body { -webkit-touch-callout: none; -webkit-user-select: none; -khtml-user-select: none; -moz-user-select: none; -ms-user-select: none; user-select: none; }

Deputado é alvo de preconceito por ser negro

Por Joedson Telles

Nesta entrevista que concedeu ao Universo, o deputado estadual e líder religioso, Pastor Antônio dos Santos (PSC) comenta o Projeto de Lei de autoria do Poder Executivo que estabelece cotas para negros nos concursos públicos, fala do papel da oposição nas eleições 2018 e revela que sente na pele o preconceito pelo fato de ser negro. “Às vezes, acontecem coisas e eu finjo que não vejo porque é até mais salutar para mim. A gente percebe algumas atitudes. Eu confesso que prefiro não enxergar e ter pena de alguém que acha que, por ser negro, sou inferior. Eu vejo como um coitado, alguém que não abriu os olhos para contemplar a beleza da vida e o valor que ela tem. Somos iguais. A gente percebe num gesto, mas confesso que nunca foi motivo de arrefecer minha auto-estima. Eu nunca fui atingido, apesar de acontecer. Eu faço de conta que não vejo e penso que a pessoa não nasceu ainda”, diz.

Como o senhor avalia o Projeto de Lei enviado à Assembleia Legislativa pelo Governo do Estado estabelecendo cotas para negros em concursos públicos?

É um projeto do ponto de vista de uma classe social que há muito tempo vem sendo penalizada, vem sofrendo, sendo duramente discriminada. É uma porta de oportunidade para que o setor público contemple um grupo de pessoas que não tem tido acesso fácil. Que, por incrível que pareça, há sempre discriminação na hora que se apresentam duas pessoas com o mesmo perfil, com a mesma capacidade, com as mesmas qualidades. O geral que a gente vê é a preferência por aqueles que têm a boa aparência, traço A, B ou C. Infelizmente, para algumas funções ainda colocam exigências. A boa aparência, cor, cabelo, beleza física. É impressionante como a população trata o ser humano como se fosse primeira, segunda e terceira categoria. Realmente é lamentável.

Mas e o Projeto de Lei?

O projeto chegou e é claro que será acolhido e aprovado. É uma porta que se abre de oportunidades. Bom seria que não precisasse desse tipo de atitude. Que todos ao seres humanos por serem iguais, até perante a Constituição, não houvesse nenhum tipo de discriminação. Oportunidades iguais para todos os cidadãos. No mercado de trabalho, a disputa deve ser pela capacidade, pela competência. Quando a cor da pele define uma posição estamos muito atrasados do ponto de vista de convívio social. Na minha avaliação, quando se estabelece uma cota para atender à população negra legaliza-se a discriminação. Minha preocupação maior é que o poder público está tornando legal uma discriminação que no inconsciente acontece.

O senhor entende a importância do PL, mas lamenta que se cheque ao ponto de precisar estabelecer cotas é isso?

Botar na lei que uma pessoa por ser negra vai precisar de uma mãozinha para ocupar um espaço? Ou seja, ele é menos competente, não tem capacidade? Não é por aí. Eu sou cidadão igual a qualquer branco. Eu não discrimino branco nem negro e não preciso de favor de ninguém para chegar onde estou. Todo espaço deve ser conquistado por competência. Eu defendo condições iguais, estudo igual, oportunidade igual. Quem tiver competência se sobressai. Foi assim que eu vivi toda minha vida e é assim que tenho ensinado aos meus filhos. Competência depende do esforço e não de uma mãozinha. Vou votar favorável ao projeto, mas com essa ressalva.

São experiências pessoais do senhor?

As homenagens que tenho recebido é pelo reconhecimento de um trabalho, de atitudes, de ações que engrandecem a sociedade. Quando fui convidado para participar de encontros de alto nível fora do país não deixaram de me chamar para sentar à mesa com o presidente dos Estados Unidos porque eu era negro. Convidaram pelo resultado de um trabalho. Eu nunca me deixei contaminar por sentimento de inferioridade porque sou negro. Eu sou igual. Quem quiser me achar inferior, problema. Eu sou aquilo que Deus me fez. Quando eu vou para Bíblia a única referência de cor referindo-se a Jesus diz que ele era moreno, eu me sinto orgulhoso do que sou e por isso nunca me envolvi em discussões raciais, até porque eu acho que isso é uma discussão que ficou lá para trás. A nossa história esta na Constituição que todos são iguais perante a lei, dando ao cidadão igualdade, o resto é conquistar pelo esforço.

Numa sociedade que adora agregar valores, o senhor é um deputado estadual, um líder religioso, um homem inteligente, uma pessoa carismática, mas, ainda assim, sente na pele a discriminação?

Às vezes, acontecem coisas e eu finjo que não vejo porque é até mais salutar para mim. A gente percebe algumas atitudes. Eu confesso que prefiro não enxergar e ter pena de alguém que acha que, por ser negro, sou inferior. Eu vejo como um coitado, alguém que não abriu os olhos para contemplar a beleza da vida e o valor que ela tem. Somos iguais. A gente percebe num gesto, mas confesso que nunca foi motivo de arrefecer minha auto-estima.  Eu nunca fui atingido, apesar de acontecer. Eu faço de conta que não vejo e penso que a pessoa não nasceu ainda.

Voltando aos valores, se o senhor sente isso, imagine uma pessoa negra, pobre, desprovida de inteligência?

Sofre barbaramente. Eu acho que o Brasil precisaria dar outro tipo de lição de plena e total igualdade. Que ninguém seja discriminado pela roupa que veste. Se você encontrar na rua dois cidadãos, um com um a roupa bonita, de marca, e outro maltrapilho, a tendência é de se prestar uma saudação ao bem vestido e fazer de conta que não enxergou o pobre. É uma tendência normal. Muitas vezes, eu tomo uma atitude até estranha. Numa situação desta, eu vou lá e dou um abraço naquele mais pobre porque ele já se sente um pouco discriminado. Eu acho que a população faria muito bem a si mesma em não discriminar ninguém. Existia há um tempo uma publicidade que diz que “o mundo trata melhor quem se veste bem”. Que hipocrisia humana. Mesmo que eu discorde desse princípio é o que se vê infelizmente na sociedade. O que eu defendo para o negro é que ele se coloque no lugar dele. Busque a conquista por esforço. Vá à luta. Não se intimide. Não se deixe abater porque acham que você é pobre. Seja inteligente. Eu nunca deixei de me pronunciar em um local esteja quem for. Eu sou um ser humano.

O que mais o senhor diria a quem é vítima do preconceito?

O que eu mais desejo é que cada um conquiste, não se dê ao abandono. A pessoa tem que se amar, se valorizar e dizer obrigado a Deus por ter nascido assim. Que se aceita e se admira por ter nascido assim. Aí o indivíduo vai à luta e conquista tudo. O mundo está aí para todos. Infelizmente, a sociedade com um alto teor de hipocrisia trata tudo diferente, mas quem tem competência tem condições de passar. É assim que eu vejo a vida, acreditando no ser humano. Esteja ele na condição social que estiver o ser humano para mim é uma riqueza, um patrimônio. Às vezes, eu passo numa avenida e vejo alguém mendigando no sinal. Aquilo dói. Às vezes, eu chamo e pergunto o que está acontecendo, o que está precisando, converso com eles para vê se eles se descobrem.  Por esse estigma de não terem nada a oferecer muitos terminam internalizando esse sentimento e se entregam ao abandono. Se a gente pudesse trazer para essas pessoas o valor que elas têm, um abraço.

Como está a oposição para eleição 2018?

A oposição está trabalhando. A sociedade percebe que o atual modelo de governo faliu o Estado. Um modelo ultrapassado que não atende à população nas suas mínimas necessidades. Assim, eu acredito que a oposição tem toda a oportunidade de apresentar uma alternativa ao povo sergipano. Eu defendo que haja uma união de todo o agrupamento para discutirmos os espaços e as estratégias de trabalho. Quem quiser que imagine que a população está satisfeita com o que tem acontecido. Sergipe como o segundo pior estado do Brasil em educação. Isso é gestão? A segurança pública, uma das piores do Brasil. Como o Estado de Sergipe atinge o nível de 67 homicídios por cada 100 mil habitantes. Isso é uma escala que só Medellín passou por isso. Mas tem representante do atual governo que diz que todo em Sergipe está bem. Quem achar que não está bem a saúde, educação, moradia, segurança, malha viária, é que vai seguir esse barco. Por isso, acredito que um projeto diferente para Sergipe é que vai melhorar o Estado.

A oposição não deveria definir logo quem será o seu representante para o Governo do Estado?

Eu acho que precisa fazer isso. Eu não sei se o tempo já está pronto para definir ou se um pouco mais à frente. Muitas vezes a exposição antecipada dá a margem para aqueles que querem desconstruir a imagem das pessoas e, infelizmente, existe um grupo que só trabalha com isso. Tentar desconstruir a imagem e os valores do cidadão, e assim vem fazendo. Arranjando e fabricando coisas que não existem com o objetivo de desconstruir. Isso aconteceu na última campanha para prefeito de Aracaju, na qual participei na condição de vice. Tem horas que eu olhava determinadas matérias e me perguntava se era verdade o que e estava vendo. Como um cidadão tem coragem de olhar para o outro sabendo que aquilo era mentira, mas publica por conta de um poder? É muita covardia. Eu acho que devemos estar unidos em relação ao projeto. Que nada nem ninguém cause fissura. Isso não vai ajudar nada.

O senhor defenderia Eduardo Amorim, Valadares ou André Moura, para disputar o governo?

Outro dia encontrei um cidadão que eu não conhecia. Ele se apresentou e me disse que gostaria muito de votar em mim para governador. Eu diria a que a oposição está muito bem servida com os nomes que tem. O nome do senador Valadares é muito bom e a população já tem demonstrado isso através da pesquisas. O nome do senador Eduardo Amorim da mesma forma. Um homem com um perfil e um trabalho elogiável por todos no Brasil. André Moura da mesma forma. Nomes que num momento de crise tem salvado Sergipe em temos de investimento. São três nomes muito bons. Quando definirmos os espaços de cada um, estarei muito satisfeito e Sergipe bem representado. Mas é cedo para dizer um nome, principalmente pelas características do momento.

O senhor segue pré-candidato à reeleição?

Sigo como pré-candidato a reeleição. Temos trabalhado muito por Sergipe. Graças a Deus, a população do estado tem sido generosa comigo. Tenho procurado ter um papel de um parlamentar autêntico, sempre buscando ouvir a voz do cidadão que precisa. Às vezes, as minhas cobranças são um pouco duras porque eu não consigo aceitar determinados tratamentos que a população recebe porque eu me coloco no lugar do cidadão que está precisando de um atendimento. Estarei à disposição da população para continuar trabalhando porque meu sonho é ver um estado acolhedor e que faça dos seus filhos muitos prósperos e bem atendidos.

Modificado em 03/12/2017 10:51

Universo Político: