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Jackson Barreto é refém de Rogério Carvalho

Entendimento é do ex-petista Samarone. “A saúde começou a derrocada em janeiro de 2000, quando Déda nomeou Rogério secretário”

Samarone: Rogério tem que pedir perdão à sociedade

Por Joedson Telles

O ex-vereador por Aracaju pelo Partido dos Trabalhadores e, de longe, o mais polêmico gestor que já passou pela SMTT da capital, isso na gestão do comunista Edvaldo Nogueira, o médico sanitarista Antonio Samarone, hoje, disputa uma vaga na Câmara Federal pelo PPS, na coligação que tem como candidato a governador o senador Eduardo Amorim (PSC). Do alto da experiência de quem viveu anos e anos no agrupamento do governador Jackson Barreto, Samarone diz nesta entrevista, entre outras coisas, que numa eventual reeleição, Jackson Barreto não teria como governar sem a forte influência do deputado federal Rogério Carvalho na saúde. Na sua ótica, Rogério Carvalho destruiu a saúde pública e, hoje, Jackson é refém do petista. Samarone diz ainda que o PT do saudoso Marcelo Déda acabou e que o PT de hoje é o das páginas policiais. Está na penitenciária. E enxerga em Marina Silva a bóia de salvação do brasileiro. “Passaram 12 anos governando o país. É hora de ter humildade e passar o bastão à frente. A democracia vive de alternância de poder”, diz. A entrevista:

O que o levou a pleitear uma vaga na Câmara Federal em 2014?

Há 40 anos estou na vida pública em Sergipe, desde o movimento estudantil. Ninguém nunca ouviu falar de eu ter me envolvido em nenhuma malandragem. Tenho uma ficha 100% limpa. Amadureci, adquiri experiência ao longo desse tempo. Eu me perguntei: por que eu vou me negar a oferecer meu nome como opção? Mesmo sabendo que eu concorro numa faixa desigual. A eleição é uma faixa muito influenciável pelo poder econômico. Todos nós sabemos disso. Eu pelo menos tenho a tranquilidade de que as pessoas depois não vão poder dizer que não votou em alguém decente porque não tinha. Tem, e não é sou eu, não. Tem mais gente decente. Essa história que em política todo mundo é malandro é bom para quem é malandro, mas eu confesso que qualquer pessoa minimamente isenta sabe que tem gente decente em todos os partidos e em todas as posições.

O fato de estar, hoje, no grupo do candidato Eduardo Amorim, sendo oriundo até pouco tempo atrás do agrupamento do candidato Jackson Barreto dificulta ou ajuda na sua missão nestas eleições?

Na verdade, o grupo e a linha política que eu defendo são os mesmos. Quem mudou foi o PT. O PT que eu pertenci, que é o de Marcelo Déda, acabou. O PT hoje está nas páginas policiais. O PT claro que fez algo de bom, mas fez muita porcaria. A minha geração é a mesma de Marina, de Erondina, de várias pessoas de bem que não se conformam com os caminhos que o PT assumiu. Acho que Jackson Barreto carrega um caixão de chumbo. Você pode observar isso no Brasil inteiro. Essa subida de Marina não se dá ao acaso. É uma reação da sociedade ao que está posto. O PT diz hoje que eleger Marina faz medo. Acho que Jackson quando misturou a história dele com essa história saiu perdendo. No caso de PT de Sergipe ainda é mais grave que o nacional, porque a direção do PT em Sergipe é fruto de punhalada que foi dada em Marcelo Déda. Ninguém é criança. Eliane Aquino tentou ser senadora e foi esmagada. Foi com Marcelo Déda ainda vivo, não foi depois de morto. Os herdeiros desse projeto do PT não me representam. Jackson Barreto assumiu a continuidade desse projeto, esquecendo rapidamente que, quando o governador Marcelo Déda adoeceu, o natural era que Jackson assumisse, mas ele não assumiu. Foi nomeado um triunvirato e Jackson Barreto, mesmo constitucionalmente sendo o sucessor, não assumiu. Mesma coisa que aconteceu quando Costa e Silva adoeceu e o vice era Pedro Aleixo. Para Pedro Aleixo não assumir convocou um triunvirato de generais. Como dizia o velho Marx, a história se repete, a primeira como tragédia e a segunda como farsa. Eu não me sinto com nenhuma incoerência. Estou no meu caminho, fazendo o que sempre acreditei, lutando por Marina por acreditar que ela é uma volta ao PT que eu ajudei a criar, e não ao PT que está na penitenciária, que está envolvido com a Petrobras. Esse eu não reconheço e acho que, para o bem do Brasil, nesse momento é fundamental essa mudança. O PT não tem condições políticas de continuar governando o país. Se por acaso Dilma se eleger, para Dilma continuar fazendo uma política de distribuição sem crescimento econômico, ela vai marchar para a dicotomia, para transformar a sociedade de um lado e do outro. Ela vai dividir o Brasil. Ela vai ter as pessoas que são beneficiadas por distribuição e os outros que serão taxados de inimigos. É a lógica do Chavismo. Só se mantêm no poder com o crescimento do jeito que está se for por vias ou da manifestação populista ou do autoritarismo. Como eu não quero isso para o país e nem quero uma política recessiva e que tire o pobre que está na universidade estudando, eu acho que Marina não trará o retrocesso e fará uma faxina, uma limpeza no poder. Acho até que nós deveríamos fazer como a China, onde ninguém passa mais que oito anos no poder para não viciar. O poder apresenta privilégios, vantagens, mimos, e que leva as pessoas com tendências a personalidades fracas a serem arrogantes, se acharem donos. Eu acho que Marina acertou quando disse que não que o segundo mandato, que história de reeleição é um absurdo para o país, e acho que deputado e vereador não deveria ter mais de dois mandatos porque se não a gente não controla, fica a sociedade pagando imposto para uma casta viver como hoje vive. Por isso que eu me sinto bem participando da política e não vejo nenhuma contradição em participar. Eu não mudei. Quem mudou foi o PT.

As críticas as quais assistimos na campanha de Jackson Barreto contra a oposição têm legitimidade, já que ele, Jackson, é o governo?

Fica parecendo que a oposição é Jackson e o governo é Eduardo Amorim. O programa está sendo feito dessa maneira. Na última pesquisa Jackson está na frente. O que eu avalio é que no Brasil inteiro quem se aliou ao PT está perdendo. O publicitário de Dilma está partindo com uma agressividade para cima de Marina que se fosse em outro momento o PT ia virar. Não vai virar porque a sociedade não quer. O candidato do PT tem 5% em São Paulo, 9% no Rio de Janeiro, 12% na Bahia. Em Pernambuco ele apóia o Armando Monteiro e já reverteu. Se você observar, o candidato ao Senado do PT em Sergipe, (ele não fala o nome Rogério Carvalho) não tem um cabo eleitoral, um vereador, um suplente de vereador em Sergipe inteiro que não foi “convencido” em apoiar o candidato a senador e ele não sobe porque há uma resistência, a tensão ao pessoal do PT. Acabou a farra. Passaram 12 anos governando o país. É hora de ter humildade e passar o bastão à frente. A democracia vive de alternância de poder. Eu que vou votar em Marina faço uma seguinte alerta: nós temos que reagir a essa campanha sórdida de satanizar Marina. Até ontem ela era a menina dos olhos de Lula e hoje é o demônio? Já compararam até a Jânio Quadros. Vamos procurar deputados que apóiam as políticas de mudanças de Marina se não ela vai ficar refém do Congresso. Observem em Sergipe que têm partidos com duas cabeças. Que Pelo dia finge que apóia Marina e pela noite está no palanque de Dilma. Sergipe é pequeno. Não dá para fazer esse jogo. Tenha paciência. Até contradição tem limite. No segundo turno, que vai apoiar Marina e quem vai apoiar Dilma? Com certeza quem vai apoiar Marina é Eduardo Amorim. Nós que votamos em Marina politicamente temos que reforçar a campanha de Eduardo Amorim porque o outro palanque vai estar com Dilma. O papel que o PSB vem desempenhando aqui em Sergipe é ruim para Marina porque confunde o eleitor. Está de dia nas ruas defendo Marina e de noite está no palanque defendendo Dilma. Não muda nem de camisa entre uma atitude em outra. Não dá para apoiar Marina só porque ela tem simpatia. É bom para eu eleger e ter voto meu deputado eu colar a candidatura. Pensar que as pessoas não entendem isso é brincadeira. Até ontem odiava Eduardo Campos. Hoje Marina virou, para fazer propaganda na televisão e para colar com as candidaturas que interessam na proporcional. De noite está no palanque defendendo um senador do PT? Eu queria explicação. Como eu defendo um senador do PT que vai ser contra Marina e defendo Marina? Aí é uma contradição insolúvel. As pessoas se sentem no direito de fazer isso porque acham que a população é despolitizada e acham que não vão chamar atenção. Marina dará outro rumo ao país. O PT fez uma inclusão social pelo consumo, que não é sustentável. Inclusão social pelo consumo só foi possível porque estava um período de vaca gorda onde o país exportou nos últimos 10 anos US$ 1 trilhão somente a China comprando em commodities agrícolas ou em minérios, quando o mundo parou de comprar na velocidade que o Brasil vendia começou a ver que nossa economia era um gigante de pés de barro. Nós só perdemos em crescimento para El Salvador. Todos os países da América Latina crescem mais que o Brasil. O PT falhou nisso. Ficou no poder pelo poder. Neste PT eu não tenho o menor remorso de dizer chega, acabou.

Mas Jackson no governo tem ou não legitimidade para atacar o seu grupo?

A história de Jackson é de altos e baixos. Quando ele foi prefeito de Aracaju pela primeira vez inverteu as prioridades e governou com a periferia. É o mesmo Jackson que poucos anos depois se aliou com Albano do Prado Franco. É o mesmo Jackson que como parlamentar resistiu à ditadura, e o mesmo Jackson que pediu o terceiro mandato para Lula, que o próprio Lula e o PT ficaram envergonhados. Se dependesse da vontade de Jackson como parlamentar o Brasil tinha entrado no Chavismo há oito. Ele apresentou um Projeto de Lei pedindo. Eu tenho respeito por Jackson Barreto, é uma figura pública que prestou serviço a Sergipe, mas é uma figura cheia de contradições, e no momento a aliança dele com o PT impede que ele seja independente. Ele não tem grupo para governar. Jackson governador tem condições de tirar a saúde do comando de Rogério Carvalho? Ele assumiu a saúde em 2000 com Marcelo Déda e manda e desmanda há 14 anos. Ele montou uma estrutura que pode até mudar o nome, mas a rédea está no comando dele. Para o bem ou para o mal, ele transformou a saúde no que está aí. Ele não pode negar a paternidade. Isso é um projeto dele, da safra dele, pensado e executado por ele e por pessoas que ele colocou. Jackson Barreto terá força para enfrentar a questão das Fundações da Saúde, uma questão complexa? Como resolver 90 clínicas da saúde da família com 10% ocupada e as prefeituras sem saber o que fazer com as clínicas, porque se desmanchou a rede básica e se fez cínica em beira de estrada. São grandes, enormes, dá até pena de entrar porque é uma cadeira aqui e outra daqui a 10 metros. São salas enormes vazias. Como botar a rede básica para funcionar? O município tinha cinco povoados com unidade de saúde no programa de saúde da família. Ele pega as cinco e concentra em beira de estrada. Aí se alguém tiver algum problema tem que se dirigir até lá quando antes tinha a unidade no povoado dele. Na hora que montou vários hospitais em Sergipe estava resolvido o funcionamento. Não funcionava bem e nem mal. O Amparo de Maria em Estância funciona razoavelmente há 120 anos. É um hospital de 170 leitos, um dos melhores do estado. Construíram um hospital a 100 metros de distância. Estância passou a ter dois hospitais de grande porte para o interior, quando era razoável que se colocasse o Amparo de Maria para funcionar. Socorro tinha um hospital que era uma PPP. Fez um hospital público. Tem funcionando 38 leitos dos quais 18 são para maternidade. Só tem 20 leitos para uma cidade com 200 mil habitantes. São Cristóvão tinha um hospital e hoje se transformou numa UPA. Rogério é o nosso Osvaldo Cruz. É um absurdo ele renegar a paternidade disso. O projeto dele. Ele foi quem contratou os assessores do PT que vieram de fora e vieram para cá e colocaram esse modelo. É um modelo esquizofrênico, louco, é um modelo que não tem nada a ver com o SUS nacional. A pretensão de inventar um contrato de gestão, 3 fundações, levou a insolvência. Ninguém administra o que está aí. Na prefeitura (de Aracaju), a demora dos secretários (nos cargos) é de três e quatro meses. Botaram agora um economista que não sabe do que se trata e ele vai ficar rodando em torno dele mesmo porque não sabe o buraco que está pisando. Isso é o modelo que está errado. Se gasta em Sergipe 70% dos recursos comprando serviço ao setor privado, ou através da filantropia disfarçada, que é o Hospital de Cirurgia, ou comprando direto. Se abandonou a rede básica. Os agentes comunitários de saúde foram abandonados enquanto projeto. Ninguém resolveu isso pelo caminho que Sergipe foi. Ele sabia disso. Ele é sanitarista. Até dois anos atrás, o discurso era para ter calma que o Governo de Sergipe investiu R$300 milhões em reforma, construção e vai dar certo. Não dá certo e aí fala que não é dele. Pertence a um projeto que tem a assinatura, a execução, a elaboração exclusiva, porque a equipe dele era de balançar a cabeça, ninguém enfrentava, não ouve debate, mas se desse certo ele seria um gênio da humanidade, o nosso Carlos Chagas. Mas deu errado, e muito errado, e nisso o povo se ferrou. Hoje, o indivíduo fratura um braço e passa dois meses com o braço quebrado em casa esperando uma cirurgia. É perverso o sistema. Quem precisa não tem o serviço. Acho até muito mais digno que ele interferisse.

“A lama chegou até o pescoço”

Então, Jackson é refém de Rogério Carvalho? E isso que o senhor quer dizer?

Eu acho que do PT. Na hora que Jackson casou o projeto dele como um apêndice do projeto do PT. Em 2006, o número de homicídios em Sergipe era 420. Em 2012, que é o último dado que tem, foi para 870. Eu ouvir dizer que no IML tem uma quantidade enorme. No IDEB Sergipe é o 22º estado do país. Nós retroagimos a nossa nota. Na saúde é esse desastre que estamos apontando objetivamente. Segurança Pública pode pegar qualquer indicador. Qual foi o grande feito desse governo na área de Segurança Pública? Foi dispensar o ICMS e taxa de habilitação das motos até 150 cilindradas. O nome disso é estimular a mortalidade. Na hora que eu tenho uma Shineray sem nenhuma notificação e que eu libero a 125 e a 150 para fazer média com as pessoas, que média? Não tem uma linha de ônibus licitada no estado de Sergipe. São 75 municípios com linhas sem licitação. Chegamos ao fundo do poço. Na hora que eu sou candidato e falo que estou dando continuidade a esse projeto, tenha paciência. Está errado.

Mas, segundo as pesquisas, o eleitor não enxerga como o senhor. Ou podemos colocar essas pesquisas em xeque?

Jackson Barreto é o político mais presente em Sergipe. Nos últimos 50 anos, ele foi para tudo que é procissão, festa. Talvez ele seja conhecido por todos os sergipanos. Ele tem ação de presença. Essa ação de presença dele e o nome dele, que é forte, dão essa força a ele – mesmo ele carregando essa herança horrorosa. Mesmo ele sendo ladeado por um partido que perdeu o rumo da história. Com certeza, Eduardo Amorim não conseguiu passar este fundo do poço à sociedade com clareza. Acho que os programas são meio água com açúcar, educados demais no mal sentido, que não vai para o embate. O que eu estou me posicionando é politicamente. Politicamente, o lado que aponta a mudança é o lado de Marina Silva, de derrotar o PT, de avançar preservando coisas boas que foram feitas no governo do PT, mas, principalmente, passando um rodo no lamaçal que estamos vendo. Antes era invenção, a imprensa. A lama chegou até o pescoço. Se é Veja (revista) porque não processa a Veja? Politicamente, a minha posição eu tenho a maior tranquilidade. A minha biografia e a minha história está preservada. Eu estou sendo coerente com minha consciência. Como graças a Deus posso viver sem precisar ficar pendurado em cargo público, sou aposentado pelo Ministério do Trabalho em concurso público, tenho minha vida resolvida, não dependo de penduricalho de emprego público e tenho liberdade de dizer e fazer o que eu penso. Isso em Sergipe tem me causado muito prejuízo. As pessoas falam da conveniência, para eu ter calma. Eu estou completando 60 anos. Não tenho mais idade para conveniência nem para meio termo. Estou na idade para defender o que eu penso, o que eu acredito.

Aliados pediram mais dureza nos programas do candidato Eduardo Amorim, mas há uma faixa do eleitorado que não gosta desse tipo de campanha…

Na verdade, o que está precisando não é grito. Na reunião, as pessoas gritaram muito. Não se ganha no grito. O que precisa é de alguém que pense política. É sentar e definir rumos. Dificilmente se definem rumos em assembleia geral. Assembleia geral é como se fosse uma emulação. Falta uma reflexão, falta modéstia das pessoas acharem que sabem de tudo. É preciso ouvir mais. Não é ouvir Samarone, não: é ouvir várias pessoas. Muita gente pensa política em Sergipe. Não precisa gritar, precisa conversar, discutir… Eu fico de fora observando. Nunca fui chamado para dar opinião. A primeira vez que estou falando com um órgão da imprensa é com o Universo Político. Também não significa dizer que o que eu estou pensando está certo. Nem todo mundo tem oportunidade de falar.

O trivial passou a ser importar marqueteiros a peso de ouro sem nem conhecer a realidade de Sergipe…

É. Com um pacote geral. É como se fosse vender sabão, ou detergente ou qualquer produto. A lógica é a mesma. Essa eleição está mostrando que isso não é verdade. Marina usa na televisão de uma lógica totalmente diferente a que o marqueteiro manda. Não tem filme, não tem riso, não tem gracinha, ela está falando. A população é como se tivesse descoberto que está sendo iludida com criança no braço ou jovem rindo na televisão, fazendo como se fosse um musical. A mesma coisa em Sergipe. Em Sergipe, em 150 anos de eleição o governo só perdeu duas. Historicamente, Sergipe vota no governo seja qual for o governo. Só deu oposição em Sergipe quando Seixas Dórea se candidatou, em 1962, e com Marcelo Déda. Fora disso, a situação sempre ganhou. Várias eleições de Sergipe havia acordões onde toda a elite disputava numa chapa só. Não havia nem eleição. Era só homologação, era eleição de chapa única. Ninguém se surpreenda com o governo. O governo em Sergipe e no Brasil é forte. Enquanto tiver com a caneta cheia e com o diário oficial saindo toda segunda-feira o governo é forte.

Voltando à saúde, falam que Rogério Carvalho tem influência até na Prefeitura de Aracaju, mesmo tendo como prefeito o desafeto João Alves. O senhor acredita?

Aí é que tem. Quanto tempo tem que o governo João Alves está na prefeitura? Eles não entenderam absolutamente nada de como funciona a saúde. Estão perdidos. Não é à toa que já são quatro secretários. Aí aponta que a saída é terceirizar, contratar OS, é dar uma solução que (Paulo) Maluf deu na década de 80 (São Paulo) e não deu certo. O remédio é outro. Eu não sei qual a proposta de saúde do governo João Alves. Parece-me não ter. A educação tinha proposta, está andando. Se perguntar se está bem ou mal, eu não posso avaliar. Mas na saúde, qual a proposta? Ligue para o atual secretário de saúde e pergunte a ele qual o projeto para tirar a saúde do buraco. Não tem, ele não é mágico. Ele, na verdade, ouviu falar em saúde uma ou duas vezes quando foi ao médico. Ele pode ser um cara preparado, o melhor gestor, mas o diagnóstico da saúde ele não tem. Não é culpa dele. Não tem porque não tem mesmo. Alvimar (o ex-secretário Alvimar Rodrigues de Moura) é uma pessoa preparada, foi gestor do Hospital Primavera, da Unimed, conhece , administrou o setor privado, em quatro meses pediu para sair. Doutor Lúcio entrou com Leane, que é antiga na saúde, capacitada. Goretti Reis entende, o vice dela era Petrônio. O SUS não tem na prefeitura. O Estado de Sergipe teve um orçamento em 2014 de R$ 1,1 bilhão para a saúde. Quanto desse dinheiro é destinado à rede básica, ao atendimento primário, a medicina preventiva? Zero. Esse dinheiro é torrado na rede hospitalar, basicamente nas fundações. Uma pessoa para ser diretor de um almoxarifado de um hospital tipo o HUSE tem que ser alguém muito experiente. Para comprar um produto hospitalar ou conhece todas as especificações ou compra errado, é enrolado na licitação. Só faz isso um gestor profissionalizado, competente, com anos de formação. Quando você bota um cabo eleitoral nisso quebra a cara. Têm funções públicas que não presta botar cabo eleitoral. Se vota entra, se não vota não entra. Isso é um absurdo. A pessoa que está lá não sabe nem para onde vai, não sabe separar as coisas. Foi feita uma reforma no Hospital João Alves Filho e foram gastos R$ 39 milhões. Depois da reforma, o hospital melhorou? Não porque o modelo está errado. Aí você pode me perguntar: porque eu não mudei quando fui secretário? Primeiro, porque não tinha força nenhuma. Eu fui secretário numa época que a prefeitura tinha uma dependência do governo do PT e não podíamos falar nada contra o PT. João tem força, mas força para quê? Tem o Ministério da Saúde que é quem manda. Tem o Estado também. O SAMU deveria ser financiado em Estado, município e União. O Estado nunca botou um centavo quando o SAMU era municipal. Agora passou tudo para o Estado. Não é fácil administrar. Talvez o prefeito João Alves vá pagar um preço muito alto porque na campanha ele garantiu que a saúde com ele ia melhorar. Ele pode fazer como Déda fez, que viu que não tinha jeito, e dizer que agora é ele o secretário. Quando botou a pasta no colo que foi olhar já desistiu de ser o secretário. Nesse sentido, uma mudança na saúde tem que ter humildade, e não é chegar desmanchando porque pode ser pior. Eu não vou chegar, agora, e desmanchar as fundações, como alguém fala demagogicamente. Têm 15 mil funcionários. Vai fazer o que com essas pessoas, colocar na rua? A Fundação Hospitalar de Sergipe tem o corpo burocrático que ocupa sete andares do edifício Maria Feliciana. Esse mesmo corpo já existe na secretaria. O hospital de Lagarto tem 160 leitos, funcionam 40. O hospital de Itabaiana tem 170, funcionam 50. Tudo funcionando meia boca porque não tem dinheiro para custeio. O hospital de Lagarto custou para equipar e construir R$ 27 milhões e gasta por mês R$ 2,9 milhões. Eu estou dando um dado que pode estar atualizado. A cada 10 meses se gasta para manter o hospital o equivalente a sua construção. Percebeu que não adianta construir sem ter como pagar? Vai construir o Hospital do Câncer com 170 leitos. Um paciente custa por dia em média R$ 1.900. Eu sou a favor do Hospital do Câncer desde que entregue ao INCA. Construir para entregar ao SUS de Sergipe ou as Fundações? O que o Governo Federal passa para a oncologia já passa hoje para manter o serviço de oncologia do Hospital João Alves e o Hospital de Cirurgia e para manter as várias casas que atendem paciente com câncer.

O candidato Jackson Barreto tem colocado que a saúde em Sergipe foi destruída quando Eduardo Amorim foi secretário no governo João Alves. É por aí?

A saúde em Sergipe começou a derrocada em janeiro de 2000, quando Marcelo Déda colocou o pé na prefeitura e nomeou Rogério Carvalho secretário. Neste dia, ele municipalizou. O governador era Albano que passou tudo para ele. Quando o PT entrou na prefeitura existiam 12 equipes de PSF. A prefeitura tinha um orçamento anual insignificante. Subiu como um foguete. Fez rede, SAMU, foi um sucesso. Só que o gerente percebeu que era lento porque estava perto da eleição acontecer. Aí inventou de fazer dois hospitais. Inventou de fazer um concurso que contratou uma quantidade enorme de gente. Foi um negócio gigantesco sem pensar como ia pagar a conta porque tinha pressa que a eleição ia acontecer. Quando chegou ao Estado, o mesmo gestor que tinha deixado o monstro na prefeitura, aí que foi loucura. Ele planejou 120 clínicas de saúde da família, fez 96, assumiu 17 hospitais, inclusive como o de São Cristóvão que era de uma fundação e depois não souberam o que fazer, o de Socorro. Ele não reabriu os hospitais, ele investiu em obras. Passaram a funcionar precariamente, tanto que o número de leito em Sergipe por habitante é um dos menores do país. O hospital de Socorro tem espaço físico para 150 leitos com tranquilidade e tem 38 funcionando. Investiu em monumentos físicos. Se faz sem planejamento e sem custeio está prestando um desserviço à população. Fez as fundações que é uma loucura, depois inventou de fazer bases do SAMU em 75 municípios. Só o delírio eleitoral leva a fazer isso. Recuou, só que o mal feito já estava feito. Seja Jackson Barreto ou Eduardo Amorim não governarão com esse modelo. A minha pergunta é: se for Jackson terá força para peitar isso? Se ele ganhar, eu espero que ele tenha porque eu não quero que as pessoas continuem sendo maltratadas. Não há saída nisso, eu acho que doutor Rogério Carvalho é um técnico preparado, o que é mais grave, porque ele sabe o que está fazendo. Quando Cristo morrendo pediu ao pai que perdoasse porque eles não sabiam o que estavam fazendo, Rogério não está nesse grupo. Vai ser perdoado pela misericórdia de Deus, mas ele sabe o que esta fazendo.

Mesmo que o deputado Rogério Carvalho perca a eleição, num eventual governo Jackson Barreto, ele seria um nome forte, continuaria tendo influência?

Fortíssimo. Ele é presidente do PT. Numa suposta eleição de Dilma, Jackson é refém. É a política que anda assim. Hoje 80% dos quadros da saúde têm orientação dele, em termos de Estado e município. Doutor João Alves não conseguiu nomear sem o NUCAR. O NUCAR é o núcleo mais importante da secretaria que compra serviços terceirizados. São 14 anos de um grupo só mandando. O pessoal antigo já está se aposentando, dos novos, ninguém que não rezava na cartilha teve espaço e mesmo assim ele teve que trazer muita gente de fora. A gente esquece que até um dia desse o secretário de Saúde do Estado era importado, doutor Antônio Carlos. É porque a memória das pessoas não acompanha isso tudo, e depois o debate vira um bate boca. As pessoas não trazem dados para o debate. Uma análise que objetivamente doutor Rogério Carvalho como sanitarista fará. Eu acho que está na hora ele pedi perdão à sociedade. Ele é uma pessoa que ainda pode ser útil a vida pública de Sergipe. Pedir perdão, dizer que errou e consertar o que está errado. Não tem problema nenhum nisso. Tenho certeza que grande parte da sociedade ia aplaudir. Quando ele criou a Fundação Hospitalar criou um monstro que o Estado não sabe o que fazer. Os médicos ainda têm um agravante porque o governo Dilma em um determinado momento quis responsabilizar os médicos pelo desastre que eles estavam seguindo nacionalmente. Na hora que no ano passado com as pessoas ela trouxe os médicos de Cuba, a população que estava no interior sem médico e ela esqueceu toda crise da saúde. A proposta do Mais Médicos, dentro da programa do PSF, é um caminho interessante, mas não como exceção. Colocou um médico para atender uma unha encravada, uma dor de barriga, mais se a pessoa tiver derrame, um infarto, um câncer, os médicos de Cuba vão resolver? A tecnologia hoje dispõe de muito mais recurso, ou isso só era para a classe média e para os ricos? Eu sou a favor que faça a medicina preventiva lá de baixo, mas como uma etapa da prevenção. Mas se mesmo prevenindo teve um derrame, tem que ter acesso ao atendimento que o rico vai ter, igual a quem pode pagar um plano de saúde. Hoje para câncer tem remédio que não dá efeito colateral nenhum. Aí vai continuar dando ao povo aquele remédio que cai a orelha, caem os cabelos, os dentes, que o cara sofre porque o outro é mais caro?

Modificado em 15/09/2014 10:17

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