body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

“Métodos heterodoxos não me surpreende mais no PT”, diz Silvio Santos

“Já vi companheiro denunciar companheiro publicamente por práticas escusas e depois estar junto como se nada tivesse acontecido”

Silvio Santos : analisando o PED e o futuro do PT

Por Joedson Telles

O atual presidente do PT, o secretário de Estado da Casa Civil, Silvio Santos, que passará a batuta ao presidente eleito, o deputado federal Rogério Carvalho, fez uma análise do atípico Processo de Eleições Diretas (PED) do partido em Sergipe. Silvio considerou uma atitude correta Márcio Macedo jogar a toalha, após a Articulação de Esquerda, aderir à candidatura de Rogério Carvalho. Algo aliás que não o surpreendeu. “A mim não causou surpresa. O pragmatismo é um elemento da política”, diz. O presidente do PT diz também esperar que o seu sucessor lidere o PT na sua diversidade. “Ter sabedoria para transformar diferenças em unidade.”

 

Márcio Macedo acertou, ao retirar a candidatura? Foi uma decisão abalizada pelos líderes petistas que apoiaram seu projeto?

Sim. Foi um grande gesto. Precisa ser grande para dar um passo atrás e Márcio teve essa grandeza. Nós tivemos uma disputa atípica com um sangramento diário na imprensa e nas mídias sociais. O segundo turno se prenunciava mais sangrento ainda. Além disso a adesão da Articulação de Esquerda à candidatura de Rogério Carvalho, formando o que chamamos de efeito Antártica (anti-articulação), ou seja, todos contra a Articulação Unidade na Luta, o que nos colocava numa posição de isolamento. Daí a o acerto da decisão de Márcio.

Márcio se disse estarrecido com a decisão de Ana Lúcia. Este sentimento perpassou o candidato?

A mim não causou surpresa. O pragmatismo é um elemento da política. E eu respeito o pragmatismo que norteou a decisão da Articulação de Esquerda.

Houve muitos comentários no tocante aos métodos do deputado Rogério Carvalho – inclusive por parte de pessoas da Articulação de Esquerda, corrente da deputada Ana Lúcia. Este método pode virar regra no PT sob o comando de Rogério? O que isso significaria para o partido?

Métodos heterodoxos é outra coisa que não me surpreende mais no PT. Já vi companheiro denunciar companheiro publicamente por práticas escusas e depois estar junto como se nada tivesse acontecido. São ímpetos momentâneos que depois fica o dito pelo não dito. Como diz o  senador e filósofo Antônio Carlos Valadares: a política é o diabo. Não participei do processo eleitoral ativamente e não sei se é verdadeiro o que ouvi dos contendores. Sobre denúncias e reclamações, eu lembro dos versos de Augusto dos Anjos “O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que afaga é a mesma que apedreja.”

Um militante do PT revelou (em off) que o ponto decisivo para a Articulação de Esquerda optar por Rogério Carvalho foi a promessa dele apoiar uma candidatura do vereador Iran Barbosa a deputado federal. Como o senhor avalia isso?

Isso não está no documento que eu li e que é base para o acordo. Lá eu vi que há o compromisso de dividirem o mandato de presidente entre Rogério e Ana. Mas enfim, o que está escrito e o que não está escrito não me move. Faz parte do velho e bom pragmatismo e eu respeito isso.

O fato de presidir o PT garante ao deputado Rogério Carvalho, por exemplo, se lançar ao Senado Federal ou o nome ainda é o do governador Marcelo Déda?

São tarefas distintas. Se ser presidente do partido fosse passaporte para ser candidato majoritário no PT eu teria sido o candidato a prefeito em 2012. Candidatura a senador serão outros quinhentos. Em primeiro lugar temos que ter unidade para reivindicar vaga na chapa majoritária em 2014. O único nome defendido e posto até agora é o de Déda. Eu particularmente rezo e torço pela sua recuperação, primeiro para que ele retome sua vida normalmente ao lado de sua família e segundo, se ele se dispuser, acho que teremos essa candidatura ao senado resolvida.

Como o PT sai deste PED?

Certamente com algumas sequelas. Espera-se gestos nobres dos dirigentes de todas as forças com representação na nova direção para superá-las. Temos também a necessidade de fazermos uma leitura mais detalhada dos resultados desse PED. Em Aracaju nós tínhamos mais de 2.200 filiados com direito a voto. Porque somente 800 foram votar? Uma eleição tão pautada na imprensa e que mobilizou toda sociedade não mobilizou os petistas? Estranho. No estado votou praticamente o mesmo número de filiados do PED de 2009. Um pouco menos agora. Numa eleição tão polarizada, tão estrondosa, com tantos apelos. O que houve? Precisamos entender.

Qual deve ser o papel deste grupo que tem além de Silvio Santos e Márcio Macedo, o governador Marcelo Déda, a deputada Conceição Vieira, o ex-senador José Eduardo, Usiel Rios, Chico Buchinho…  

O de sempre. A maioria dos citados tem mais de 30 anos de militância no PT. De um tempo em que não havia governos, mandatos, cargos, etc. Já fomos minoria antes. No PT e na sociedade. Continuaremos defendendo a mesma concepção que levou o PT a dois mandatos de prefeito em Aracaju, dois mandatos de governo do Estado de Sergipe, a termos a maior bancada da Assembleia Legislativa e a maior bancada entre os partidos sergipanos na Câmara Federal. Temos uma trajetória vitoriosa e um legado imenso a defender.

E qual deve ser o papel do presidente eleito Rogério Carvalho?

O de ser magnânimo. Liderar o PT na sua diversidade. Nas suas diferenças. Ter sabedoria para transformar diferenças em unidade. Ser presidente do PT é um exercício diário de tolerância e respeito as opiniões diferentes. Ter habilidade para fazer com que o grande projeto do PT abrace, acolha e ao mesmo tempo subordine os projetos particulares.