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Quando a solução de um problema engendra outros a lógica é estúpida

Por Joedson Telles

Aracaju amanheceu sem ônibus. Algumas ruas e avenidas estão fechadas e outras, por certo, serão obstruídas também. Nada de ir e vir como reza a Constituição. A greve programada para esta sexta-feira, dia 30, de acordo com a CUT, tem como objetivo chamar a atenção da população para a posição contrária da classe trabalhadora ao que define como “terríveis prejuízos impostos pelas retrógradas medidas do governo ilegítimo de Michel Temer”, que tenta aprovar a Reforma Trabalhista, no Congresso Nacional. 

A CUT argumenta que “a greve barrará o acelerado retrocesso nas conquistas trabalhistas e sociais”. O sentimento pode até ser o mais nobre possível, mas nem por isso deixa de atingir em cheio pessoas que não têm culpa dos erros de Temer, Lula, Dilma, Renan, Cunha ou de quaisquer políticos. Há muita gente que não concorda com o juízo, mas, assim mesmo, é alçada na tora. Veja, por exemplo, o desabafo do analista de sistema Marcelo Costa. Volto ao gramado depois.

“Impressionante, se você tem direito a fazer greve, e eu tenho direito de ir e vir. Como conceber que o seu direito tem privilégios sob o meu direito? Pq? Qual a sua moral? Não entendo ter que ficar em um bloqueio, enquanto você manifesta suas ansiedades, e as minhas? Quero poder expressar a minha vontade de ir trabalhar, de contribuir para a saída dessa recessão, quero, porque não, dizer que concordo com as reformas trabalhistas, que em meu ponto de vista são imprescindíveis para o futuro do meu país. Não sou obrigado a fazer greve por uma causa que eu não concordo”, postou em sua página no Facebook.

No gramado.

Desde que o mundo é mundo, há ideias contraditórias duelando. O derrotado satanás teve a ousadia de tentar se levantar contra o único e soberano Deus, o Jeová Jireh. A ideia do bem, portanto, acabava de ser afrontada pelo mal. Imagine nos demais terrenos da vida?

Externei ontem em uma rede social e ratifico neste espaço agora: a greve é um grande instrumento em prol do trabalhador. Importantíssimo. Democrático. Assegurado na Constituição. Todavia deve e precisa ter adesão voluntária. Forçar qualquer pessoa a aderir é errado. É de uma violência sem tamanho. A faculdade de escolha não existe mais? Quem a transferiu e qual a lei a garantir o absurdo? Onde fica o cartório a abrigar a certidão de cessão do direito de decidir?

Qualquer greve perde a sua beleza, sua essência quando prejudica o conjunto da sociedade. Fechar lojas, impedir circulação de ônibus, fechar ruas e avenidas, qualquer tipo de baderna ou violência são atitudes nocivas. Agridem o próprio trabalhador muito mais que autoridades, políticos, empresários. A população em sua maioria paga a conta sempre.

Um país corrupto e injusto como o Brasil precisa muito dos movimentos sindicais e sociais. Não há dúvida. Todavia quem se aventura nesta estrada precisa repensar a forma como as reivindicações são feitas. Precisamos de novas ideias, novas formas de protestar. Não é possível continuar prejudicando a população. Quando a solução de um problema engendra outros a lógica é estúpida.

E lógico: como é praticamente impossível conciliar o ofício com ingenuidade, abranjo que há manifestantes equivocados, mas bem intencionados. Pecam pensando no bem coletivo. Pessoas sérias. Entretanto, há, evidente, aqueles que comungam com o juízo exposto aqui. Têm discernimento do erro. Todavia, a necessidade de faturar politicamente asfixia quaisquer faíscas de sinceridade. O pano de fundo é o poder. E, assim, o que é o respeito ao direito das demais pessoas?

Modificado em 30/06/2017 07:50

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