body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

Edvaldo seria fraco na igreja. No seio familiar. Mas é política, Mendonça

Por Joedson Telles

Magoado com o prefeito Edvaldo Nogueira, o ex-deputado federal Mendonça Prado se equivoca profundamente quando, entre outras palavras “elogiosas”, diz que Edvaldo precisa aprender a ser homem, é fraco e não chega à sola do seu sapato. Os motivos são de conhecimento de todos… Lá vem Joedson Telles na contra mão outra vez. É isso mesmo. Faz parte do ofício. O fato é que Mendonça estaria perfeito, preciso, cirúrgico se estivesse ajuizando sobre uma relação familiar. Dos membros de uma igreja evangélica. Entre amigos. Sei lá… Dos bispos católicos… Mas em se tratando de política? Amigo: tudo pode acontecer. Ou nada pode acontecer. Como, aliás, no caso em tela. Não deveria ser assim, evidente. Mas é. Se não fosse não seria a política que conhecemos. Certo ou errado, Edvaldo não foi o primeiro e não será o último. Já pensou, internauta, na mágoa que João Alves e Maria do Carmo podem nutrir de Mendonça, com ou sem motivo?

Mendonça é um político sério, bem intencionado, preparado e injustiçado no episódio pano de fundo para esta mágoa. Ninguém com o juízo perfeito discorda. Aqui a unanimidade é inteligente. Edvaldo Nogueira foi de uma falta de atenção insuperável no momento mais difícil da vida pública de Mendonça. Não se discute isso também. O próprio Edvaldo tem a humildade de reconhecer a falha. Contudo, por conta deste episódio, colocar em xeque o político Edvaldo?

Evidente que, se a coisa não for contornada, e pelas palavras de Mendonça não será, Edvaldo não contará jamais com votos sobre os quais Mendonça tenha influência. Mas fora isso, Edvaldo seguirá crescendo politicamente. É só querer enxergar. A roupa da história de não chegar à sola do sapato, de ser fraco e tal não cabe no político Edvaldo.

A inesquecível entrevista que Mendonça concedeu a George Magalhães, percebam, lhe serve para minimizar traumas passados. Mendonça volta à mídia como vítima. Como ele já anunciou que será candidato, serve como um divisor de águas para seu projeto pessoal, queira o bom Deus, exitoso. Mendonça tem tudo para voltar a contribuir para um Sergipe melhor. Mas a ascensão de Edvaldo salta os olhos.

Edvaldo é um político hoje tão maduro que depois de todas as palavras duras de Mendonça optou por não revidar. Saca só os verbos, internauta: “Compreendo a reação de Mendonça Prado, uma vez que, de fato, eu não liguei para ele no período em que esteve afastado do cargo de presidente da Emsurb, o que pode ter sido negligência de minha parte em relação à solidariedade que ele merece. Mas quero ratificar a minha confiança nele”, postou Edvaldo numa rede social. Será que ele não tinha mesmo como devolver as duras palavras de Mendonça?

Foi-se o tempo que o político Edvaldo era tido como um coadjuvante do saudoso Marcelo Déda. Um aliado de confiança sem luz própria e incapaz de andar com as próprias pernas. Se esta ótica – preconceituosa para uns e realista para outros – já inspirou analistas políticos, hoje, a história é bem diferente. Edvaldo, atual prefeito da capital de Sergipe, se dando ao luxo de ter construído a estrada, tratou de sepultar desconfianças. Provou ser um dos mais habilidosos entre os aliados, quando o assunto é articular politicamente.

Quem nunca escutou que Edvaldo Nogueira não era o prefeito de Aracaju, mas um secretário do então governador Marcelo Déda, quando Edvaldo, de vice, foi alçado a prefeito, em 2006, com a desincompatibilização do saudoso para disputar o governo?

Ali, Edvaldo não cometeu o pecado de se deixar levar pela vaidade por portar a caneta e rechaçar o juízo. Deu de ombros, pelo menos publicamente, se manteve fiel ao amigo Déda e apostou no tempo e no seu modo de administrar.

Não tardou para o próprio Déda o reconhecer como um melhor gestor que ele próprio. A coroação – ou a pá de cal na história de caminhar com pernas alheias – veio, sobretudo, com a reeleição, em 2008, e a fama que Aracaju avocou de cidade da qualidade de vida.

Evidente que Aracaju tinha e tem os seus problemas. Mas não se está cobrando a perfeição ao gestor Edvaldo, mas jogando luz sobre como o político Edvaldo evoluiu e sepultou desconfianças, apesar de não faltar quem discorde desta evolução. É assim a política, e viva a democracia.

Opto, assim, por enxergar um Edvaldo vitorioso neste mundo político. E não apenas porque venceu a eleição 2016 e voltou a comandar os destinos de Aracaju. Mas pela forma como venceu. No início da jornada, com Déda fora de combate, Edvaldo estava literalmente sozinho. Precisou articular cada tijolinho e atrair aliados. Inclusive com outras pré-candidaturas do mesmo bloco postas. A mais notável a do então nome do PMDB do governador Jackson Barreto, Zezinho Sobral.

Mais uma vez, ali, assim como já havia feito com aquela história de secretário de Déda, Edvaldo soube silenciar e trabalhar. Ninguém ouviu uma só crítica ou queixa pelo fato de Jackson não ter abraçado o seu projeto de primeira. Conquistou o PT, outros aliados – inclusive o próprio Mendonça – e, por fim, o governador com PMDB e tudo que ele agrega. Venceu a eleição contra um Valadares Filho com muita musculatura e aceitação, registre-se.

Edvaldo, que usou e abusou da rejeição do deputado federal André Moura, ligando-o a Valadares Filho para vencer o pleito, usa o mesmo André Moura, hoje, para assegurar verbas para sua gestão em Aracaju. Num momento em que o aliado histórico PT fala em golpe, Edvaldo, em nome de Aracaju, deixou a política e a animosidade no palanque e, sem constrangimento, procurou o líder do governo federal no Congresso e vem conquistando objetivos. E já externou que bateu e baterá à porta de qualquer adversário se o assunto for ajudar Aracaju.

Edvaldo pegou uma prefeitura em estado de caos. Devendo R$ 840 milhões. Só isso. Uma prefeitura cuja fama era: auxiliares roubam enquanto o prefeito usa o vaso sanitário e não dá descarga. E o eleitor chamou Edvaldo e voltou para limpar. Confiou-lhe a difícil tarefa num momento de crise econômica, moral e política. Se conseguirá só o tempo dirá.

Aracaju, evidente, anda longe da cidade da qualidade de vida. Nem o próprio Edvaldo está satisfeito. Todavia, o gestor Edvaldo é socorrido pelos gestos do político Edvaldo e, assim, a coisa vai fluindo, como agora com essa bolada de R$ 63 milhões liberados por mãos adversárias – inimigas outrora. Se isso é ser fraco, se não é um mérito do político Edvaldo o que seria então?

 

Modificado em 28/09/2017 06:25

Universo Político: