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Dilma e sua forma de lidar com sujeira que emerge pertinho do seu nariz

Por Joedson Telles  

Enquanto aguardo mais uma versão da melhor partida de futebol do mundo – Real Madrid x Barcelona, às 13h na ESPN HD -, converso com os botões sobre o debate entre os presidenciáveis, ontem à noite, na Rede Globo. Com as devidas divergências, chegamos ao lugar comum: ficou claro, entre outros detalhes, a forma descarada de se fazer política subestimando inteligências. Apostando na ignorância e desinformação do brasileiro. Um 3 x 4 rapidinho: talvez esquecida que o candidato Aécio Neves estava a representar a parcela do eleitorado que não foi persuadida por ela, e este mesmo eleitorado, em sua grande maioria, assistia a tudo ao vivo, como a torcida merengue o fará no Santiago Bernabéu, a presidente Dilma Rousseff não respondeu ao Brasil se o ‘companheiro’ Zé Dirceu é um inocente, um homem de bem injustiçado ou, se como cunhou com atitudes Joaquim Barbosa e outros ministros do STF, não passa de um meliante que tardou a ver o sol nascer quadrado. Aliás, a última opção é também a das ruas.

Como é visivelmente despreparada para debates eleitorais, lembrando zagueiros tentando achar Messi dentro de campo, Dilma apelou para uma receita conhecida no mundo político: falar em outra safadeza como forma de desviar o foco. O socorro? O mensalão tucano, que também deveria jogar meio mundo na cadeia, diga-se. A tática, contudo, se mostrou pífia. Tipo um contra-ataque fulminante que começa com uma roubada de bola do alemão Kroos, que faz a bola chegar a Benzemar, e este rola para Cristiano Ronaldo balançar as redes do Barcelona, Aécio lembrou que um dos coordenadores da campanha petista é, ninguém menos, que o senhor Walfrido dos Mares Guia. A torcida vibrou como quem fita um golaço. E o árbitro William Bonner, em tempo, pediu silêncio. Mas quem não sabia obteve ali a informação sobre a incoerência da candidata. O rapaz é acusado de estar atolado até o pescoço no citado pela própria petista mensalão mineiro. Ou seja, a mesma presidente candidata que insiste em não deixar o que define como crime cair no esquecimento emite sinais de que a água petista limpa quaisquer sujeiras. Será?

Penso que a necessidade de conciliar seus sentimentos frente à realidade – inclusive às críticas construtivas calçadas na verdade factual, vindas de adversários – com o que a turma do marketing sempre empurra nos candidatos em momentos como este deixou Dilma pior do que o que já é em se tratando de debater publicamente. Assistiu-se a um vexame. Nem o fraco lateral Arbeloa diante da sua dificílima missão de marcar o liso Neymar é tão mal. A presidente esteve confusa, mal humorada, sem conseguir se comunicar bem em certos momentos. E o pior: demonstrou ser desinformada ou usou da má fé para ludibriar o eleitor – como foi o caso de afirmar que o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso deixou os números da inflação bem acima do que encontrou. FHC teve inúmeros pecados. Mas até o petista mais desinformando do planeta sabe que isso não é verdade. Aliás, o Plano Real socorreu o Brasil naquela época. Dilma tentou levar a bola com a mão.

A pergunta que se faz é a seguinte: depois de oito anos de Lula e mais quatro de Dilma, totalizando, assim, longos 12 anos petistas à frente do Governo Federal, será mesmo que não há ações importantes na vida do brasileiro para que a presidente tirasse do banco de reserva naquele momento, e tentasse vencer a partida da forma correta? Será que ela não tinha mesmo como aproveitar melhor o seu tempo e entupir o Aécio, como um gol de Messi em pelo Bernabéu o faria? Evidente. Mesmo sendo péssima em debate, acho que Dilma poderia insistir duas, três, quatro vezes no trabalho social do seu governo, que é bom. Como quem toca a bola à espera do melhor momento para finalização. Seria melhor do que colocar em xeque todo o conjunto com argumentos facilmente derrubados. E, em alguns casos, até ridicularizados.

No momento em que o eleitor tem dados irrefutáveis sobre a falta de veracidade de uma só informação que sai da boca de um presidenciável, note-se, tende a duvidar dos demais pontos. Ou não? E no caso em foco, não foi apenas a questão da inflação. Lembro também que FHC conseguiu um ganho real para o salário mínimo de mais de 80%. Não caberia, portanto, Dilma jogar que os tucanos não se preocupam com o tema. Os erros, e não foram poucos dos governos tucanos, deveriam ser explorados, evidente. Mas dentro da realidade, como aquela de comparar o número de escolas profissionalizantes. Calou Aécio que veio com aquela de olhar o futuro. Mas faltou preparo na petista para criar situações semelhantes, e o olé adversário foi inevitável.

Falta preparo, aliás, para entender o papel da imprensa. Lembremos, a propósito, como a candidata reagiu à provocação adversária, logo no início do jogo, sobre uma matéria da revista Veja, na qual o doleiro Alberto Youssef revela à luz da delação premiada que tanto Dilma quanto o compadre Lula sabiam do “filé” que estava sendo degustado na cozinha da Petrobras ao arrepio da lei. Aliás, que canelada!

“Essa revista que fez e faz sistematicamente oposição a mim faz uma calúnia e difamação do porte que ela fez hoje, e o senhor endossa? A revista Veja não apresenta nenhuma prova e tem o hábito de na reta final tentar dar golpe eleitoral. E isso não é a primeira vez: também fez isso em 2002, 2006, 2010 e agora em 2014”, disse, tentando isolar a revista na mídia e prometendo bater à porta do Judiciário para processar a revista.

É fato que a revista não torce pelo PT. Tem linha editorial muito distinta, por exemplo, da Carta Capital. Veja já derrubou tantos auxiliares dos governos petistas que perdemos as contas. Entretanto, ironicamente, neste sábado, dia 25, jornais como O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, para citarmos apenas os mais influentes do País, tratam da mesminha pauta que Veja antecipou. Estaria Dilma pensando na jogada de processá-los também, sob a chancela de serem opositores sistemáticos do modo petista de governar? O Soares perde a bola para Pepe e inventa de dar outra mordida em um adversário logo na sua primeira partida com a camisa do Barcelona no super clássico? O cartão vermelho é inevitável.

É bom que desavisados não embarquem em retórica com cheiro de interesse político. O anormal, a surpresa, seria Dilma parabenizar o jornalismo de Veja e exigir depois as provas das fontes. Ela é candidata e a reportagem a desgastou, evidente. Agora, a presidente deveria lembrar que a imprensa não inventou a roda. O doleiro Alberto Youssef primeiro afirmou à Polícia Federal e ao Ministério Púbico que ela, Dilma, e o ex-presidente Lula, sabiam, sim senhor, da roubalheira envolvendo a Petrobras. Se o doleiro mentiu, inclusive, colocando a delação premiada em xeque, ela tem a obrigação de interpelá-lo e exigir provas. Até porque todos são inocentes até que se prove o contrário. O que não pode é o jornalismo se ajoelhar. O doleiro revela à PF e ao MP as tais informações, mas a revista não pode ecoar o escândalo à sociedade, porque a presidente tenta se manter no poder? Soa arrogância.

Um partido que nasceu nas ruas lutando contra todos os tipos de mazelas que atingem a sociedade – sobretudo a gama mais pobre –, que carregou o sonho de milhões, não pode se permitir ao luxo de querer censurar a mídia. Impor terror, falando em processo por conta de uma informação cuja fonte é citada e manifesta sentimentos precoces à PF e ao MP. A história do PT não devia lhe permitir este tipo de coisa pequena. Dilma e Lula não deviam deixar sem respostas convincentes indagações sobre escândalos como o mensalão e a Petrobras. Não importa se os tucanos têm ou não moral para passar a bola. Tampouco o doleiro preso. Problema deles. A questão aqui é outra. É, num momento propício e delicado da partida, analisar como se comporta uma presidenta (ela gosta de ser chamada assim) diante de tanta sujeira emergindo bem pertinho do seu nariz em pleno andamento da partida…

… Acho que dá Real Madrid, com Ronaldo deixando o dele. Na torcida.

Modificado em 25/10/2014 19:51

joedson: