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“Esse novo Alessandro nunca foi visto na Polícia Civil”, diz Antônio Moraes

“Corriqueiras denúncias de más práticas. O senador nunca meteu o dedo nessas feridas”

Por Joedson Telles

Ex-presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Sergipe (SINPOL/SE), o escrivão de polícia Antônio Morais afirma, nesta entrevista que concedeu ao Universo, neste domingo, dia 18, que o senador Alessandro Vieira (Cidadania)  tem se mostrado um senador progressista, mas “apareceu” criando uma personagem de delegado perseguido por combater a corrupção sem nunca ter sido perseguido. “Esse novo Alessandro, mais democrático e mais progressista, nunca foi visto na Polícia Civil. São corriqueiras as denúncias de más práticas na instituição, como uso particular de viaturas, recebimento de valores de diárias e horas extras em desvio de finalidade. Apesar disso, o ‘neoprogressista’ senador nunca meteu o dedo nessas feridas”, argumenta Antônio Moraes.

 

Por que o senhor está sendo processado por Adriano Bandeira, presidente do SINPOL, e pelo o seu vice, Ênio Nascimento?

Ambos me processam por não saberem conviver democraticamente com as críticas. Estão usando o Poder Judiciário para tentar me impor algum tipo de censura, além de tentar conseguir algum dinheiro. Não conseguirão. Com relação a Adriano, ele está me processando criminal e civilmente porque, em vídeo postado em meu perfil do Instagram, manifestei-me contrariamente à sua candidatura a vereador de Aracaju. Teci considerações sobre sua falta de representatividade e sobre ele usar o sindicato para alcançar visibilidade que convencesse caciques partidários a lhe dar estrutura para sua campanha eleitoral. A única pauta de Adriano Bandeira é ele mesmo. No processo criminal (202145100244), o juiz já extinguiu o processo porque o advogado de Adriano, por incompetência, não soube contar o prazo decadencial. Frise-se que este advogado faz parte da assessoria do sindicato e eticamente não deveria advogar contra um filiado da entidade que o remunera. Um claro conflito ético que será levado à OAB/SE. No processo civil (202140300978), já minha assessoria jurídica já apresentou a contestação e estamos seguros. Como relação a Ênio Nascimento, ele está me processando apenas civilmente. A irresignação do vice-presidente do sindicato se deu por conta de uma postagem que fiz em meu perfil do facebook sob o título “Diretoria do SINPOL trabalha para prejudicar a categoria ”. No texto, analisei a falta de atitude da diretoria sindical quantos aos assuntos de interesse da categoria. Critiquei a falta de ação da diretoria sindical quanto a um projeto de lei enviado pelo governo para Assembleia Legislativa e aprovado, sem qualquer resistência do sindicato e longe do conhecimento prévio da categoria representada. Cada um pede uma indenização de R$ 10.000,00. Mas o que está por trás dessa ação orquestrada é a tentativa de intimidação e censura.

O senhor vai continuar criticando a atual gestão do SINPOL?

Com toda certeza. A atual gestão, nesses quase três anos de atuação, já deixou clara a sua incompetência e leniência com os que oprimem e subjugam a base da Polícia Civil sergipana. A crítica deve ser observada como uma decorrência da democracia. Deve ser feita por todos, sempre dentro dos padrões éticos e legais de civilidade.

Pelo seu discurso, a atual gestão do SINPOL faz o chamado sindicalismo “pelego”. É isso mesmo?

Exato. Chamo também de “sindicalismo de selfies”. A ação desses dirigentes sindicais se restringe a visitar políticos para serem fotografados e divulgarem em suas redes sociais, passando a falsa imagem de que estão conquistando apoio. Visitam delegacias, não para fiscalizar, mas sim para serem fotografados com as equipes para postarem nas redes sociais e, assim, transmitir a sensação de atuação sindical. Nada é feito para resolver os problemas endêmicos do relacionamento entre delegados e agentes/escrivães. Na única vez que houve luta, em 2019, pela unificação dos cargos da base da Polícia Civil, quando o secretário mandou parar, Adriano obedeceu e parou, deixando toda a categoria que havia sido mobilizada a ver navios. Ou seja, na hora do tensionamento, o presidente volta ao seu estado normal de subalternidade e compadrio. É na hora do tensionamento que se reconhece as verdadeiras lideranças. Em suma, eles não querem se indispor com ninguém, porque o interesse é investir na figura do “bom-moço”. A atual diretoria do SINPOL atua para fora da categoria. Quer atingir eleitores, e não a categoria policial civil, com a caricatura de “guerreiros”, “valentes”, “engajados”. Basta observar as peças publicitárias produzidas pela assessoria do sindicato muito parecidas com as peças da campanha eleitoral para vereador do presidente da entidade.

Quais as principais demandas da categoria e como o SINPOL lida com isso?

Empiricamente, ou seja, pelas conversas com colegas no dia-a-dia de trabalho, percebe-se claramente que a principal demanda da base da Polícia Civil é a correção da tabela de subsídios com o pagamento dos reajustes obrigatórios anuais, determinados pelo Constituição Federal (CF, art. 37, incisoX). Como todos os demais servidores públicos estaduais, os servidores policiais civis estão há quase uma década sem esses reajustes que somados já ultrapassam 50% de perdas. Uma outra demanda, de ordem mais prática, é a unificação dos cargos da base da Polícia Civil. Isso consiste simplesmente em regulamentar o que já acontece na prática. Agentes e Escrivães têm mesmos salários e têm idênticas atribuições. Então por que ainda não se transformou esses cargos em um cargo único? Essa unificação, nesse momento, não trará custo algum para o governo, mas despertará uma autoestima adormecida nos Agentes e Escrivães.

Como avalia o episódio envolvendo um delegado de Polícia Civil e um agiota? A SSP adotou o procedimento adequado?

Absurda. Em que pese existirem indícios consistentes da prática de crimes, a corregedoria, através do delegado Júlio Flávio, que não ocupa uma Delegacia de Polícia Civil há mais de uma década, em relatório remetido ao Judiciário, deixou de indiciar o delegado investigado. Para mim, uma clara ação corporativa. Os fatos investigados são: a) a cobrança de R$ 12.000,00 pela estadia do preso na delegacia do interior para o preso-amigo (ou mui amigo) não ser custodiado para uma penitenciária; e, b) o estranho pedido de empréstimo de R$ 120.000,00 do delegado-investigado para o preso-estelionatário. O delegado Júlio Flávio, autointitulado corregedor-auxiliar (não existe esse cargo nos quadros da Polícia Civil), diferente do que estava claro na investigação, entendeu não ter ocorrido a cobrança dos R$ 12.000,00 por não ter ocorrido o encontro do delegado-investigado com o estelionatário em um restaurante da orla de Atalaia, em nossa capital. Júlio Flávio se baseou na localização do celular indicado pelo delegado investigado. O “corregedor-auxiliar” nem sequer pensou que o investigado poderia ter outros aparelhos celulares. Sobre o “empréstimo” de R$ 120.000,00 feito pelo delegado investigado ao preso estelionatário, Júlio Flávio achou normal, uma mera transação comercial. Deve ter “se esquecido” que o emprestador estava sob a custódia do tomador do empréstimo. A naturalização desse episódio pelo “corregedor-auxiliar” assusta. Deixa a entender que comportamentos como esse são usuais na Polícia Civil. Recentemente, um site de notícias revelou que os R$ 120.000,00 tomados de empréstimo pelo delegado-investigado foram usados para abrir uma empresa de empréstimos cujo um dos sócios é o filho da dona do restaurante onde não houve a reunião em que o delegado-investigado disse não ter solicitado R$ 12.000,00. Será que alguém (a corregedoria) vai informar isso ao Judiciário e MP? Uma outra situação pouco estranha que ninguém percebeu é que R$ 12.000,00 são 10% de R$ 120.000,00. Será coincidência? Resta saber se o Ministério Público vai engolir essa estória.

O senhor já criticou a SSP por prisões e operações midiáticas. Isso mudou? Como avalia a gestão João Eloy?

Quanto às prisões e operações policiais, estas continuam midiáticas. Antes, eu acreditava que isso ocorria de má-fé, que servia para esconder a ineficiência das Polícias. Hoje, percebo que não. O foco midiático em operações policiais é a única forma de trabalhar que a atual cúpula sabe fazer. Não há má-fé, há falta de repertório. Nossos dirigentes não são preparados para a direção, o comando, a coordenação. São, via de regra, bacharéis em direito, sem qualquer noção ou especialização na gestão pública. Alguns têm diplomas e certificados, mas as práticas são as mesmas de sempre. A Polícia Militar não faz patrulhamento, apenas reage quando acionada via CIOPS (190). A Polícia Civil não faz investigação, resume-se a preencher formulários de prisões realizadas por policiais militares, quando muito registram boletins de ocorrência que, na sua imensa maioria, são sequer checados. Ambas somente reprimem o que está acontecendo de mais relevância midiática no momento. Para piorar, as operações midiáticas passaram a ser personificadas em algum(a) delegado(a) para gerar visibilidade para futuras campanhas eleitorais.

O senhor aprova a atuação do seu colega policial Alessandro Vieira, no papel de senador da República?

Alessandro tem se mostrado um senador progressista. Todavia não se pode esquecer que ele “apareceu” criando uma personagem de delegado perseguido por combater a corrupção. Ele nunca foi perseguido. Além disso, usou o partido Rede Sustentabilidade como um partido trampolim para conseguir disputar uma das vagas para o Senado Federal. Antes mesmo de tomar posse, pulou para o partido Cidadania, com mais “estrutura” partidária. E mais, pongou na onda bolsonarista de 2018 apenas para ganhar votos. Enfim, usou da boa-fé dos eleitores de Bolsonaro. Esse novo Alessandro, mais democrático e mais progressista, nunca foi visto na Polícia Civil. São corriqueiras as denúncias de más práticas na instituição, como uso particular de viaturas, recebimento de valores de diárias e horas extras em desvio de finalidade. Apesar disso, o ‘neoprogressista’ senador nunca meteu o dedo nessas feridas.

O senhor tem sido um crítico contundente do governo – e do político – Jair Bolsonaro nas redes sociais. É o pior presidente das últimas décadas?

Chamá-lo de presidente é uma ofensa ao país. Mas ninguém foi enganado. Ele foi eleito pelas urnas eletrônicas que agora condena. Um deputado federal do baixíssimo clero, que nunca teve um Projeto de Lei aprovado, adquiriu patrimônio milionário nos esquemas das rachadinhas (peculato) administrados nos mandatos parlamentares dos filhos e da ex-mulher que empregava amigos e familiares como laranjas para ficarem com 90% de seus salários. Além de moralmente desprezível é completamente incompetente. Está diretamente ligado a mais de dois terços das mortes causadas pelo covid-19 pela demora criminosa em comprar vacinas.

Há como viabilizar uma terceira via na disputa pela Presidência da República, em 2022?

Na minha opinião, não existe isso de ‘terceira via’, pois não existem duas outras vias viáveis para tirar o Brasil do buraco em que foi metido por todos os governos anteriores. As ditas direita e esquerda brasileiras, em todos os momentos que governaram o país, submeteram os interesses da nação ao rentismo. Sempre os mesmos economistas dominaram o ministério da fazenda ou economia com a política econômica do neoliberalismo que não funcionou em nenhum lugar no mundo. O que precisamos é de um Estado de Bem Estar Social, baseado em um sistema capitalista controlado por um governo progressista. Precisamos fugir dos salvadores da pátria, do mito do Sebastianismo, e focar em um projeto permanente de desenvolvimento nacional. Por isso, espero que meus compatriotas percebam que a única via, mesmo momento, é Ciro Gomes.

O Universo assegura o direito de resposta a todas as pessoas citadas, nesta entrevista, pelo entrevistado Antonio Moraes.

Contato: jornalismo@universopolitico.com.br

Modificado em 18/07/2021 09:10

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