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“Há anos que a prevenção deixou de ser o foco das atividades da SSP”

Por Joedson Telles

Com mais de 30 anos de serviços prestados à Polícia Militar de Sergipe, Henrique Alves Rocha, o coronel Rocha, afirma, nesta entrevista que concedeu ao Universo, que o sistema de segurança pública de Sergipe falha da prevenção à persecução penal. Em outras palavras: a criminalidade que toma conta de Sergipe, sobretudo nos últimos anos, não pode ser atribuída apenas ao policiamento ostensivo feito, principalmente, pela Polícia Militar. “Há anos que a prevenção deixou de ser o foco das atividades da SSP. Enquanto o poder público entender que a violência é apenas problema de polícia não conseguiremos trazer os números da violência para patamares aceitáveis”, assegura, explicando que, do mesmo jeito, o bandido não perdeu o respeito apenas pelas polícias. “A mídia mostra quase que diariamente criminosos ameaçando juízes em audiência, invasão a fóruns de Justiça, homicídios praticados em praças públicas à luz do dia, filho matando o pai e enterrando no quintal de casa etc. O desrespeito às instituições é quase uma constante em nosso país. A nossa mais alta corte de Justiça passa por situações delicadas de credibilidade no momento, sem falar de outros órgãos que tem a obrigação constitucional de fiscalização e controle, e eventualmente tem seus membros envolvidos em ato de corrupção”, observa coronel Rocha, que se coloca como pré-candidato a deputado federal. “O momento é oportuno para mudanças: muitos políticos envolvidos em corrupção, sem compromisso com o cidadão, sem compromisso com a causa pública.” A entrevista:

Uma pré-candidatura sua nas eleições 2018 é um projeto real ou especulação?

Real. Essa decisão, embora recente, foi tomada de forma bastante consciente e com muita reflexão, envolvendo familiares e amigos. O momento é bastante oportuno para mudanças no quadro político atual. Muitos políticos envolvidos em corrupção, sem compromisso com o cidadão, sem compromisso com a causa pública. Políticos que nunca trabalharam na vida, fazem da política uma profissão, quando na realidade deveria ser um sacerdócio e com data de validade. Não é admissível nos dias atuais que tenhamos políticos há 3, 4  e às vezes  mais mandatos, e ainda outros com mandatos “herdados” de pais. O momento é de mudança ampla, geral e irrestrita dos que ocupam hoje os parlamentos, estaduais e nacional, e os executivos. Precisamos de nomes, pessoas e projetos novos. O congresso precisa de políticos sem as amarras das empresas que corrompem a ideologia e financiam campanhas políticas.  A minha história de lutas, as funções que desempenhei durante quase 30 anos de serviço público, me habilitam a ser pré-candidato a deputado federal. Meu nome é novo e representa uma ruptura com a situação política atual, onde políticos que estão no poder, há décadas, lançam seus filhos como se fossem herdeiros de propriedade privada. O congresso necessita de profissionais em segurança pública, para qualificar o debate sobre o controle da violência.

E o que Sergipe e, principalmente, a Polícia Militar podem esperar deste seu projeto?

Compromisso e zelo com a coisa pública. Mas antes mesmo da coisa pública, Sergipe ganha um profissional que se preocupa com as pessoas. As pessoas hoje não estão nem em segundo plano, basta ver a quantidade de dinheiro público desviado que deveriam ser empregados na saúde, educação e segurança dos cidadãos. Não só a Polícia Militar ganha, mas todos os profissionais envolvidos direta ou indiretamente com a segurança pública, a exemplo de policiais federais, rodoviários federais, policiais civis, bombeiros militares, guardas municipais, agentes de transito, agentes de segurança de medidas sócio educativas, agentes prisionais, vigilantes, bombeiros civis, enfim, todos que dedicam diuturnamente sua vida a sociedade. Precisamos fortalecer todos estes profissionais e seus respectivos serviços, para que estes serviços prestados ao cidadão sejam de melhor qualidade.

O senhor já definiu qual será o partido político? O que pesou ou pesará para esta escolha?

Com certeza a decisão pelo partido é de fundamental importância nesse momento em que a sociedade tem acesso as “caixas pretas” dos partidos políticos. Essa decisão, essa escolha, recairá, claro, num partido que não esteja envolvido em atos de corrupção e nem que permita políticos envolvidos em atos de corrupção em seus quadros. Existem alguns partidos que atuam de forma correta, dentre os quais a Rede. Como militar da ativa não posso me filiar a partido político, todavia, existe uma relação em construção permanente com a Rede Sustentabilidade.

 Como avalia o atual momento de Sergipe?

Com muita preocupação, pois o descaso de anos com o nosso amado Sergipe, levou a administração a sequer conseguir pagar os salários de seus servidores em dia, sem falar no vilipêndio que nossa previdência estadual sofreu durante anos de descaso. Se não tem recursos sequer para o pagamento de servidores, imagine para investimento em áreas essenciais a exemplo da saúde, educação e segurança? Isso diminui consideravelmente a qualidade de vida de nossos cidadãos, fazendo com que índices outrora em patamares aceitáveis, a exemplo da violência, cheguem em níveis insuportáveis de convivência.

Dos supostos pré-candidatos a governador de Sergipe quais não teriam o seu apoio e por quê?

O cenário político ainda está indefinido, mesmo que a tão almejada reforma eleitoral não tenha se confirmado, não se pode afirmar muita coisa. O certo é que não apoio e nem apoiarei nenhum cidadão que responda por improbidade administrativa, corrupção, crimes contra a pessoa, crimes contra o patrimônio etc, nem quem represente a velha política, a política dos conchavos, do coronelismo que arrebanha pseudo lideres políticos, com intenções pouco republicanas. Acredito que estas eleições serão um marco na nossa jovem democracia, nós cidadão brasileiros insatisfeitos com a situação que ora se apresenta, iremos fazer uma renovação nos legislativos e executivos de nosso país.

Como o senhor imagina a primeira eleição na era Lava Jato?

Uma eleição onde, ao contrário do que se prega, (penso eu) a abstenção será bem menor que nas eleições municipais de 2016, em virtude do amadurecimento político de nosso povo. Estamos cansados dos mesmos, e para mudar essa situação iremos renovar nossos políticos. A operação Lava Jato mostrou aos brasileiros o quão danosa e corrupta é a relação de (alguns) nossos governantes com nossos legisladores e empresários. O cidadão de bem não suporta mais pagar tanto imposto para serem desviados para contas no exterior, ou apartamentos, ou malas. Essa operação executada por policiais federais de fibra, de membros do nosso MP, do judiciário, fez com que seja imperiosa a participação maciça nas próximas eleições para tirar os corruptos do poder.

Há quem defenda que os militares tomem o poder para resolver os problemas do Brasil, sobretudo a corrupção. Como o senhor avalia a ideia de uma intervenção militar?

Não avalio. Sequer imagino. E tenho plena convicção que os militares não pensam nisso. Toda mudança deve vir através do voto, para isso as eleições são periódicas no Brasil. Precisamos participar mais das decisões políticas de nosso país, acompanhar o mandato de nossos políticos, verificar se eles cumprem o prometido. A participação popular é fundamental para inibir atos de corrupção. Não podemos apenas eleger e deixar os políticos soltos por quatro anos. Temos que cobrar prestação de contas.

O senhor é um homem vencedor na carreira que abraçou dentro da Polícia Militar. Chegar ao posto de coronel, suponho, é um sonho de qualquer militar, mas nem todos alcançam… Vale à pena entrar na política tendo consciência da fama que os políticos têm?

Sim, alcancei o topo de minha carreira. Possuo mais de 32 anos de contribuição a previdência, dos quais quase 30 anos ao serviço público. Mais que vencedor na minha profissão, sou um homem feliz, com uma esposa maravilhosa, dois filhos lindos que me dão muito orgulho. Muitos amigos e parentes que me respeitam, me amam e zelam por mim. E por ser tão respeitado, sou pré-candidato certo de que saberei corresponder à altura do esperado. Vale a pena, sim. Acredito que o momento seja propício a renovação dos que aí estão. Precisamos de homens e mulheres de bem, que cumpram os compromissos assumidos na campanha, que sejam íntegros, honestos. Cidadãos que tenham história de vida, e não que ingressem na política apenas por ser filho ou filha de cicrano ou beltrano. A política deve ser um meio de contribuir com a cidadania, e não um fim. Embora acredite que a política seja um trabalho digno e honesto para aqueles com compromisso com a cidadania, devemos suspeitar de pessoas que vivam exclusivamente da política, sem nunca sequer ter trabalhado em outra atividade.

Como avalia a política de Segurança Pública do atual governo?

Só posso avaliar o que existe. E efetivamente nós não possuímos uma política pública de governo para a área de segurança. Não se admite mais a construção de políticas públicas onde apenas a burocracia estatal seja a protagonista do processo de construção e execução. A construção de uma política pública se inicia quando se constrói um plano de governo para uma eleição. Uma vez no governo inicia-se essa discussão com participação de todos os atores envolvidos, no caso da segurança pública, esses atores são quase todos os seguimentos da sociedade, MP, judiciário, defensoria, legislativo, executivo, OAB, municípios, sociedade civil organizada, enfim, essa construção é coletiva, a exemplo de planos como o “Pacto pela Vida” de Pernambuco. Não me recordo de ter participado de algo do gênero nos últimos anos. O que temos são profissionais dedicados e abnegados nas instituições que promovem a segurança do cidadão sergipano. Temos uma polícia Militar presente em todos os municípios, mesmo com insuficientes efetivos e condições de trabalho limitadas. Da mesma forma temos uma Polícia Civil dando o máximo com condições de trabalho e recursos limitados. A perícia e o IML da mesma forma. O Bombeiro Militar tem um efetivo muito pequeno para o tamanho e as necessidades de nossos cidadãos. Não existem políticas integradas entre as pastas envolvidas na segurança do cidadão. O sistema prisional do Estado ainda se sustenta pela dedicação de seus agentes. Não temos políticas públicas de estado voltadas à prevenção ao uso da droga, não existem ações integradas. Clínica pública para tratamento de viciados não existe. Para se ter uma ideia, em minha área específica, Polícia Militar, nosso efetivo existente está muito próximo do que tínhamos em meados da década de 90, e, de lá pra cá, a população do nosso estado pulou de aproximadamente um milhão e meio para dois milhões de habitantes, sem falar no crescimento industrial, comercial etc.

A criminalidade mostra que há uma flagrante falha no policiamento ostensivo. Isso se deve a falta de planejamento, de efetivo ou o problema é outro, na sua ótica?

Não concordo com essa afirmação, “a falha não é no policiamento ostensivo”…  A PM consegue excelentes resultados mesmo com tantas dificuldades. A falha é no sistema de segurança pública como um todo, desde a prevenção até a persecução penal. Há anos que a prevenção deixou de ser o foco das atividades da SSP. Enquanto o poder público entender que a violência é apenas problema de polícia não conseguiremos trazer os números da violência para patamares aceitáveis. A prevenção primária se faz no município, com ruas limpas, acessíveis e bem iluminadas, por exemplo. Com uma educação de qualidade, com professores valorizados, onde nossos adolescentes e crianças frequentem as escolas, e que estas disponham de segurança para profissionais, alunos e familiares. A impunidade é fator motivador de reincidência criminal. Recordemos que há alguns dias, a PM prendeu um criminoso com 50 quilos de maconha, vou repetir, 50 quilos de maconha, e foi solto na audiência de custódia no dia seguinte, dias depois foi novamente preso pela prática de crime similar. Não vamos atribuir apenas às leis, os graves problemas de segurança, afinal a lei penal é a mesma para o país inteiro e temos estados em melhores situações que Sergipe. As instituições policiais fazem o planejamento para as ações, talvez a falta de políticas públicas integradas para a área de segurança seja um dos maiores entraves.

De uns tempos para cá, é comum a frase “o bandido não tem medo mais da polícia”. O senhor sente isso ou é exagero afirmar que o respeito acabou?

Não, não é exagero afirmar isso. Mas o respeito acabou não foi apenas em relação às polícias. A mídia mostra quase que diariamente criminosos ameaçando juízes em audiência, invasão a fóruns de Justiça, homicídios praticados em praças públicas à luz do dia, filho matando o pai e enterrando no quintal de casa etc. O desrespeito às instituições é quase uma constante em nosso país. A nossa mais alta corte de Justiça passa por situações delicadas de credibilidade no momento, sem falar de outros órgãos que tem a obrigação constitucional de fiscalização e controle, e eventualmente tem seus membros envolvidos em ato de corrupção.

Modificado em 24/09/2017 08:04

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