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Seria atirar no coração da democracia barrar Lula. A Justiça que faça sua parte

Por Joedson Telles

O internauta prestigiará o ex-presidente Lula? O companheiro injustiçado – ou o condenado cara-lisa, a escolha é livre -, desde que não haja um imprevisto, desembarca em Sergipe, neste domingo 20. Chega com pompas de ídolo para alguns e alcunha de salteador para outros. Não bastasse aflorar a formosura da democracia, o ex-presidente petista permite, de pronto, um 3 x 4, em Sergipe, do Brasil político do momento.

Convida à reflexão: o projeto do PT foi bom para o país e, assim, precisa ser devolvido aos brasileiros? Ou não serviu ao coletivo e deve ser descartado? Lula simboliza tudo de execrável que a Lava Jato ainda hoje faz vomitar e já deveria estar preso? Ou é uma vítima do preconceito das elites, que, como rezam simpatizantes, o persegue por ser nordestino, ex-torneio mecânico, não ter estudado em uma grande universidade… Aquele discurso conhecido pelo internauta?

Uma coisa, contudo, até os que detestam Lula estão obrigados a admitir: o poder de superação do petista é ímpar. Lula levou três tapas, não desistiu de disputar a próxima eleição e chegou à Presidência da República. Venceu um câncer entre outros obstáculos. E, agora, culpado ou inocente, não cabe a ninguém exceto à Justiça dizer, observe-se, resiste aos julgamentos açodados de pessoas que não vestem toga.

Aliás, algumas, inclusive, criminosas comprovadamente, mas que se arvoram a apontar o dedão. Outras, anônimas, pequenas, primam pela arte roubar o dinheiro público da mesma forma que os fisgados na Lava Jato só que em quadrados menores. Aliás, há os que acham pouco roubar ainda babam outros ladrões. Não sei – e não me cabe julgar – se Lula é bandido ou vítima. Todos são inocentes até que se prove o contrário. Mas uma coisa é trivial: em sendo condenado, não será o primeiro ladrão do Brasil.

Dizem que Lula está em campanha. E não deixam de ter razão. Mas não apenas Lula. Lula e todos os demais atores da novela eleição 2018 estão em campo. Evidente, a maioria, esperta, respeita os limites da legislação eleitoral. Mas qualquer político faz campanha 24 horas por dia. Lula chama a atenção, evidente, pelo seu peso político. Pelas circunstâncias. Não é apenas a maior estrela do PT, o partido, paradoxalmente, mais querido e rejeitado do Brasil: Lula, inocente ou culpado, insisto, é o maior líder político nacional. Quem fica com o segundo lugar? Continuo a catar com uma lupa.

Se isso vai livrá-lo ou não da cadeia, se, caso esteja elegível, em 2018, conseguirá êxito eleitoral, se cometeu os tais crimes a ele atribuídos são histórias distintas. Chamo a atenção aqui para a força política que tem o ex-presidente. E atrelado a isto a palavra carisma, que faz com que muitos, caso ele seja condenado, só não se ofereçam para cumprir a pena em seu lugar por saberem que não é permitido. Mas quantos já foram presos em manifestações comandadas por Lula? Indague se há arrependimento e a resposta será “não” em caixa alta, e a indagação “você é doido?” emerge em seguida.

Este carisma misturado com liderança mata de inveja uma oposição carente de direção a lamber as botas de um presidente denunciado por corrupção. E antes que um intelectual de vento qualquer se arvore a ventilar o que gato enterra, lembro: não sou petista. Tampouco lulista. Mas, como jornalista, nutro o dever de sustentar juízos em fatos. Faça uma pesquisa popular colocando Lula x quem a oposição quiser para representá-la e ratifiquemos o óbvio. Se for Lula x Temer, meu Deus, nem o Real Madrid seria tão cruel com o time do Sergipe…

O grande desafio, acredito, é conscientizar se este fenômeno Lula é bom ou ruim para o Brasil. Se serve ao coletivo ou apenas aos seus companheiros petistas. Aliás, neste terreno, sempre se tropeça em mais polêmicas. O contraditório volta a aflorar. Por um lado, há quem diga que Lula governou pensando nos pobres. Por outro lado, existem aqueles que o colocam na cruz com o argumento que aos pobres reservou migalhas, mas para ele mesmo, família e amigos a fartura…

… Voltando à agenda de Lula em Sergipe, soube que o ex-deputado Nelson Araújo tentou barrar a presença do petista em Sergipe. Alega que o ex-presidente é um condenado e não pode “fazer campanha antecipada”. A crítica ao homem público é democrática, evidente. Precisa mesmo existir. O pré-julgamento, contudo, não. Nelson sonega que Lula foi de fato condenado, mas em primeira instância. Que não é o único nesta condição a pisar o solo genuíno.

Além de Lula não estar inelegível, a decisão do juiz Sérgio Moro, à qual Nelson se refere, cabe recurso. Quanto a fazer campanha antecipada, que o Ministério Público Federal fiscalize. Aliás, os promotores estão sempre atuando. Atentos a Lula e aos demais. Mas, felizmente, nem Nelson e nem ninguém (como é rica a língua portuguesa: ninguém literalmente) tem o poder de atirar no coração da democracia barrando Lula em Sergipe.

Seja bem vindo, Lula. A Justiça que decida sua vida. Caso tenha condições de disputar a eleição e se, de fato, for candidato, o eleitor decidirá seu futuro. Este, sim, soberano. Mas barrá-lo? Jamais, Nelson, que não é o Rodrigues, óbvio. E se Lula for considerado inocente? Já pensou nisso? A prudência manda aguardar o desfecho e responder nas urnas. Fora desta linha é casuísmo.

P.S. Mesmo provando inocência, não sei se Lula conseguiria me convencer a votar nele. Já sentar à mesa e bebermos uma Heineken canela de pedreiro, proseando sobre política, seria uma satisfação.

Modificado em 19/08/2017 11:53

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