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Quem já não está sofrendo, presidente?

Por Joedson Telles

Ganhou o espaço devido – na mídia e nas redes sociais – a declaração do presidente Jair Bolsonaro no sentido de o povo merecer sofrer, se votar em Lula. Obviamente, Bolsonaro se refere à possibilidade real de o petista ser candidato a presidente da República, nas eleições 2022, e amealhar preferência.

Óbvio também: as palavras espelham o desassossego ímpar de quem admite nas entrelinhas que a presença de Lula no pleito torna o sonho de reeleição muito mais difícil.

Desde que Lula voltou a ser elegível à luz do Judiciário, percebe-se um Bolsonaro sem paz, tentando cuidar do desgaste da sua imagem, sobretudo no tocante à pandemia.

Até no comportamento dos seus admiradores percebe-se a inquietação perpassada. Atesta-se o receio a repousar sobre a possibilidade de ter que encarar o constrangimento de ter agredido o ex-presidente Lula verbalmente tantas vezes – ladrão sempre foi o vocábulo preferido – e assistir, em tempo oportuno, a este “ladrão” derrotar o “mito” sentado na cadeira de presidente.

Bolsonaro, note-se, não surpreende ao antecipar o debate eleitoral. Parte pra cima de um político sem mandato, que esteve preso, até pouco tempo, e permite a percepção de que não nutre mais a certeza de uma vitória tranquila no pleito vindouro.

A frase, paradoxalmente, é mais uma prova que Bolsonaro respeita Lula. Sabe que, caso ambos se candidatem, a julgar pelas manifestações de eleitores nas redes sociais e pela história da militância petista, o adversário tende a largar na frente. Qualquer pessoa que entende minimamente de política faz a leitura.

Entretanto, a frase também carece de alguns retoques. O presidente foi infeliz, ao recorrer ao verbo sofrer. Se votando em Lula o povo merece sofrer, o que dizer dos dias atuais?

Sofrer mais do que milhões de brasileiros que assistiram (e continuarão assistindo) à Covid-19 matar um familiar ou amigo, que se tivesse sido vacinado, certamente, estaria vivo? Sofrer mais que as incontáveis vítimas da fome, da miséria, do desemprego, que  cresceram muito nesta pandemia?

Aliás, quem já não está sofrendo no Brasil atual? Os servidores públicos, aposentados e pensionistas, que não sabem o que é aumento há anos? As Universidades Públicas, os índios, os jornalistas, os profissionais de  saúde que estão na linha de frente? A Floresta Amazônica com grileiros, desmatamentos e queimadas? A imagem do Brasil lá fora? Quem já não está sofrendo, presidente? Poucos, pode apostar.

 

 

 

Modificado em 20/04/2021 18:48

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