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“Temer não vai chegar ao fim do mandato. A munição está acabando”

Por Joedson Telles

A frase que serve de título para esta entrevista é do deputado federal Laércio Oliveira (SD), que mesmo sendo governista não acredita que o presidente da República, Michel Temer (PMDB), conseguirá terminar o mandato. “O Ministério Público tem outras denúncias prontas. Com todo esse esforço no primeiro momento ele passa, mas num segundo não. Ele está no limite. A munição está acabando. Fala-se em cargos e emendas. Mas isso acaba. E se esse comércio tiver existindo dentro do governo é lamentável. Não dá para se manter no cargo de presidente com esses anteparos. Pessoalmente você percebe o constrangimento dele”, diz o deputado, ajuizando também que o ex-presidente Lula pode desistir do sonho de voltar ao poder. “Lula não tem nenhuma condição de ser presidente mais. Lula é uma página virada na história política do país. Enquanto presidente teve seus méritos, deu sua parcela de contribuição ao país, mas encerra sua carreira de uma forma muito triste.”

Ao explicar seu voto para que a denúncia contra o presidente Michel Temer fosse apurada, o senhor falou em consciência. Essa consciência é só a de Laércio Oliveira ou votou escutando família, amigos… Seus eleitores, enfim?

Na verdade, ecoa na sociedade como um todo. Nós homens públicos temos que tomar determinadas posições que, quase sempre, confortam um lado, mas inquietam outro. O que deve prevalecer na vida, de um modo geral, são posições claras, que estejam em sintonia com a consciência e em sociedade. O voto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que tratou da denúncia e precisava da sequência, não é um voto político. Todo mundo sabe que eu sou da base do governo. Quantas e quantas vezes eu fui para o enfrentamento na terceirização, na reforma trabalhista, no teto do gasto público? E quantas vierem ações que promovam o desenvolvimento do país, eu estarei alinhado. O momento que a Câmara vive é atípico: o Ministério Público identifica uma irregularidade na conduta do presidente, mas para encaminhar essa denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) precisa da permissão da Câmara dos Deputados porque se trata do presidente da República. Um motorista, um ambulante, um padeiro, um médico, um pecuarista, um agricultor… Qualquer homem ou mulher que passe por um processo de investigação, o processo dele tramita naturalmente. Essa pessoa passa a ser investigada pelos órgãos de poder do governo e depois vai para o enfrentamento nos tribunais. Se um cidadão comum está sujeito a ser investigado por que um presidente da República não pode se submeter a uma situação como essa? Todo cidadão brasileiro gostaria que o presidente Temer fosse investigado. Eu comentei com algumas pessoas durante a semana da votação na CCJ que seria muito mais prático se o presidente pedisse a Câmara para autorizar. Acho que ele seria visto pelos brasileiros num contexto diferente, mas ele preferiu seguir o rito da Constituição e levar para CCJ. Formou-se esse embate e pelo menos na CCJ prevaleceu a não aceitação da denúncia.

O senhor emitiu uma nota explicando que não traiu governo nem partido. Antecipou a resposta para uma possível crítica ou foi acusado de traição?

Naquele momento, eu comecei a ouvir alguns relatos de colegas dizendo que eu tinha traído, que não entenderam meu voto. A palavra traição é muito cruel. Quando eu fui chamado para titularidade da CCJ, eu já fui um segundo membro do partido na titularidade. O primeiro era o major Lino, que foi tirado da CCJ porque ele se pronunciava efusivamente contrário ao presidente, e o líder assumiu. Só que no partido existe um consenso de todos que o líder não participa de comissão nenhuma para dar oportunidade aos colegas de ocuparem outros cargos. Quando o líder me chamou para participar da CCJ, ele me lembrou que ia chegar a denúncia contra o presidente, e eu ia ter que votar, mas ninguém estava querendo dirigir meu voto. Trair é quando você diz que vai fazer de um jeito e faz diferente. Nos primeiros minutos seguintes, saiu a informação nesse sentido: que eu tinha traído o governo. Aquilo me machucou um pouco. Eu não gosto de receber críticas injustas e essa foi uma. Eu não traí ninguém. Apenas exerci o meu direito. Claro que eu sou um deputado governista e tenho posições muito claras na minha rotina. Todos formavam um conceito do meu voto pelos compromissos que assumo e respostas que dou à sociedade. Só que naquele momento fizeram uma avaliação errônea. Esse não era um voto político, era um voto moral porque eles sabiam que se a questão fosse política eu votaria a favor do governo.

O presidente Michel Temer chega ao final do mandato?

Eu acho que o presidente Temer não vai chegar ao fim do mandato. O Ministério Público tem outras denúncias prontas, tem outro ataque de esquerda para esclarecer à sociedade sobre os pontos. Não ter votado, na semana passada, foi ruim para o governo. É uma resposta que a Câmara precisa dar à sociedade. Isso poderia ter acontecido no dia seguinte a CCJ. A postergação para o dia 2 fragiliza muito, porque muitos colegas da CCJ que deram seu voto disseram que até agora não viam motivo para acolher a denúncia, mas se surgirem novos fatos podem rever o voto. Com todo esse esforço no primeiro momento ele passa, mas num segundo não. Ele está no limite. A munição está acabando. Fala-se em cargos e emendas. Mas isso acaba. E se esse comércio tiver existindo dentro do governo é lamentável. Não dá para se manter no cargo de presidente com esses anteparos.

E o presidente demonstra enxergar o momento?

Pessoalmente você percebe o constrangimento dele. Eu fui para o Palácio para celebrar a reforma trabalhista e, nos últimos 10 dias, antes da votação na CCJ, eu tive umas três vezes no Palácio em solenidades. Você percebe o constrangimento dele para enfrentar o auditório com tudo que ele está vivendo. As duas viagens que ele fez para fora do Brasil, durante as denúncias, foram formas de fugir para tentar encontrar um norte. É um governo que está se acabando e eu falo isso com muita tristeza. Aquela reunião foi lamentável ( Quando Temer recebeu o empresário Joesley Batista). Atingiu em cheio o Brasil. É lamentável porque fragiliza um governo que estava tentando colocar o país no desenvolvimento.

E o ex-presidente Lula? Ele tem fôlego para chegar 2018 em liberdade e elegível?

Eu não acredito que tenha. Acho que o Brasil não conhece o próximo presidente. Lula não tem nenhuma condição de ser presidente mais. Lula é uma página virada na história política do país. Enquanto presidente teve seus méritos, deu sua parcela de contribuição ao país, mas encerra sua carreira de uma forma muito triste.

A prisão de Lula provocaria indignação no PT e aliados. Isso poderia gerar reações violentas?

Não acredito nisso porque tem muita gente querendo ver outro Brasil. A esquerda se movimenta hoje e a sociedade tem a capacidade de se indignar com essas coisas. Quando saiu a sentença, você percebeu que, em algumas capitais, tinha um grupo de um lado e um grupo do outro, como no impeachment teve um grupo de um lado e um do outro. Isso é mais sensacionalismo da esquerda do que um fato em si. Existem as leis do Brasil que devem ser respeitadas por todos e se infligir uma lei a sociedade não vai concordar com isso.

E a Reforma Trabalhista?  

Chega num momento especial. Vai proporcionar um ambiente muito bom para o setor produtivo. Trazer ganho de todos os lados. A esquerda, infelizmente, prega um discurso mentiroso dizendo que o trabalhador perdeu, que os direitos foram modificados. Mas eu quero celebrar com muita alegria e satisfação o momento da reforma, que é extremamente positivo para o Brasil. É o indicativo de retomada do emprego porque as alterações feitas na CLT trazem quase tudo ou tudo que existe em termos de relações de trabalho para formalidade. Uma empresa de eventos é contratada para um show, por exemplo. Uma empresa que tem uma estrutura, mas, nesse dia, precisa de 50 pessoas. Hoje, para fazer isso se contrata as pessoas informalmente. Não consegue fazer formalmente isso nem que você queira, mas com modernização das leis trabalhistas você consegue. Isso se chama trabalho intermitente. Um Projeto de Lei de minha autoria que foi incorporado ao texto do relator e ele acolheu a íntegra. Esse PL eu apresentei em 2012. Caiu na mão de um deputado da oposição para ser o relator. Ele não liberava o projeto. Eu conversei com o relator e disse que ia apresentar uma emenda com o texto do meu projeto, e, se ele concordasse, aprovava a emenda. Nas sazonalidades o trabalho intermitente é necessário. Modernização da força do trabalho trás toda força de trabalho para formalidade. Isso é uma conquista sem fim.

Qual o balanço que o senhor faz da sua presença no bloco governista?

Têm acontecido coisas positivas. Conheci melhor o estado, o funcionamento do governo, entendi as dificuldades, e tenho procurado contribuir com meu trabalho. Tenho ficado encantado com a agricultura familiar, consegui recursos na ordem de R$ 50 milhões para que viesse para nosso estado ser implantada a regularização fundiária para o fortalecimento da agricultura familiar. Somente no governo era possível viver isso. La na Sedetec, infelizmente, a gente atravessa um momento difícil e a gente pode entender as necessidades do nosso Estado. Temos um problema muito sério para as indústrias no Estado. Isso tudo são alguns fatores que me dão muita satisfação. Tem sido uma experiência muito gratificante. Tenho crescido muito nesse contexto. Só nessas duas linhas de atuação tem absolvido muito meu tempo, mas tem sido muito bom. Quando você está no papel de oposição tem dificuldade de enxergar essas coisas porque você só aponta o lado negativo do governo, e muitas vezes nessa ânsia você acaba ficando despercebido das coisas importantes do Estado. Um deputado de oposição, muitas vezes, só se atém às críticas. Eu não era tão assim. No Proinveste, por exemplo, Deus me ajudou a enxergar a necessidade do governo, mesmo sendo um deputado de oposição. Vivenciar um momento como esse na base do governo, além de toda a atenção que o governador presta em relação às coisas do Estado, a angústia na busca incansável de melhorias para o governo como um todo. E quando você se torna aliado acaba absolvendo essa angústia.

O governador Jackson Barreto planeja disputar o Senado. Isso muda seus planos para 2018?

Não muda não. É claro que muito se falou que ele ia se aposentar, mas, pela dinâmica da política, muitas vezes você enxerga que pode contribuir mais, afinal de contas ainda tem saúde plena. Eu acho que ele é pré-candidato natural ao Senado, e tem capacidade política, tem todas as condições também, já que passou pelo Executivo e pode contribuir no exercício do seu mandato no Senado. Mas para mim não altera nada. Eu sou pré-candidato a reeleição e na base do governo tenho todas as condições de seguir em frente.

Descarta a possibilidade de uma candidatura majoritária?

Claro que o foco é fazer a reeleição, mas, a medida que vai se aproximando, as articulações vão sendo construídas. Claro que eu fico disponível para enxergar esses momentos na construção que está sendo feita. A minha prioridade é focar na minha reeleição, me dedicar cada vez mais ao meu mandato para me credenciar no próximo ano para pedir voto. Se você faz parte de um bloco que vai precisar sair com nomes em todas as áreas. Eu trabalho a minha reeleição, mas estou com o nome disponível para outras possibilidades.

Se ainda estivesse na oposição, o Solidariedade apostaria em Eduardo Amorim ou Valadares, para disputar o Governo do Estado?

Eu defenderia o nome de Eduardo. Ele viveu a experiência da candidatura. Tem um portifólio de candidato – e acho que tem todas as condições. A gente enxerga que ele será o pré-candidato a governador.

Seria uma disputa boa: Eduardo Amorim x Belivaldo Chagas ou Laércio Oliveira?

Pela intimidade que temos, conversamos muito isso. Uma vez conversamos se iríamos nos encontrar mais na frente para uma disputa majoritária. Eduardo é um bom nome. Ele está em um agrupamento e eu em outro, mas política grande é isso. É a política que eu admiro, que eu gosto. A política que você respeita as pessoas, conhece o valor que elas têm e vai para o enfrentamento no voto. Quanto mais candidatos qualificados se apresentarem à sociedade tivermos, o estado é quem ganha. Candidatos competentes, competitivos, com folha de serviços prestados ao Estado para que a pessoa escolhida para ser o representante de todos nós depois do pleito seja alguém que realmente possa corresponder a tudo que a maioria da sociedade escolheu. Que possamos ter um bom embate mais na frente.

E a coordenação da bancada sergipana, em Brasília? Houve um desgaste recentemente. Como foi?

Precisávamos entregar a LDO e informar à Comissão Mista de Orçamento (CMO) quais eram as emendas prioritárias que Sergipe apresentava ao orçamento. Das três emendas, duas são prioritárias. São emendas que o governo tem o compromisso de aplicá-las. Como tivemos esse conflito com a bancada, causou certo transtorno. Chamamos a bancada para conversar, como coordenador de bancada. Fizemos uma reunião, colhemos as assinaturas e fizemos a indicação. Eu tinha que colher a assinatura e tinha que levar os espelhos na Comissão de Orçamento. Quando eu cheguei lá, o técnico da CMO olhou e disse que não podia aceitar as emendas porque não tinha assinaturas suficientes. É preciso 3/4 de deputados e 2/3 de senadores. Preciso ter seis deputados e dois senadores. Esse argumento é o que o senador Valadares defendia dizendo que só podia ser coordenador de bancada se tiver seis deputados e dois senadores. Isso vale para as emendas. Eu fiquei muito preocupado e fui conversar com o senador Eduardo Amorim, com o senador Valadares e com os deputados. Encontrei no Plenário o deputado Adelson Barreto, pedi para ele assinar e ele assinou. Fui falar, então, com os senadores. Valadares disse que ninguém quis assinar. Então, não tinha emenda para Sergipe. Eduardo preocupado disse que a gente precisava resolver a questão e assinou. Eu disse que ocupamos cadeiras que não pertence a gente, mas ao povo de Sergipe. Pertence ao estado antes de questões políticas, de qualquer vaidade que tenhamos. Mas, no final, chegamos a um bom termo e foi feito.

Nessa era de Lava Jato, a sociedade vai saber cobrar dos candidatos um perfil mais coerente com a honestidade?

Eu acho que um grande momento novo da disputa política vai ser um novo perfil de político, de homem, de cidadão. Com princípios, com valores enraizados a partir do berço da família. Competente. Esse é o protótipo do vencedor das próximas eleições em todas as áreas. Eu desejo que o eleitor seja mais responsável, mais consciente da importância do seu voto. Não possível que ele não tenha enxergado tanta amargura, tanto desprezo, tantas necessidades não supridas. Tudo é conseqüência do voto que ele produzir. Não sabemos como serão as eleições do próximo ano. Vai mudar tudo e os candidatos e a sociedade como um todo vai ter que entender essas mudanças.

Como presidente da Fecomércio/SE, como avalia o primeiro semestre do comércio em Sergipe?

Difícil. Com muita dificuldade das empresas de se manterem no mercado. Redução de estoque, de empregados. Muita criatividade para atravessar esse período. O comerciante e o empresário continuam sendo criativos dentro desse contexto. Mas acho que o pior já passou. As conquistas evidenciadas, nos últimos meses, apontam para uma melhora no comércio como um todo. Eu acho que vamos ter um segundo semestre melhor que o primeiro. O emprego começa a voltar, fruto das conquistas firmadas lá atrás.

Qual o maior desafio hoje?

O maior desafio, hoje, é se manter no mercado. É abrir a loja todos os dias, porque o consumidor sumiu. Hoje, o consumidor pensa mais de uma vez antes de fazer dívidas, e isso afeta a economia como um todo e a vida do comerciante, que já começa o mês com um custo fixo, tem que superar isso. O inverso disso significa prejuízo. É por isso que criatividade é uma palavra mágica dentro desse contexto. Seja na vitrine, no balcão, no corredor do supermercado, numa publicidade, no treinamento de pessoal porque a valorização do funcionário está dentro desse contexto. As pessoas têm que ser conquistadas para fazer despesas hoje, e para isso é preciso de pessoas que tenham um bom atendimento. A criatividade é a palavra que o comerciante precisa ter para que consiga abrir a loja dele todos os dias até que a crise passe.

Modificado em 23/07/2017 08:45

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