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Desta vez, o PT não será juiz de si próprio

Por Joedson Telles

Eu disse que um dia esse negócio de se achar impecável, a única geladeira a funcionar no deserto, de não admitir equívocos e não aceitar o contraditório ainda custaria caro ao PT. Se mesmo diante de provas irrefutáveis, os companheiros nunca admitiram um erro sequer, se sempre rechaçaram de pronto qualquer juízo contrário ao pensamento predominante, como passar credibilidade, agora, na tese que o Lula é inocente, ainda que, vamos supor que o ex-presidente seja?

A menos que a Justiça diga isso, e diz justamente o contrário até aqui, pela boca do PT, ninguém, minimamente inteligente, acreditará na inocência do Lula. Sendo ou não sendo inocente, estando ou não errado, o PT sempre se disse o perfeito, o impecável. Mesmo agredindo os fatos. Se sempre foi assim em toda sua história, a exemplo do emblemático caso Zé Dirceu, em nome do quê se vai agora mergulhar de cabeça?

Aliás, o PT fala em julgamento político. Em trama para inviabilizar o projeto Lula lá outra vez. Argumenta que faz parte do golpe. Por sua vez, o juiz Sérgio Moro jura na cruz que julgou mediante provas documentais, periciais e testemunhais. Mesmo com toda boa vontade do mundo, para quem não é da cozinha, é difícil abraçar cegamente a tese petista assinando o atestado de óbito da Justiça como um Poder sério. Por que se a Justiça faz mesmo parte de uma armação contra Lula, como argumentam os zangados, ferrou. Vamos acreditar na seriedade de quem?

Aos olhos do PT, evidente, este texto peca por não abraçar a causa companheira. Todavia, não se tem aqui o objetivo, e nem poder para tal, de condenar ou absorver quem quer seja. Muito menos um ex-presidente da República. Agora do mesmo jeito que o Universo abre espaço para o pensamento petista, tenho mais que o direito, o dever, de deixar evidente que só o Judiciário tem o poder de mandar Lula para a cadeia ou atestar sua inocência. Discurso político é imprescindível para as eleições 2018. Mas não vale nada no tribunal. Ou pelo menos não deveria valer.

Se os petistas estão corretos? Do ponto de vista do jogo político, claro que sim. Se o partido é “perfeito”, se “ninguém filiado peca”, se esta é a sua cultura como abandoná-la justamente no momento em que maior estrela da legenda precisa desesperadamente do apoio dos companheiros? Fora de lógica e de combinação. Morre-se na cruz. “Viva Lula”, como fechou uma nota pública a Direção Nacional do PT, ao saber da sentença de Moro.

O problema é que esta cultura, atrelada ao fato de não caber mais o discurso da perseguição com tanta gente de outros partidos também na cadeia e outras tantas na mira da Lava Jato, depõe contra os argumentos petistas. Dificulta persuadir. É tanto que o discurso é no sentido de que o juiz Moro condenou Lula para agradar a sociedade. Algo que é contraditório, quando se leva em conta que o mesmo Lula lidera as pesquisas para presidente da República. Como sua condenação agrada a quem lhe manifesta intenção de votos? Vá se catar.

Há, evidente, adversários políticos do Lula e do PT que querem a condenação de qualquer modo. Com ou sem provas. Há também quem não seja adversário, mas não aprovou seus mandatos. E há, evidente, uma faixa da população que nunca votou no PT e torce contra Lula por questões pessoais. Não gosta da legenda e pronto. Ninguém é menino. Mas são espinhos do ofício – e longe de serem exclusividades do PT.

Tentar empurrar goela a baixo do brasileiro que o Judiciário condenou um inocente, irresponsavelmente sem provas, para lhe tirar das eleições 2018 e não provar a trama, ficar no terreno da retórica, é, sutilmente, sugerir que o povo é tolo e o Poder Judiciário precisa baixar as portas por falência. Que não temos mais em quem confiar. Insisto. Melhor não viajar nesta maionese estragada. Se o Lula for inocente, e tomará que seja, é triste para qualquer país ter um ex-presidente mentiroso e ladrão na cadeia, a Justiça – e somente a Justiça – tem o poder de dizer. Desta vez, o PT não será juiz de si próprio.

Modificado em 14/07/2017 08:48

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