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“Vou cobrar aquilo que interessa à população de quem for eleito prefeito”, promete Iran Barbosa

Iran: promete manter coerência

Por Joedson Telles

Vereador reeleito, mais uma vez, como o mais votado de Aracaju, o professor Iran Barbosa (PT) ajuíza que a legenda precisa passar por uma discussão profunda. “Eu sou integrante de um grupo dentro do Partido dos Trabalhadores quem vem colocando esses problemas há muito tempo. Éramos e somos minoria dentro desse partido. Com minoria a nossa política sempre foi muito rechaçada, mas a história está mostrando que as críticas que fazíamos tinham fundamento”, disse Iran Barbosa. O vereador diz ainda, nesta entrevista, que seu mandato vai fazer a disputa, no tocante à eleição para prefeito de Aracaju, mas que vai estar atento à execução do programa de projeto do próximo prefeito, Edvaldo Nogueira (PC do B) ou Valadares Filho (PSB). “Vou cobrar os compromissos e, principalmente, aquilo que interessa à população de quem for eleito prefeito”, diz.

Esperava mais uma vez ser o candidato a vereador mais votado?

Eu acho que eleição sempre é uma caixa de surpresas. Temos que ficar muito atentos. Há um procedimento no nosso país de massacre do significado da importância da política como instrumento de prestação de serviço coletivo, e isso tem gerado uma série de problemas e um afastamento da população, principalmente a parte da população mais crítica que não quer ver do político práticas nocivas ao coletivo, ao patrimônio público. Isso me preocupava. Quanto mais pessoas de bem, que têm compromisso com a política séria, se afastam da política mais a parcela de políticos e eleitores que fazem da política um mercado se apropriam. Não podemos deixar esse campo aberto. A população precisa entender que o caminho não é abandonar a política como instrumento de trabalho coletivo: o caminho é insistir em qualificar os representantes que estão participando do processo de disputa eleitoral. Temos que estar atentos porque uma eleição é uma caixa de surpresas para aqueles que não tratam a eleição como contabilidade, de quantos votos comprou e quantos têm na urna. Pra quem tem voto de opinião, como eu tenho, é sempre uma surpresa porque a opinião é produzida ao longo do processo. Claro que eu confiava muito no trabalho que temos desempenhado, no diálogo que temos mantido sempre com a população, colocando e praticando os princípios que defendemos, e os projetos que temos apresentados na Casa, o enfrentamento que nosso mandato fez ao projeto conservador e de abandono da cidade de Aracaju.

E isso acaba sendo entendido por uma fatia do eleitorado…

Tem uma parcela do eleitorado que é crítica e que não abandona o barco porque está no momento em que a política tem tido um tratamento por parte de uma parcela dos políticos desrespeitosos.  Essas pessoas abraçam a política para tentar extirpar do cenário político os quadros que têm contribuído para transformar a política num negócio. Eu quero agradecer a aceitação dos princípios que tenho defendido e do método e da forma que tenho adotado de fazer política, que leva sério a coisa pública, a utilização de recursos públicos que é  destinado para manter o funcionamento de um mandato, porque não há como ter um trabalho parlamentar sem estrutura. Essa estrutura tem que servir ao trabalho parlamentar. Não ao parlamentar ou amigo do parlamentar. Eu faço uma leitura do processo eleitoral que a população está atenta.

A população está mais consciente? Acompanha mais o processo político?

Está avaliando. Diferente do que tem sido construído pela grande mídia nacional, a população não está com ideia de que a corrupção, os problemas da política são exclusivos de uma legenda partidária, porque se fosse isso a população não teria eleito o vereador mais votado da capital um petista o que está sendo construído nos setores conservadores e da grande imprensa que o único responsável pela corrupção  do nosso país é o PT. Isso não é verdade. Quem conhece a história do nosso país sabe que isso não é verdadeiro. Temos que reconhecer que houve e há equívocos, sim, também dentro do PT, mas não temos que ter uma leitura seletiva que os problemas do Brasil nasceram e morrem com o PT. Primeiro que o PT não vai morrer. A população está dando um castigo.

Um castigo?

Os gregos políticos inventaram uma figura política, que é o ostracismo. Toda vez que um político atentava contra os princípios democráticos dentro da estrutura da política grega, os gregos, especialmente os atenienses, afastavam aquela pessoa por um período de 10 anos e ela ficava impedida de participar da política naquele período.  A população está tentando extirpar da vida política. A estrutura legal que temos no país não ajuda a banir a corrupção de vez. Um país que não aposta em educação, em cultura, em formação livre, é um país que, dificilmente, consegue politizar a população de forma que ela possa avançar. Tem setores da população que estão usando os instrumentos disponíveis para se informar, montar sua opinião e estabelecer sua lógica de participação de vida cidadão na vida política.

A sua votação não é um caso isolado dentro deste PT? Não tem como dizemos na política “luz própria”? O partido não elegeu ninguém mais para a Câmara de Aracaju…

Eu acho que tem um olhar da população para o trabalho que é desenvolvido. Fica difícil para eu fazer uma avaliação do meu próprio trabalho, mas eu acredito que o trabalho que temos desenvolvido, não só na política, mas como militante da causa social, sindical é levado em conta (pelo eleitor). Eu vim desses setores e criamos laços, e não rompemos esses laços. Não tivemos uma atuação nos mandatos que exerci que tivesse rompido com os princípios e a verdade que eu sempre defendi e acredito que são existentes. Uma coisa que me ajuda muito é eu manter a autonomia e independência nos mandatos que exerci. Eu fui vereador, quando Déda era prefeito do meu partido, fui deputado federal, quando o presidente era do meu partido, e agora estou vereador no momento que o Democratas está à frente da Prefeitura. Seja naquelas oportunidades ou agora, eu procurei e procuro manter a linha crítica. Eu acredito que, mesmo quando você apoiou a candidatura que venceu a eleição, isso não tira de você a prerrogativa de no exercício do mandato parlamentar fazer a crítica e discordar, mesmo daquele que pertence ao seu partido.

A crítica se justifica em prol do coletivo?

A crítica quando tem por mérito buscar as soluções para os problemas precisa ser entendida como algo positivo, seja em que condição for. Eu me lembro de ocasiões aqui na Câmara, que Déda sendo prefeito, o líder do governo dele teve que buscar voto em outros espaços porque o meu não teria porque eu discordava do conteúdo do projeto. Algumas vezes tive que votar contra os projetos do Governo Federal, que era presidido pelo presidente Lula (quando deputado federal). O governo nem sempre é a expressão da vontade do partido que representa porque é construído por um governo de alianças. Eu acho que isso ajuda no papel de entendimento da população. Eu defendi a oposição durante quatro anos, mas eu não fiz ataques violentos, desqualificados a administração municipal. As críticas que fiz foram pautadas em cima de problemas efetivos e reais que foram encontrados e ao fazer a crítica eu apontava as soluções. A tarefa de administrá-los é de quem foi eleito para administrar, mas o papel do parlamentar é exatamente fazer isso, e ter o reconhecimento da população pelo trabalho que realizamos é estimulador. Já pensou depois de toda essa luta agente não ser reconhecido? Eu agradeço o reconhecimento, acho que quanto mais cresce a aceitação população com esse projeto mais aumenta a minha responsabilidade com a sociedade, com a busca das soluções de problemas.

Esta visão política, no entanto, está mais para exceção que regra…

Muitas pessoas entram na política achando que é o caminho do enriquecimento fácil e rápido. Eu nunca pensei nisso. Sei que muitos fazem isso e eu não posso servir a esse pensamento. A política não pode ser uma disputa do poder pelo poder. A política tem que ser o debate de teses para encontrar os caminhos para a solução dos problemas coletivos. É isso que penso, que faço, e acho que a população tem referendado. Na primeira vez que fui candidato a vereador eu fui o segundo mais dotado, na segunda vez fui primeiro mais votado e agora de novo. O caminho está acertado, mesmo com eventuais equívocos.

E o segundo turno para prefeito de Aracaju? Sua expectativa?

Vou para ruas disputar o projeto de cidade. O segundo turno tem que ficar muito claro para quem está disputando. E vai um recado para ambos os lados: no primeiro turno, eu já estava fazendo a disputa em cima de um projeto que acredito que é o que precisamos nesse momento para Aracaju. Eu vou para as ruas disputar segundo turno com alguns pontos que orientam minha conduta. Não podemos apoiar nenhum projeto que seja reforço ao que está em execução no Governo Federal, que é avanço sobre direito dos trabalhadores, que reforce o governo Temer na medida em que ele propõe medidas de alteração ao processo pedagógico que vai contra tudo aquilo que eu sempre defendi na educação. Eu não posso apoiar um tipo de projeto para Aracaju que reforce essa visão golpista. Não queremos nenhum projeto que ataque os direitos dos servidores municipais. Já disse a Edvaldo Nogueira que foi muito ruim quando ele foi prefeito não ter garantido o piso salarial do magistério. Ele precisa afirmar para o magistério seu compromisso com a manutenção dessa política. Os servidores públicos requerem e têm direito a uma política de pontualidade de pagamento dos salários. É importante dizer que vou defender um projeto que seja completamente diferente desse que está em execução nesse momento em Aracaju, que abandonou a cidade, fez atrasar ainda mais os problemas que já tínhamos. Sempre tivemos e sempre vamos ter problemas, mas essa gestão aprofundou os problemas já existentes e criou novos. Não queremos esse modelo de gestão que abandona a cidade em nome de um projeto eleitoral. Apostamos na vitória do nosso projeto cidade, mas fazemos isso com princípios, em cima de programas e sempre afirmando que meu mandato vai fazer a disputa, mas que vai estar atento à execução do programa de projeto de qualquer um que seja o prefeito eleito. Vou estar cobrando os compromissos e, principalmente, aquilo que interessa à população de quem for eleito.

A Câmara de Aracaju não terá mais os embates entre Iran x Agamenon. As urnas mostraram que estava certo?

Eu fiz, quando iniciamos a legislatura e podemos observar qual era o caminho seguido pelo vereador (Agamenon) aqui na Casa, que era de muita agressividade, desrespeito frontal a tudo, inclusive à Constituição que ele jurou respeitar e não respeitava, ao rito que a Casa exige porque queiramos ou não estamos num poder instituído, a agressão verbal a autoridades, entidades representativas do povo, sindicalistas. Eu sentia que isso não é o modelo de política que o povo de Aracaju aprova e dizia que modelo era de um mandato só. É importante lembrar que o povo de Aracaju não elegeu o vereador Agamenon. Ele entrou nesta Casa com muito menos votos do que outros que ficaram fora. A vontade soberana do povo de Aracaju não era que ele estivesse aqui durante esses quatro anos, como ele costuma dizer. Mas as regras eleitorais, que muitas vezes não são as melhores, terminam produzindo isso. A população agora produziu o resultado pela forma como ele conduziu todo período e pela forma como ele trata. Eu estou acostumado a lidar com diferenças de opinião de forma muito respeitosa, mas estou acostumado a debater com interlocutores muito mais qualificados do que ele, e ao longo desses quase 30ª anos de vida pública, desde o movimento sindical, eu já passei divergindo de muita gente. Muitos deles já passaram.  Eu continuo aqui no mesmo lugar de sempre, fazendo a disputa e o povo é soberano e sábio muitas vezes e nesse momento a população deu o recado que não é esse o modelo de política que quer na Câmara de Aracaju.

Há espaço no PT para um salto mais alto de Iran Barbosa, em 2018?

Isso é uma coisa que vamos discutir. Agora, o debate é para estabelecer o mandato que o povo me assegurou e fazer a discussão interna no partido. O PT precisa realmente de uma discussão muito profunda internamente, não só aqui, mas no Brasil. Estamos propondo que o partido antecipe a sua esfera deliberativa para que possamos repactuar como o partido deve se conduzir. Eu sou integrante de um grupo dentro do Partido dos Trabalhadores quem vem colocando esses problemas há muito tempo. Éramos e somos minoria dentro desse partido. Com minoria a nossa política sempre foi muito rechaçada, mas a história está mostrando que as críticas que fazíamos tinham fundamento. Não podemos fazer pacto de governabilidade exclusivamente com aqueles que têm compromisso histórico com as elites. Temos que fazer pactos de governabilidade com o povo, com os movimentos sociais. Toda vez que o partido se distanciou dos movimentos, do povo e se aproximou de partidos que têm uma tradição nada vinculada aos interesses populares, termina se prejudicando. É o que tem acontecido nesse momento. Precisamos repactuar e aqui em Aracaju vamos fazer isso e nesse momento vamos discutir que papel eu vou cumprir dentro dessa estrutura, dessa tarefa que é reconstruir o PT.

Com a deputada estadual Ana Lúcia, que é da mesma corrente petista que o senhor, na presidência do PT, seu juízo, por certo, teria mais facilidade de emplacar. Mas será que ela assume mesmo o partido, como foi acordado com o presidente Rogério Carvalho?

Eu (assumo) aqui em Aracaju e ela a estadual. Vamos tratar todas essas questões, porque não de deve fazer política somente visando os resultados e momentos eleitorais. A política é um instrumento de debate e de construção de alternativas de problemas sociais e nós precisamos fazer isso permanentemente.

Modificado em 17/10/2016 08:47

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