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Com força financeira, Luciano da Celi comanda políticos em Sergipe, diz Alessandro Vieira

“Não gosta de independentes, que não rezam na cartilha dele”, afirma o senador

Por Joedson Telles

O senador Alessandro Vieira (Rede) afirma com todas as letras, nesta entrevista que concedeu ao Universo, na semana passada, que o empresário Luciano Barreto, o Luciano da Celi, comanda políticos em Sergipe valendo-se da força do dinheiro. “Luciano da Celi comanda esse grupo político aí por conta da força financeira que tem, por conta do volume de obras que ele assume há muitos anos. Não é o tipo de pessoa que goste de ter políticos independentes, gente que não precise rezar na cartilha dele”, diz Alessandro. “Eu tenho dificuldade em aceitar a ideia das pessoas doarem milhões e milhões livremente por conta do amor que tem a uma causa. Eles querem estar perto da tomada de decisão, de quem assina o contrato, e a gente tem que quebrar esse ciclo”. A entrevista:

 

O senhor é um técnico. Por mais que a Secretaria de Segurança Pública tenha o seu lado político, um mandato é um universo diferente. O que mais lhe surpreendeu – positiva e negativamente -, depois da sua eleição para o Senado?

Não tive surpresas nesse início de trajetória. Tudo segue mais ou menos dentro daquilo que um estudo prévio do ambiente indicava. A gente está só comprovando que tem muita gente boa, mas muita gente boa desarticulada. Que tem muita gente que é ruim mesmo, que não tem qualidade técnica ou não tem interesse público de verdade, e a gente tem que fazer um processo de negociação para que as coisas possam mudar de verdade. A gente não vai mudar nada na canetada, nem no grito, nem no discurso inflamado. A gente vai mudar as coisas negociando e aprovando novas formas de se fazer política, de mostrar que dá para fazer um bom trabalho e ganhar uma eleição sem estar na dependência de prefeitura e governo, por exemplo. A gente provou isso já na campanha. Nossa campanha foi totalmente diferente de qualquer coisa que Sergipe já viu – seja no tamanho da votação, no custo, na forma como foi feita. Uma campanha pé no chão, conversando com as pessoas, utilizando os canais livres da imprensa (o Universo Político mais de uma vez fez entrevistas), rádios comunitárias foram importantes e as redes sociais no complemento. A gente está provando que é diferente agora na montagem do gabinete, da forma de preparar o processo seletivo, mas tem que chegar à próxima etapa, que é ter um exercício de mandato que tenha resultado, traga recursos para Sergipe, aprove legislações que sejam importantes, bloqueie legislações que sejam prejudiciais.

O Ministério da Educação do governo Jair Bolsonaro é uma das preocupações, neste momento?

A gente está muito preocupado com a montagem do Ministério da Educação. É um ministério importantíssimo e está sendo montado com uma base essencialmente ideológica. Isso é profundamente negativo. Tanto faz ser ideologia de esquerda, de direita ou de centro. A montagem deveria ser técnica, buscando resultados e baseada nos melhores projetos do Brasil e do mundo. Mas não é o caminho que aparentemente o ministro está trilhando. Vamos estar fiscalizando. Essa soma de coisas concretas é que vai garantir ao cidadão o sentimento de que vale à pena investir na mudança – e que ele não desperdiçou o voto. Que, em 2020, valerá à pena apostar em mais pessoas, que venham sem rabo preso, sem campanhas milionárias, sem estar penduradas em centenas de cargos comissionados no Estado. Não é um desafio pequeno, mas acho que vamos conseguir vencer, sim, especialmente porque estamos conseguindo reunir um grupo bom de pessoas no parlamento e na sociedade. O que eu mais escuto dos velhos políticos é que foi uma votação atípica que não vai se repetir. Eu não tenho nenhuma vaidade de repetir uma votação minha, pessoal, porque eu nunca tive projeto pessoal de ser político, mas eu tenho um desejo muito grande, e acho que é muito importante: garantir que outras pessoas possam chegar ao sucesso eleitoral sem ter que fazer grandes compromissos, sem ter que negociar com partido de aluguel para ter mais tempo na TV, sem ter que buscar financiamento em caixa 2 para conseguir fazer frente à demanda de material. E acredito que a gente vai conseguir provar isso não só em Sergipe, mas com pessoas que estamos acompanhando em outros estados, que já estão fazendo projetos parecidos, como, por exemplo, criando escolas de lideranças, parecido com o projeto nacional, que foi o Renova, mas num universo menor de estado, garantindo a pessoas comuns formação adequada para que possam participar de um processo político em condições de competitividade.

Muitas pessoas apostaram no seu nome por conta da credibilidade enquanto delegado de polícia. O senhor acredita, então, que o mesmo pode acontecer com novos quadros?

As pesquisas qualitativas feitas nacionalmente, ao longo do ano passado, apontavam que mais de 80% da população queria mudança baseada em alguns critérios. A questão da segurança pública era importante, combate à corrupção, honestidade, competência técnica, coragem para enfrentar os problemas. Eu sabia desde o início que a gente tinha um perfil que coincidia com esse desejo da população. O trabalho que foi feito na campanha garantiu que eu pudesse chegar à feira livre de Porto da Folha e uma senhora de mais de 50 anos de idade tirasse do bolso um smartphone para mostrar um vídeo meu gravado na varanda do meu apartamento. Esses vídeos tinham visualizações imensas e levaram a proposta para mais perto do cidadão. É uma fórmula que deu certo e deve ser repetida, mas parte de uma coisa que talvez seja o mais importante e os profissionais não conseguiram entender: tem que ser de verdade. Inventar um personagem de mentira custa muito caro e as pessoas não estão mais engolindo. Inventar o grande tocador de obras e recursos, que todo mundo sabe que tem problemas na Justiça, inventar o personagem populista, clássico de Jackson Barreto, e vê que como gestor foi um desastre. As pessoas estão cada vez mais informadas. A missão é encontrar pessoas qualificadas e transformar essas pessoas em alternativa para o cidadão em todo estado. É uma missão que, durante a campanha, eu já avisava que faria, que, em 2020, teríamos candidatos em todos os municípios, boas bancadas de vereadores, porque já foi mostrado como um bom trabalho de um vereador faz diferença, como o de Kitty e Américo aqui em Aracaju. O trabalho de Iran também, por exemplo. É esse elenco de parlamentares independentes que colaboram com a formação da população e na gestão pública. As pessoas rejeitaram figuras carimbadas. Todo mundo sabia que elas não representavam a mudança, e a população escolheu o nome que entendeu que seria a mudança. Agora, o desafio é mostrar que essa mudança é de verdade e é positiva. Eu tenho certeza que vamos conseguir vencer isso.

Como o senhor avalia esse discurso que Sergipe perdeu a oportunidade de ter André Moura no Senado, para continuar trazendo recursos, e que Alessandro Vieira pode não seguir a mesma linha?

É um discurso de gente que não coloca princípios e moral acima das coisas. Se for pra colocar dinheiro acima das coisas seria melhor escolher um banqueiro. A gente poderia entregar a chave do Estado para Luciano da Celi – e aí ele seria governador, senador, deputado, prefeito e iria gerenciar tudo. Essa forma de fazer política de André não me representa, e a população foi para as urnas e mostrou que não representa também a imensa maioria dos sergipanos. A votação que eu tive só em Aracaju foi praticamente a votação que André teve no estado inteiro, gastando milhões e milhões de reais. A população não quer mais isso. Esse discurso só faz sentido para os assessores, para os puxa sacos, para quem ganha algum tipo de vantagem em contratos. Essas pessoas devem estar sofridas porque não vão ter essa condição com esse senador. Eu já tive contato com o ministro Onyx Lorenzoni porque temos demandas urgentes de Sergipe, como a questão da Fafen. A gente precisa garantir que de alguma forma aquele sistema econômico sobreviva, se não vamos estar condenando o Vale do Cotinguiba, mas toda conversa já parte de um pré-ângulo que é bem objetivo. Não tenho interesse nenhum em ocupação de cargo no Executivo. Nada disso. Tenho interesse que Sergipe receba nomeações de pessoas honestas e capacitadas tecnicamente, e que seja respeitado o ponto de vista das demandas reais. O Estado está quebrado, e não quebrou por conta de crise nenhuma, mas dá incompetência desse grupo que vem desde Marcelo Déda e agora está na mão de Belivaldo Chagas. Um grupo que não mostrou nenhum tipo de competência gerencial ao longo dos anos. A esperança é que Belivaldo consiga melhorar este quadro. Tivemos uma reunião muito positiva. Ele manifestou o interesse de fazer efetivamente o que o Estado precisa em termos de cortes. A gente vai fiscalizar e ajudar naquilo que for possível. Mas eu não tenho qualquer expectativa de fazer uma linha populista quase carnavalesca, como alguns fazem, e nem linha oportunista atrás do dinheiro e contrato, imaginando que essa é a solução. Você nunca vai ouvir falar que eu tive algum tipo de vantagem política alicerçada em uma figura como Eduardo Cunha ou como Renan Calheiros, ou tantos outros que tenham um currículo criminal parecido. O meu caminho é diferente e vamos provar que esse caminho vai trazer de verdade recursos para Sergipe.

O senhor se referiu ao empresário Luciano Barreto, da Celi. Ele tem influência sobre políticos de Sergipe?

Isso é histórico. Luciano da Celi comanda esse grupo político aí por conta da força financeira que tem, por conta do volume de obras que ele assume há muitos anos. Você, que é um jornalista de longa experiência, trabalhou em veículos importantes – e sempre fez uma linha independente -, sabe exatamente o tamanho da força que Luciano tem em Sergipe. Não é o tipo de pessoa que goste de ter políticos independentes, gente que não precise rezar na cartilha dele e que vai buscar ao máximo garantir que Sergipe tenha as coisas dentro da lei. Esse tipo de figura, que se repete pelo Brasil a fora, do grande empreiteiro, do dono da empresa de lixo, das figuras que têm um grande poder econômico, têm que perder sua importância. Devem ser importantes no mundo empresarial, mas, no mundo político. Temos que trazer cada vez mais pessoas independentes. Só assim vamos conseguir fazer a mudança que o Brasil precisa. Do jeito que está, não vai porque vai estar preocupado em agradar o patrão, que de alguma forma doou milhões para a campanha e que gera uma dependência. Eu tenho dificuldade em aceitar a ideia das pessoas doarem milhões e milhões livremente por conta do amor que tem a uma causa. Eles querem estar perto da tomada de decisão, de quem assina o contrato, e a gente tem que quebrar esse ciclo. Mas eu tenho certeza que a gente está dando passos nesse sentido de quebrar esse ciclo.

Então, o senhor tem consciência que sua eleição desagradou pessoas como o empresário Luciano da Celi?

Claro. As manifestações foram todas nesse sentido. O Google está aí e você vai encontrar todas as declarações das figuras poderosas do estado. É só uma constatação que a gente está no caminho certo. O cidadão quer mudança, vai ter mudança. Mudança impõe esforço, sacrifício, fiscalização, muita disciplina para que a gente possa garantir que Sergipe tenha o que não tem há muitos anos. Representantes em Brasília que efetivamente façam a diferença, e fazer a diferença não é conchavos dentro do gabinete com gente que é processada pela Justiça. Diferença é na tribuna, nos projetos, na representatividade. Tem muita gente qualificada. No setor de tecnologia, Sergipe é excelente. Temos grandes profissionais em algumas áreas. O potencial econômico de Sergipe é muito grande, mas ele está abandonado porque vivemos gestões puramente políticas, nos últimos 18 anos. De Déda pra cá, só tivemos políticos profissionais. João Alves, embora fosse um político com condutas que eu não recomendo, tinha um caráter de gestor. De lá pra cá, as gestões foram puramente políticas. No município de Aracaju, esse caso do não pagamento dos músicos é um nível de desrespeito ao cidadão que demonstra caráter. Você não vai encontrar justificativa no mundo para pagar um cachê de mais de R$ 100 mil a quem tem muito dinheiro e se recusar sequer a atender o sanfoneiro que tocou na noite de São João. Essas coisas geraram uma exaustão do modelo político brasileiro e sergipano, motivo pelo qual foi gerada essa mudança. Mostrar que essa mudança funciona e que valeu à pena é uma missão que a gente vai fazer um esforço gigantesco para cumprir no nível da esperança e da vontade das pessoas.

Um dos principais gargalos de Sergipe, dito pelo próprio governador, é a questão econômica. O senhor vê perspectivas de melhorar em curto prazo ou devemos esperar piorar?

 A expectativa é dentro de uma piora. Foi aprovado um empréstimo que sacrifica a receita dos royalties, o futuro. O governador me disse que precisa de alguma coisa em torno de R$ 500 milhões para pagar as contas desse primeiro semestre. Esse circuito de empréstimos e o desperdício de oportunidades se repetem. Se você tem uma dívida em sua casa, vende um carro, vende algum bem e quita a dívida ou torna a dívida pagável. Em Sergipe, se pega o empréstimo e só faz pagar as dividas do mês porque eles têm uma preocupação muito grande com as eleições. Como Jackson destruiu os fundos previdenciários, aquela destruição vai gerar um prejuízo gigantesco para as futuras gerações e durou dois meses. Se realmente se confirmar R$ 250 milhões de empréstimo, vai durar três meses e o buraco volta a aparecer e não tem de onde tirar. O governador Belivaldo manifestou a compreensão disso. Ele disse que entende que várias oportunidades foram desperdiçadas, como o ingresso dos recursos da repatriação. Era uma receita imprevista. Ela poderia ter sido utilizada para sanear problemas. Foi utilizada para politicagem e pagamento de folha. A folha segue inchada. Têm comissionados demais, distorções para determinadas carreiras e uma gestão muito antiga. É necessário investir em tecnologia e eficiência para reduzir o tamanho e o custo da máquina porque o déficit da previdência é uma coisa que vamos conviver por algum tempo. Não é razoável imaginar que vai se equacionar, tanto na esfera nacional quando na esfera estadual, o problema da previdência em um ano ou dois. É uma questão para duas ou três décadas porque os erros foram muito grandes. É preciso fazer mais ou menos o que Marcelo Déda fez lá atrás, quando separou os fundos e aguardar o tempo para que as coisas se normalizem. Infelizmente, a iniciativa e o investimento feitos lá atrás foram desperdiçados, e cada vez que se joga fora uma oportunidade fica mais difícil. Sergipe, hoje, não tem condições de crédito. A avaliação de crédito de Sergipe é bem negativa. Estados que tinham problemas conseguiram fazer o dever de casa porque os governadores não mostraram preocupação com reeleição, mas em fazer o que é certo. Como Belivaldo não pode ser candidato a reeleição, eu espero que ele cumpra o que prometeu: fazer o que é necessário. Cortar na carne, reduzir despesas, parar de atender pedidos políticos, parar de nomear políticos para cargos técnicos porque o prejuízo é muito grande e depois demora muito tempo para o próximo governador recuperar.

João Eloy é o melhor nome para a Segurança pública? Só tem ele, já que entra governo sai governo e é sempre João Eloy?

João Eloy tem qualidades muito grandes. É um colega delegado, já trabalhei com ele várias vezes. É uma pessoa que cumpri os compromissos que assume, um apaixonado pela segurança pública. Realmente é uma pessoa que veste a camisa de qualquer governante, e por conta, disso, naturalmente, é muito bem quisto tanto faz qual governante seja. Já esteve com Déda, com Jackson, está com Belivaldo, e esteve lá atrás com o próprio João. É um grande profissional da segurança pública, mas não é o único capacitado. A forma de segurança pública voltada exclusivamente para crime de rua já se mostrou insuficiente. É preciso fazer um trabalho de criminalidade de rua, mas também a de colarinho branco porque se não estará fomentando um estado de coisas que destroem as finanças públicas e leva ao caso do Rio de Janeiro. A cada vez que vejo o ex-secretário (José Mariano) Beltrame, do Rio, se referindo como uma referência na área, eu faço uma ressalva muito grande. Durante 10 anos, ele foi secretário – e durante 10 anos o governador roubava enlouquecidamente o estado do Rio de Janeiro. Essa pra mim não é a referência de um grande policial. Um grande policial é aquele que consegue ser efetivo contra qualquer tipo de alvo e não só contra os alvos mais vulneráveis. Eu acredito que João Eloy, ganhando o respaldo adequado, tem condições de fazer um trabalho muito bom. Os últimos indicadores são de redução de homicídios. Se o Estado continuar fazendo as nomeações necessárias e continuar garantindo o orçamento necessário à SSP, os resultados vão acontecer porque temos tecnicamente uma das melhores polícias do Brasil, tanto a Militar quanto a Civil. Falta fomentar a integração, um governador que cobre resultado. Marcelo Déda não fez isso, Jackson não fez e eu espero que Belivaldo faça. Coronel Marconi e Katharina são pessoas que têm capacidade técnica para ocupar os cargos que estão. Não são os únicos, mas também têm.

Qual o tamanho do prejuízo para a sociedade quando o então governador Jackson Barreto mexeu na equipe policial naquele momento quando o senhor trabalhava com a delegada Daniele Garcia e outros policiais justamente contra crimes do colarinho branco?

Eu confio e gosto muito da equipe que hoje está lá, comandada pela delegada Taís, mas saiu de áreas totalmente diversas. Saíram (os policiais) da Delegacia da Mulher para trabalhar com lavagem de dinheiro. Naturalmente, se retarda as investigações. A expectativa é que, agora, já mais adaptadas e com muito mais experiência consigam se retomar a dinâmica e a velocidade que tínhamos no passado, porque era uma equipe muito experiente. As pequenas deficiências que existiam a gente sanou no início da gestão. Levamos o delegado Gabriel Nogueira para lá, um especialista na área de inteligência, o que acelerou muito a parte de análise de dados e fortaleceu a equipe. Foi um trabalho muito bem feito. Motivo de grande orgulho para minha carreira. Teve uma interrupção que gera um atraso, mas a gente espera que esse tempo seja recuperado porque um valor que a gente tinha presente era a transparência. O cidadão precisa saber aquilo que os gestores fazem. Na minha compreensão é preciso ter mais transparência.

Como o senhor avalia o juízo de que houve a mudança na SSP porque a polícia chegou bem perto de quem “não deveria atingir” ou porque atingiu?

Antigamente, você nunca viu na história de Sergipe empreiteiro sendo preso. A gente prendeu o dono da Construtora Cunha. Você nunca viu funcionários públicos sendo afastados, deputado estadual sendo condenado, vereador sendo preso. Isso aconteceu na nossa gestão. Claro que isso gerou um grande desconforto. O governador Jackson Barreto manifestou isso dezenas de vezes, especialmente com a prisão do proprietário da empresa Torre. Se isso foi o caso da mudança, como parece ter sido, só quem pode responder é quem fez. Até hoje não respondeu e o povo cobrou o preço nas urnas. O cidadão não aguenta mais qualquer tipo de desculpa baseada em simpatia e tapinha das costas. As pessoas hoje conseguem fazer as contas básicas. Falta remédio no posto de saúde e tem empresário enriquecendo com distribuidora de remédio. Por que existem sempre contratos emergenciais de coisas que são previsíveis? É previsível a quantidade de medicamento para oncologia, para pediatria, tudo. E os contratos continuam sendo emergenciais. Não existe licitação do transporte público e as mesmas empresas continuam prestando um péssimo serviço e o custo é muito caro. Têm obras públicas, vários cenários de problemas.  A forma que a gente trabalhava deixou claro que a gente não aceitava ingerência política e tem que ser assim. Se não for assim o trabalho foi pela metade e eu não sou de fazer o trabalho pela metade.

Essa experiência que o senhor viveu na SSP garante um olhar especial no exercício do mandato à área policial?

Eu fui o único candidato eleito pelo estado de Sergipe a assinar o compromisso com transparência internacional em defesa das 79 medidas contra a corrupção. São medidas muito amplas que passam pela gestão transparente, mudanças no processo penal, legislação penal propriamente dita. Uma das questões que tenho como mais importante é a criação da força tarefa para trabalhar nos estados e municípios. É muito difícil para a polícia estadual investigar o próprio governo porque geralmente há conflito de interesse. Nem todo mundo vai ter coragem. A gente já tem uma agenda programada com o ministro Sérgio Moro e com um grupo de parlamentares para que a gente possa com o máximo de velocidade aprovar projetos efetivos que fortaleçam e dêem mais independência aos órgãos de controle. É um passo essencial para o Brasil se tornar uma democracia de verdade. Garantir que possa ter as investigações tramitando com transparência. Precisa de processos que garantam direito de defesa, mas que possam ser muito mais rápidos do que são hoje. A gente precisa começar a tirar essas ervas daninhas da política brasileira. Às vezes, o cidadão é condenado múltiplas vezes e continua sendo eleito, fazendo contratos, é novamente denunciado e esse giro vai eternamente. É o foco inicial principal. A gente vai estar trabalhando simultaneamente em várias frentes. Dentro da composição que está sendo articulada no Senado a tendência é que eu ocupe uma cadeira na CCJ, mas a gente está acompanhando também a segurança pública, a proteção da infância, porque ainda pode condenar mais uma geração de brasileiros a um ensino de péssima qualidade, subemprego e desemprego. A gente está tentando montar um time do mais alto nível pra o gabinete e dar o máximo de alcance as nossas ações.

A oposição em Sergipe se fragmentou, sobretudo depois do resultado das eleições 2018. A posição que o senhor ocupa, hoje, no cenário político o credencia a liderar uma oposição. Pensa nisso?

É preciso formar um grupo em cima de uma nova base. Eu tenho escutado crítica em alguns setores da imprensa à expressão independente. Causa-me uma surpresa a crítica porque as pessoas só conseguem conceber a política em poder e gente que quer tomar o poder. É muito anacrônico isso. Contemporâneo são pessoas que querem melhorar a vida do cidadão comum e que vai interagir com o poder da forma necessária. Projetos ruins são combatidos e projetos bons são apoiados. Kitty e Américo mostraram isso com clareza. Iran também. A descrição desses personagens é independente. Eu sei que é muito difícil para quem vive com a cabeça do século passado entender que dá para fazer política sem estar pensando em outro cargo, em próxima eleição. Está pensando efetivamente no bem comum. A gente tem, sim, essa responsabilidade de liderar um grupo, a gente está fazendo isso. Quem estiver esperando receita velha e as coisas que os outros fizeram no passado pode esperar sentado porque não vai acontecer. O que vai acontecer é uma montagem de gente nova nas ideias. Eu tenho recebido quase que diariamente pessoas do interior do estado e da capital, políticos com mandatos, políticos que já estiveram com mandatos. Não tem toma lá dá cá. É a prestação de serviço para a comunidade. Quer seguir esse grupo, seja muito bem vindo. Se não quer, infelizmente, ainda tem espaço para a política velha em vários partidos. É a mudança de paradigma. Como toda mudança, vai gerar o estranhamento. O tempo vai mostrar o caminho necessário.

Conversaria com Valadares Filho?

É muito prematuro pensar em oposição sob o prisma de eleições. Eu estou muito mais preocupado em montar um grupo que consiga representar bem o cidadão. Que consiga, quando chegar um projeto ilegal de aumento ou que vá causar aumento cascata para os servidores, enfrentar isso sem estar preocupado se vai perder CC, se não vai ter recursos para financiar a próxima campanha. A preocupação é muito mais de descobrir e fortalecer figuras independentes. A eleição vai chegar em 2020 e tem muito tempo até lá. Como muita gente importante perdeu a eleição fica parecendo que a gente vai ficar em palanque até 2020. Quem está desempregado e aposentado vá fazer aquilo que desempregado e aposentado fazem.  Vá tomar cafezinho no shopping, procurar um emprego, procurar lazer. Quem está empregado vai ter que trabalhar. Tem um monte de coisa pra fazer. Se preocupar agora com eleição é até um desrespeito ao cidadão. Mais próximo, eu tenho certeza que a gente vai estar com nomes disponíveis, de qualidade para oferecer para todo estado. Agora, o momento é de botar a casa em ordem, ajudar Sergipe a sair desse atoleiro. Sergipe tem o pior quadro do ponto de vista do desemprego da região metropolitana, tem o problema da violência, da saúde. Eu não posso estar pensando em eleição. Quem tem essa visão da política profissional clássica está longe daquilo que eu penso para o Brasil. No momento oportuno, a gente vai conversas com aquelas pessoas que pensam nessa forma de fazer política, desvinculada de cargos, de objetivos financeiros, de questão de dinastias familiares ou corporativas. A gente tem que ter gente que faça um serviço independente. Eu sou contrário à reeleição, vai ser uma promessa que vou cobrar do próprio presidente Bolsonaro. Ele já demonstrou, várias vezes, ser contrário à reeleição e agora os filhos já estão postando a hashtag Bolsonaro 2022. É preciso corrigir esses rumos logo. Distinguir o que é mentira em palanque é o que é verdade. Eu sou contrário à reeleição para que as pessoas possam fazer o que é necessário. Hoje, o cara é eleito já pensando na próxima. Imagine Belivaldo com os problemas que tem hoje se vai administrar o Estado ou cuidar de uma eleição para Prefeitura de Aracaju? Ou de uma eleição dele para o Senado? Tem que acabar isso, e só acaba cortando a reeleição.

O senhor foi incoerente ao apoiar Valadares Filho, no segundo turno?

Eu não me coliguei com Valadares ou com Belivaldo. O que eu fiz foi manifestar voto. Você não pode ter quase meio milhão de votos e se omitir em quem você vai votar. Respeito quem acha que neutralidade é um bom caminho, mas pra mim representação neutra não é representação.  Liderança neutra não é liderança. Eu conversei com os dois, expliquei a Belivaldo com absoluta clareza que tenho pessoalmente muito apreço por ele, mas o grupo que acompanha ele é muito pesado, já tinha conhecimento das articulações para segundo turno que aproximavam personagens de currículo negativo da gestão e eu não podia estar. Não anulei voto porque sou contra e votei em Valadares Filho. Não tenho amizade, ligação nenhuma com Valadares Filho. Não subi em palanque, não fiz campanha, não quero participar de governo, mas eu devia esse esclarecimento ao cidadão e foi o que eu fiz. O que Valadares Filho fez, e foi um direito dele, foi pegar essa declaração e repetir infinitas vezes durante o programa eleitoral. Da mesma forma como foi em relação ao segundo turno em relação à eleição presidencial. A gente vai ter agora a eleição para presidente do Senado. Dá pra chegar lá e não dizer em quem vai votar? Algumas pessoas não gostaram disso porque acharam que prejudicaria Belivaldo. Meu candidato era Dr. Emerson e continuo com a convicção de que era o melhor candidato. Seria um excelente governador. O povo deixou no segundo turno Valadares e Belivaldo. Tinha que escolher entre um dos dois. Para presidente escolheram Haddad e Bolsonaro. Tinha que escolher. Escolhi e expliquei os motivos da escolha. O tempo é a melhor coisa que tem. Fizeram o Fest Verão. Fui para os dias de show, no meio do povo, e não vi ninguém reclamando. As pessoas estão com outro foco.  Quem está muito ligado a esse universo de assessor de imprensa e puxa saco vive 24 horas nesse disse me disse. O eleitor quer saber como vai reduzir a violência, gerar emprego. Sempre vai ser assim, com transparência. Se as pessoas vão gostar ou não, paciência. A eleição do Senado agora é um exemplo. Vários senadores experientes falaram que não manifestasse voto porque depois o cara que você declara o fogo ganha e você pode ser perseguido, não ter acesso a uma comissão importante. Eu já declarei que não voto em Renan Calheiros. Na hora que a gente decidir quem será o candidato que tem condições de ganhar de Renan, eu vou manifestar publicamente o voto. É assim que tem que ser ou então fica muito parecido com as velhas raposas e ninguém merece mais essa turma velha.

E o PPS?

A gente migrou dentro de uma compreensão de que o Rede como partido sem fundo partidário não vai ter viabilidade. Se fosse um projeto individual tanto faz Rede, PPS ou ficar sem partido. O senador continua tendo importância, vai ter oito anos de mandato, continuar tendo seu destaque. Só que não vai conseguir descobrir novas pessoas, não vai conseguir fazer boas campanhas e a renovação não acontece. Fica só no meu nome. Esse foi o grande motivo de sair da Rede e aceitar a proposta do PPS nacional. O PPS propôs mudar de estatuto, de nome, abraçar os movimentos de renovação e essa modernização pareceu bastante importante. Aceitamos a proposta e a partir daí o processo de composição estadual está sendo feito pela própria nacional. O que a gente traçou de princípios e regras é o que estamos conversando. A política nova, sem busca de cargos, sem busca de espaços de retorno financeiro e isso desagrada algumas pessoas que são da velha guarda da política. Essas pessoas vão procurar outros caminhos. Desejo a maior sorte do mundo. O PPS já tem quadros de altíssima qualidade como Welington Mangueira, elegeu dois deputados que tem boas condições. Samuel Carvalho e Dilson são pessoas que têm uma expectativa muito boa. No cenário nacional temos três senadores e dez deputados federais. O grupo praticamente todo foi para o PPS. A gente tem feito essa adaptação sem pressa, sem corre- corre, sem nenhum tipo de caça às bruxas.

Sergipe corre o risco de viver o terror que vive, hoje, o estado do Ceará?

Não. Ali tiveram dois problemas. Primeiro uma política de segurança pública que tem uma forma de atuação menos incisiva que a sergipana, historicamente falando. E uma mudança no sistema penitenciário desvinculada da segurança pública. Endureceu no penitenciário e a segurança continua como era antes. Foi anunciado medidas duríssimas antes de implementar. Esse erro estratégico fez com que o crime se organizasse e tivesse aquela reação, que é terrorista. Ali não é mais crime. Não sei por que ainda não se partiu para fazer um tratamento como deve ser feito. Conhecendo como eu conheço a polícia de Sergipe, pode ter certeza que um movimento como esse não se criaria uma semana. Isso não tem a menor possibilidade de acontecer em Sergipe.

Modificado em 27/01/2019 10:00

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