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André Moura e o paradoxo de ser ligado a Temer

Por Joedson Telles

Político costuma desdenhar da inteligência alheia. Externar juízo distinto de sentimentos. Analisa o tema, avalia a melhor linha para angariar voto e, assim, fala o que convém, saltando o que não interessa. A sinceridade, contudo, também emerge. Em momentos delicados e “apropriados”, mas emerge. Assistimos à engenharia, neste instante, com o deputado federal André Moura, sentindo a necessidade urgente de explicar ao eleitor sua ligação com o presidente Michel Temer.

Refiro-me, evidente, ao vídeo postado nas redes sociais com direito a texto enviado à imprensa pela assessoria do deputado, argumentando que, com Temer presidente, Sergipe deixou a fila dos estados esquecidos pelo Governo Federal e passou a ser prestigiado.

“Nunca, nos últimos 20 anos, Sergipe foi tão prestigiado com verbas do Governo Federal como agora. Já conseguimos liberar mais de R$ 480 milhões para o Estado e prefeituras”, de dezembro de 2016 a junho”,  resume, assim, o feito o deputado sergipano, que é líder do governo Michel Temer no Congresso Nacional.

André não doura a pílula. Nem com má vontade pode-se afirmar que, através da sua intimidade com o presidente da República, Sergipe não está sendo lembrado. Abrir seu gabinete, em Brasília, até para adversários políticos, como o governador Jackson Barreto e o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, ilustra o argumento. Temer está sendo melhor para Sergipe que muitos ex-presidentes juntos queiram ou não.

O problema, contudo, e o próprio André Moura admite nas entrelinhas quando sente a necessidade de se explicar, é que o impopular Michel Temer pode despencar a qualquer momento e não sem razão. Pode dormir na Presidência da República e acordar bem distante de lá. Pior: com a imagem no chão. Como todos sabem, Temer é denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sob a acusação de crime de corrupção passiva, e faz uma manobra atrás da outra para evitar a investigação.

Temer é um presidente acusado de sangrar o Brasil para se manter no poder, liberando emendas a 3 x 4 e distribuindo cargos no atacado entre outras coisas. É também um presidente tido como golpista. Um chefe de Nação que se permitiu ao luxo de receber um empresário bandido, às 22h30, na Residência Oficial, escutar algo que escandalizou o Brasil e motivou, entre outros, a OAB a pedir seu impeachment e acha tudo normal. Nada de investigação. Este é o mesmo Temer que olha para Sergipe.

Com a eleição batendo à porta, André Moura sabe que vive um paradoxo. Se por um lado é o homem de Temer em Sergipe, o mediador, e isso lhe garante, ao menos na teoria, importantes cabos eleitorais à disposição – seja para uma reeleição ou um voo mais alto -, por outro lado estar ligado a já arranhada (e podendo se agravar muito mais) imagem do presidente Michel Temer é oferecer munição para adversários semear ventos. Lembra da expressão “marketing do mal”? Já imagino 2018…

Nada mais urgente e imprescindível para o destino político do deputado André Moura, portanto, que tentar persuadir Sergipe (leia-se o eleitor) da importância de Temer continuar presidente da República. Todavia, André também precisa torcer que o presidente consiga conquistar o brasileiro, e não afunde mais. Torcer que uma nova delação não seja a pá de cal. Até porque, se Temer despencar, de fato, se a denúncia da PGR sobre corrupção tiver fundamento, dificilmente, André Moura terá o mesmo acesso ao gabinete do futuro presidente. E, lógico, precisará de um gigantesco trabalho para desatrelar sua imagem do, a esta altura, ex-presidente Temer.

Modificado em 20/07/2017 22:06

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