body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

Não é fácil construir uma oposição em Sergipe, diz Eduardo Amorim

“Tem gente que se aproveita pra se valorizar perante o governo”, alfineta

Por Joedson Telles

Ressalvando não ter inimigo e tampouco carregar ódio, mágoa ou rancor, o senador Eduardo Amorim (PSDB) assegura que já conversou com o senador Antônio Carlos Valadares (PSB) e com o deputado federal Valadares Filho (PSB) depois do resultado das eleições 2018. Eduardo evita comentar os erros cometidos pelo bloco que rachou antes do pleito e assegura que não é fácil ser oposição em Sergipe. “Não é fácil construir uma oposição num estado onde, realmente, a oposição, às vezes, não é valorizada e reconhecida. Tem gente (leia-se políticos) que se aproveita daquilo que defendemos pra se valorizar perante o governo”, diz Eduardo, alfinetando sem citar nomes. “Ser oposição significa deixar de lado o imediatismo, as benesses, os prazeres palacianos. Significa abnegar-se para defender algo maior que se acredita e deve ser concretizado. Continuarei fazendo críticas construtivas”, promete.

O término do seu mandato é um até breve ao eleitorado ou um adeus?

Eu continuo. Não digo até breve e nem adeus. Minha profissão é a medicina. Sempre disse isso. Pra mim, o mandato é uma missão. A sensação é de que cumpri uma missão. Volto para minha profissão. Parei minha profissão, ao longo desses anos, atendia um paciente ou outro. Não podia fazer anestesia para uma entidade pública do SUS, mas volto pra minha profissão e continuarei atendendo às pessoas. E sempre serei um sujeito politizado. Se pretendo ter mandato de novo, é outra história, mas a política faz parte da vida de todos nós. Eu tenho consciência da importância da política. Quem determina o preço do combustível, do salário mínimo, dos tributos é através da atividade política. Às vezes, no meu momento de dúvida no Congresso de como votar, eu fazia como fazia na medicina. Colocava-me no lugar do sujeito que estava passando na calçada, de como ele quer que eu me comporte. Tinha consciência de que, muitas vezes, não agradava a todos, porque nem Cristo conseguiu agradar a todos. Eu procurava agir com os princípios éticos da moralidade, do bom costume, do respeito que deve ter a coisa pública. A coisa continua naquilo que a gente luta com o instrumento que tem nas mãos. Quando eu tenho um mandato é um instrumento precioso. Eu tive minha participação no Congresso, apresentei dezenas e dezenas de projetos. Missão cumprida. Tão bem cumprida que fomos avaliados como o melhor senador do Brasil – e com nota 10. A vida continua, não pretendo deixar a política, mas volto para as minhas atividades. Continuo estudando, trabalhando, cuidando das pessoas de perto e o que eu puder fazer eu vou fazer. Sou funcionário público, volto para minha origem de trabalho, que é a oncologia. Vou avisar ao secretário e a todos os órgãos competentes que estou voltando com a mesma ética e o mesmo zelo. Pode ter certeza que, ao terminar o mandato, estarei em algum centro cirúrgico. A vida vai passando e a trama vai ficando mais estreita. A gente vai ficando mais seletivo e essa seletividade passa até pela condição física. Eu não tenho uma condição física como tinha há 30 anos. Um jogador de futebol, com raras exceções, vai até no máximo até 40 anos. Por outro lado, se ganha no campo da experiência, da vivência, da decisão rápida.

Essa experiência vai ajudar o senhor a, mesmo sem mandato, ter uma posição contundente contra o governo Belivaldo Chagas ou vai se manter afastado?

Minha posição vai ser a mesma. Nunca deixei de apoiar o que era bom e reprovar o que era ruim. Minhas críticas eram construtivas porque eram coerentes. Ser oposição significa deixar de lado o imediatismo, as benesses, os prazeres palacianos. Significa abnegar-se para defender algo maior que se acredita e deve ser concretizado. Continuarei fazendo críticas construtivas. Belivaldo esteve, no final do ano, em nosso gabinete e eu disse a ele que se tivesse em seu lugar instalaria a polícia de divisa. Ainda esta semana, vi uma cidade no sul do país que todas as saídas tinham câmeras e era um dos menores índices de criminalidade do Brasil. A geografia é a nosso favor. Moramos no menor estado da federação. Só existem dez entradas e saídas. Só o fato de colocar os cones e a presença militar já inibir muitos bandidos de trazer entorpecentes, de planejar um crime. Eu disse ao governador pra pegar a emenda impositiva e construir o Centro de Diagnóstico por Imagem, porque ninguém tem dinheiro pra pagar uma ressonância, assim como disse ao ex-governador Jackson Barreto.

Esse trabalho na oposição, o senhor fará isolado ou ao lado de Valadares Filho, André Moura?

Eu não tenho inimigo. Não carrego dentro de mim ódio, mágoa, rancor. Carrego aprendizado. Já conversei com Valadares, com Valadares Filho. Não é fácil ser oposição. Não é fácil construir uma oposição num estado onde, realmente, a oposição, às vezes, não é valorizada e reconhecida. Tem gente que se aproveita daquilo que defendemos pra se valorizar perante o governo. Tenho conversado com Valadares e vou conversar com quem queira conversar comigo. Não faço torcida do quanto pior, melhor. Eu quero o melhor porque estamos na direção no sentido de um caminho de um futuro ruim. O rombo da previdência é gigantesco. O Estado deixa de investir quase R$ 2 bilhões para investir na previdência. A culpa não é do aposentado. O Governo meteu a mão no dinheiro do servidor público assim como fez agora. A gente sabe que a solução não e a curto prazo porque o estrago realmente é gigantesco. Tem coisa que se pode melhorar de imediato. A saúde pública, a segurança dá para ter uma resposta mais rápida e efetiva.

O senhor acha que Sergipe tem oposição de verdade?

Não é fácil ser oposição num estado como o nosso. Precisamos valorizar mais o trabalho da oposição. Oposição é fiscalização, controle, com certeza é lutar por aquilo que está equivocado. É enfrentamento. Muitas vezes não há um reconhecimento disso. São soldados abnegados distantes das benesses e dos prazeres palacianos. Esses devem ser mais valorizados. Ser governista é muito mais fácil. Precisamos valorizar mais o trabalho da oposição porque é a oposição, junto com parte da imprensa, que traz à tona os questionamentos que precisam ser feitos. Governar com muita folga, com a rédea muito curta é muito cômodo, mas essa comodidade vem do sacrifício de muitos. É fácil tributar, mas não é fácil o sujeito pagar esse tributo, porque às vezes tira da comida, da roupa. Veja quantos anos está defasada a tabela de imposto de renda. Agora o Governo aumentou o preço do ICMS pra carro. Quem aponta isso é a oposição. Minha vida política foi sendo oposição. Das pouca vezes que defendi o Governo, não defendia o Governo, mas aquilo que merecia ser aprovado. Não é fácil ser oposição. Como o próprio nome diz, é soldado abnegado.

Essa consciência que o senhor tem é um pensamento do grupo ou isolado?

Infelizmente, nem todo mundo tem a mesma convicção. Nem todo mundo tem a mesma defesa. Eu falo por mim. Queria que outros pensassem desse jeito.

Há projeto para eleição de Aracaju?

Vamos construir um projeto. Buscar parcerias. Um partido como o nosso tem que ter um projeto. Se vamos ter candidato próprio ou não, não posso afirmar agora. Vamos ter um projeto para levar para o povo de Sergipe, não só de Aracaju. Espero que o partido esteja em boa parte das cidades sergipanas.

O senhor sente a vocação para encabeçar uma candidatura a prefeito?

Não penso nisso. Não estou descartando e nem afirmando. Tudo tem o seu momento. Eu sou muito eclesiástico. Há hora para tudo. Não sei se será a hora para enfrentar um desafio desse. Não que eu tenha medo ou não me sinta preparado. O tempo vai nos preparando naturalmente – e quando a gente busca o conhecimento, aí é que se prepara mesmo. Não descarto nada, mas também não posso afirmar e não critico quem já se declara. Cada um tem a sua estratégia e o seu desejo. Vou viver agora em minha vida um momento diferente pelo privilégio de ter tido dois mandatos e de voltar pra medicina. Procurar ser um exemplo para mim, para meus filhos e para os que queiram se espelhar. Continuo firme com a mesma humildade, mas tenha certeza que quando for preciso liderar estamos firme. Cristo, um dos maiores líderes da humanidade, era o símbolo da humildade, mas quando precisou liderar derrubou barraca, expulsou mercenários do templo.

As conversas com os Valadares já é para uma reaproximação?

Não. Eu não carrego inimizades. Cada um sabe o prejuízo dos equívocos. Eu tinha alertado que dividido iam ver o peso de uma máquina. Enquanto se paga uma pessoa para segurar a bandeira, eles já iam ter alguém de graça, que o Estado pagou. Foram muitos comissionados nas ruas e muitos deles foram demitidos depois.

Quem pesou mais para não dar certo? Valadares ou André Moura?

Não faço esse balanço. Se houve o peso de uma coisa ou outra, não me interessa esse tipo de análise. Estou focado, olhando pra frente, apenas para aquilo que me interessa e essa análise não muda o futuro. Cada um tem o seu jeito. Não vou criticar jeito de ninguém. Quem não conseguiu seus objetivos que faça suas reflexões, quem conseguiu que faça também. Eu não me sinto derrotado. Quando coloquei meu nome para o Governo, e a oposição estava dividida, eu sabia que era muito difícil. Eu coloquei, sinalizando que para mim mandato não é profissão. Não tenho esse apego. Isso é um desapego porque se eu fosse apegado não ia correr nenhum risco ou o risco menor. A gente vai entendendo também que quantas emendas teriam que colocar mais como legislador para construir o Hospital do Câncer? Se eu colocasse mais oito emendas, teria garantia que iria construir? A única coisa que me daria garantia era se eu tivesse o cargo do Executivo. Não obtivemos o sucesso almejado. O prejuízo não foi só para mim.

Sentiu mais essa eleição ou a de 2014?

Confesso que essa eleição eu estava muito mais preparado, pé no chão, equilibrado, amadurecido para ir aos debates, fazer o enfrentamento. Essa foi muito mais tranquila para mim. Não foi tranquila fisicamente, mas nessa o próprio tempo, o conhecimento que eu busquei, me preparou mais. Fui estudar jornalismo, enfrentei as redes sociais e as câmeras com mais conhecimento. O fato de não ter levado foi mais suave. Nessa eu vivi uma coisa que não vivi na outra. Em 2014, eu não levei, mas continuei no mandato. Nessa eu deixo o mandato. Eu estou tranquilo, em paz, voltando a fazer coisas que não fazia há muito tempo, cuidando mais da saúde, estando mais presente com a família, curtindo mais. Até dando um sorriso com mais naturalidade. Estou mais leve. O mandato pesa, é um dever, uma obrigação. Eu me cobrava muito e me cobro. É muita demanda. Eu trabalhava muito mais ao longo do meu mandato do que durante a minha vida profissional como médico, e olhe que eu dava muito plantão. Durante esse mandato eu só fiz uma viagem internacional pelo Congresso. Lembro agora que já tinha uma viagem que eu já estava de mala pronta para ir à posse do novo presidente da Sociedade Mundial de Medicina, que pela segunda vez na história mundial era um brasileiro e, coincidentemente, era um amigo meu, um colega anestesista de São Paulo. A posse dele foi no Uruguai. O presidente do Senado na época lembrou disso e perguntou se eu podia o representar. As viagens que eu fazia era por cota minha mesmo. Participava de todas as comissões do Senado. Nunca fui um cara espetaculoso de aparecer na mídia. Tinha um bom relacionamento com a imprensa e não abria mão nem para o partido das minhas convicções. Votei contra a reforma trabalhista, minha defesa é a reforma tributária. Acho que esse Governo não pode abrir mão dela. O povo brasileiro não aguenta mais tanto imposto e ter tão pouco de volta. Fiz inúmeros discursos sobre isso. Fizemos uma prestação de contas através de uma revista. Fui um dos parlamentares a liberar recursos para aquisição de patrol e escavadeira, além de recursos para as filarmônicas, que ninguém nunca lembrou. Acredito que um instrumento é um multiplicador de conhecimento.

 

Modificado em 21/01/2019 19:13

Universo Político: