de estrada. São grandes, enormes, dá até pena de entrar porque é uma cadeira aqui e outra daqui a 10 metros. São salas enormes vazias. Como botar a rede básica para funcionar? O município tinha cinco povoados com unidade de saúde no programa de saúde da família. Ele pega as cinco e concentra em beira de estrada. Aí se alguém tiver algum problema tem que se dirigir até lá quando antes tinha a unidade no povoado dele. Na hora que montou vários hospitais em Sergipe estava resolvido o funcionamento. Não funcionava bem e nem mal. O Amparo de Maria em Estância funciona razoavelmente há 120 anos. É um hospital de 170 leitos, um dos melhores do estado. Construíram um hospital a 100 metros de distância. Estância passou a ter dois hospitais de grande porte para o interior, quando era razoável que se colocasse o Amparo de Maria para funcionar. Socorro tinha um hospital que era uma PPP. Fez um hospital público. Tem funcionando 38 leitos dos quais 18 são para maternidade. Só tem 20 leitos para uma cidade com 200 mil habitantes. São Cristóvão tinha um hospital e hoje se transformou numa UPA. Rogério é o nosso Osvaldo Cruz. É um absurdo ele renegar a paternidade disso. O projeto dele. Ele foi quem contratou os assessores do PT que vieram de fora e vieram para cá e colocaram esse modelo. É um modelo esquizofrênico, louco, é um modelo que não tem nada a ver com o SUS nacional. A pretensão de inventar um contrato de gestão, 3 fundações, levou a insolvência. Ninguém administra o que está aí. Na prefeitura (de Aracaju), a demora dos secretários (nos cargos) é de três e quatro meses. Botaram agora um economista que não sabe do que se trata e ele vai ficar rodando em torno dele mesmo porque não sabe o buraco que está pisando. Isso é o modelo que está errado. Se gasta em Sergipe 70% dos recursos comprando serviço ao setor privado, ou através da filantropia disfarçada, que é o Hospital de Cirurgia, ou comprando direto. Se abandonou a rede básica. Os agentes comunitários de saúde foram abandonados enquanto projeto. Ninguém resolveu isso pelo caminho que Sergipe foi. Ele sabia disso. Ele é sanitarista. Até dois anos atrás, o discurso era para ter calma que o Governo de Sergipe investiu R$300 milhões em reforma, construção e vai dar certo. Não dá certo e aí fala que não é dele. Pertence a um projeto que tem a assinatura, a execução, a elaboração exclusiva, porque a equipe dele era de balançar a cabeça, ninguém enfrentava, não ouve debate, mas se desse certo ele seria um gênio da humanidade, o nosso Carlos Chagas. Mas deu errado, e muito errado, e nisso o povo se ferrou. Hoje, o indivíduo fratura um braço e passa dois meses com o braço quebrado em casa esperando uma cirurgia. É perverso o sistema. Quem precisa não tem o serviço. Acho até muito mais digno que ele interferisse.
Então, Jackson é refém de Rogério Carvalho? E isso que o senhor quer dizer?
Eu acho que do PT. Na hora que Jackson casou o projeto dele como um apêndice do projeto do PT. Em 2006, o número de homicídios em Sergipe era 420. Em 2012, que é o último dado que tem, foi para 870. Eu ouvir dizer que no IML tem uma quantidade enorme. No IDEB Sergipe é o 22º estado do país. Nós retroagimos a nossa nota. Na saúde é esse desastre que estamos apontando objetivamente. Segurança Pública pode pegar qualquer indicador. Qual foi o grande feito desse governo na área de Segurança Pública? Foi dispensar o ICMS e taxa de habilitação das motos até 150 cilindradas. O nome disso é estimular a mortalidade. Na hora que eu tenho uma Shineray sem nenhuma notificação e que eu libero a 125 e a 150 para fazer média com as pessoas, que média? Não tem uma linha de ônibus licitada no estado de Sergipe. São 75 municípios com linhas sem licitação. Chegamos ao fundo do poço. Na hora que eu sou candidato e falo que estou dando continuidade a esse projeto, tenha paciência. Está errado.
Mas, segundo as pesquisas, o eleitor não enxerga como o senhor. Ou podemos colocar essas pesquisas em xeque?
Jackson Barreto é o político mais presente em Sergipe. Nos últimos 50 anos, ele foi para tudo que é procissão, festa. Talvez ele seja conhecido por todos os sergipanos. Ele tem ação de presença. Essa ação de presença dele e o nome dele, que é forte, dão essa força a ele – mesmo ele carregando essa herança horrorosa. Mesmo ele sendo ladeado por um partido que perdeu o rumo da história. Com certeza, Eduardo Amorim não conseguiu passar este fundo do poço à sociedade com clareza. Acho que os programas são meio água com açúcar, educados demais no mal sentido, que não vai para o embate. O que eu estou me posicionando é politicamente. Politicamente, o lado que aponta a mudança é o lado de Marina Silva, de derrotar o PT, de avançar preservando coisas boas que foram feitas no governo do PT, mas, principalmente, passando um rodo no lamaçal que estamos vendo. Antes era invenção, a imprensa. A lama chegou até o pescoço. Se é Veja (revista) porque não processa a Veja? Politicamente, a minha posição eu tenho a maior tranquilidade. A minha biografia e a minha história está preservada. Eu estou sendo coerente com minha consciência. Como graças a Deus posso viver sem precisar ficar pendurado em cargo público, sou aposentado pelo Ministério do Trabalho em concurso público, tenho minha vida resolvida, não dependo de penduricalho de emprego público e tenho liberdade de dizer e fazer o que eu penso. Isso em Sergipe tem me causado muito prejuízo. As pessoas falam da conveniência, para eu ter calma. Eu estou completando 60 anos. Não tenho mais idade para conveniência nem para meio termo. Estou na idade para defender o que eu penso, o que eu acredito.
Aliados pediram mais dureza nos programas do candidato Eduardo Amorim, mas há uma faixa do eleitorado que não gosta desse tipo de campanha…
Na verdade, o que está precisando não é grito. Na reunião, as pessoas gritaram muito. Não se ganha no grito. O que precisa é de alguém que pense política. É sentar e definir rumos. Dificilmente se definem rumos em assembleia geral. Assembleia geral é como se fosse uma emulação. Falta uma reflexão, falta modéstia das pessoas acharem que sabem de tudo. É preciso ouvir mais. Não é ouvir Samarone, não: é ouvir várias pessoas. Muita gente pensa política em Sergipe. Não precisa gritar, precisa conversar, discutir… Eu fico de fora observando. Nunca fui chamado para dar opinião. A primeira vez que estou falando com um órgão da imprensa é com o Universo Político. Também não significa dizer que o que eu estou pensando está certo. Nem todo mundo tem oportunidade de falar.
O trivial passou a ser importar marqueteiros a peso de ouro sem nem conhecer a realidade de Sergipe…
É. Com um pacote geral. É como se fosse vender sabão, ou detergente ou qualquer produto. A lógica é a mesma. Essa eleição está mostrando que isso não é verdade. Marina usa na televisão de uma lógica totalmente diferente a que o marqueteiro manda. Não tem filme, não tem riso, não tem gracinha, ela está falando. A população é como se tivesse descoberto que está sendo iludida com criança no braço ou jovem rindo na televisão, fazendo como se fosse um musical. A mesma coisa em Sergipe. Em Sergipe, em 150 anos de eleição o governo só perdeu duas. Historicamente, Sergipe vota no governo seja qual for o governo. Só deu oposição em Sergipe quando Seixas Dórea se candidatou, em 1962, e com Marcelo Déda. Fora disso, a situação sempre ganhou. Várias eleições de Sergipe havia acordões onde toda a elite disputava numa chapa só. Não havia nem eleição. Era só homologação, era eleição de chapa única. Ninguém se surpreenda com o governo. O governo em Sergipe e no Brasil é forte. Enquanto tiver com a caneta cheia e com o diário oficial saindo toda segunda-feira o governo é forte.
Voltando à saúde, falam que Rogério Carvalho tem influência até na Prefeitura de Aracaju, mesmo tendo como prefeito o desafeto João Alves. O senhor acredita?
Aí é que tem. Quanto tempo tem que o governo João Alves está na prefeitura? Eles não entenderam absolutamente nada de como funciona a saúde. Estão perdidos. Não é à toa que já são quatro secretários. Aí aponta que a saída é terceirizar, contratar OS, é dar uma solução que (Paulo) Maluf deu na década de 80 (São Paulo) e não deu certo. O remédio é outro. Eu não sei qual a proposta de saúde do governo João Alves. Parece-me não ter. A educação tinha proposta, está andando. Se perguntar se está bem ou mal, eu não posso avaliar. Mas na saúde, qual a proposta? Ligue para o atual secretário de saúde e pergunte a ele qual o projeto para tirar a saúde do buraco. Não tem, ele não é mágico. Ele, na verdade, ouviu falar em saúde uma ou duas vezes quando foi ao médico. Ele pode ser um cara preparado, o melhor gestor, mas o diagnóstico da saúde ele não tem. Não é culpa dele. Não tem porque não tem mesmo. Alvimar (o ex-secretário Alvimar Rodrigues de Moura) é uma pessoa preparada, foi gestor do Hospital Primavera, da Unimed, conhece , administrou o setor privado, em quatro meses pediu para sair. Doutor Lúcio entrou com Leane, que é antiga na saúde, capacitada. Goretti Reis entende, o vice dela era Petrônio. O SUS não tem na prefeitura. O Estado de Sergipe teve um orçamento em 2014 de R$ 1,1 bilhão para a saúde. Quanto desse dinheiro é destinado à rede básica, ao atendimento primário, a medicina preventiva? Zero. Esse dinheiro é torrado na rede hospitalar, basicamente nas fundações. Uma pessoa para ser diretor de um almoxarifado de um hospital tipo o HUSE tem que ser alguém muito experiente. Para comprar um produto hospitalar ou conhece todas as especificações ou compra errado, é enrolado na licitação. Só faz isso um gestor profissionalizado, competente, com anos de formação. Quando você bota um cabo eleitoral nisso quebra a cara. Têm funções públicas que não presta botar cabo eleitoral. Se vota entra, se não vota não entra. Isso é um absurdo. A pessoa que está lá não sabe nem para onde vai, não sabe separar as coisas. Foi feita uma reforma no Hospital João Alves Filho e foram gastos R$ 39 milhões. Depois da reforma, o hospital melhorou? Não porque o modelo está errado. Aí você pode me perguntar: porque eu não mudei quando fui secretário? Primeiro, porque não tinha força nenhuma. Eu fui secretário numa época que a prefeitura tinha uma dependência do governo do PT e não podíamos falar nada contra o PT. João tem força, mas força para quê? Tem o Ministério da Saúde que é quem manda. Tem o Estado também. O SAMU deveria ser financiado em Estado, município e União. O Estado nunca botou um centavo quando o SAMU era municipal. Agora passou tudo para o Estado. Não é fácil administrar. Talvez o prefeito João Alves vá pagar um preço muito alto porque na campanha ele garantiu que a saúde com ele ia melhorar. Ele pode fazer como Déda fez, que viu que não tinha jeito, e dizer que agora é ele o secretário. Quando botou a pasta no colo que foi olhar já desistiu de ser o secretário. Nesse sentido, uma mudança na saúde tem que ter humildade, e não é chegar desmanchando porque pode ser pior. Eu não vou chegar, agora, e desmanchar as fundações, como alguém fala demagogicamente. Têm 15 mil funcionários. Vai fazer o que com essas pessoas, colocar na rua? A Fundação Hospitalar de Sergipe tem o corpo burocrático que ocupa sete andares do edifício Maria Feliciana. Esse mesmo corpo já existe na secretaria. O hospital de Lagarto tem 160 leitos, funcionam 40. O hospital de Itabaiana tem 170, funcionam 50. Tudo funcionando meia boca porque não tem dinheiro para custeio. O hospital de Lagarto custou para equipar e construir R$ 27 milhões e gasta por mês R$ 2,9 milhões. Eu estou dando um dado que pode estar atualizado. A cada 10 meses se gasta para manter o hospital o equivalente a sua construção. Percebeu que não adianta construir sem ter como pagar? Vai construir o Hospital do Câncer com 170 leitos. Um paciente custa por dia em média R$ 1.900. Eu sou a favor do Hospital do Câncer desde que entregue ao INCA. Construir para entregar ao SUS de Sergipe ou as Fundações? O que o Governo Federal passa para a oncologia já passa hoje para manter o serviço de oncologia do Hospital João Alves e o Hospital de Cirurgia e para manter as várias casas que atendem paciente com câncer.
O candidato Jackson Barreto tem colocado que a saúde em Sergipe foi destruída quando Eduardo Amorim foi secretário no governo João Alves. É por aí?
A saúde em Sergipe começou a derrocada em janeiro de 2000, quando Marcelo Déda colocou o pé na prefeitura e nomeou Rogério Carvalho secretário. Neste dia, ele municipalizou. O governador era Albano que passou tudo para ele. Quando o PT entrou na prefeitura existiam 12 equipes de PSF. A prefeitura tinha um orçamento anual insignificante. Subiu como um foguete. Fez rede, SAMU, foi um sucesso. Só que o gerente percebeu que era lento porque estava perto da eleição acontecer. Aí inventou de fazer dois hospitais. Inventou de fazer um concurso que contratou uma quantidade enorme de gente. Foi um negócio gigantesco sem pensar como ia pagar a conta porque tinha pressa que a eleição ia acontecer. Quando chegou ao Estado, o mesmo gestor que tinha deixado o monstro na prefeitura, aí que foi loucura. Ele planejou 120 clínicas de saúde da família, fez 96, assumiu 17 hospitais, inclusive como o de São Cristóvão que era de uma fundação e depois não souberam o que fazer, o de Socorro. Ele não reabriu os hospitais, ele investiu em obras. Passaram a funcionar precariamente, tanto que o número de leito em Sergipe por habitante é um dos menores do país. O hospital de Socorro tem espaço físico para 150 leitos com tranquilidade e tem 38 funcionando. Investiu em monumentos físicos. Se faz sem planejamento e sem custeio está prestando um desserviço à população. Fez as fundações que é uma loucura, depois inventou de fazer bases do SAMU em 75 municípios. Só o delírio eleitoral leva a fazer isso. Recuou, só que o mal feito já estava feito. Seja Jackson Barreto ou Eduardo Amorim não governarão com esse modelo. A minha pergunta é: se for Jackson terá força para peitar isso? Se ele ganhar, eu espero que ele tenha porque eu não quero que as pessoas continuem sendo maltratadas. Não há saída nisso, eu acho que doutor Rogério Carvalho é um técnico preparado, o que é mais grave, porque ele sabe o que está fazendo. Quando Cristo morrendo pediu ao pai que perdoasse porque eles não sabiam o que estavam fazendo, Rogério não está nesse grupo. Vai ser perdoado pela misericórdia de Deus, mas ele sabe o que esta fazendo.
Mesmo que o deputado Rogério Carvalho perca a eleição, num eventual governo Jackson Barreto, ele seria um nome forte, continuaria tendo influência?
Fortíssimo. Ele é presidente do PT. Numa suposta eleição de Dilma, Jackson é refém. É a política que anda assim. Hoje 80% dos quadros da saúde têm orientação dele, em termos de Estado e município. Doutor João Alves não conseguiu nomear sem o NUCAR. O NUCAR é o núcleo mais importante da secretaria que compra serviços terceirizados. São 14 anos de um grupo só mandando. O pessoal antigo já está se aposentando, dos novos, ninguém que não rezava na cartilha teve espaço e mesmo assim ele teve que trazer muita gente de fora. A gente esquece que até um dia desse o secretário de Saúde do Estado era importado, doutor Antônio Carlos. É porque a memória das pessoas não acompanha isso tudo, e depois o debate vira um bate boca. As pessoas não trazem dados para o debate. Uma análise que objetivamente doutor Rogério Carvalho como sanitarista fará. Eu acho que está na hora ele pedi perdão à sociedade. Ele é uma pessoa que ainda pode ser útil a vida pública de Sergipe. Pedir perdão, dizer que errou e consertar o que está errado. Não tem problema nenhum nisso. Tenho certeza que grande parte da sociedade ia aplaudir. Quando ele criou a Fundação Hospitalar criou um monstro que o Estado não sabe o que fazer. Os médicos ainda têm um agravante porque o governo Dilma em um determinado momento quis responsabilizar os médicos pelo desastre que eles estavam seguindo nacionalmente. Na hora que no ano passado com as pessoas ela trouxe os médicos de Cuba, a população que estava no interior sem médico e ela esqueceu toda crise da saúde. A proposta do Mais Médicos, dentro da programa do PSF, é um caminho interessante, mas não como exceção. Colocou um médico para atender uma unha encravada, uma dor de barriga, mais se a pessoa tiver derrame, um infarto, um câncer, os médicos de Cuba vão resolver? A tecnologia hoje dispõe de muito mais recurso, ou isso só era para a classe média e para os ricos? Eu sou a favor que faça a medicina preventiva lá de baixo, mas como uma etapa da prevenção. Mas se mesmo prevenindo teve um derrame, tem que ter acesso ao atendimento que o rico vai ter, igual a quem pode pagar um plano de saúde. Hoje para câncer tem remédio que não dá efeito colateral nenhum. Aí vai continuar dando ao povo aquele remédio que cai a orelha, caem os cabelos, os dentes, que o cara sofre porque o outro é mais caro?
Um dos poucos petistas que, a exemplo de Silvio Santos, Conceição Vieira e Eduardo Dutra, nunca deixou de ser fiel ao legado do saudoso Marcelo Déda, inclusive demonstrando isso no último PED do PT, o deputado federal Márcio Macedo, afirma nesta entrevista que o político Déda deixou uma lacuna aberta que ainda não foi preenchida. “Déda provoca uma falta insubstituível no PT. Um vazio enorme porque é a primeira eleição que o PT disputa em Sergipe sem a presença de Déda”, diz. O deputado toca em outros pontos das eleições e sentencia: “A campanha tem saído das ruas e tem ido para os gabinetes. Eu espero que os órgãos de controle estejam atentos a isso”.
Como avalia a aceitação das pessoas ao grupo que o senhor pertence?
A campanha é a mais diferente que eu vi na minha vida desde que acompanho eleições. Esse modelo se esgotou. Tem uma influência muito forte do poder econômico para colocar as campanhas nas ruas, efetivamente a ausência dessa circulação demonstra que as campanhas não estão nas ruas, a não ser os militantes que têm tradição de fazer campanha na rua como é meu caso. Isso demonstra a urgência da reforma política. Se o povo de Sergipe me reconduzir à Câmara Federal isso vai continuar sendo uma das bandeiras do mandato e um dos pilares da minha ação parlamentar, porque é necessário que haja um grande entendimento nacional para a mudança desse modelo. Acho que o país não suportará eleições sucessivas nesse diapasão. Acho que essa campanha vai apressar essa reforma política na minha modesta opinião. Eu acho que a população deve estar mobilizada o suficiente para que, já no próximo ano, a reforma possa acontecer no Congresso Nacional. Em relação à aceitação, eu tenho participado tanto das minhas ações da minha campanha quanto da presidenta Dilma, do governador Jackson, de Rogério, e estou vendo uma aceitação muito boa. Ainda não está com a movimentação que deveria pelas razões que eu coloquei. Ainda há uma timidez geral como se a população tivesse despertando agora para a campanha, e nesse universo eu tenho percebido uma aceitação muito positiva da presidente Dilma, Jackson, Rogério e da minha candidatura.
O dinheiro não está tendo a força que teve em outras eleições ou é justamente o contrário?
Eu acho que a ausência de campanha na rua é uma demonstração da ausência de circulação de recursos em torno da campanha. Isso não quer dizer que não esteja circulando recursos. A campanha tem saído das ruas e tem ido para os gabinetes. Eu espero que os órgãos de controle estejam atentos a isso.
Os deputados João Daniel e Rogério Carvalho denunciam compra de votos…
Pode estar acontecendo o que eu estou te dizendo. A Campanha saindo das ruas, porque essa circulação não está acontecendo e esse modelo é movido pelo poder econômico e por isso uma necessidade de uma reforma desse modelo para que todos os direitos sejam iguais, para que a livre vontade do povo possa ser respeitada. Espero que os órgãos de controlo estejam atentos.
Cabe ao político fazer denúncias vazias (sem nomes)?
Os órgãos estão atentos. As campanhas estão sendo fotografadas. Todo mundo sabe o que está acontecendo. Precisava uma ação dos órgãos públicos de controle. Eu estou preocupado em fazer campanha. Vou lutar para que meu mandato possa ser renovado porque tenho tranquilidade que tenho cumprido meu papel com ética, amor a Sergipe e com muito trabalho.
Sente mais facilidade nessa campanha ou na anterior, em 2010?
Em tese essa campanha tem sido mais fácil para mim porque eu estou no exercício do mandato, mas as características dessa campanha têm dificultado a ação política de todo mundo, especial de perfis como o meu de campanha de rua, de buscar o voto consciente do eleitor. É um luta cotidiana e é o que eu estou fazendo. Do raiar do sol a noite tenho me dedicado exaustivamente a expor para população sergipana o que eu fiz em Brasília, o que eu penso, minhas propostas, a necessidade da renovação do nosso mandato para continuar seguindo Sergipe e o Brasil.
Além do seu trabalho, o senhor passa a mensagem do legado de Déda. Por que pegou essa bandeira?
Porque eu sou filho desse legado. Foi Déda que me colocou na política e eu milito na política com ele em Sergipe desde que eu comecei no movimento estudantil. Participei de cada tijolo, cada cimento, cada bloco colocado nesse alicerce do projeto que transformou Sergipe num estado melhor. Eu acho que é importante que se feche esse círculo da história de Sergipe. Por isso a importância para Sergipe da reeleição de Jackson Barreto para o Governo do Estado, para que possa concluir a obra que Déda começou, que foram concluídas várias etapas, e que precisam ser consolidadas as política de Governo e de Estado. Além disso, eu tenho total sintonia com o legado ético e de honestidade que Déda deixou na política sergipana e no Brasil. Eu procuro seguir essa linha, respeito o cidadão, o erário, e de poder traçar uma trajetória política em cima do amor, do trabalho e da ética.
Olhando de fora do partido, a impressão é que o PT está órfão sem Déda. Qual o tamanho dessa ausência?
Déda provoca uma falta insubstituível no PT. Um vazio enorme porque é a primeira eleição que o PT disputa em Sergipe sem a presença de Déda. Déda é uma liderança que foi forjada pela luta do povo sergipano e se confunde com a história da luta do PT em Sergipe, e se consolidou como uma liderança de massas que dialogava diretamente com os corações do povo sergipano e transformou isso em ação política e em trabalho de gestão em prol do conjunto da população e em especial dos mais favorecidos que precisam da mão amiga do Estado para sobreviver e para desenvolver o Estado como um todo. Isso é um patrimônio político extraordinário que não se preenche de uma hora pra outra. É um processo que o PT vai ter que aprender na prática a lidar com essa ausência. O que preenche isso é o seu legado, o seu exemplo de parlamentar competente, de um prefeito criativo e eficiente, de um governador eficaz, de um homem sério e honesto e é isso que me move na política. É essa estrada que vou continuar fazendo.
É impressão que Márcio Macedo, Sílvio Santos, Conceição Vieira são exceções dentro do PT? Outros tentam dar outro rumo à carreira política?
Eu acho que é impressão. Não só o PT como toda sociedade sergipana percebe a importância do legado de Déda não só para o PT, mas para Sergipe.
O PT estaria preparado para sair dessa eleição sem um mandato majoritário?
Eu tenho convicção que é possível virar essa eleição de senador. Eu acho que se comparar as ações do deputado Rogério no Congresso Nacional e da senadora Maria, você tem uma comparação positiva para Rogério. Eu e Rogério estamos há três anos e meio como deputado federal e já figuramos pelo terceiro ano consecutivo entre os 150 parlamentares mais influentes do Congresso Nacional. Isso feito pelo DIAPE, um instituto sério, digamos que uma voz oficial quando se trata de atuação parlamentar. A adversária do PT nessa eleição, senadora Maria, está há 16 anos lá e sequer figurou em um dos anos. Acho que são comparações que o povo precisa fazer. Rogério tem uma capacidade grande de fazer campanhas e tem condições efetivas de virar essa eleição. Vamos trabalhar para que isso aconteça. O desafio do PT de Sergipe é fazer com que a campanha de Dilma seja vitoriosa aqui, de eleger Jackson Barreto governador, para dar continuidade ao trabalho iniciado por Déda. É uma chapa que tem os dois vices de Déda e é uma das tarefas do PT nessa eleição, como eleger um senador do PT. Reeleger os mandatos dos deputados federais e estaduais e lutar para ampliar a bancada. Essa é a missão do PT nessa eleição.
O governo Jackson Barreto é outro governo, ou se confunde com o governo Déda?
O governo de Jackson Barreto é continuidade governo de Déda, com as características pessoais de Jackson Barreto, que tem um jeito diferente de Déda como todo ser humano.
Jackson tem dito que pegou o governo há 8 meses, como quem quer se isentar do governo Déda. A oposição até critica essa postura, alegando que Jackson só quer o bônus do governo Déda, mas não o ônus…
Eu não vi em que circunstância teve essa afirmação. O que eu posso dizer é que o governo Jackson é continuação do governo Déda, com as características pessoais dele. É lógico que ele é responsável legalmente a partir do momento que ele assume como governador na morte de Déda. Nós nos sentimos muito contemplados com o governo de Déda e também com a continuidade do seu governo com Jackson. Nós temos responsabilidade com as coisas boas e as que ainda estão por fazer. Eu tenho total convicção que o governo de Déda e Jackson é o maior volume de obras e conquistas para o estado de Sergipe. Acho que esse conjunto de ações e conquistas certamente ajudará Jackson com sua tradição e sua história no estado de Sergipe de militância política, gestão como prefeito, ação política como vereador e deputado o ajudará a vencer a eleição deste ano.
O PT, para muitos petistas não deveria abrir mão de disputar a eleição para o Governo do Estado. Na próxima eleição, o PT tem que ter um candidato a prefeito de Aracaju?
Nós temos que reeleger, agora, Dilma, Jackson, me reeleger, ampliar nossas bancadas e depois a gente fala sobre isso. Cada dia com sua agonia. Agora, o PT tem que se concentrar nas eleições de 2014. Em 2016, a gente discutirá na hora adequada e apropriada.
Por Joedson Telles
A queda de braço entre o PSB do senador Antônio Carlos Valadares e o ex-prefeito de Capela, Manoel Sukita, parece longe de acabar. De ter um vencedor. Mesmo com o partido assegurado que não houve fraude, que o próprio Sukita assinou o documento desistindo de disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa, o ex-prefeito bate o pé e ratifica que houve, sim, a falsificação de sua assinatura. Sukita lamenta, sobretudo, que o senador Antônio Carlos Valadares, maior líder do partido em Sergipe, não tenha lhe dito com antecedência que o PSB não o queria candidato. “Eu esperava qualquer humilhação, mas de um amigo? Um pai? Nunca esperei. Eu tinha Valadares como meu pai. Se ele não quisesse que eu fizesse parte do partido dele me avisasse antes. Por que na hora de pedir voto ele não manda Jorge Rabelo? Ele não é o herói? Quer a nossa liderança, mas não quer que a gente cresça, prospere. Qual é o crime de eu ser candidato a deputado estadual?”, indaga. A entrevista:
Houve um acordo entre Sukita x Valadares, no sentido de a sua candidatura ser retirada por conta da sua prisão?
Preso não faz acordo. No dia que eles falsificaram esse documento eu estava preso. Como você, a Polícia Federal e o Ministério Público podem conferir. O documento é datado do dia 9. Em momento algum eu tive acesso a Jorge Rabelo, a Felizola e a Paulo Viana. O próprio Ministério Público pode comprovar e tem que se atentar a isso porque o Ministério não pode validar um documento falsificado sobrepondo ao meu documento e levado ao tribunal pelo meu advogado, porque preso só se manifesta através de advogado.
Depois que o assunto veio à tona, Sukita tentou conversar com o senador Antônio Carlos Valadares, maior líder da legenda, até para não desgastar a candidatura do governador Jackson Barreto, já que existem eleitores solidários a Sukita?
Nesse momento, eu estou correndo atrás do remédio jurídico e conseguimos toda a documentação necessária que comprova a fraude. Eu não tive tempo para isso. Acho que é momento que tem que ter serenidade para todos pensarem, porque eu não posso ter meu direito atropelado por uma fraude. Nenhum cidadão pode ter. A prova de que o documento é falsificado é que no dia 9 Sukita estava preso.
Como o senhor avalia comentários sobre a possibilidade de o senador Valadares não estar preocupado com a candidatura de Sukita, mas com a de Luciano Pimentel?
Eu não sei qual o sentimento que reina no coração de Valadares. Acho que ele deveria se manifestar. Só sei que o sentimento dele não pode atropelar o meu direito. O povo de Sergipe é quem julga. Eu tenho a consciência da minha lealdade a Valadares, ao meu partido. O povo pode julgar se o tratamento que mereço é esse.
Qual o sentimento que o povo de Capela tem em relação ao tratamento que o PSB está lhe dando?
Revolta generalizada: em Capela e em toda região. O povo de Sergipe me quer bem. A minha prisão, no dia 9, foi decretada ilegal em Brasília. Um fato ilegal não pode gerar outro mais ilegal ainda. Por isso que eu acredito e tenho fé que o TRE e o Ministério Público Federal irão reparar isso em Sergipe, porque o documento é fraudado. Eu me encontro hoje numa situação de nem poder pagar uma passagem para ir buscar os meus direitos. Espero não precisar ir a Brasília buscar um direito meu, me defender de um documento fraudado.
O senhor acredita, então, que como maior líder do PSB, Valadares comandou o que o senhor chama de fraude? É isso?
Eu tenho dúvida em relação se foi Valadares, mas sei que o nosso partido foi quem protocolou. Jorge Rabelo toma a frente, mas ele sabe que é uma fraude, que ele não teve acesso a mim hora nenhuma. A própria Polícia Federal comprova a não possibilidade, do isolamento que eu estava preso, até porque é terminantemente proibido preso se reunir. Jorge Rabelo é consciente. Ele está inventando essa assinatura. A regra é clara. Para qualquer candidato renunciar a sua candidatura ele tem que fazer uma carta de renúncia reconhecida em cartório e dar entrada, ou ir lá com duas testemunhas. Eu não fui, não foi nenhuma testemunha, não tem nenhuma assinatura minha registrada em cartório, todas as certidões cartoriais registra que não houve nenhum reconhecimento dessa tal assinatura que ele diz que é minha.
Pela sua experiência, como membro do partido, isso aconteceria sem o aval de Valadares?
O povo sabe julgar o tratamento que mereço. Eu não quero dizer o que não se faz necessário falar. Depois de um negócio desse, eu preciso dizer o que? Depois vão dizer que eu estou indo pra cima de Valadares e eu prefiro me defender a atacar. Mas jamais, como cidadão e liderança política, posso aceitar ser mandado para casa, arruinar minha carreira política por uma fraude que partiu do meu próprio partido. Isso não é razoável, não é possível. Eu vou adentrar para fazer valer o meu direito. Eu nunca renunciei. O Ministério Público é quem bem sabe. O MP não decretou minha prisão dia 9? Como pode acatar uma fraude no mesmo dia 9? Está errado. Onde vamos parar desse jeito?
Pelo que o senhor coloca, Valadares está jogando Capela contra Jackson, pelo fato de ser aliado do PSB, que fraudou um documento para lhe prejudicar? É isso?
O prejuízo é incalculável porque 83% da população mundial não aceita injustiça. Vai respingar no próprio governador, até porque o genro do vice-governador foi quem assinou a fraude, com falsidade ideológica. O que fizeram comigo é uma covardia que não se faz com cachorro. Botaram-me na cadeia e a prisão foi ilegal. Mas acabar com minha vida política de forma covarde a ainda fraudulenta?
E a Direção Nacional do PSB? O senhor apelou?
Não porque o âmbito é estadual. Você acha que alguém poderia imaginar que uma tragédia desta poderia ser construída? Foram 7×0, que é indubitável. Eu faço um apelo a Valadares: me deixasse seguir a minha caminhada. Eu não estou na política para usar ninguém e muito menos para ser usado. Eu esperava qualquer humilhação que um homem público poderia aguentar, mas de um amigo? Um pai? Nunca esperei. Eu tinha Valadares como meu pai. Se ele não quisesse que eu fizesse parte do partido dele me avisasse antes. Por que na hora de pedir voto ele não manda Jorge Rabelo? Ele não é o herói? Quer a nossa liderança, mas não quer que a gente cresça, prospere. Qual é o crime de eu ser candidato a deputado estadual? Por que eu tenho que ser tratado assim? Se você não me quer na sua casa, você diz para eu não ir. Mas aí quer que eu leve a minha feira, mas não quer que eu me sente para comer? Está certo isso?
O senhor está dizendo que foi usado por Valadares?
O sentimento que reina no meu coração é de muita dor. Eu estou dizendo que eu não posso viver desse jeito. Quero ser respeitado como gente, como ser humano, como pai de família, um homem político como eu sou. Não adianta me marginalizar porque Deus está vendo tudo, eu estou passando por cima de pau e pedra. Não é justo.
Qual seria o objetivo de o PSB fazer isso com o senhor, então?
Essa é uma pergunta que a sociedade inteira faz e eu não tenho a resposta. Eu não estou pedindo para ninguém me nomear deputado e estou indo atrás dos meus votos. Não estou pedindo para que ninguém me dê dinheiro e nem que me ajude. Eu não vejo crime nenhum. Se eu só sirvo para carregar piano alguém tem que me dizer para eu ver se eu quero ou não. Mas me tratar como cachorro eu não quero não. É muita falta de respeito. Como é que eu vou preso e o cara vai para imprensa me desqualificar? Eu não estou achando que tem algo pessoal. Mas a política tem que ter limites. A política de Sergipe não pode ser uma ditadura. Enquanto eu era líder municipal estava tudo bem, mas agora que eu quero ser deputado estadual não pode? A política é global. Minha campanha está mantida. Continuo cumprindo minha agenda diária e pedindo votos sem problema nenhum. Entramos com recurso no TRE para o reparo desse equívoco. Tenho fé que o MPF, juntamente com os membros do TRE, repare o meu direito, para que eu não precise ir a Brasília. O povo de Sergipe me conhece e sabe que jamais eu iria desistir de ser empregado dele de forma covarde. Jamais renunciaria o poder que o povo me deu. Quem fez isso para mim fez uma armadilha mal feita porque está na cara e só não vê quem não quer. Quem tem interesse próprio. Desde quando preso se reúne com ninguém? Por que o meu partido pode mandar um documento fraudado e vale, e eu mando um original e não vale? Não abro mão dos meus direitos, porque o nosso país tem leis e eu sou escravo da lei. Continuo candidato firme e forte. Só quem pode me mandar para casa é o povo.
Por Joedson Telles
Aos 70 anos, o ex-presidente da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, Reinaldo Moura, que tenta voltar à Assembleia no pleito deste ano, afirma nesta entrevista que há uma mobilização geral da máquina governamental no sentido de colocar o Legislativo contra a opinião pública. Segundo ele, não porque precisa do dinheiro do Proredes para a saúde do estado, mas para fazer obra e se credenciar para a campanha eleitoral. Reinaldo acredita que os deputados de oposição tinham que deixar isso bem claro para a sociedade. “Houve um erro também por parte da oposição que não enfrentou com coragem dizendo que não votava, não assinava. Só votava se falasse onde seria aplicado o dinheiro”, diz. O ex-conselheiro do TCE afirma ainda que a imprensa critica o Poder Legislativo, mas blinda o Executivo e o Judiciário, e que não há independência no rádio sergipano. “Aqui têm vários programas de rádio, mas a guerra é entre dois. Um que defende um grupo político e outro defende outro grupo político. Essa história de que é independente não existe”, assegura. “Você pode ser relativamente independente. Esse tipo de programa começou aqui em Sergipe comigo na década de 70 com o programa Jogo Aberto. E eu dizia que não era independente porque eu já trabalhava numa emissora que pertencia a políticos. Passou-se a trabalhar num microfone de rádio que pertence ao político já não é independente.” A entrevista:
É um desafio tentar voltar à Assembleia Legislativa depois de todos estes anos sem disputar uma eleição?
Realmente é um desafio. Eu passei 14 anos no Tribunal de Contas do Estado de Sergipe e perdi os contatos políticos, aquilo que é chamado de base eleitoral. Retomar essa caminhada é difícil. Mas o resultado tem sido bom. O grupo que eu tinha no passado boa parte assumiu compromissos com outros candidatos e honraram esses compromissos. Mas alguns candidatos deixaram de honrar esses compromissos, e é mais fácil o retorno dessas pessoas. Os que agiram corretamente, honraram com a aliança, ficou mais difícil trazer de volta porque não tem motivo deixar uma aliança de agora e retomar uma aliança comigo.
A política, hoje, está na base da compra do voto?
A cada ano que passa piora cada decisão, cada inovação, cada nova legislação no sentido de tornar a eleição mais séria, mais ideológica, mais em cima de programas partidários. Apesar de todo esse esforço do próprio Congresso Nacional na criação de leis que apertem essas situações não tem surtido efeito. Comício não resolve nada. É comício que torna a eleição doente. O que torna é realmente é essa cultura que o voto tem que ser pago. Há um universo bem pequeno daqueles que ainda votam acreditando que determinado candidato possa produzir alguma coisa para seu estado.
O senhor usou o facebook para glosar um comentário feito sobre o senhor no sentido de disputar uma eleição aos 70 anos num grupo que prega o novo. Houve preconceito na sua ótica, pelo que o senhor postou no face. Como foi este episódio?
Essa pessoa chegou a fazer dois comentários. O primeiro eu não liguei muito porque sei que foi uma coisa de passagem e dirigida. A princípio eu pensei que ele estava a serviço de alguém, mas ele insistiu e houve uma repercussão pequena. A receptividade da minha mensagem foi muito boa. Ainda quero acreditar que ele está a serviço de algum partido, de algum candidato, de alguma coligação. Eu não enxerguei preconceito não. Todos chegam lá, e eu disse a ele que espero que ele chegue como eu cheguei. Eu acho que devo ser candidato porque hoje eu guardo experiência. Eu passei seis mandatos na Assembleia, aprendi o que era legislativo. Ao sair, fui para o Tribunal de Contas e conheci o outro lado, que é a dificuldade que o gestor tem hoje para administrar. Eu tenho uma visão diferente quando eu vejo que prefeito tal fez isso. Eu aprendi dentro do TCE a separar o que fez, sabendo o que estava fazendo, e o que fez inocentemente, porque confiou numa equipe que preparou o material e fez apenas assinar. Então, eu posso chegar à Assembleia e fazer esse tipo de avaliação a respeito de uma administração. Eu sei que para alguns deputados hoje a cobrança da opinião pública em determinados serviços que o Estado tem que prestar demora muito a licitar e eu lá vou explicar a eles porque demora muito. Eu não vou fazer uma cobrança, cobrar por cobrar. Eu vou fazer a cobrança no momento certo porque eu vivi ali dentro e sei a dificuldade de promover uma licitação, de construir determinada obra, de atender no prazo. Eu sei se ele está fazendo aquilo na maldade ou deixando de fazer aquela obra porque tem dificuldades. Experiência acumulada no Legislativo, conhecendo hoje a gestão, com a visão que tenho hoje de Executivo, porque fui presidente da Assembleia duas vezes, presidente do TCE uma vez, administro hoje um patrimônio que milhares de pessoas têm o direito de cobrar, e recuperei a credibilidade desse patrimônio (o Clube Esportivo Sergipe). Eu acho que tudo isso me credencia a um novo mandato com a certeza e convicção que eu posso contribuir para Sergipe.
O senhor é um homem público realizado pela passagem por estes cargos que acabou de citar. O que o move aos 70 anos?
Eu gosto. Com todo respeito aos lugares por onde passei, as profissões que eu tive de rádio, que se tivesse atuando hoje estaria completando 55 anos de rádio, depois fui para Assembleia e em seguida ao TCE. O que mais me motivava era exatamente a Assembleia Legislativa, porque é um exercício diário. O TCE é uma coisa que tem uma sequência normal: seguir a lei. Aquilo nascia de uma auditoria, de uma equipe para chegar à minha mão. Não é uma criança que eu fiz. A assembleia é um exercício diário. O (saudoso) governador Marcelo Déda disse em uma das suas falas que aprendeu mais comigo na Assembleia. Na rua, com um megafone, você pode dizer o que quiser. Ninguém fala nada. Mas na Casa diz o que quer e houve o que não quer. Ele aprendeu e citou essa colocação que eu fiz algumas vezes. São 24 cabeças pensando. Eu até brincava com ele quando eu era líder de governo, ele fazia um pronunciamento bem elaborado com dados e tudo e dizia que queria ouvir o líder do governo. Eu dizia: vossa excelência passa um mês pesquisando, não me pergunta, não me mostra e agora quer que eu lhe responda agora? São 24 pessoas pensando e cada um não sabe o que o outro vai fazer e você é desafiado todo dia a se manifestar ou favor ou contra. Esse desafio que me motiva. Provar que é possível, sim, aos 70 anos. É possível, sim, ter a oportunidade que o ministro Carlos Brito não teve no Supremo Tribunal Federal (STF) e o Legislativo permite isso. É um desafio que eu me proponho. É difícil, mas vamos enfrentar.
Além dos deputados, no Legislativo há a presença constante da imprensa acompanhando tudo e, vez por outra, as galerias lotadas de trabalhadores cobrando soluções. O calor humano do Legislativo também o motiva?
Eu tenho respeito por todos os poderes, mas tenho mais pelo Legislativo. É pela galeria cheia, pelos sindicatos cobrando, pelas classes sociais cobrando posições da Casa e pela própria imprensa. Quando chegavam lá no TCE para fazer entrevista eu dizia que tinha sessão terça, quarta e quinta, mas a imprensa só aparecia quando a agenda era negativa. Raramente um jornalista cobre o TCE. A assembleia tem dia que não tem lugar na galeria da imprensa, já ampliaram e não tem jeito. Cada vez tem mais imprensa lá. Eu defendo muito o Legislativo. Ninguém vai assistir à reunião de pleno no Tribunal de Justiça, a não ser quando há um processo escandaloso que envolva uma pessoa de nome. O dia-a-dia da Assembleia é cheio.
O Poder Legislativo foi duramente criticado por conta do Proinveste, e posteriormente do ProRdes, por alguns setores da imprensa, que tomaram partido nas causas e queriam os empréstimos aprovados mesmo contra a vontade de determinados deputados. A imprensa excede a democracia intrínseca ao Legislativo?
O mais blindado de todos os poderes é o Judiciário. Eu não vou negar que até a própria imprensa tem determinado receio de fazer uma crítica mais dura ao Judiciário, que merece, sim, em alguns momentos ser criticado porque padece de situações iguais. Há certo receio de abordar com mais dureza uma questão que envolva o Tribunal de Justiça. O Governo do Estado tem a blindagem de outra situação: há uma dependência financeira de boa parte de setores da imprensa do Governo do Estado. Então, você sabe que determinada situação deve ser criticada, mas não faz por essa dependência do Executivo. Aqui, quando se fala em jornalista, em radialista, há um corporativismo assombroso, como se na categoria de jornalista não tivesse alguém que tivesse defeito. Tem em todo lugar. O papa está aí agora punindo alguns por pedofilia na igreja. A blindagem do Executivo é a dependência financeira de alguns. Não é da totalidade. No Legislativo não há. A imprensa não tem matéria, vai buscar na Assembleia porque trata de todas as questões do Estado e há mais liberdade para criticar. O próprio Tribunal de Contas, eu só passei a responder a imprensa depois que assumi a presidência porque lá há um certo receio de responder a imprensa. Eu respondia todas as críticas que eram feitas enquanto eu fui presidente da instituição. Nesse caminho, o Legislativo é o mais aberto. Nos dois projetos do governo (Proinveste e Proredes), a imprensa sabe que do jeito que foi não deveria ser aprovado. Se eu tivesse lá teria dito a mesma coisa. Há uma mobilização geral da máquina governamental no sentido de colocar o Legislativo contra a opinião pública porque precisa do dinheiro para a saúde do estado? É preciso dizer que quer o dinheiro para fazer obra e se credenciar para uma campanha eleitoral. O que custava dizer onde ia gastar o dinheiro? Houve um erro também por parte da oposição que não enfrentou com coragem dizendo que não votava, não assinava. Só votava se falasse onde seria aplicado o dinheiro. Ficou aquela situação, Déda com a saúde fragilizada naquele momento e a Assembleia assinou. Não me venham dizer que vão construir Hospital do Câncer que não vão. Pode até levantar quatro paredes, mas dotar o hospital com condição de atendimento não vai. Eu me dei bem lá dentro (Assembeia) porque alguém de determinada categoria dizia que queria apoio para o projeto, mas eu dizia que ia votar do jeito que veio e ninguém me procurava mais. Eu chegava à Assembleia absolutamente tranquilo. Da mesma forma que eu dizia à categoria que ia votar com eles e não adiantava o governo me pedir para fazer o contrário. Nem João Alves, nem Albano, nem Valadares. Eu não obedecia a partir do momento que eu estudei e assumi uma posição.
Como radialista, como o senhor avalia a parcialidade de certos programas de rádio jornalismo no terreno da política partidária?
Nesse caso específico, não é uma questão de democracia. É que um está a serviço de um grupo e outro está a serviço de outro grupo. A questão da dependência que eu falei lá atrás é muito clara. Aqui têm vários programas de rádio, mas a guerra é entre dois. Um que defende um grupo político e outro defende outro grupo político. Em alguns momentos, existia o debate em defesa da própria população. A maior parte do tempo desses programas era em defesa de grupos políticos. Existem outros programas aí e todos eles têm vínculo com algum grupo. Essa história de que é independente não existe. Você pode ser relativamente independente. Esse tipo de programa começou aqui em Sergipe comigo na década de 70 com o programa Jogo Aberto. E eu dizia que não era independente porque eu já trabalhava numa emissora que pertencia a políticos. Passou-se a trabalhar num microfone de rádio que pertence ao político já não é independente. É relativamente independente. Jornal é a mesma coisa, televisão, tudo a mesma coisa. Têm uns proprietários de rádio, jornal ou televisão, que deixam a coisa um pouco mais aberta, um pouco mais democrática, mas na hora que aperta a porca do parafuso… Tem uns que são menos independentes, mas existem dois rigorosamente, aliás, dois não, porque na saída do titular as coisas diminuíram sensivelmente. Mas têm outros em outras emissoras que trabalham com mais calma, mais respeito ao ouvinte, e procuram na medida do possível ser independente, mas nenhum é.