body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

“Eduardo Amorim tem dito que o Estado está quebrado. Mas as discussões estão no que um possui, onde mora, que se diz pobre e mora numa casa de rico. Não é isso que interessa. Temos problemas sérios”, diz Machado

Machado: os pobres são prioridades

Por Joedson Telles

Fora da disputa eleitoral deste ano, o vice-prefeito de Aracaju, José Carlos Machado (PSDB), faz uma análise do processo, que termina no próximo domingo com o eleitor indo às urnas eleger presidente da República, governador, senador, deputado federal e estadual. Segundo Machado, o eleitor precisa saber em quem está votando, já que o voto tem consequências. “Quando se escolhe um governador é uma responsabilidade muito grande. Tem que olhar o passado, a vida dos candidatos. Talvez seja por isso que, ao invés de falar dos grandes temas, eles prefiram se mostrar, como se isso fosse importante. O importante é o que tem na cabeça, o que pretende fazer em prol do mais pobre. Se governa para todos, mas os problemas dos ricos são bem menores. Os pobres são mais necessitados, enfrentam uma fila para marcar um exame e não tem, enfrentam uma fila para matricular um filho numa escola pública e não consegue. O que interessa é isso. Eu acho que não deve prevalecer paixão partidária”, diz. A entrevista:

Estamos terminando de vivenciar uma eleição atípica?

Um pouco diferente das outras, principalmente pela ausência de material de publicidade. Não é só aqui em Sergipe. Eu vim de São Paulo, há duas semanas, e lá tem muito menos do que aqui. Você não percebe quando passa aquele clima que antecede o dia da eleição. Estamos às vésperas da eleição, praticamente. Fora os programas, fala-se pouco em eleição. É essa percepção que eu tenho. Mas recentemente começaram a colocar uns cartazes em canteiros, infligindo a legislação, porque a legislação obriga que cada cartaz daquele esteja do lado de um figurante, de uma pessoa contratada para isso, mas fora isso pouca coisa acontece. Imagine quando os programas de rádio e televisão saírem do ar, quando um falar do outro nem ouvir eles vão. A coisa vai ficar mais fria ainda. Para mim, não tem nada definido. A Maria (senadora Maria do Carmo que disputa a reeleição) é possuidora de um recal extraordinário. Tem grandes chances de se eleger, e a eleição para governador, na minha avaliação, está indefinida.

O que o senhor acha dessa diferença entre as pesquisas para o Governo do Estado?

Eu tive uma lição e quem me ensinou foi José Thomaz Nonô, vice-governador de Alagoas, que veio aqui (Sergipe) me fazer uma visita. Ele coordena a campanha de Aécio Neves no Nordeste. Pesquisas, às vezes, se publica com cinco dias de antecedência, mas há sempre uma diferença: de um dia para o outro, muita coisa pode mudar. Você viu o que a morte de Eduardo Campos provocou no cenário político brasileiro. Elevou Marina no primeiro momento. A Dilma pensava que ganhava a eleição no primeiro turno, hoje ela já tem certeza que tem segundo turno. Só não sabe com quem vai disputar, com Marina ou com Aécio Neves. Já se fala na possibilidade até de Dilma ficar de fora por conta desses mal feitos do PT que aparece a cada segundo na imprensa brasileira. Essa da Petrobras é de arrepiar até defunto. Se as observações feitas por esses envolvidos no escândalo, que optaram pela delação premiada, chegarem ao público, chegar ao conhecimento da Justiça a tempo… Um escândalo sem precedência. Vai colocar o mensalão no cantinho num minuto. Aliás, quando Paulo Roberto veio aqui em Sergipe anunciar a construção dessa refinaria eu falei para três ou quatro pessoas que eu não acreditava em absolutamente nada daquilo. Poderia até construir a refinaria, porque hoje quem tem o monopólio do refino é a Petrobras, mas não vai abrir mão desse monopólio simplesmente porque é para seu Paulo Roberto. Ele pode até construir com financiamento do BDNES, seis meses depois vai alegar dificuldades e vender quatro vezes pelo que vale. Se ele gastasse US$ 100 milhões, ia colocar a refinaria, quatro meses depois ia dizer que não tinha condições de competir, que o preço estava engessado. Vendia à própria Petrobras por quatro vezes o valor que gastou. Eu comentei isso pelo menos com três ou quatro pessoas. Eu já desconfiava quando foi anunciado naquele comercial do Governo do Estado do Paulo Roberto com o governador Jackson Barreto. O cara vem e promete que quer construir uma refinaria em Sergipe. Esse cidadão foi 12 anos diretor da Petrobras, oito anos do lado de Lula e quatro do lado de Dilma, quem é governo aliado de Lula tem que receber bem. Eu acho que o governo não tem culpa nisso, mas isso configura-se, se não em fraude, numa coisa próxima da fraude. Eu acho que Paulo Roberto nunca teve intenção nenhuma de beneficiar Sergipe gerando empregos. Ele pode até ter a intenção de construir a refinaria para gastar 100 e vender por 400. O serviço público exige o cuidado até na leitura. Tem que ser dobrado. Em torno da administração pública existem milhares de pessoas. O Governo de Sergipe tem que prestar contas para quase 2 milhões de sergipanos. A Prefeitura de Aracaju tem que prestar contas pra quase 700 mil aracajuanos. Tem que ter muita responsabilidade. Por isso que eu digo que uma das principais qualidades de um gestor é saber distinguir o importante do fundamental. Ao por a sua assinatura tem que ter o cuidado dobrado. Hoje, os tempos vêm mudando com a internet, que coloca tudo ao conhecimento de todos. Antigamente o governador nomeava juiz, transferia promotor, mas, hoje, a coisa foi mudando, veio a Constituição. As coisas hoje têm que ser feitas e bem feitas com muito cuidado.

Quais devem ser as prioridades do próximo governador?

Sergipe tem dois problemas gravíssimos: um é esse déficit da previdência. Eu ouvi dos setores do governo que o déficit da previdência, no próximo ano, pode chegar a um R$ 1 bilhão. Isso não é uma coisa de fácil solução. Isso não é só em Sergipe. O Governo Federal vai ter que sentar e encontrar uma alternativa. O problema de saúde não é só de Sergipe. É um problema nacional, e o Governo Federal ainda não tomou nenhuma alternativa para resolver essa falta de recurso que acontece na área da saúde. Esse déficit da previdência é gravíssimo. O próximo governador tem que realmente encontrar uma pessoa que entenda do assunto e buscar alternativas para resolver. Outra coisa é a elevação da dívida. Tomou-se muito dinheiro emprestado. A relação entre o montante da dívida e a receita corrente se elevou muito. Claro que está no limite e, por isso, conseguiu tomar dinheiro emprestado. O Estado que comprometia cerca de 6% da receita corrente líquida com pagamento, no início da dívida, esse valor sobe para 10% ou 11%. Isso impede o Estado de fazer investimentos como é necessário na saúde, educação, segurança e em outros tipos de serviço que a sociedade espera e carece. Tem uma questão mal explicada que é essa BR 101 que não se acaba. Enquanto na maioria dos estados brasileiros está prestes a construir, aqui em Sergipe tem um trecho de Estância até a fronteira que nem se licitou ainda e ficou por responsabilidade do Governo do Estado, mas ninguém sabe quando vai começar. Começou quando Fernando Henrique era presidente da República. São três problemas graves que vêm à mente. A questão da segurança se impõe necessariamente um aumento significativo do contingente. Entram 600 soldados, mas saem 500. Eu vi domingo passado no calçadão da 13 de julho e fiquei impressionado, que a cada 100 metros tinham três policiais. Por que só hoje? Falaram que era porque estavam sendo recém-contratados e era uma espécie de vitrine para a população ver. Até às 18 horas quando eu me dirigia estavam três policiais na esquina do prédio que eu moro. Esse contingente tem que ser vem aumentado. Essa questão de segurança tem que ser vista como prioridade. Os índices que medem a qualidade da educação em Sergipe estão em nível de subsolo e nunca foi assim. Isso precisa melhorar. Nós somos um estado pequeno e necessariamente em alguns setores nós temos que ser o melhor. Eu fui colega de Delfin Neto na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal, e disse a ele que Sergipe é detentor de índice que mede qualidade de vida que supera, às vezes, estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná. Nós estamos caminhando para atender toda a população de Sergipe com água potável. Isso eu disse a Delfin há seis anos. Ele ficou encantado com isso e foi motivo até de um pequeno artigo que ele escrevia na Folha de S.Paulo. Os desafios do próximo governador são grandes, fundamentais. Ele tem que se preocupar com educação, saúde. A situação da saúde em Sergipe é gravíssima. O grande culpado por tudo isso é Rogério. Ele deve ter se espelhado num modelo que não deu certo aqui em Sergipe. Aliás, o modelo implantado aqui em Sergipe foi único. Sergipe foi o único estado que teve coragem de implantar esse modelo que está aí vigorando. Tem dados estarrecedores. Eu tomei conhecimento há pouco. Quando Rogério era secretário da saúde da Prefeitura de Aracaju (gestão Marcelo Déda), os recursos federais que vinham a Sergipe na área da saúde quase que 50% ficavam em Aracaju. Quando Rogério saiu da Secretaria de Saúde de Aracaju e foi para a Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe (gestão Marcelo Déda) esses recursos caíram para menos de 25%. Permanece assim até hoje. Eu converso com alguns que foram secretários de saúde do município que têm que rever tudo isso. É um sistema rico só em siglas. O Sistema Único de Saúde deve ter umas 400 siglas. Cada vez que me reúno e participo de reuniões com especialistas só ouço siglas. Essa repactuação de recursos tem que ser resolvida imediatamente. Aí me confessa alguém que já foi secretário de saúde dos outros governos: quando eu alertava para isso, diziam que era aliado, que deixasse como está. Aí os recursos começaram a vim para Prefeitura de Aracaju via Estado, só que o Estado segura os recursos e não repassa. Quando o secretário reclamava dizia que eram aliados e que na hora certa resolvia isso. Mas quem vem sofrendo é Aracaju . O problema não é só a falta de recursos. Está provado que a falta de recursos afeta profundamente. Quase que um caos. A prestação de serviço não é ideal na área de saúde para a população de Aracaju, mas não é só isso. Existe também a falta de empenho, de criatividade, a vocação. Uma coordenadora de um posto tem que ter vocação para aquilo. Se colocar um professor numa sala ele vai lidar com 40 crianças que pensam diferente. Se ele não tiver vocação para ouvir, nunca acerta. Eu lembro na minha época que Maria Branquinha, minha professora em Itabaiana, tinha 80 alunos, 20 de cada turma. Ela tomava conta de todos, ensinava bem e teve frutos. Vlademir de Souza Carvalho (juiz federal) foi aluno de Maria Branquinha, entre tantos outros. Aí você coloca oito professores à disposição de 30 alunos do ensino fundamental e, depois de quase sete anos, eles não sabem nada. Se ler, mas não se consegue interpretar. As coisas estão totalmente diferentes do que era no passado. Obras são outras coisas que preocupam e devem estar na mente do gestor. Ele consegue até o recurso, consegue contratar, dar a ordem de serviço, mas só não sabe quando termina. O governador, recentemente, anunciou as obras da continuação da orlinha no mercado. Passei lá um dia de sábado e tinha uma pessoa trabalhando. O ideal era que ele terminasse antes de dezembro. Não há data prevista para conclusão. Recentemente, entregamos um conjunto chamado Vitória da Resistência, com 405 casas, que levou quatro anos para construir. Eu era diretor técnico da antiga Cohab, e construímos o conjunto Augusto Franco com 4.510 unidades em 36 meses e ainda fizemos terraplanagem, 70 km de rua pavimentada, escola, delegacia, posto de saúde. A transposição do Rio São Francisco anunciada pelo Governo Federal (na época Lula) ninguém sabe quando será concluída. Começa, abandona, o que foi feito o tempo destrói. Em visita ao Hospital São José, os recursos que foram enviados para lá, desde o tempo de Marcelo Déda, para construção e ampliação de uma UTI, devolveram agora.

“Problemas sérios precisam ser resolvidos”

Mas questões como a previdência não pautaram os debates dos candidatos a governador…

Estão mais preocupados no que fulano possui, de quem fulano é parente. Isso eu vejo pouco nos programas eleitorais e os que eu vi eu não me agradei. Eu não vi ninguém falando em previdência. Eduardo Amorim tem dito algumas vezes que o Estado está quebrado, mas as discussões estão apenas no que um possui, onde mora, que se diz pobre e mora numa casa de rico, se diz rico e mora numa casa de pobre. Não é essa discussão que interessa. Temos problemas sérios e precisam ser resolvidos. Amorim defende muito bem, e no tempo que nós fomos colegas eu já percebia nele o esforço, a obtenção de recursos para construção do Hospital do Câncer. É diagnosticar e ter para onde encaminhar. E os recursos para manter o hospital em funcionamento de que forma nós vamos obter? Estamos em um Estado quebrado, é o Governo Federal que vai garantir? O paciente se submete ao tratamento de câncer que não é barato. Aquilo que é fundamental não estão discutindo. Estão discutindo o dia-a-dia de cada um dele que não interessa a ninguém. Eu quero saber a solução para resolver o déficit da presidência, porque a cada mês se integram 100 ou 200 aposentados e pensionistas do Ipes, e a tendência da previdência é crescer sempre. O orçamento é limitado, já compromete com educação, com a saúde, já tem esse déficit da previdência, o que sobra pra investir? Nada ou quase nada, o que obriga ao governador sair com o pires na mão atrás de recurso do Governo Federal. Se o Governo Federal é aliado, me recebe com boa vontade, mas se é meu adversário nem me recebe e eu fico vivendo nesse eterno conflito administrando dificuldades.

O próximo governador tem a obrigação moral de dar um tratamento decente ao servidor público?

Todo governador tem metas a cumprir, mas não consegue realizar essas metas se não contar com o servidor. Eu não consigo sozinho. Hoje para se governar se faz uma aliança. Aqueles partidos que compõem a aliança indicam pelo menos um secretário. É normal. O governador nomeia quem nem conhece. Num primeiro momento, ele está nomeando uma multidão e tem como principal desafio transformar essa multidão numa equipe. Se não conseguir isso a coisa não funciona. No governo e na prefeitura, o “eu” deveria ser proibido. Deveria se usar mais o “nós”. A união tem que ser permanente. Eu lembro que eu fui secretário de obras na primeira administração de João Alves e eu sabia de tudo que acontecia na educação porque sentávamos, conversávamos. Nós éramos verdadeiramente uma equipe. Quando João nomeou-me, muitos deles não me conhecia. Mas a função do gestor foi transformar aquela multidão numa equipe. As coisas mudaram muito para pior.

O que o senhor diria ao eleitor nesse momento quando ele vai à urna, no próximo domingo eleger seus representantes para os próximos quatro anos – oito no caso do senador?

Eu só me permito dar o conselho de pesquisar. Ao dar o voto procure saber em quem está votando porque o voto tem consequências. Senador são oito anos, governador são quatro anos, deputado são quatro anos e ninguém ganha sem voto. O que está na Assembleia é fruto da sociedade, o que está no Senado é fruto da sociedade. Quando se escolhe um governador é uma responsabilidade muito grande. Tem que olhar o passado, a vida. Talvez seja por isso que ao invés de falar dos grandes temas, eles prefiram se mostrar, como se isso fosse importante. O importante é o que tem na cabeça, o que pretende fazer em prol do mais pobre. Se governa para todos, mas os problemas dos ricos são bem menores. Os pobres são mais necessitados, enfrentam uma fila para marcar um exame e não tem, enfrentam uma fila para matricular um filho numa escola pública e não consegue. O que interessa é isso. Eu acho que não deve prevalecer paixão partidária. No Brasil ninguém sabe mais que partido e que ideologia você é. Eu participei de um seminário com um marqueteiro espanhol. Ele disse que na Europa tem esquerda, direita, centro-esquerda, centro-direita, mais uma ou duas. Temos 35 partidos no Brasil. Não existe no Brasil nem partido e nem político que se rotule de direita. Menos um. Sobram quatro ou cinco linhas ideológicas e 30 e poucos partidos. Eu costumo dizer que, no Brasil, a lei ideológica que prevalece e onde estão a maioria dos partidos é o centro-móvel. É aquela linha que cabe os partidos que estão sempre onde o governo está, e quem encabeça essa frente de partidos é o PMDB, que sempre está no governo. Se a conveniência for ir para esquerda, vai. Se for para direta vai, se for se manter no centro se mantém, mas sempre está no governo.

joedson: