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“Não é moral um gasto mensal de R$ 430 mil com horas extras apenas para delegados”

Delegado assegura: João Eloy dará as cartas não importa quem seja o governador

Por Joedson Telles

Ex-presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil de Sergipe (Adepol/SE), o delegado Paulo Márcio comentou, ao ser provocado pelo Universo, uma denúncia feita pelo Jornal da Cidade sobre um suposto esquema através do qual delegados estariam recebendo dinheiro por plantões, segundo o jornal, inexistentes. “Não é razoável, moral nem  admissível um gasto mensal de R$ 430 mil com horas extras apenas para delegados. Com esse valor o Estado pode contratar 40 novos delegados substitutos e suprir todos os claros de vagas existentes”, diz Paulo Márcio, que ainda assegura que a Secretaria de Segurança Pública está nas mãos de poderosos. “O delegado João Eloy ganhou musculatura e continuará dando as cartas e influenciando a escolha dos futuros secretários por um bom tempo, não importa quem seja o governador ou as cores do partido”, diz. A entrevista:

Como avalia essa denúncia de delegados recebendo dinheiro por plantões inexistentes, segundo o JC? De fato, houve ou há esta prática? 

O que o Jornal da Cidade chama de inexistentes são aqueles plantões não presenciais, em que o servidor, para fazer jus à Retribuição Financeira, fica de sobreaviso em casa ou onde melhor lhe aprouver. Essa prática existe e foi admitida em nota pela própria SSP, que justificou não existir impedimento legal. De fato, a lei não veda. Mas o fato de a lei não proibir não pode ser interpretado como um salvo-conduto concedido à administração para fazer o que bem entender. Não é razoável, moral nem  admissível um gasto mensal de 430 mil reais com horas extras apenas para delegados. Com esse valor o Estado pode contratar 40 novos delegados substitutos e suprir todos os claros de vagas existentes. Será que o governador Belivaldo Chagas já pensou nisso?

O que o senhor disse ao secretário de Segurança Pública, João Eloy, sobre o assunto e qual a reação dele?  Conseguiu lhe intimidar?

Eu jamais tratei desse assunto com o secretário João Eloy porque os novos valores passaram a ser pagos em junho, quando eu já estava fora da Adepol. Apenas me manifestei em um grupo (rede social), criticando a prática, a meu ver abusiva e excessivamente onerosa para o Estado. Dei algumas explicações e pedi providências ao governador Belivaldo Chagas, pois não considero justo que um delegado de polícia receba R$ 6 mil todos os meses apenas para figurar em uma escala de sobreaviso, sobretudo aqueles que ocupam cargos de chefia e possuem CCs, tendo, portanto, dedicação exclusiva. Mas, na tarde desta quinta-feira, dia 25, o secretário João Eloy me encaminhou uma mensagem de áudio com conteúdo ofensivo e dizendo que ia determinar à Delegada-Geral Katarina Feitoza que aumentasse meus plantões remunerados. Eu recusei a oferta e mandei o áudio para meu advogado analisar, assim como dei ciência do fato à Adepol do ato desrespeitoso e incompatível com a dignidade do cargo de secretário de estado. As medidas judiciais e administrativas serão oportunamente adotadas.

Qual a posição da Adepol?

Desde que deixei a presidência da Adepol, em 15 de janeiro de 2018, não tenho acompanhado as ações da atual diretoria. Mas chegou ao meu conhecimento que a Adepol cobrou da Delegada-Geral o cumprimento dos critérios objetivos fixados pelas leis 7870/2014 e 8272/17 para a elaboração das escalas de plantão. Lamentavelmente, a administração fez ouvidos de mercador para o pleito da entidade classista, insistindo no emprego de critérios subjetivos. Essa postura só tem gerado injustiça e insatisfação.

A SSP está em mãos poderosas? Como isso se dá e quais as consequências? 

Está e deverá permanecer por muitas gerações, gostemos ou não. Isso não é demérito, é demonstração de força. O poder decorre dessa coesão e capacidade de aglutinação, independentemente dos métodos utilizados. Mas é  fato que o grupo capitaneado pelo delegado João Eloy alcançou uma posição hegemônica dentro da SSP, espraiando-se para outras secretarias. Esse mesmo grupo já controla a segurança institucional de órgãos do Estado, antes um espaço dos oficiais da PM. Há pouco mais de 10 anos, esse grupo tinha sustentação em setores do Ministério Público e do Judiciário. Com o tempo, foi ganhando autonomia e hoje não depende desse apoio externo. O delegado João Eloy ganhou musculatura e continuará dando as cartas e influenciando a escolha dos futuros secretários por um bom tempo, não importa quem seja o governador ou as cores do partido. Isso nesse cenário de penúria e desolação. Imagine se tivéssemos bons resultados na área.

Há privilégios na SSP? Como se dão na prática? 

Todo mundo sabe que há privilégios em todos os quadrantes do serviço público, mas essa é uma questão que ninguém gosta de discutir ou admitir, principalmente os apaniguados. Um privilegiado prefere acreditar que é mais competente do que o colega que ingressou no serviço público através do mesmo concurso, por isso está em uma posição mais confortável e vantajosa. Um privilegiado pode ser uma bucha utilizada pelo sistema para ser descartada no momento oportuno, no entanto prefere se ver como um ser dotado de qualidades superlativas, um herói insubstituível. Para quem vive nessa bolha não existe troca de favores, compadrios, sabujice, subserviência e favorecimento, apenas meritocracia. Somente a observância estrita da lei pode imunizar a administração contra essas práticas nocivas e fratricidas. O resto é confete.

Modificado em 27/10/2018 10:02

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