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O plano “A” de André Moura é ser candidato a governador

Por Joedson Telles

O ex-deputado federal José Carlos Machado (PSDB) não esconde a sua preferência pelo nome do deputado André Moura (PSC) para ser o pré-candidato ao Governo do Estado pela oposição, nas eleições 2018. Machado reconhece como bons nomes também os senadores Eduardo Amorim (PSC) e Antônio Carlos Valadares (PSB), mas opta pelo “estilo” André Moura. “Se qualquer um entrar na disputa, eu estarei com o mesmo entusiasmo. Mas o estilo de André eu defendo: abrir as portas para quem tem poderes para resolver – e quando ele tem condições de resolver parte dos problemas de Sergipe, junto ao Governo Federal, resolve”, justifica. O tucano, que tem percorrido vários municípios sergipanos ao lado de André, vai mais além e assegura que o próprio André Moura pensa do mesmo jeito, apesar de não externar. “Ele está no papel dele em dizer que seu principal projeto é a reeleição. Mas você acha que com essa total desenvoltura dele é para estar pensando em reeleição? O plano ‘A’ de André Moura é ser candidato a governador. Eu, como bom observador, sinto total entusiasmo dele por uma candidatura majoritária ao Governo do Estado. E tenho dito a ele para aproveitar o momento, porque, talvez, não se repita ao longo da história”. A entrevista: 

Assim como os demais políticos de Sergipe, José Carlos Machado já está percorrendo o estado, acredito. O que tem sentido na população?

Veja que triste legislação eleitoral a brasileira: não pode fazer campanha, mas de forma indireta está todo mundo fazendo. O brasileiro tem uma vocação para o jeitinho (risos). Estamos a mais de um ano da eleição. Tradicionalmente, em Sergipe, a gente deixava para discutir formação de chapa depois do Pré-Caju (do ano eleitoral). Este ano, a coisa se antecipou muito. Está se tratando da sucessão de 2018 desde o início de 2017.

A população ganha ou perde com esta antecipação?

Isso não é bom para o estado. Todo político portador de mais ou menos talento, de mais ou menos espírito público deveria se concentrar na busca por alternativas para resolver os problemas de Sergipe, que são graves. E não pensar em eleição. Sergipe convive, hoje, com 140 mil desempregados. Ninguém discute isso. Com um déficit da previdência de mais de R$ 100 milhões por mês. É o que Estado gasta com a saúde pública. É uma coisa de difícil solução. Graças a Deus, já estão criando juízo e começando a buscar alternativas para resolver esse problema. A segurança é um problema gravíssimo. O vereador Zezinho do Bugio me deu um dado que eu fiquei estarrecido. Ele me disse que quando a população de Sergipe era menos de um milhão de habitantes, a Polícia Militar tinha sete mil homens. Hoje, a população é de 2,2 milhões e o contingente da PM é de 4.500. Isso já explica a falta de segurança. O deputado Venâncio Fonseca foi muito feliz, quando denunciou, no programa de televisão do seu partido, a falência da região da citricultura de Sergipe, que já foi o segundo estado maior produtor de laranja do Brasil. Eu quero parabenizar o deputado Venâncio por essa iniciativa de abrir os olhos do governo. O Rio São Francisco está morrendo e ninguém quer discutir isso. Lamentavelmente, no serviço público o que é lógico não prevalece. Esta semana, quatro governadores se reuniram em Penedo (AL) para tratar da situação crítica pela qual passa o rio. Eu até pensei numa frase muito oportuna do deputado José Carlos Aleluia (DEM/BA): “O rio não corre: o rio chora”. Eu brincando disse que se essa reunião fosse, há 30 anos, seria servido no almoço surubim na brasa. Hoje, nem pensar porque o surubim desapareceu do rio. Está morrendo o principal patrimônio de Sergipe, responsável pelo abastecimento de mais da metade da população.

Mas é uma morte anunciada, não?

O ex-governador João Alves Filho anunciou isso há 15 anos. Tudo está acontecendo hoje. João, candidato à reeleição, em 2006, perdeu em todas as cidades ribeirinhas…  (Machado volta a falar dos problemas) A questão da saúde? Por mais que se esforce, falta gestão e recursos. O déficit da previdência é igual ao que o governo gasta com saúde. Essa questão do déficit não se resolve em curto prazo. Tem que ser a médio e longo prazo, se não o Estado vai perder definitivamente sua capacidade de investir. Depois vai perder a capacidade de pagar ativos e inativos. Depois se estabelece o caos. Eu sou político, tenho esse espírito de autocrítica, mas precisamos criar juízo e recuperar a capacidade de dar bons exemplos. Essa discussão de formação de chapa não precisa se tornar tão pública como está ocorrendo em Sergipe. Temos que dar publicidade de forma clara e transparente é de nosso desejo enquanto político de sentarmos e discutirmos na busca de soluções para resolver os problemas de Sergipe. Falou-se, em determinado momento, mas parece que todo mundo esqueceu aquele dado sócio-econômico apresentado por professores da Universidade, que mostra claramente que os 10 últimos anos em Sergipe foram perdidos. Isso tem que ser resolvido. É preciso envolver a sociedade como um todo. Os empresários, os políticos, a Universidade que tem um poder de contribuir muito grande, mas, lamentavelmente, predomina nas discussões a questão que a oposição está desunida. O foco é quem vai ser o candidato de Jackson, se ele vai ser senador, quem é o candidato da oposição… Isso deveria ser tratado internamente, e estarmos discutindo com mais entusiasmo essas discussões para resolver os problemas de Sergipe. 140 mil desempregados num estado pequeno como esse é muito grave. É quase que toda a população do município de Nossa Senhora do Socorro e mais que o município de Lagarto.

Mas a própria sociedade, em sua maioria, tem a sua parcela de culpa, já que não cobra esta postura dos políticos – e ainda se interessa pelas especulações dos nomes, não?

Nas manifestações de João Alves, em relação ao Rio São Francisco, enquanto governador do Estado, ele dizia que a forma que estava sendo feita a transposição iria matar o rio. Tinha que cuidar da revitalização, se possível um reforço de vazão trazendo água do Tocantins. Ele tinha alternativas para que se fizesse a transposição e garantisse a sobrevivência do rio. Poucos políticos deram atenção à gravidade das denúncias de João, e ele pagou caro. Contrariou o então presidente da República (Lula) e perdeu a reeleição, em 2006. Eu sou testemunha que João tinha disponibilidade de recursos para recuperar as estradas, mas teve que usar para concluir a obra da ponte (Aracaju/Barra). Prometeram o financiamento pelo BNDES, mas na hora não veio porque a Secretaria do Tesouro disse que o Estado estava inadimplente com relação à Lei de Responsabilidade Fiscal. Esses temas de importâncias altíssimas não têm ressonância na sociedade. João perdeu as eleições em todos os municípios ribeirinhos. Agora está todo mundo preocupado.

Percebe-se que José Carlos Machado é um entusiasta de uma possível candidatura do deputado André Moura ao governo. É o seu nome fechado?

Setores da situação querem deixar transparecer que a oposição está desunida. Não há desunião. Eduardo Amorim concedeu uma entrevista e disse que a oposição é diferente da situação porque tem líderes e a situação tem comandante. Temos três lideranças e todos com condições de governar Sergipe: os senadores Eduardo Amorim e Antônio Carlos Valadares e o deputado federal André Moura. Se qualquer uma delas entrar na disputa, eu estarei com o mesmo entusiasmo. Mas o estilo de André eu defendo: abrir as portas para quem tem poderes para resolver – e quando ele tem condições de resolver parte dos problemas de Sergipe, junto ao Governo Federal, resolve. Ele já deu prova disso quando recebeu o governador do Estado, quando foi à Prefeitura de Aracaju ouvir o prefeito Edvaldo Nogueira, e quando recebe, quase que diariamente, prefeitos aliados e de oposição. Isso é o início de buscas de entendimento da classe política em torno de um projeto maior, que é o interesse de Sergipe. Quando se consegue a liberação de recursos no valor de R$ 1 milhão para Pinhão, não é defender os interesses de Sergipe? André ajudou muito na liberação de recursos da emenda impositiva, fruto de um trabalho do coordenador da bancada, de todos os membros. Aracaju vai receber R$ 63 milhões de uma vez só. Esse estilo me agrada. Eu converso com prefeitos e lideranças e muitos manifestam preferência. É natural que uns prefiram a candidatura de Amorim e outros a de Valadares. Está todo mundo andando e todos dizendo que não estão fazendo política. Ninguém pode se declarar candidato, mas pode se declarar pré-candidato. Somos levados a fazer isso por conta de uma legislação hipócrita. Eu defendo que os três, no momento certo, possam sentar e definir isso. Mas isso não pode ser deixado para última hora. São três e a chapa majoritária tem quatro vagas. A quarta vaga é naturalmente para tentar trazer algum partido que milita junto à situação.

Machado enxerga este desejo no deputado André Moura?

Ele está no papel dele em dizer que seu principal projeto é a reeleição. Mas você acha que com essa total desenvoltura dele é para estar pensando em reeleição? O plano “A” de André Moura é ser candidato a governador. Não vejo muito entusiasmo para ele ser candidato ao Senado. Eu, como bom observador, sinto total entusiasmo dele por uma candidatura majoritária ao Governo do Estado. E tenho dito a ele para aproveitar o momento, porque, talvez, não se repita ao longo da história. Mas isso é uma série de conjunturas. André, hoje, é aliado do presidente Michel Temer. Temer, lamentavelmente, tem que enfrentar problemas quase que diários. Independente dos problemas do governo, o que qualifica André é que ele tem ajudado aos gestores a resolver problemas graves. Ninguém pode deixar de reconhecer também o trabalho de Valadares e Eduardo Amorim no canal de Xingó, por exemplo. Se for André ótimo, se for Amorim ótimo e se for Valadares ótimo. Eu tenho a percepção que a oposição para ganhar a eleição tem que estar unida e com o discurso afinado. Que possa ser, sobretudo, percebido e entendido. Político para ganhar a eleição tem que ser claro nas suas afirmativas, no seu projeto e transparente quando for expor suas ideias. Se eu quero ser governador e tenho ideias para resolver o déficit da previdência, para somar os governadores do Nordeste para pressionar o atual e o futuro presidente para a solução do Rio São Francisco, e outros problemas. Se a Vale parar a produção da carnalita deixa de investir por conta de projeto anunciado e que foi abandonado. Seria um investimento de mais de R$ 4 bilhões e não se fala mais nisso. A Vale vai embora, deixará um passivo ambiental de mais de 400 km no nosso subsolo e não deixará uma obra social. Diferente da Petrobras. Sergipe é o estado hoje que é depois da Petrobras. Se eu tiver que escolher entre os três, Amorim faz um trabalho extraordinário, tenho Valadares como um dos políticos mais importantes de Sergipe, mas escolheria André.

O ex-deputado Heleno Silva tem demonstrado a disposição para migrar para a oposição, mas almeja ser senador. Tem lugar para ele no seu bloco?

Heleno é uma figura extraordinária. Ele me disse que o PRB não está brincando quando avisa que pode vir para oposição, se não fizer parte da chapa majoritária no governo. Eu ouvi a frase de um parlamentar da situação que disse que, quando Belivaldo assumir o governo, Jackson é que passa a ser o seu candidato. Lá tem comandante e esse é quem tiver com a caneta na mão. Na situação está resolvido que Jackson é candidato ao Senado, Belivaldo assume e é candidato a governador. O PT, PRB e PSD querem vaga na majoritária. Eles têm muito mais problemas que nós. São duas vagas para três partidos. Ainda tem o problema do PMDB que ninguém sabe como vai ficar. Fala-se que André pode assumir.

E vai?

Eu não conversei com ele sobre isso. O que eu sei é que a cúpula do PMDB em Brasília tem insistido para que ele assuma o partido. Recentemente, Romero Juca disse que quem vai presidir o partido em Sergipe é quem estiver com o presidente Temer. Uma parte do PMDB em Sergipe está com Temer, mais precisamente o ex-deputado Sérgio Reis.

André já disse que só iria para comandar. Em ele indo, o partido vai vê-lo como reforço ou haverá um esvaziamento?

Eu acho muito difícil a convivência de André com o grupo que comanda o PMDB. Eu já vi acontecer coisas praticamente impossíveis na política de Sergipe. Quem imaginava aquela aliança de Jackson e Albano? Albano tinha uma aliança com o PFL de João Alves e desmancha essa aliança e faz uma aliança com o mais tradicional adversário da sua família durante uma história de mais de 20 anos. Nada me espanta. Quando Jackson fez aquela aliança com Albano o preço que ele pagou foi caro. Albano se reelegeu para o governo e Jackson perdeu para o Senado, inclusive a eleição em Aracaju que tradicionalmente sempre foi o seu principal reduto eleitoral. A decisão quem tem que tomar é ele.

E a declaração do senador tucano Eduardo Amorim ao Universo, revelando ser de esquerda e ter identificação com o PT? Como avalia?

Eu entendo perfeitamente. Eu disse, há poucos dias, que apesar de ter vários amigos no PT eles pensam de uma forma e eu de outra. Eu tenho a ideologia de centro moderado, acho que a política tem que ser feita com prudência, à disposição do diálogo quando estão em jogo os interesses de Sergipe e do Brasil. Se Amorim manifestou essa vocação que ele tem para esquerda, eu entendo com absoluta naturalidade. Eu também respeito o PT, mas estou pronto para divergir em quase tudo.  Amorim tem suas convicções. Recentemente, ele deu aquele voto contra a Reforma Trabalhista. Se ele fez com convicção eu posso discordar, mas não posso tirar o direito dele de demonstrar suas convicções. Muito mais importante do que este ou aquele nome para governador, senador, deputado, são as ideias, porque nós políticos somos apenas instrumentos em busca de viabilizar ideias e projetos, que implantados resolvam os problemas de Sergipe e do Brasil. Eu, politicamente, divergia de Marcelo Déda, mas o tinha como um amigo. Ele foi governador e nunca trabalhou para me tirar da coordenação da bancada sergipana em Brasília. Aonde ele chegava elogiava o trabalho de Machado. Isso é espírito público. É entender que acima dos interesses políticos tem que estar os interesses do Estado.

Modificado em 17/09/2017 08:04

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