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“O Supremo está estabelecendo a ditadura da toga”, diz Evaldo Campos

Por Luiz Sérgio Teles 

O professor e advogado Evaldo Campos externa seu descontentamento em relação ao Supremo Tribunal Federal  (STF), nesta entrevista que concede ao Universo, neste domingo, dia 30. Para ele, a Corte tem sido motivo de vergonha para o país. “O Supremo é um absurdo. Está se intrometendo onde não deve, estabelecendo a ditadura da toga. Não dá o bom exemplo”, afirma. Evaldo também critica duramente a CPI da Pandemia, fala sobre o momento político do país e antecipa seu voto para o próximo pleito. “Entre Bolsonaro e Lula, eu voto em Bolsonaro. Embora não concorde com algumas coisas que ele faz”

O senhor postou um vídeo nas redes sociais que provocou uma reação dura do deputado estadual Francisco Gualberto. Ficou surpreso?

Embora reconheça o direito de resposta, que é legítimo e amparado em lei, surpreendeu-me o nível. Faltou elegância, coragem; embora eu tenha sido chamado de vil e covarde, porque ao invés de utilizar um caminho semelhante, expondo-se a todos, inclusive a uma reconsideração feita por mim ou uma discordância que eu apresentasse, foi feita no escondidinho da Assembleia onde só deputado fala. É bom provocar alguém daquela tribuna porque não haverá resposta. Mas, cada um age de acordo com suas convicções. Disse o poeta Gibran, “se você pede um peixe a um homem e, ao invés do peixe, ele lhe dá uma serpente, não fique triste, agradeça. Ele deu o que tinha de melhor”

Como o senhor avalia o mandato do deputado Francisco Gualberto?

Sobre o mandato, eu não posso cometer injustiças porque não acompanho. Só sei que ele foi líder do governo, mas eu não tenho voltado minha atenção para os pronunciamentos da Assembleia, como fazia antes porque lá tinha o brilho dos pronunciamentos de Marcelo Déda. Eu me sentia atraído. Não vi, não ouvi e não posso comentar. Tomara que tenha feito um bom trabalho, afinal quando o povo vota é para que, independente da esfera de poder, alguém que cuide do interesses público com zelo e lealdade.

O senhor tem externado posições favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro. Está plenamente satisfeito com o governo dele, como a maioria dos seus apoiadores, ou há pontos críticos? 

Não estou plenamente satisfeito. Eu tenho discordância. Eu gostaria de ver o presidente falando menos, usando mais um porta-voz. Ele é pavio curto. Sei também que o povo queria eleger um pavio curto que chutasse o pau da barraca porque não aguentava tanta roubalheira no país, mas ele deveria afastar os filhos do opinamento sobre sua gestão. No geral, eu estou satisfeito. Ele nem rouba nem deixa roubar. Ele está tocando obras que foram começadas por Dilma, por Temer, por Lula, o que a gente não vê no Brasil porque quem chega abandona as obras do passado empresa aquele dinheiro todo. O povo perde. Ele tem um ministro chamado Tarcísio que é um espetáculo. Tomara que um dia ele venha ser presidente da República. As nossas estatais estavam quebradas dando bilhões de prejuízos e hoje estão dando bilhões de lucro. Isso deve ser examinado. Por outro lado, ele foi eleito pela maioria do povo brasileiro. Não poderia começar no dia seguinte a nova campanha. Eu torço por qualquer presidente. Se Haddad fosse eleito eu torceria para que ele governasse bem porque eu não quero pagar o preço dos equívocos, das maluquices de alguns dirigentes. Quem for eleito deve governar sem interferências, afinal o processo democrático prevê alternativas de poder. Estamos encegueirados pela cegueira da paixão.

Mas o senhor se considera um bolsonarista?

Muitos me apontam como bolsonarista. Eu sou legalista. Foi eleito, tem que ficar. A não ser que haja a presença dos elementos que justifiquem o impeachment. Aí, sim, concordo com o afastamento. Mas se procura instrumentos de esquerda radical para difamar o Brasil. Vejo que até o papa fez uma consideração jocosa e eu não critico o papa por isso não. Talvez se ele fosse político dissesse que no Brasil falta decência e sobra corrupção. Por que falar mal do Brasil? A agro indústria brasileira é hoje a melhor do mundo. Mata a fome de milhões de pessoas e hoje ocupa menor área de terra do que ocupava antigamente e produz muito mais. Quem fala da Amazônia não sabe que debaixo daquelas matas tem mais de 25 milhões de seres vivos que precisam de tudo e não tem nada. É hora de somar e não é hora de dividir.

O senhor concorda com a tese que o governo atrasou a compra de vacinas e isso precisa ser levado em conta nas mortes por Covid? Que é preciso responsabilizar?

Quanto ao atraso da vacina, houve. O presidente é culpado? Não. Ele não poderia negociar de qualquer jeito. Tem que ver qual o melhor produto, o melhor preço, a melhor oportunidade. Se Bolsonaro tivesse assinado aquele contrato com a Pfizer, primeiro que não teria as vacinas, porque ainda não havia o licenciamento da Anvisa. Ele astutamente esperou que o Congresso Nacional dissesse que poderia comprar, se não ele seria afastado por impeachment. Seria uma pedalada. Ele pode ser bruto, agressivo, mas burro seguramente ele não é. O que existem são frases bens construídas da retórica eleitoral porque, infelizmente, ninguém desceu do palanque, o que é uma pena. Faltavam vacinas e faltava o licenciamento da Anvisa. Logo, não se podia comprar. Hoje, o Brasil já tem mais de 500 milhões de vacinas compradas. O que está havendo é um despreparo do extremo, que é do município, para fazer a aplicação. É preciso que desçamos do palanque. Quando eu olho para a direita, vejo um banho de sangue com o nazismo. Quando eu olho para a esquerda, eu vejo a mesma coisa. Olhe Fidel Castro, o monstro sanguinário de Cuba, fuzilando cruelmente os que lhe faziam oposição. Teoricamente eu já li O Capital e vejo coisas muito bonitas, mas quando olho a prática eu vejo estupidez. Eu gosto do equilíbrio.

Como o senhor avalia a CPI da Covid-19?

Um macabro palco eleitoral. Aproveitando do pensamento popular, eu vejo como raposas oferecendo proteção ao galinheiro. Eu gostaria muito que a CPI publicasse as investigações e processos instaurados sobre seus membros para a população ver quem é ficha limpa e quem é ficha suja cantando de galo. A sociedade iria ficar estarrecida. Renan tem 17 procedimentos contra ele e é o relator. O presidente da CPI é acusado do desvio de mais de uma centena de milhões de reais. Sua mulher foi presa em pleno voo. Eu não posso dizer que ele é corrupto, mas posso dizer que é suspeito pela prática de corrupção. Alguém gostaria de ser julgado por alguém processado? Queria ser julgado por juízes que estivessem respondendo a processo? Todo dia eu assisto à CPI. Eu almoço no sofá para examinar tudo. Quando o Covas, que é um cientista, foi prestar seu depoimento e alguém foi fazer uma pergunta, o presidente correu em defesa dele. Presidente não é para tomar partido. Renan vive como se tivesse no passado. Que absurdo. Que vergonha. Quem entende o mínimo considera aquilo uma coisa execrável, asquerosa e nojenta. Eu me envergonho da CPI. O palco está montado para 2022. Vejam que poucos fazer perguntas. Muitos fazem discurso. Politizaram a cloroquina. Ninguém tem o domínio do que está acontecendo no mundo. Quando Bolsonaro chama de vírus chinês, ele é linguarudo. Não tenho dúvida. Mas Biden deu 90 dias para que os serviços de inteligência dos Estados Unidos descobrissem a origem do vírus. Quem é ingênuo para não saber que vários países do mundo têm laboratórios preparando vírus para guerra? Uma forma desumana de guerrear. O homem, infelizmente, continua asselvajado. Minha impressão da CPI é a pior possível. Lamento também a participação de segmentos da imprensa que tem lado. A imprensa tem o compromisso de informar, mas está preocupado em formar opinião. Vejo a CNN e a Globo. Em alguns momentos eu vejo na CNN o equilíbrio de Alexandre Garcia, mas vejo o fanatismo de muitos. Isso tudo cria um clima de terror. Eu tenho muito medo que por conta da troca de provocações termine levando o Brasil para o conflito do povo da rua com morte. Eu não posso aplaudir a CPI. Eu choro porque temos uma CPI. Choro de vergonha.

É bom para o país questões do Poder Executivo e do Legislativo serem decididas pelo STF, como vem acontecendo com frequência?

O Supremo é um absurdo. Eu acompanho o Supremo há muitos anos. Eu li a revista trimestral de jurisprudência durante 20 anos. Hoje eu me envergonho. Está se intrometendo onde não deve, estabelecendo a ditadura da toga. Não dá o bom exemplo. Veja o que aconteceu com a delação de Sérgio Cabral. Não fizeram porque crucifica ministro do STF e do STJ que receberam propina. Como eu posso crer numa instituição que se fecha para não ser investigada? Gilmar chora durante o julgamento elogiando o advogado de defesa de Lula que terminou mostrando a sociedade a iniquidade que foi feita com ele. Um corrupto que não só desviou dinheiro internamente, mas endividou o povo brasileiro mandando dinheiro para seus irmãos de esquerda. Esses empréstimos estão sendo pago por nós ao BNDES. O Supremo pra mim é um testemunho de como não deve funcionar o Judiciário. Veja como tratam policiais e bandidos. A polícia para subir o morro precisa de cautela, mas no morro tem centenas e milhares de fuzis e de outros armamentos. Lá se mata pessoas. Lá tem o tribunal do crime que executa as sentenças. Mas o policial é o perigoso. De que lado está o Supremo? Do povo ou do narcotráfico? Eu não tenho resposta. Eu gostaria de ouvi dos magistrados que integram aquela Corte.

Não é obrigação do Governo Federal repassar recursos aos Estados e municípios, sobretudo numa pandemia? Por que os bolsonaristas adoram bater nesta tecla?

Claro que tem obrigação. Tem repassado e muito. Foram bilhões de reais. Esse dinheiro foi aplicado? A CPI não quer investigar isso. Parte desse dinheiro pode ter sido desviado. Dizem que Bolsonaro porque prega cloroquina é genocida. Primeiro que precisam aprender o significado da palavra genocida. Genocida não é quem mata muita gente. É quem mata por convicções étnicas, religiosas, políticas e culturais. Responsável maior é quem desviou dinheiro que poderia salvar vidas. Vocês concordam que esses ladrões merecem nosso respeito? Quantos morreram por falta da aplicação exata desse dinheiro? E os respiradores que não chegaram ao povo? Que inversão de valores. Bota-se o ladrão no altar e mete o povo na cadeia.

É visível o desconforto do pré-candidato Bolsonaro com a pré-candidatura do Lula. É para tanto? Lula ainda tem a mesma força eleitoral?

Eu não creio nas pesquisas feitas. Eu sei que as pesquisas retratam o momento, mas os homens que as divulgam dão um colorido diferente ao momento pesquisado. Eu vou acreditar e emitir opinião no dia que Lula for às ruas. Eu espero que ele não vá agora e gostaria que Bolsonaro também não fosse agora, mas quando a vacina estivesse nos braços do povo brasileiro. Aí, sim, iria medir a popularidade de um e de outro. Eu não voto em Lula. Eu nunca votei e não tenho compromisso ideológico. Eu já não votava, e depois que ele foi presidente e fez Dilma presidente, eu passei a desacreditar mais e mais. É o atraso do Nordeste que ficou abandonado.

O Ciro Gomes tem sido um crítico contundente do governo. Outrossim não poupa Lula. Como o senhor avalia a possibilidade de terceira via? Ciro é este nome?

Ciro é um homem de uma inteligência fulgurante. A primeira vez que eu vi Ciro, há muitos anos, eu mandei uma mensagem para o partido dele que era dirigido por Roberto Freire agradecendo a oportunidade de ter um nome para votar. Infelizmente, com o passar do tempo, Ciro mostrou-se arrogante, intolerante e um homem sem posição. Eu o vi conclamando o povo para tirar Lula na tora da Polícia Federal. Eu o vejo hoje crucificando Lula. Eu gosto da inteligência do Ciro, mas não gosto da sua postura. Se ele tivesse uma postura próxima da sua inteligência ele seria o candidato ideal do povo brasileiro.

O senhor acha que o comportamento do presidente Jair Bolsonaro, nesta pandemia, ajudará o candidato Bolsonaro? Ou está mais para prejudicar?

Não. Ele precisa melhorar mais e mais. No que tange às obras, eu não vejo ninguém com tanta coisa a exibir quanto ele. Mas, se eu pudesse dar um conselho a ele, seria para deixar os filhos um pouco ao lado da campanha, das atividades. Eles que trilhem o próprio caminho. E que fale menos. O resto, deixe para campanha. O povo está aplaudindo e gostando do desempenho dele como administrador. O problema é a necessidade que em ter a pronta resposta. Talvez é porque ele seja feito daquilo que a história revela. O pêndulo da história não caminha do extremo para o centro, mas de um extremo para outro. Ele enfrentou o extremo e está dizendo tudo aquilo que o povo gostaria de dizer. Mas, o cargo tem uma liturgia e o povo também quer ver essa liturgia respeitada. Meu candidato foi Álvaro Dias, mas o povo o rejeitou. Entre Bolsonaro e Lula, eu voto em Bolsonaro. Embora não concorde com algumas coisas que ele faz. Mas admiro sua capacidade que ele tem de trabalhar pelo povo e de fechar as torneiras da corrupção que estavam escancaradas em nosso país.

Modificado em 30/05/2021 10:13

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