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“Os candidatos sérios, austeros e comprometidos são em geral preteridos”, diz presidente da Adepol

Por Joedson Telles

Presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Sergipe (Adepol), o delegado Paulo Márcio avalia que a população não é tão vítima assim como se imagina dos atos equivocados dos políticos. “Eu diria que ela é de certa forma co-responsável com os absurdos e cúmplice dos maus políticos. Basta observar quem é eleito sucessivas vezes em determinadas localidades e o correspondente grau de atraso e subdesenvolvimento desses lugares. Os candidatos sérios, austeros e comprometidos são em geral preteridos por agitadores e fanfarrões. Não é sem razão que o país está falido e o maior responsável pela falência desponta como franco favorito na disputa pela presidência o ano que vem”, diz.

O governador Jackson Barreto mentiu para os delegados de polícia de Sergipe? Foi exatamente isso que o senhor quis dizer?

Alguma coisa muito grave aconteceu entre os dias 14 de dezembro de 2016 e 29 de março deste ano, a ponto de fazer o governador voltar atrás em relação ao compromisso assumido com a Adepol, qual seja, de encaminhar à Assembleia Legislativa, na segunda quinzena de março, os projetos de lei que corrigem algumas distorções na Polícia Civil e restaurariam a isonomia salarial com os procuradores do Estado, quebrada por ato unilateral do próprio governo. É óbvio que a imagem do governador ficou arranhada perante os delegados. Mas ainda há tempo para ele cumprir o que fora pactuado e desfazer a péssima impressão junto à categoria.

“Quando ele for para a campanha fazendo promessas, vou para televisão e para o rádio dizer que é mentira”. Esta frase tem sentindo, já que o governador deu a palavra que não será candidato? Ou a Adepol também não acredita que ele falou a verdade, no tocante a se aposentar?

Jackson Barreto é uma águia política. A selva política é seu hábitat. Eu diria que é de 100% a possibilidade de ele vir a disputar uma vaga para o  Senado em 2018. De nossa parte, não desejamos influenciar positiva ou negativamente a campanha de quem quer que seja. Por outro lado, da mesma forma que não nos negaríamos a dar um testemunho sobre intervenções do governo na segurança pública, temos por obrigação apontar as mazelas e chamar a atenção do eleitorado para a falta de compromisso com a categoria, sobretudo quando se trata de acordo rompido.

É possível ter dimensão do prejuízo que acaba caindo no colo de uma população cujo governador mente?

A população não é tão vítima assim como se imagina. Eu diria que ela é de certa forma co-responsável com os absurdos e cúmplice dos maus políticos. Basta observar quem é eleito sucessivas vezes em determinadas localidades e o correspondente grau de atraso e subdesenvolvimento desses  lugares. Os candidatos sérios, austeros e comprometidos são em geral preteridos por agitadores e fanfarrões. Não é sem razão que o país está falido e o maior responsável pela falência desponta como franco favorito na disputa pela presidência o ano que vem.

Diante do tratamento dispensado aos delegados, a sugestão é João Eloy e Cristiano Barreto entregarem seus cargos de secretários de Estado?

Seria um belo ato em solidariedade à categoria. Mas nós sequer lhes sugerimos essa possibilidade. Para a Adepol é um contrassenso o governo manter dois delegados em postos-chave e ao mesmo tempo tratar com tanto desdém a categoria. No lugar do governador, eu teria dificuldade em encarar esses secretários sabendo que estou em débito com toda sua categoria.

Outra frase sua é que “estamos nos aproximando do final deste governo, cuja incompetência, burocracia, falta de compromisso são frustrantes”.  O que quis dizer com estas palavras?

Que é inadmissível um governo demorar 8 meses para resolver questões relativamente simples como a regulamentação do acúmulo provisório de delegacias e o reajuste da retribuição pelo exercício de plantão, congelada desde julho de 2014. Não há razão para transformar tudo em um parto. A burocracia e a demora em decidir geram muita frustração e insatisfação. Essa é uma constante desse governo.

Há uma reunião marcada para a próxima quarta-feira, dia 31, para discutir a pauta dos delegados, mas o senhor já antecipou que não acredita que acontecerá. A Adepol jogou a toalha?

Não é que tenhamos jogado a toalha, mesmo porque não há alternativa diante da situação. Os delegados não vão mais aceitar essa exploração do Estado e as distorções existentes. Portanto, ao governo cabe cumprir ou cumprir o pactuado. A descrença vem da forma como o acordo foi feito, com base na palavra afiançada, que se mostrou frágil, inconsistente. Agora queremos celeridade e garantias, com definição de um prazo a ser rigorosamente cumprido.

Uma greve está nos planos dos delegados?

A ideia de greve está descartada em razão de uma polêmica decisão do STF, mas há uma série de medidas que podem ser deflagradas com o objetivo de fazer cumprir os nossos direitos e prerrogativas. Tudo vai depender do desenrolar da negociação nesta última semana de maio.

Recentemente, o delegado Alessandro Vieira, ex-delegado geral da Polícia Civil, declarou que o governador Jackson Barreto demonstrou desconforto com o trabalho da delegada Danielle Garcia. Ao governador não interessa a polícia investigar empresários e políticos?

Na condição de Delegado-Geral, exercida até bem poucos dias atrás, o doutor Alessandro Vieira tinha acesso a informações que obviamente não são do conhecimento da Adepol. Mas é inescondível o fato de que, no Brasil, políticos em geral e empresários que contratam com o poder público têm aversão ao tipo de investigação levado a efeito pelo Deotap. Há muita sujeira debaixo do tapete e muito lobo em pele de cordeiro. Ninguém quer ser desmascarado, preso, processado e ter a carreira pública vergonhosamente encerrada em razão de uma investigação policial.

A troca no comando da SSP, num momento em que a segurança, visivelmente, começou a melhorar, nunca foi explicada pelo governador. Pode estar ligada à declaração de Alessandro Vieira?  

As investigações do Deotap tiveram e têm como alvo pessoas do entorno do governador. Esse fato, aliado à forma como o assunto foi tratado publicamente pelo então Delegado-Geral, foi decisivo para a sua exoneração. Mas as investigações continuam, a despeito da troca de comando. E não me consta que esteja havendo qualquer tipo de ingerência no departamento.

Qual o conceito que os delegados têm hoje do governador Jackson Barreto? 

Os conceitos variam em razão da forma como as pessoas são tratadas. A isso dá-se o nome de reciprocidade. O governador ainda tem condições de melhorar seu conceito junto aos delegados. Não é a primeira impressão a que fica, mas a resultante de uma relação em que cada um atue de modo a corrigir erros de percurso e se redimir daquilo que fez irrefletidamente ou por dar ouvidos a maus conselheiros.

Modificado em 29/05/2017 19:24

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