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André Moura e o paradoxo de ser ligado a Temer II

Por Joedson Telles

Sobretudo quando o assunto é a eleição 2018, o deputado federal André Moura continua a espelhar um paradoxo curioso. Para uns, será reeleito com a maior votação que o eleitor sergipano já carimbou, em se tratando de um deputado federal. Para outros, no entanto, terá sérias dificuldades nas urnas. Enquanto a primeira turma aposta que ele seria eleito até governador do Estado, a segunda joga todas as fichas que ele sequer termina o atual mandato. A política sempre apronta das suas. Amado e odiado. Assim parece ser o André Moura de hoje.

“Um ficha seja” autêntico, legítimo, perfeito… Sei lá. Algo assim definiu um magistrado. Há, porém, quem o fite como um inocente e, atualmente, como o político mais importante para Sergipe, pelo volume de recursos que viabilizou sem olhar cor partidária.

Essa dualidade explicita a olho nu parece ficar ainda mais acentuada a cada centavo que o parlamentar consegue para o estado – como agora que acaba de viabilizar R$ 2 milhões para 10 municípios – quando os benefícios são confrontados, subliminarmente ou não, com cada ponto de rejeição que se adiciona ao mar a afogar o presidente Michel Temer, nos últimos meses.

A proximidade com o presidente campeão em repulsão, chamado de golpista – e denunciado por corrupção procurador-geral da República, Rodrigo Janot – não é nada boa para a imagem de André Moura.

Nas eleições vindouras, a rejeição a Temer pode muito bem perpassar e atingir o sergipano com a facilidade com que se corta um filé mignon com uma faca amolada. Já disse neste espaço.

Se para desgastar o então candidato a prefeito de Aracaju, Valadares Filho, o então candidato Edvaldo Nogueira afirmava e reafirmava que ele era aliado de André Moura é porque havia pesquisa apontando a rejeição ao deputado André Moura.

E se foi assim naquela época, antes de Joesley Batista visitar Temer em hora e local impróprios, antes de Eduardo Cunha ser preso, imagine agora? O contexto é um prato suculento para os que não enxergam André com bons olhos.

Os que defendem André, no entanto, continuarão, sem tocar nas acusações que pesam contra o presidente, argumentando que uma queda dele seria ruim para Sergipe. Observam que, com outro presidente ou presidenta, André e Sergipe seriam jogados para escanteio. E seguem apostando que os eleitores reconhecerão os benefícios nas eleições.

Aí eu indago: será? No dicionário da política existe obrigatoriamente o vocábulo gratidão? Há papel passado em cartório? Tenho cá minhas dúvidas. Traição, oportunismo e sinônimos, no entanto, qualquer criança sabe que estão lá prontinhos para serem, mais uma vez, usados a qualquer momento.

André pode estar plantando boas sementes, mas corre o risco de não ver a cor da colheita. Em política, quando a coisa pega é como diz o poeta Zé Ramalho, na canção Vila do Sossego: “nas torturas toda carne se trai…” E do jeito que o Brasil está amando Temer, sei não viu…

Esta semana, o paradoxo que a vida pública do político André Moura alimenta ganhou tempero de prato recomendado em restaurante esmerado. A condenação do parlamentar ganhou notoriedade na grande mídia. E coube ao Globo estampar: “Líder do governo é condenado por desvio de R$ 1,4 milhão”.  A mídia genuína promoveu, óbvio, a repercussão devida.

O magistrado Rinaldo Salvino do Nascimento considerou o caso repugnante e disparou nos autos: “O réu implantou um sofisticado esquema de corrupção com a finalidade de desviar dinheiro em causa própria e especialmente para projetá-lo no cenário político. Até que prove o contrário nos tribunais superiores, o réu é um autêntico ficha suja”, lê-se na matéria do jornal carioca.

André Moura, por sua vez, que votou pela blindagem de Temer, também esta semana, sente-se injustiçado. Assegura que nunca foi citado e jamais teve chance de apresentar defesa. Lógico: todos são inocentes até que se prove o contrário. Enquanto couber recurso, a presunção da inocência não pode ser sepultada. E André, evidente, tem uma assessoria jurídica preparada.

Entretanto, em se tratando da política em si, do voto, pense na pancada? Pense a munição nas mãos do poeta Carlos Cauê? Lembram da segunda turma, citada no início deste texto? Torce para isso. Espera somente André colocar a cabeça para fora. A primeira turma, contudo, seguirá vendo André como o político que ajudou Sergipe e está sendo injustiçado. Apelará para aquele bordão conhecido: como é mesmo? Ah, sim: “marketing do mal”. Qual das duas turmas persuadirá os demais eleitores? Bom. Aí só saberemos em outubro de 2018, quando a apuração terminar.

Modificado em 04/08/2017 08:11

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