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Do desrespeito à igreja, passando pelo equívoco de propor uma sova à calcinha de Lucimara

Lucimara: calcinha para rechaçar violência

Por Joedson Telles

A tal história de a vereadora Lucimara Passos ter ido à tribuna da Câmara Municipal de Aracaju sem calcinha pautou blogs, sites e redes sociais, nesta terça-feira 25, e acredito que pautará, nesta quarta-feira 26, jornais e programas de rádio. A ideia foi protestar contra a violência da qual as mulheres são vítimas. Curiosamente, afora a palavra da própria parlamentar, não há provas irrefutáveis de que as partes íntimas estavam, de fato, sem a “devida” proteção. Ninguém conferiu. Até porque seria demais – mesmo em se tratando do episódio em foco. Todavia, o assunto roubou a cena.

Exceto na ótica de certos mentecaptos viciados no ódio ao contraditório, julgo desnecessário detalhar neste espaço que sequer merece ser levado em consideração a ideia do vereador Agamenon Sobral. Se violência contra um homem é algo abominável, imagine contra uma mulher? Como diz o lugar comum, “em uma mulher não se bate nem com uma flor”. E vale o contrário também. Todavia, o desrespeito, a aberração, o abuso, a violência teve início bem antes de o vereador Agamenon entrar na história, e propor, equivocadamente, a sova seguida do banho de água com sal – acreditando ser uma medida pedagógica para que a noiva aprendesse a respeitar a igreja.

O fato de uma vereadora achar que a melhor forma de rechaçar a violência proposta, algo que a esmagadora maioria da população já abomina, aliás, é deixar de usar uma calcinha e propagar isso em plena tribuna da Câmara Municipal, não pode ofuscar o desrespeito à Igreja Católica, que é maior que este jornalista, que Agamenon, que Lucimara…

Particularmente, acredito que se o deputado federal Tirica fosse à tribuna da Câmara Federal e, com uma cueca em mãos, dissesse em alto e bom som que estava ali sem cueca, paladinos da moralidade, intelectuais de vento cairiam matando. Defenderiam a igreja. No entanto, calam por calar diante da mesma cena genuína. Alguns até aplaudem a vereadora Lucimara Passos. Sequer tocam no tema igreja.

A Igreja Católica, e fico ainda mais à vontade para ajuizar pelo fato de não ser católico, tem seus dogmas. O casamento é algo sagrado. É bíblico. Se o padre Jonas Mourinho, 68, proibiu o consórcio, após constatar que a noiva estava sem calcinha, e se ele estava seguindo o manual de casamento da igreja, pronto. Não cabe mais discussão. É de uma violência, de uma estupidez muito grande a pessoa querer casar em uma Igreja Católica, mudando o seu manual. Quanta petulância.

O espanto do padre é tanto que ele se refere à noiva como profana, e detalha outro pecado dela à luz da Igreja Católica: ter depilado os pelos das partes íntimas. Não me pergunte como ele sabe. Mas se ela estava sem calcinha, e ele constatou… “Vagina careca é diabo na boneca”, diz num vídeo o padre, quando explicou sua decisão.

Evidente que, assim como Lucimara, usar ou não uma calcinha é um direito que assiste a qualquer mulher. Do mesmo modo, depilar tudo, fazer o chamado decote ou optar pela mata atlântica também. No máximo, podem precisar discutir isso com o namorado ou esposo. Mas é até bufo querer mandar nas partes íntimas alheias.

No entanto, a discussão é outra. É acabar com a violência contra a mulher. Mas é também o respeito às normas – ou dogmas -, sei lá, estabelecidos dentro de uma Igreja Católica. Se um casamento não pode ser realizado dentro de uma Igreja Católica, se a noiva não estiver usando uma calcinha, isso precisa ser respeitado.

Já imaginou um evangélico querendo retirar a imagem de Maria para poder casar em uma Igreja Católica? Ou o contrário: um católico querer colocar uma imagem de “Nossa Senhora” no altar de uma Igreja Evangélica para, só assim, se casar? É ir de encontro à ordem estabelecida do mesmo jeito.

Particularmente, acredito que só Jesus Cristo salva. É aquela passagem bíblica: “eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai se não por mim”. Aí eu pergunto: que m.. eu vou fazer dentro de um centro espírita, cuja cresça é na reencarnação, em lapidar o carma e aquelas coisas todas lá? Se respeito a crença de todos, mas, na minha fé, o único caminho é o mestre Jesus, vou fazer o quê lá?

Para concluir, quer ver uma coisa? Vamos supor que o regimento da Câmara Municipal de Aracaju rezasse que o parlamentar que subisse à tribuna da Casa sem estar vestido em uma cueca ou uma calcinha, dependendo do sexo, lógico, quebraria o decorro e perderia o mandato. Pegou o juízo? Agora medite e responda: alguém se atreveria a fazer o que Lucimara fez? O caso da Igreja Católica é parecido. Se o manual diz não, é não. Agora partir para dar uma surra e depois jogar água é sal é desconhecer a palavra de Deus, que desafia o que não tem pecado a atirar a primeira pedra.

P.S. Fora a violência, mas levando junto o desrespeito. Até porque, do contrário, tudo não passará de demagogia.

Modificado em 26/11/2014 06:52

joedson: