Leio no site Uol que o ex-presidente Lula, referindo-se à Lava Jato, teria dito, no último sábado, dia 26, em João Pessoa, que “nenhum canalha” teve a coragem de dizer que existe alguma coisa errada em sua vida. O discurso foi feito em praça pública – e Lula ainda teria desafiado Ministério Público, Polícia Federal e os cambaus a apresentarem provas que ele ganhou um só centavo de forma ilegal. Recorro aos botões: um exemplo de coragem e cidadania ou uma atitude irresponsável que não pode ficar impune?
Evidente que estamos no Brasil onde o efeito surpresa, quando o assunto é política, se torna mais difícil que encontrar cabelo em ovo. Mas, ainda assim, a suposta declaração atribuída a Lula não pode ser mais uma jogada ao vento e cair no esquecimento cúmplice.
Mesmo no Brasil, um ex-presidente condenado, em primeira instância, em um dos vários processos dos quais se tornou réu, a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro se referir a autoridades como “canalhas” é algo grave.
O ônus da prova cabe a quem acusa, evidente. O Lula precisa provar o que diz. Se ele se excedeu ao extremo, se adjetivou de forma tão violenta e criminosa pessoas idôneas precisa responder a um novo processo. Desta vez por calúnia e difamação.
Cabe uma ação por danos morais. E, neste caso, o Poder Judiciário precisaria atuar de forma pedagógica. Já pensou se virar moda? Qualquer condenado sair por aí com a língua afiada a desmoralizar promotores, polícia, juízes? Nem Lula e nem qualquer outra pessoa está acima da lei.
Todavia, se Lula apresentar provas capazes de sustentar o adjetivo pesado do qual fez uso, se provar que, de fato, os membros da Lava Jato são “canalhas”, que ele, Lula, está sendo vítima de uma armação criminosa ímpar na história do Brasil, estaremos perdidos de vez. Poderemos jogar a toalha. Só a volta de Jesus para consertar o Brasil.
Como acreditar num país cujas autoridades responsáveis pela justiça, encarregadas de restabelecer a ordem, arruar a casa, impedir que o erro prospere não passam de canalhas?
Aos menos atentos, segundo o dicionário, canalha é infame, vil, abjeto, velhaco… No popular: um aproveitador, um mau caráter, um pilantra, um sacana, um fuleiro… Dá para imaginar o que significa Lula ou qualquer um usar este vocábulo para se referir a autoridades pagas com suado dinheiro do contribuinte para varrer a corrupção, mandando atores para a cadeia?
Modificado em 28/08/2017 17:45