body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

“Não existe confiança mútua entre Valadares e André Moura”, afirma Belivaldo

Por Joedson Telles  

O vice-governador Belivaldo Chagas (PMDB) afirma, nesta entrevista que concede ao Universo, que o senador Antônio Carlos Valadares (PSB) não tem a confiança do senador Eduardo Amorim (PSDB) e do deputado federal André Moura (PSC), entre outros membros do bloco da oposição, para ser o candidato do grupo a governador, nas eleições 2018. “Eu acho até que ele teria coragem. O que ele não tem mesmo é a confiança do bloco para ser candidato a governador. Entre a coragem e a confiança, ele acaba ficando sozinho. É preciso que se tenha confiança do bloco”, diz Belivaldo Chagas. O vice-governador fala também da construção da sua pré-candidatura ao governo, assegura a união do bloco governista e põe em xeque a harmonia entre os membros da oposição. “Ninguém venha dizer que eles estão se entendendo porque não estão. Sabemos que não existe uma boa relação entre Valadares e André Moura. Não existe confiança mútua. Valadares chegou depois e chegou querendo sentar na cadeira da frente. Isso acabou provocando uma indisposição com o deputado federal André Moura”, avalia Belivaldo. A entrevista:

Após a reunião que o senhor teve com o governador Jackson Barreto e os demais aliados, para definir sua pré-candidatura ao Governo do Estado, quais os próximos passos?

Nós vivemos, num primeiro momento, via imprensa, via alguns amigos, em conversas pelo interior a possibilidade de o meu nome ser escolhido como pré-candidato para substituir o governador no processo eleitoral que teremos em 2018. Eu sempre fiz questão de me manter na maior calma do mundo, respondendo aos questionamentos da imprensa e sempre mostrando que teríamos um momento próprio para discutir isso de forma mais direta. E tivemos a reunião do sábado, dia 7 de outubro, na casa do deputado Luiz Mitidieri com todas as lideranças e representantes do bloco. Um ano certinho até a eleição. Antes disso, porém, não havíamos tido qualquer tipo de conversa com o governador no sentido de que eu viesse ser o pré-candidato. Naturalmente, as coisas foram acontecendo. Pensamos em dar esse tempo porque estávamos esperando para ver a questão da reforma política. De que forma seria – e qual a repercussão nas coligações. Quando isso afunilou, chegou o momento da discussão. Na reunião, todos os partidos tiveram o direto a se manifestar. O governador fez a primeira fala. Colocou que o pré-candidato a governador, em 2018, seria eu e perguntou o que todos achavam. Por unanimidade, tivemos a aceitação de todos, e estabelecemos, a partir daí, que os partidos fariam reuniões convocando as lideranças do estado para me apresentar como pré-candidato do grupo ao governo.

E Belivaldo?

O que tenho que fazer, a partir de agora, é, sem fugir do foco da administração, porque a gente precisa vencer essa crise, esperamos que, a partir de 2019, melhore, no que diz respeito às finanças do Estado, tenho que tentar conciliar, principalmente, nos finais de semana, indo ao interior do estado, ouvir as reclamações, as sugestões, para que a gente possa, lá na frente, ter um plano de governo e discutir com a sociedade. Não basta a gente querer pensar Sergipe. É preciso que a gente encontre caminhos para pensar e executar. Projeto mirabolante é fácil fazer. Você contrata uma boa equipe e, com certeza, teremos um bom planejamento para o futuro, mas eu estou preocupado mesmo é com aquilo que a gente terá condições de executar. Eu estou preocupado em como chegaremos ao dia 31 de dezembro de 2018, e o que poderemos fazer, a partir de 2019. Isso pode ser dividido em dois momentos: o que podemos executar com a realidade que temos, e o que se pode buscar fora do estado, via apoio do Governo Federal e empréstimos. Não vamos apenas sair para conversar no interior sem que isso sirva como um horizonte para discutir em 2018. Nesse primeiro passo dado, encontramos um ambiente de apoio total – e na minha fala fiz questão de colocar que, se tivermos unidade e humildade, temos tudo para que esse projeto dê certo.

Quando o senhor fala em unidade e humildade, entre outros aspectos, refere-se à insatisfação de alguns que querem participar da majoritária?

Exatamente isso. Temos hoje uma indefinição do que pretende o governador Jackson Barreto, no que diz respeito à pré-candidatura ao Senado. Eu faço avaliação e tenho ouvido da grande maioria, pra não dizer da unanimidade, que o governador deve ser pré-candidato. Vamos precisar de Jackson senador. Independente do resultado da eleição para governador, Sergipe tem que ter um senador como Jackson. Na hora que ele definir por uma pré-candidatura ao Senado, teremos uma vaga para ser preenchida. Mas também tem ainda a vaga de vice. Se porventura o governador disser que não é candidato, vamos ter duas vagas ao Senado e a de vice. Quando a gente fala de unidade, humildade e paciência, com certeza, é porque teremos condições de acomodar todo mundo. Temos que pensar no projeto. Tem Senado, vice, vaga de suplente, a partir daí as vagas proporcionais. Só fecha a coligação no finalzinho do período das convenções porque tem sempre aquelas discussões que um grupo defende chapinha e outro chapão, o que é normal. Se tudo isso acontecer dentro do ambiente de unidade, compreensão e paciência, pensando no projeto como um todo, vai ser bom para todo mundo. No primeiro momento, eu estarei coordenando este trabalho, porque, afinal de contas, quem tem que buscar os meios para que as coisas aconteçam sou eu. No segundo momento, e eu quero crer que seja a partir de janeiro de 2018, eu estarei conversando com o governador para deixar a Casa Civil, para ter mais tempo. Eu não tenho como conciliar a campanha e o trabalho lá. O tempo vai passando e as coisas vão afunilando. A gente vai ter que ter um grupo com pessoas coordenando por região. O governador vai estar no exercício do governo. Eu tenho que estar na coordenação com coordenadores nas regiões. Isso será planejado nos próximos dias.

O ex-prefeito Heleno Silva quer disputar o Senado. Inclusive cogita migrar para a oposição. Como o senhor avalia isso? Tem como garantir este espaço na chapa governista?

Toda e qualquer conversa que existiu até o dia 7 de outubro, eu deletei. Pra mim, o que está valendo, agora, é o que foi colocado de lá pra frente, e depois deste dia eu não ouvi nem uma declaração de descontentamento de partido nenhum. No mesmo dia da reunião, eu recebi um telefone do deputado João Daniel, que se encontrava em Poço Redondo com diversas lideranças do PT, e ele fez questão de ligar pra mim. Estava com centenas de amigos e teria comunicado a todos o resultado da reunião. No mesmo dia, eu participei de uma solenidade do PRB ao lado do pastor Jony, de Heleno, do Ivan Leite e de diversas lideranças, e Heleno fez questão de falar e me apresentar como pré-candidato. Não há nenhum problema. Claro que vamos ouvir manifestações de interesse, mas é natural. Depois vai se conversando, e como costumava dizer Marcelo Déda, “com o andar da carroça as abóboras vão se ajeitando”. Conversando a gente vai ter condições de resolver esse problema.

O senhor deletou e os demais? Será?

Eu sinto que todos deletaram também. Mas entendendo que todos têm o direto de buscar o seu espaço. Essa discussão é importante no grupo. Às vezes é uma maneira de fazer a boa provocação. Dizer que está presente. Não tem que ser tudo na base do amém. Eu não construí essa pré-candidatura à base da pressão. Houve um processo de construção porque eu faço parte do projeto. Ninguém é pré-candidato de se próprio. Ninguém é pré-candidato a senador sozinho, para não ter sucesso. Eu jamais sairia candidato a governador sozinho porque com certeza não obteria sucesso.

O seu grupo tem exemplos de membros que foram para o sacrifício em nome do projeto…

O nosso grupo é coeso. Temos uma oposição em Sergipe, se comparada com o bloco de situação, bem menor. Eu citaria Valadares, Amorim e André Moura. Ninguém venha dizer que eles estão se entendendo porque não estão. Sabemos que não existe uma boa relação entre Valadares e André Moura. Não existe confiança mútua. Nós não temos problemas, mas desejos que são externados e, no momento próprio, cada um vai colocar seu desejo e a gente vai procurar uma forma de acomodar todo mundo.

Não existe confiança mútua? Eduardo Amorim perdeu o comando do grupo? É isso?

Eu diria que sim, com todo respeito que tenho a ele. Valadares chegou depois e chegou querendo sentar na cadeira da frente. Isso acabou provocando uma indisposição com o deputado federal André Moura, que, até então, não tinha essa importância toda, mas passou a ter pelo cargo que exerce hoje (líder do Governo Federal no Congresso). Hoje, ele faz política o tempo todo e percebeu que o senador Valadares tentou atrair mais pra perto dele o senador Amorim, o afastando de André. Mas é um problema deles. Eles que resolvam quem será o candidato. Eu diria que hoje o pré-candidato com certeza da oposição seria Amorim. Ele tem a sensação que já foi cobrado pra isso. Ele já andou colocando o que deseja. E mais recentemente, o senador teria manifestado interesse que tivesse uma chapa formada com ele para governador e com Valadares Filho vice. Esse é um problema que terá que ser resolvido pelo senador Valadares. Não sei como isso vai ser resolvido, mas não é problema meu, já que, recentemente, o senador Valadares deu uma declaração dizendo que tomou nojo de vice. Se tomou nojo não vai querer ver o filho dele como candidato a vice.

Valadares teria coragem de disputar o governo?

Eu acho até que ele teria coragem. O que ele não tem mesmo é a confiança do bloco para ser candidato a governador. Entre a coragem e a confiança ele acaba ficando sozinho. É preciso que se tenha confiança do bloco. Quando se coloca candidato é do princípio que ele será vitorioso e eu creio que o bloco não tem confiança em Valadares. Ele, hoje, precisa ouvir André e Eduardo para se posicionar. Se ele quiser sair candidato a senador pelo se partido ele sai, se quiser sair a governo também. Mas o que se percebe é que o bloco da oposição não tem a mesma unidade que temos hoje na situação.

Eduardo Amorim, ao lançar uma pré-candidatura sem o respaldo de Valadares, mostra isso?

Exatamente. No bloco da situação sentamos e discutimos a possibilidade de colocar meu nome. No segundo momento, vamos discutir o fechamento parcial da chapa majoritária, porque geralmente a indicação do vice é quase aos 45 do segundo tempo, mas, se houver entendimento, pode até acontecer antes. Eu participei de dois processos eleitorais e fui escolhido vice-governador. Isso aconteceu no momento final das discussões. A gente sente que aquilo que se deseja no bloco da oposição já houve por parte do senador Valadares: o filho dele será candidato a deputado federal e não vice. Enquanto eles batem cabeça lá, a gente vai resolvendo nossa vida.

E o eleitor enxerga isso?

Estamos vivendo um momento de frieza por parte do eleitorado em função de tudo que está acontecendo no país hoje. Fica difícil acordar o eleitorado para se interessar. Vivemos uma crise ética, moral, política, econômica, financeira, o que faz com que o eleitor fique sem interesse no processo. Mas isso vai mudando à medida que o processo vai afunilando. Sem a política, não vamos ter a garantia da democracia. De qualquer maneira, a população vai chegar num determinado momento que, seja lá como for, vai ter que eleger um governador, um presidente da República, deputado estadual, federal e senador. Se escolher o melhor vai contribuir com o processo. Não adianta votar em branco ou nulo porque alguém vai se eleger de todo jeito. No momento próprio, os nomes serão postos, os eleitores terão a oportunidade de conhecer a vida de cada um para que possa escolher seu governante.

O senhor descreve uma oposição caótica. O eleitor percebe isso?

Acaba percebendo, principalmente nesse momento. Aqueles que têm mais condições de formar opinião estão acompanhando. Mais a frente acaba envolvendo a população como um todo e acaba tendo a eleição pela paixão. O eleitor acaba participando do processo da eleição porque se envolveu com um candidato, principalmente no interior. A população percebe e isso não é bom. Acho que por isso o senador Amorim retomou o processo no sentido de se apresentar como líder, porque a sensação que tive foi que, num determinado momento, quem estava querendo se apresentar como líder do bloco de oposição era o senador Valadares. Assim que André percebeu chamou o feito à ordem, colocou cada um no seu devido lugar.

André chamou o feito à ordem? Então, o líder da oposição é André?

Quando eu digo chamou o feito a ordem significa que talvez ele tenha dito que, se Valadares se sente líder, Amorim e ele também são, e não é hora de ninguém querer falar por ninguém. Cada um defenda sua tese e não queira colocar a cereja no bolo. Temos pessoas importantes e verdadeiros líderes no nosso agrupamento, mas temos um líder maior que coordena nosso processo. Tanto é que foi o governador Jackson Barreto que convocou essa reunião para discutir o nome. Hoje não está claro na oposição quem vai chamar para a discussão do bloco. Se é André, Valadares ou Amorim. Amorim voltou a se posicionar como o possível candidato, mas 40 dias atrás ninguém acreditava mais nem na possibilidade dele ser candidato. Pensou na possibilidade de André e Valadares ser. Eu não identifico hoje quem é o líder maior da oposição para chamar o feito à ordem. Quando André sentiu esse vácuo percebeu que não era assim, pois Valadares estava chegando agora. Eu espero que eles demorem muito tempo para encontrar solução de quem será o líder deles.

Para colocar sua pré-candidatura na rua com chances reais de vitória é preciso antes dar uma arrumada no governo?

Não dá pra dizer que esse governo não tem o que mostrar. A gente vai ter que fazer uma campanha mostrando que esse governo é diferente dos demais porque estamos vivendo um momento diferente no Brasil. Nunca um país viveu uma crise tão grande como estamos vivendo. Jackson Barreto assumiu o governo num momento totalmente diferente. Isso é notório e não é apenas Sergipe que está sofrendo com isso. É o país. O reflexo vem para os estados, e ainda mais um estado como Sergipe, que depende muito da arrecadação do governo federal. As portas se fecharam, arrecadação caiu. Num determinado momento teve um aumento já arrecadação do ICMS por conta da arrecadação da economia. Nunca um governador esteve à frente de Sergipe com tanta dificuldade como Jackson está. Mesmo assim têm obras. É só percorrer o interior do estado. Vamos ter muitas obras inauguradas nos próximos seis meses para mostrar que temos outra realidade. A termelétrica foi uma luta dos demais governos, mas colocamos empenho e dedicação. Uma obra de R$ 5 bilhões que vai ser um divisor de águas em Sergipe. A gente correu atrás. Têm coisas que a gente procura avançar, mas não consegue porque a economia não ajuda.

E essa “reforma política”?

Parte do que aprovou agora não vai ser nem utilizado agora. Reforma política é extremamente importante e quando alguém quer tratar com seriedade e responsabilidade não pode fazer ao apagar das luzes do período eleitoral. Tinha um ano antes, mas decidiram na última semana. Isso é para se fazer no início do governo discutindo com os partidos para que se faça do tamanho que tem que ser feito. Estamos fazendo remendos a cada eleição. Eu não acreditava que teríamos reforma e pra mim nada aconteceu porque o que está posto nada preenche os anseios da sociedade. Vamos ver o que vai acontecer em 2019 para saber se complementa o que aprovaram agora para colocar em prática a partir de 2020.

O raciocínio que Michel Temer deve terminar o mandato para não sangrar mais o país é correto?

É difícil ter uma opinião formada sobre isso porque fica a dúvida. Estamos a um ano da eleição e será que vale a pena tirar um presidente e colocar outro num modelo imposto pelo Congresso, o mesmo que está em descrédito? Será que não seria melhor as diversas instituições que fiscalizam olhar mais de perto para tentar levar este governo até o final na expectativa de mudança. Se, de repente, faz uma mudança agora e a economia dá uma estagnada de volta a crescer em passos curtos? É uma coisa difícil de ter uma resposta. O foco tem que estar na fiscalização, para que esse presidente que se encontra se sinta cada vez mais vigiado e obrigação de segurar esse barco até a eleição de 2018.

E essa animosidade de Valadares x Belivaldo? Até onde vai? A política é dinâmica. É possível uma aliança no futuro?

Não vai ter outra aliança. Já foi. Eu não tenho o mínimo problema com Valadares. Vez por outra, eu recebo um chute na canela, mas não tenho partido para cima pra revidar. Eu apenas me defendo. Tenho dito que estou onde me colocaram. Ele teve o direito de sair do agrupamento político para buscar o espaço dele. Sempre o respeitei, mas exijo que continue me respeitando porque tivemos uma relação muita de respeito a vida toda. Quer ele siga o caminho dele que eu seguirei o meu. A política é dinâmica, mas diante da circunstância atual eu não vejo nenhuma possibilidade de retorno. No campo pessoal, eu não tenho nada contra a ele. Mas ele pode não ter gostado de minha posição, quando não segui o caminho dele. Mas eu também não gostei quando fui atingido por ele no momento que ele me chamou de covarde e traidor. Mas já perdoei. Tivemos uma boa convivência enquanto convivemos politicamente. Vou continuar respeitando o senador como cidadão, homem, político. O que importa é que ele continue contribuindo por Sergipe, que lute para melhorar Sergipe e o Brasil. Da minha parte, tudo que ele fizer por Sergipe eu vou estar elogiando. Não vou perder tempo para bater boca com ninguém, muito menos com o senador Valadares. Ele pode ficar tranquilo cuidando da vida dele. Quanto mais ele fizer por Sergipe o estado vai agradecer.

Modificado em 15/10/2017 09:23

Universo Político: