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Se permanecer com Jackson Barreto, o PT será desmoralizado, alerta petista que preside a CUT

“Jackson não quer saber se é de direita, se responde processo como corrupto, se está para ser cassado, se destruiu direito trabalhista. Ele quer construir a candidatura ao Senado e fazer o sucessor a governador”, resume Dudu

Dudu: alerta feito

Por Joedson Telles

Petista da Articulação de Esquerda, a mesma corrente da deputada estadual Ana Lúcia, o presidente da CUT/SE, Rubens Marques, o professor Dudu, lamenta, nesta entrevista que concedeu ao Universo, que o PT ainda esteja com o PMDB em Sergipe. “O PT há muito devia ter descolado de Jackson. Quanto mais descolado de Jackson menos constrangimento vai passar. Podem estar no palanque de Jackson o deputado André Moura, o senador Eduardo Amorim, Ricardo Franco… E o PT de lado fazendo o quê? Envergonhado? Já deveria ter desembarcado dessa barca de Jackson, há muito tempo. A gente defende que tenha candidatura própria”, diz o petista, assegurando que o governo Jackson Barreto, há muito tempo, deixou de ser de esquerda.  “Até quando vai o crédito de Jackson Barreto de dizer que enfrentou a ditadura? Esse crédito acaba não é? Enquanto houver esse crédito ele pode fazer aliança com a direita, perseguir sindicato, não pagar servidor público? Quem do PT continua nesse barco de Jackson precisa entender que está na hora de descer. Ou desce ou se desmoraliza. Jackson não quer saber se é de direita, se responde processo como corrupto, se está para ser cassado, se destruiu direito trabalhista. Ele quer saber de construir a candidatura ao Senado e fazer o sucessor a governador. Nesse barco não cabe o PT, ou pelo menos a Articulação de Esquerda”, pontuou durante a entrevista que foi gravada dias antes de o escândalo envolvendo o presidente Michel Temer ganhar a mídia.

A CUT saiu às ruas em protesto contra as reformas anunciadas pelo governo Michel Temer. A entidade foi compreendida pela maioria da população?

Eu acho que o Brasil inteiro compreendeu que as reformas são nocivas ao conjunto da classe trabalhadora – e terminam refletindo em toda sociedade. Por isso que fomos às ruas não só contra a reforma trabalhista, mas também contra a terceirização, contra a reforma da previdência e outras que tiram direitos.

Mas não há uma só proposta interessante para os trabalhadores no conjunto da obra?

Não. Algo que eu acho que é extremamente danoso ao trabalhador é negociado sobre o legislado. Parece algo simples, mas não é. Quando dizem que o trabalhador vai poder negociar livremente com o patrão, e o que for acordado vai valer sobre o legislado. Então, para quê legislação trabalhista? Se há uma coisa boa nesse país é a legislação trabalhista, o Tribunal do Trabalho. A Justiça do Trabalho se diferencia muito das outras. Ela tem sido muito coerente e importante para classe trabalhadora. Quando você abre mão de uma legislação que foi construída com toda uma história de luta desmonta todo um aparato de defesa da classe trabalhadora. Para mim, o negociado sobre o legislado é uma imoralidade.

Então não há necessidade de reformas?

Mantendo como está, tudo bem. Eu acredito que ela não está superada como os empresários dizem. O sistema é da década de 40. Foi criado por Getúlio Vargas para jogar dinheiro público na mão dos empresários. Quando Fernando Haddad foi ministro da Educação do governo Lula tentou mudar as regras e os empresários não aceitaram. O discurso dele para rasgar a CLT é que ela está superada porque é da década de 40. A classe patronal vai de acordo com seus interesses e não com a verdade.

O trabalhador compreende isso?

Escutamos a narrativa. A burguesia dizia uma coisa e nós dizíamos outra. Os deputados golpistas diziam uma coisa e nós outra. Naquele momento do pré-golpe, eles venceram o debate. As pessoas acreditaram que o impeachment (da ex-presidente Dilma) era porque havia corrupção, mas não era este o motivo. Combater corrupção era só um discurso. A ideia era se aproveitar da crise, derrubar uma presidente e tirar direitos, para que a classe dominante ganhasse mais dinheiro. Qual o sacrifício que os empresários estão fazendo durante a crise? O trabalhador vai trabalhar sábado, domingo, feriado, esticar seu turno e não vai ter um centavo no bolso de hora extra. Ele vai compensar num dia de semana quando o movimento tiver fraco. Você permitir ampliar a jornada de trabalho – vai ter o mesmo trabalhador em duas jornadas de trabalho. Isso tudo gera lucro para o patrão, que se aproveita da crise para ganhar mais. Quem está pagando aquele pato que estava na Avenida Paulista é a classe trabalhadora. A nossa legislação trabalhista, apesar de muito criticada, é uma das melhores do mundo. Eu conversei, há pouco tempo, com um presidente de uma Central Sindical dos Estados Unidos, em São Paulo. Se compararmos a legislação americana com a nossa encontramos uma contradição enorme. A legislação lá é quase escravizando os trabalhadores. Nossa legislação é assim porque houve muita luta. É só resgatar o que foi o início do novo sindicalismo no Brasil.

A esperança da CUT é tentar reverter no Senado. O senhor sente que isso é possível?

Até a greve do dia 28 de abril, o cenário era um, mas agora é outro. Do pré-golpe para cá, a classe trabalhadora tem percebido que foi golpeada. Um sintoma que dá para reverter e que o cenário mudou foi possível perceber nas manifestações. No pré-golpe, todo mundo tinha identificação. Alguém ligado a alguma entidade, mas a gente precisava de algo mais. Levar para rua quem não está ligado a nenhum movimento sindical. No mês de abril, já encontrei muita gente que eu não conhecia e ficava alegre porque o trabalhador que não entendeu antes entende agora. Nessa greve geral foi que a gente se perdeu no meio da multidão com 60 mil pessoas e muita gente livre, espontânea e gente que não é petista nem sindicalista. Por isso que recuaram temporariamente, mas é um sinal que a reforma trabalhista pode ser barrada no Senado. A da previdência não vai passar do jeito que está. Ela precisa não passar de jeito nenhum. Se fizer emenda vai terminar de um jeito danoso para classe trabalhadora. É aproveitar o momento, radicalizar na manifestação e não deixar passar. Sergipe deu um belo exemplo de mobilização. Por isso fizemos aquela greve que entrou para história.

Essas pessoas que se manifestam promovendo violência, depredando, usando capuz afastam pessoas que são simpáticas ao movimento, mas que não admitem baderna. Como o senhor avalia esta questão?

Aqui em Sergipe, a coisa é mais tranquila. Eu acho que há interesse dos patrões e do governo de que haja esse tipo de infiltração para macular o protesto. A inteligência da polícia pode acompanhar as manifestações. Eles conhecem de dedo as lideranças e poderiam neutralizar, mas eles deixam para gerar justificativa para a pancadaria. Se tem um grupo radical que tem como proposta destruir o patrimônio, assuma e faça. Enfrente a polícia, o Estado, mas sem se infiltrar porque gera uma série de problemas.

A CUT tem um posicionamento diferente do que pensa a maioria dos sindicalistas em relação ao imposto sindical. Por quê?

A CUT é contra o imposto sindical desde sua fundação, em 83. A CUT tem formulação para dialogar com a base sindical. Em 2013, a CUT fez um plebiscito. Fomos às fábricas, escolas para perguntar o que o trabalhador acha do imposto sindical. A CUT só queria mostrar que não dá para existir um imposto compulsório. Um imposto é uma imposição. O imposto sindical alimenta uma rede sindical que não defende o trabalhador e virou profissão. O cara funda um sindicato como se fosse negócio. Você tem seu dinheiro descontado e não conhece nem o sindicato. A CUT precisa acabar com os sindicatos pelegos. O acordo coletivo da categoria, que ele nem conhece, sentou, assinou e pronto, sem assembleia, nem nada. Você só pode barrar o crescimento dos sindicatos pelegos danoso à classe trabalhadora acabando com o imposto sindical porque, como eles não têm serviço prestado na base, ninguém vai se criar. Tem sindicato que não é pelego, é sério e também recebe imposto. Vá numa indústria têxtil e pegue a fichinha de filiação. Quando o gerente pega a ficha no outro dia o cara está no RH para ser demitido. O trabalhador não pode ser molestado porque se filiou, mas é. A CUT tem a proposta de acabar com o imposto sindical, e no lugar do imposto criar, através de lei, a taxa negocial e o direito ao acesso do sindicalista ao setor de trabalho para fazer a filiação. A diferença do imposto sindical para a taxa negocial é que o imposto não se tem como se livrar. O cara toma de forma brutal de sua conta. Na tora. A taxa negocial, se o sindicato fizer uma boa negociação coletiva e conquistar o aumento, ele leva para assembleia e diz que conseguimos avançar e está a proposta. A categoria pode aprovar ou não. O sindicato pelego não tem serviço prestado e não vai ter o que aprovar. O problema não são as centrais que defendem imposto. São os patrões: eles não abrem mão do imposto sindical.

Ano que vem tem eleição para governador do Estado. Como petista, como o senhor avalia o cenário?

O PT há muito devia ter descolado de Jackson. Quanto mais descolado de Jackson menos constrangimento vai passar. Podem estar no palanque de Jackson o deputado André Moura, o senador Eduardo Amorim, Ricardo Franco… E o PT de lado fazendo o quê? Envergonhado? Já deveria ter desembarcado dessa barca de Jackson, há muito tempo. A gente defende que tenha candidatura própria. Quanto ao nome, eu defendo que preceda o nome o programa. Não basta ser do PT. Eu não tenho um nome no momento. Mas vejo com bons olhos a possibilidade de o PT desembarcar de Jackson Barreto e construir uma candidatura própria, ganhando ou perdendo. O PT nasceu para fazer disputa, e não para ficar na carona de um governo que, há muito tempo deixou de ser de esquerda. Até quando vai o crédito de Jackson Barreto de dizer que enfrentou a ditadura? Esse crédito acaba não é? Enquanto houver esse crédito ele pode fazer aliança com a direita, perseguir sindicato, não pagar servidor público? Quem do PT continua nesse barco de Jackson precisa entender que está na hora de descer. Ou desce ou se desmoraliza. Jackson não quer saber se é de direita, se responde processo como corrupto, se está para ser cassado, se destruiu direito trabalhista. Ele quer saber de construir a candidatura ao Senado e fazer o sucessor a governador. Nesse barco não cabe o PT, ou pelo menos a Articulação de Esquerda.

Pelo que o senhor coloca, há um “acórdão” a caminho. É isso?

Cabe ao PT pular fora do barco antes. Muita gente pode achar que é um absurdo, mas nesse chapão de Jackson cabe todo mundo da direita que hoje está brigando. Um “acordão”, sim. A direita não disputa para perder, a não ser que tenha certeza que perde hoje, mas amanhã está dentro. Tem muita coisa acontecendo, mas eu acho que pode sair um grande acordo com a direita e seria bom até para o PT que esse acordo saísse. Seria esse contraponto. Sair antes fazendo a crítica e dizendo por que saiu. O mais importante para mim é o programa. Qualquer candidato que apresente uma proposta decente, que reacenda a chama da esquerda do PT eu estarei com ele. A partir do programa se discute a candidatura. Foi isso que a Articulação de Esquerda apresentou no congresso do PT. A corrente que militamos era cerca de 30% do congresso e eles 70%, mas respeitaram na resolução de não fechar o nome.

Mas há como o PT romper com Jackson sem entregar os cargos que ocupa no seu governo?

(Risos) Esse é o X da questão. Quando a gente fala em desembarcar, não tem como fazer isso pendurado nos cargos. Não tem como desembarcar com um petista como líder do governo (leia-se o deputado Francisco Gualberto).

Mas e o sentimento dos petistas governistas?

A maioria faz a defesa que o governo Jackson está com Lula. Eu acho que não. Está com ele. Como foi que votou Fábio Reis no impeachment? Votou pelo golpe. Ele é do PMDB. Pupilo de Jackson. Quando Dilma teve aqui e aconteceu aquilo fatídico acidente, quando um cidadão morreu (eletrocutado) no poste, ali era um momento crucial para Dilma, a hora que ela mais precisou de apoio. Jackson estava aonde? Ninguém pode negar que a gente tem que pegar Sergipe antes e depois do PT, porque Lula e Dilma investiram muito dinheiro aqui. Mas Jackson estava em Mato Grosso, recebendo título de cidadão. Uma coisa que poderia marcar para outra data. Ele fugiu do palanque. O deputado dele votou pelo golpe. Não sei como o partido tem coragem de dizer que Jackson está com Lula. Mas não foi só Jackson que não estava no palanque. Dilma, naquele momento, era uma figura que não agregava para eles. Edvaldo Nogueira também não estava. O próprio Rogério Carvalho (presidente do PT) não estava. Quem estava lá era a gente defendendo o estado democrático de direito.

Como o senhor avalia o primeiro encontro entre o governador Jackson Barreto e o deputado federal André Moura, líder do Governo Federal no Congresso? A pauta foi 100% Sergipe ou teve uma pitadinha de política também?

Eu acho que ali teve mais política do que qualquer outra coisa. Ali já começaram a fazer a costura para 2018. Pra mim, não será nenhuma novidade estar todo mundo junto. Jackson não é brincadeira não. Não será surpresa se André Moura for o candidato a governador de Jackson. Com Jackson pode tudo, contanto que ele se saia bem na fita. O Jackson de hoje não respeita trabalhador, aposentado recebe quando ele quer pagar… Mas acho que também há uma complacência do Judiciário e do Ministério Público com tudo que Jackson está fazendo porque para decidir contra a classe trabalhadora eles são rápidos.

A história vai cobrar isso de Jackson?

Já está cobrando. Eu respeito o que ele fez no passado como militante estudantil, de esquerda. A gente não pode apagar a história como um todo, mas depois que ele começou a dar uma guinada para direita. Ele perdeu a noção do que é ser esquerda.

A CUT, que sempre lutou por aumentos para o trabalhador, hoje luta para os vencimentos serem pagos. O senhor imaginava esse momento?

Eu não tenho régua para medir os governos, do ponto de vista da atuação geral, mas, para o servidor público, Jackson Barreto foi o pior governo deste estado. Primeiro porque não paga e segundo porque é arrogante. Não senta para negociar. Se o povo de Sergipe entendesse didaticamente o que Jackson fez com a educação ficaria horrorizado. Jackson dá aumento salarial do piso só para quem é nível médio, quem estudou até ensino médio, que dá uns 200 professores. Mas para sociedade passa a ideia que paga o piso para a categoria. A massa de professores tem nível superior. Como o aumento vem sendo dado somente para quem é do ensino médio, o de baixo vai subindo. Tem no estado hoje professor com doutorado ganhando igual a um professor de nível médio. Ele destruiu a carreira do professor. Ele pegou as escolas de ensino médio – parece que é proposital para criar o caos – e entregou os alunos. O município começou a faturar com o dinheiro do Fundeb que é por matrícula. No Estado, o professor está sem sala de aula, humilhado. Se já tiver numa certa idade, com problema de saúde? Eu não vou medir a atuação geral, mas posso falar da educação. Até terminar o governo é possível que ele piore. Ele está entregando os alunos para rede municipal, dizendo que não é obrigação do Estado. O Estado tem obrigação de oferecer o ensino médio, mas não desobriga oferecer o fundamental. Jackson para os servidores foi o pior governador da história de Sergipe. Os números que ele apresenta, por várias vezes, o Sintese já desmontou. Já deixaram de lançar receita, maquiaram balancete para justificar que não pode pagar.

A desculpa de crise não cola mais?

Não porque a receita continua crescendo. Os técnicos do Sintese têm provado. O problema de Jackson é um monte de secretarias, cargos em comissão. Esse discurso de crise não engana mais ninguém, principalmente a nós.

A sociedade está atenta a isso?

Se depender de mim, vou fazer questão de discutir com as pessoas, tentar formar opinião do estrago que Jackson deixou para Sergipe, sem contar com a previdência. Uma coisa que a gente não pode esquecer é a questão da venda da Deso. Um governo privatista. Na eleição, o PT colocou um carimbo na testa de Aécio que iria vender a Caixa, o Banco do Brasil, o BNDES, Petrobras e aquilo abalou ele. Jackson, agora, dizia o mesmo no palanque na eleição de Dilma e agora quer vender a Deso.

Modificado em 21/05/2017 06:55

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